segunda-feira, 30 de março de 2009

O neoliberalismo de Einstein


A liberdade é uma necessidade
fundamental para o desenvolvimento
dos verdadeiros valores. EINSTEIN,
O pensamento de Einstein sobre as grandes questões do momento foi sendo parcialmente captado, em pequenas porções, às vezes mesmo em parcas gotas. Mas o resultado foi alcançado. Einstein não é mais o pensador isolado e solitário. Suas idéias e opiniões circulam. O eremita volta de sua tebaida e espalha suas palavras entre os homens do século. PAIS, ABRAHAM, Sutil é o Senhor: a ciência e a vida de Albert Einstein: 367,
DESDE as priscas eras espartanas sóem aparecer mosqueteiros empunhando a tocha do coletivismo. É a maior atochada. Ela ilumina apenas o exibicionista. O socialismo só pode ser admitido se houver a participação, ou seja, a responsabilização de cada ser componente do tecido social. É o átomo que forma a molécula. É o cidadão que compõe a sociedade.
A comunidade fala-lhe com uma mesma voz, mas cada indivíduo fala partindo de um ponto de vista diferente; no entanto, estes pontos de vista estão em relação com a actividade social cooperativa e o indivíduo, ao assumir sua posição, encontra-se implicado, devido ao próprio carácter da sua resposta, nas respostas dos outros. HERBERT, A filosofia do ato: 153; cit. ABBAGNANO: 29
Se por ética, interesse, justiça, eficácia ou ventura ainda desejamos algum socialismo, melhor ele vir por free-way.
Universo Neoliberal
Durante longo tempo o ideal do conhecimento científico foi aquele que Laplace havia formulado com sua idéia de universo totalmente determinista e mecanicista. Segundo ele, uma inteligência excepcional dotada de uma capacidade sensorial, intelectual e computacional suficiente poderia determinar qualquer momento do passado e qualquer momento do futuro. É essa visão pueril e talvez louca do mundo que está prestes a desmoronar, mas ela ainda reina, e efetivamente excluiu todo o problema da reflexividade. MORIN, Edgar 2000: 32
VERNON ROWLAND (TELLES JR., GOFFREDO, O Direito Quântico: 48/56), da Case Western Reserve University, constata a mais prosaica impropriedade contábil-cartesiana:
O todo é maior do que a soma de suas partes. A cooperação parece ser uma chave; quanto mais complexo um sistema, maior seu potencial de autotranscedência... Na verdade, nem o corpúsculo, nem o campo é a coisa fundamental. Ambos, em igual medida, são aspectos da matéria. São as duas formas fundamentais e primárias da matéria como tal. A estrutura da partícula é um reflexo de suas interações.
"O núcleo do novo paradigma é o reconhecimento de que a ciência moderna confirma uma idéia antiga - a idéia de que consciência, e não matéria, é o substrato de tudo que existe." (GOSWAMI, Amit )
Malgrado ainda campear certa ignorância espraiada, não há escapatória. A microequação E=MC2 simplesmente arrasa o mico marxista, e muito mais: posto a matéria intrínseca ser energia, porque atômica, o materialismo não possui, sequer, objeto.
* * *
EINSTEIN
chegou a expressar preferência pelo socialismo, porque coadunado com seu método de trabalho e com sua própria vida, aí incluindo amigos e inimigos, razão primaz da perseguição nazista.
Físicos, todavia, raramente visitam fontes humanistas, e o gênio não foi exceção. Mercê do excepcional senso intuitivo, por felicidade ele prescindiu dos conceitos filosóficos, com isso se livrando das artimanhas platônicas, e por extensão, marxistas. Seria mesmo uma antinomia:
"O que impulsionou o autor de O Capital a decretar ‘uma verdadeira capitulação da liberdade face à necessidade foi a ambição de erguer a sua ‘ciência’ ao nível da ciência natural, cuja categoria fundamental era ainda a necessidade." (ARENDT, A., On Revolution, 1963, cit. GIORELLO: 243)
A Relatividade e a Quântica apresentam amplitude incompatível com a restrição aferida por essa parca "ciência social".
