sexta-feira, 25 de abril de 2008

A irreverência da nova ciência

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O mundo do século XX, dividido entre os juízos fascistas e marxistas,
excluia a prevalência da relatividade. Isso parece meio impregnado,
mesmo depois daqueles funerais. Infelizmente, o desconhecimento não é
prerrogativa dos toscos; até hoje, a maioria das escolas superiores não
se ocupa da sutileza, sequer em pós-graduações. No colégio, naturalmente
nem consta do currículo e, se proposta, não será levada a sério.

ALÉM DA CONCENTRAÇÃO exigida ao estudo “clássico” não contemplar apreciações numéricas, segundos de arcos e fórmulas, segredos afetos aos ramos mais especializados, não interessa esmiuçar questões tão “complexas, de aplicação tão restrita, apenas na Física, ainda mais Nuclear, ou Astrofísica. Homens do Direito, da Sociologia, da Psicologia, da Filosofia, da Comunicação, somos dedicados às letras.
Singela e essencial, porém, é a observação. Mal comparando, um novo “Ovo de Colombo”, tarefa fácil de ser assimilada ou “colocada” por alfabetizado que conheça as quatro operações.
Tomemos o exemplo: um trem se move em direção sul, na velocidade de 100 km/hora. Dentro dele, mas voltado para a sua cauda, um ator desfere um chute numa bola que atinge 50 km/hora. Pergunta: A bola se dirige ao sul ou ao norte? A correta resposta não é apenas uma e ambas vem pela magistral teoria: depende onde se coloca o observador. Para alguém que está na plataforma, a bola continua indo para o sul, na velocidade de 50 Km/h. (100km/trem sul- 50 km/h/bola norte= 50 Km/h sul.) Para alguém de dentro do vagão donde parte a bola rumo ao último carro, evidentemente ela desloca-se contrário do destino do trem, para o norte, nos 50 Km/h.
Não existe apenas uma exatidão. Nem matematicamente. Sabemos que massa e energia se confundem, mas não podemos estabelecer suas fronteiras: coloque três baldes d´água - o primeiro com água quente, o segundo morna, o terceiro fria. Uma mão na água quente, outra na fria. Colocando as duas em seguida na morna, as mãos sentirão temperaturas diferentes. Nós próprios, dependendo de cada tempo de vida, alteramos a conduta e a atenção.
A pessoa de 67 anos de hoje não é de forma alguma a mesma que era aos 50, ou 30, ou 20. Cada reminiscência é colorida pelo que se é, pelo que de fato se foi e por sua perspectiva. As pessoas não são iguais, sequer em si mesmas. O rio que passa não é o mesmo de ontem.(1)
O caminho mais curto é uma curva
Enquanto o espaço era tomado euclidiano e a Terra “era” reta , chata e quando o tempo passava medido exclusivamente pelo relógio newtoniano, permaneceu a suposição do universo infinito. A hipótese oferecida por Einstein tornou evidente que o espaço, como a superfície da Terra, é “curvo” e “condensado”. Imaginemos uma cortiça boiando. Seu casco produz uma depressão na água, até então plana, euclidiana. Jogada uma rolha menor, esta se aproxima da maior. Será que o rolhão possui um magnetismo capaz de atrair a rolhinha? Ou será que a rolhinha se obriga a modificar sua até então retilínea trajetória por sofrer, naquela depressão passageira, o desvio curvilíneo provocado pela presença do corpo maior, que altera a forma da base que o envolve? Onde há matéria o espaço circundante se deforma para poder abrigá-la. Ainda mais evidente se torna o fenômeno num corpo em cama elástica. Qualquer coisa menor que caia na rede corre em direção a este corpo:
Desde o advento da relatividade geral ficou claro, porém, que, por sua ação gravitacional, a matéria realmente determina 'em qual forma o espaço está', como o homem que pula na cama elástica. Longe da matéria o espaço continua plano e euclidiano, mas onde a matéria está presente o espaço obedece a uma geometria mais geral (riemanniana). A gravitação também não obedece mais às leis estabelecidas por Newton. (2)
John Wheeler bem sintetizou:
“A massa informa ao espaço como se curvar; o espaço informa à massa como se movimentar.” (3)
A retração cria ondas de diferentes tamanhos e frequências:
Em 9 de março de 1960 o gabinete editorial do jornal [Physical Review Letter] recebeu um artigo assinado por Robert V. Pound e Glen A. Rebka Jr., da Universidade de Harvard, cujo título era <<peso aparente dos fotons>>. O artigo descrevia a primeira medição em laboratório com sucesso da variação de freqüência ou do comprimento de onda da luz quando esta penetra num campo gravitacional. Este fenômeno é chamado deslocamento gravitacional da luz para o vermelho, e foi a primeira das três previsões que Einstein enunciou utilizando a relatividade geral. (4)
O necessário fim do positivismo
Em Maio de 1822, o opúsculo Plano dos Trabalhos Científicos Necessários para a Reorganização da Sociedade» decretava:
Toda a ciência tem por fim a previdência. Porque a aplicação geral das leis estabelecidas segundo a observação dos fenómenos tem por fim prever a respectiva sucessão. Na realidade, todos os homens, por pouco instruídos que os julguemos, fazem verdadeiras previsões, fundadas sempre sobre o mesmo princípio, o conhecimento do futuro pelo passado.(...) Está, portanto, evidentemente muito conforme com a natureza do espírito humano que a observação do passado possa facultar a predição do futuro, e que o possa fazer tanto em política como em astronomia, em física, em química e em fisiologia. (5)
Esta foi a base da sociologia, da física social. Evidentemente, era lastreada nas concepções de Newton, as quais "permitiam", mercê de simplório exame do passado, traçar a trajetória do futuro. Os conceitos são equivocados:
Se nos colocarmos do ponto de vista das aproximações - ponto de vista ao qual somos forçados para julgar uma teoria física - nada se verá no sistema de Newton que possa fazer prever o sistema de Einstein e reduzir assim a novidade realmente transcendente do sistema moderno. Nenhum caminho de inferência permite antecipar o primeiro a partir do segundo. A ruptura entre os dois métodos é verdadeiramente irrevogável, e que mesmo em sua tentativa de precisão, seguem duas ordens de pensamento inteiramente heterogêneas. O sistema de Newton, ao fazer a abstração de uma curvatura, desconhece uma característica essencial. O que é negligenciado é suscetível de desfigurar o problema. (6)
O ultrapositivista Pontes de Miranda foi o primeiro a superar seus próprios preconceitos:
O princípio da relatividade deve ser mais geral ainda - devemos procurar a diferença de tempo nas realizações biológicas e sociais, - o tempo local das espécies e dos grupos humanos. Isto nos poderá explicar muitos fenômenos que resistem às explicações atuais. Mas para conseguir tais fórmulas muito terá que lutar o espírito humano contra os preconceitos que o rodeiam e contra as obscuridades da matéria que irá estudar. (7)
Resta avisar à Nomenklatura que lhe sucede.
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Notas
1. Pais, Abraham, Einstein viveu aqui, p. 145.
2 Will, Clifford M., Einstein Tinha razão? Testando a teoria da relatividade geral, p. 18.
3 Wheleer, John, cit. Rohmann, Chris, p. 345.
4 Pais, A., p. 66.
5.Augusto Comte, Reorganizar a Sociedade, Guimarães Editores, 4ª Ed., Lisboa, 2002, p. 146.

6. Bachelard, Gaston, cit. Quillet, Pierre, p. 158.
7. Cit. Moreira: 103
Aprecie completo:..............

O socialismo de J. Locke


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