Enquanto os direitos de liberdade nascem contra o superpoder do Estado - e, portanto, com o objetivo de limitar o poder - os direitos sociais exigem, para sua realização prática, precisamente o contrário, isto é, a ampliação dos poderes do Estado. BOBBIO, Norberto, A Era dos Direitos: 72
EINSTEIN (cit. BRIAN: 50) não se cansou de bater na tecla predileta de BOBBIO e do pioneiro liberal J. LOCKE: "O mais importante tipo de tolerância é aquele da sociedade e do Estado para com o indivíduo. Quando o Estado se transforma na coisa principal, e o homem no seu instrumento frágil e sem vontade, os valores mais altos estão perdidos."
Para mim, o elemento precioso nas engrenagens da humanidade não é o Estado, é o indivíduo, criador e sensível, a personalidade; é só ela que cria o nobre e o sublime, enquanto a massa permanece estúpida de pensamento e estreita nos sentimentos EINSTEIN, Albert, cit. ALMEIDA, M. O., A Ação Humana e Social de Einstein: 65; TRATTNER: 75
MAURICE SOLOVINE (cit. idem: 50) primeiro aluno particular, depois tornado um dos melhores amigos, endossa:"A primeira e definitiva impressão que Solovine teve de Albert Einstein, além da extraordinária radiância de seus grandes olhos, foi de ‘um grande liberal’, um espírito iluminadíssimo."
Piratas nazistas ou bolcheviques não poderiam mesmo saber, ou, mais exato, não se interessaram em entendê-lo. A farsa soviética era incompatível com a verdade:
A Teoria da Relatividade foi condenada, não porque (como na Alemanha Nazista) Einstein fosse judeu, mas por razões igualmente irrelevantes: Marx havia dito que o Universo era infinito e Einstein havia tirado certas idéias de Mach, proscrito por Lênin. Por trás de tudo estava a desconfiança de Stálin de qualquer idéia remota associada a valores burgueses. Ele estava levando adiante aquilo que os comunistas chineses mais tarde chamariam de Revolução Cultural - uma tentativa de mudar, por decreto e uso da polícia, as atitudes humanas fundamentais em relação a uma gama de conhecimentos. JOHNSON, PAUL: 381
As razões, todavia, não eram irrelevantes; pelo contrário:“Moscou, o quartel-general do ateísmo, viu na Teoria da Relatividade incompatibilidade entre ela e o materialismo soviético fundamentado no marxismo.” (MONTEIRO, IRINEU, Einstein - Reflexões Filosóficas: 84)
O cisco caia nos pés dos carrascos, era empurrado para baixo do tapete, mas a máscara científica se dissolvia como açúcar:
Na União Soviética, do tempo de Lenine, se fez grande silêncio sobre a teoria de Einstein, porque os pontífices do Governo haviam declarado que o átomo não podia ser dividido, por ser a base da matéria, e sem matéria não haveria materialismo, um dos pilares do comunismo. ROHDEN, HUBERTO, Einstein - O Enigma do Universo: 56
Para completar, a láurea de um Nobel foi concedida a LENARD & STARK em função da crítica formulada à Relatividade como típico produto judaico, fato marcante, ao sabor de nazis e bolcheviques:
"O partido comunista russo condenou a teoria de Einstein como sendo 'reacionária por natureza, fornecendo suporte para idéias contra-revolucionárias e também o produto da classe burguesa em decomposição'.” (New York Times, de 16/11/ 1922; cit. PAIS, A. 1997: 185)
Mas se não serviria o rótulo comunista a EINSTEIN ou a BORN, muito menos ser-lhes-ia apropriado a ridícula pecha de reacionários, nem a BOHR, tampouco a EDDINGTON, como gostaria STÁLIN. O Grande Relativo também condenava o totalitarismo sob qualquer matiz - soviético, fascista, nazista, ou envergonhado assemelhado: “Todos devemos montar guarda contra tiranias de esquerda e direita.” (EINSTEIN, A., cit. LEVENSON: 363).
"Einstein, apesar de sua falta de simpatia pela Inglaterra, ainda prefere que a Inglaterra vença ao invés da Alemanha; a Inglaterra saberia melhor como deixar o resto do mundo viver." (De um artigo não publicado sobre tolerância, 1934; 1998: 216).
Deixou-nos este relato o pacifista ROMAINS ROLLAND, pronunciado por EINSTEIN em 1915, portanto no curso da Primeira Grande Guerra. Antes da Segunda, EINSTEIN emigrou para os EUA.
Mesmo que inconsciente, até por não conhecê-la na essência, não ligá-la com suas postulações físicas porque dedicado à investigação cosmológica, o sagaz cientista sempre preferiu a filosofia liberal, o laissez-faire, o “deixar viver” que a todos interessa, único paradigma político-econômico que condiz com seu criativo trabalho.
Só o indivíduo isolado pode pensar e por conseqüência criar
novos valores para a sociedade, mesmo estabelecer novas
regras morais, pelas quais a sociedade se aperfeiçoa.

EINSTEIN, Albert
Seria EINSTEIN, dessarte, um porta-voz do liberalismo tão autêntico quanto o foram seus maiores expoentes, LOCKE, TOCQUEVILLE & SMITH?
A resposta é positiva, de novo. Muito embora reunir física com filosofia, matemática com letras possa parecer um tanto complexo, ainda assim é perfeitamente possível estabelecer o liame epistemológio de todos.
O desinteresse na assimilação
"Todo o mundo sabe que Einstein fez algo assombroso, mas poucos sabem, ao certo, o que foi que ele fez”. (Cits. FILLIPI, Marco Antônio, O Maior Cientista do Século XX: O Homem e o Gênio, Einstein por Ele Mesmo: 112)
O renomado mestre caseiro, jurista, filósofo e sociólogo até então ultrapositivista Pontes de Miranda ( cit. MOREIRA, Ildeu de Castro & VIDEIRA, Antonio Augusto Passos Org.: 103) sentiu-se ameaçado. A tese einsteniana colocava por terra o determinismo jurídico tão caro às ditaduras mais ou menos explícitas. O letrado acabou se deixando seduzir pelo “canto da sereia”, e cometeu a majestosa gafe científica ao tentar colocar em xeque, à priori, a Teoria da Relatividade, como se uma mera ponte de mirante, ainda que a mais magestosa, pudesse ser mais bela do que a própria paisagem: “O espaço encurva-se à mercê da matéria ou a matéria cria o espaço? Espaço, tempo e matéria são entidades distintas ou são abstrações? Qual dos dois é dependente, o espaço ou a matéria? Qual o formador e qual o formado?”
Data venia, Herr Einstein, a Teoria da Relatividade não considerou as implicações metafísicas das hipóteses que aventa. Das ciências físicas até as ciências jurídicas a diferença, saiba, é de grau. A Física mantém um pacto com o mundo da sociedade também, e é pacto que tira e põe, mas não deixa intacto o que estava. A questão é tanto mais delicada quanto a afirmação de não se poder alegar o erro e a de se exigir a capacidade objetiva e o além da capacidade objetiva, que leva a argumentos a favor de uma e de outra opinião. Falta na Teoria da Relatividade o conhecimento, a informação de que não é só o mundo em si, an sich, de que ela trata. Há de se ver que nas suas conseqüências, falta o desdobramento de um mundo para nós, für uns...
A elite tupiniquim delirava diante de tal brilho. O cientista sorria e mantinha silêncio. Quando acabou o discurso, com a contestação quase unânime à Teoria da Relatividade naquele tribunal, o físico se levantou, e como a se despedir, entregou a um dos acadêmicos um papel onde se lia:
"Die Frage, die meinen Kopf entsprang, hat Brasilien sonniger Himmel beantwortet"
(A questão, que minha mente formulou, foi respondida pelo radiante céu do Brasil.)
Berço Liberal
Foi igualmente pela recusa do dualismo cartesiano, e pela defesa da observação e da análise contra o espírito sistemático, que Locke se impôs como 'mestre da sabedoria' aos filósofos franceses do século XVIII.(CHÂTELET: 228)
O mentor de JOHN LOCKE (carta a THOMAS POOLE. - Cit. BRETT, R. L.: 109, no exemplo mais notável, discordava frontalmente do incomparável NEWTON, algo que nem o famoso afilhado ousou. Sua intuição, porém, era forte:
Newton é um mero materialista. Em seu sistema o espírito é sempre passivo, espectador ocioso de um mundo externo... há motivos para suspeitar que qualquer sistema que se baseie na passividade de espírito deve ser falso como sistema.
Embora não haja um estabelecimento de uma conexão direta, pode-se afirmar, com segurança, que o protótipo da relatividade surgiu justamente pelas ciências humanas, através dos trabalhos complementares de SPINOZA, SHAFTESBURY, LOCKE, QUESNAY, SMITH, MONTESQUIEU e TOCQUEVILLE: "A ideologia política do liberalismo originou-se de um sistema de idéias fundamentais que foram, inicialmente, desenvolvidas como teoria científica, sem qualquer significação política." (MISES, L. 1987: 158)
Por isso não é de estranhar que muitos universitários ainda imaginem Einstein como uma espécie surrealista de matemático, e não como descobridor de certas leis cósmicas de imensa importância na silenciosa luta do homem pela compreensão da realidade física. Eles ignoram que a Relatividade, acima de sua importância científica, representa um sistema filosófico fundamental, que aumenta e ilumina as reflexões dos grandes epistemologistas - Locke, Berkeley e Hume. Em conseqüência, bem pouca idéia têm do vasto universo, tão misteriosamente ordenado, em que vivem. BARNETT, Lincoln, O universo e o Dr. Einstein. Tradução de José Reis. - 2. ed. - São Paulo: Melhoramentos: 12-
-Assim falava JOHN LOCKE (Ensaios sobre a lei da natureza, cit. BOBBIO, N., 1997: 138):

a) Enquanto as idéias matemáticas podem ser expressas por meio de sinais sensíveis, imediatamente claros aos nossos sentidos, as idéias morais só podem ser expressas por meio de palavras, que são signos menos estáveis e exigem interpretação;
b) As idéias morais são mais complexas do que as matemáticas, daí a maior incerteza dos nomes com que são designadas e a dificuldade em aceitá-las todas de uma vez.
A Teoria da Separação de Poderes sempre foi alvo de sucessíveis ataques, em contestação, e até adulteração, ou subversão, em quase todos os países do globo. As Nações eram empacotadas com estratégias totalitaristas mais ou menos sociais, sindicalistas, utilitaristas, trabalhistas; em uma palavra, vigaristas:
A política do governo prussiano de reprimir ao invés de cooptar o movimento operário levou ao surgimento de um poderoso partido social-democrata revolucionário, que se tornou um modelo para os trabalhadores de toda a Europa. O PSD alemão foi imitado pelos franceses, belgas e italianos. Os movimentos trabalhistas holandês, escandinavo, suíço e americano seguiram os passos do movimento alemão. Oradores eram convidados de honra nos sindicatos que aconteciam em toda a Europa Ocidental e Estados Unidos. Os movimentos operários russo e eslavo também se inspiraram no alemão, e a segunda Internacional Comunista estava sob a liderança reconhecida do partido alemão. Suas filiações ultrapassavam 1 milhão em 1912; nos sindicatos, dois e meio milhões. SCHWARTZ, J., O Momento Criativo - Mito e Alienação na Ciência Moderna: 130
Os domínios mais explorados serão aqueles em que os dados quantitativos ou quantificáveis são mais abundantes. Daí todos os estudos compreendidos em matéria de voto, de participação eleitoral e de opinião publica. Daí a amplidão das pesquisas sobre os partidos políticos, os grupos de interesse e os processos de tomadas de decisões (decision-marketing). Essa 'tirania de instrumento' explica, em boa parte, a 'desigual penetração behaviorista'. Na ciência política a voga do behaviorismo alcança seu apogeu nos anos de 1950. Mas a idade de ouro behaviorista está prestes a encerrar-se.
SCHWARTZENBERG, ROGER-GÉRARD, Sociologia Política: 26.
BERTRAND RUSSELL (cit. FADIMAN, C.: 266) condena a possibilidade, tantas vezes tornada realidade:
Surge um grave perigo quando esse hábito de manipulação com base em leis matemáticas é estendido ao nosso trato com seres humanos, uma vez que estes, diferentemente do cabo telefônico, são suscetíveis de felicidade e infortúnio, de desejo e aversão. Seria, portanto, lamentável que se permitisse que hábitos mentais apropriados e corretos para o trato com mecanismos materiais dominassem os esforços do administrador no plano da construção social.
Pois o principal matemático da civilização, o Professor Doutor Herr ALBERT EINSTEIN (cit. MONTEIRO: 51) preferiu respaldar o "Pai do liberalismo", como sempre. Preconceitos, pressupostos marcadamente deterministas, absolutistas por calculistas são tão imprópriosquanto a utopia, a ilusão, a impossibilidade:

O princípio criador reside na matemática; sua certeza é absoluta,
enquanto se trata de matemática abstrata, mas diminui na razão
direta de sua concretização.
Ora se tem certeza da incerteza:
"Os sistemas matemáticos não podem dar conta de todas as verdades matemáticas; haverá sempre um conjunto de axiomas que estará fora de seu sistema." (MARCONDES FILHO, Ciro A razão durante: o movimento como substância das fronteiras)
"Max Born também escreveu, para dizer que não entendia como era possível conciliar um universo totalmente mecanicista com a liberdade da ética individual. Um mundo determinista é, para mim, um mundo muito aborrecido.” (BRIAN: 374)
 A Divisão de Poderes e a Teoria da Relatividade
Abandonar a busca da realidade e do valor absoluto e imutável pode parecer um sacrifício. Mas esta renúncia é a condição requerida para se empenhar numa vocação mais vital - a procura dos valores que podem ser assegurados e compartilhados por todos, porque estão vinculados aos fundamentos da vida social. É uma busca em que a filosofia não encontrará rivais mas sim colaboradores em todos os homens de boa vontade. DEWEY, JOHN (1859-1952)

O tempo não é único, porque depende do espaço. E o espaço não é estanque, porque depende da matéria nele inserido.
Todo homem possui sua finalidade particular, de modo que mil direções correm, umas ao lado das outras, em linhas curvas e retas; elas se entrecruzam, se favorecem ou se entravam, avançam ou recuam e assumem desse modo, umas com relação às outras, o caráter do acaso, tornando assim impossível, abstração feita das influências dos fenômenos da natureza, a demonstração de uma finalidade decisiva que abrangeria nos acontecimentos a humanidade inteira. NIETZSCHE, F. W., Da utilidade e do inconveniente da História para a vida: 74
,
Nada é igual, muito menos absoluto, em nenhum lugar. Não existe a passagem do Tempo. Ele é fixo. Está lá, tanto quanto o espaço. Nos é que passamos por ele, tanto quanto a luz que cruza a atmosfera. Por isso somos nós que nos desgastamos, ao nele imprimirmos nossas eternas digitais. Ainda que a religião não acredite, e suplique pela "hora da nossa morte, amém", basta a concepção para jamais desaparecermos. Nossos olhos, como aqueles de GALILEU, é que precisam de lentes para enxergar além do horizonte.
Se exceto a velocidade da luz, tudo o mais de fato é relativo, isso também deve ser observado, e admitido, por qualquer organização, a começar pela circunstância de EspaçoTempo no qual se vê envolta:
O princípio da relatividade deve ser mais geral ainda - devemos procurar a diferença de tempo nas realizações biológicas e sociais, - o tempo local das espécies e dos grupos humanos. Isto nos poderá explicar muitos fenômenos que resistem às explicações atuais. Mas para conseguir tais fórmulas muito terá que lutar o espírito humano contra os preconceitos que o rodeiam e contra as obscuridades da matéria que irá estudar.
MIRANDA, Pontes de,
cit. MOREIRA: 103
Foi isso que determinou HANS KELSEN (p. 105) efetuar o espetacular reparo em sua Teoria Pura do Direito. Ao configurar a ligação da democracia (desde que liberal) com a relatividade, ele abandonou o princípio que lhe fizera famoso:
"A concepção metafísico-absolutista está associada a uma atitude autocrática, enquanto à concepção crítico-relativista do mundo associa-se uma atitude democrática."
Em seguida veio ninguém menos do que NORBERTO BOBBIO (Teoria Geral da Política: a Filosofia Política e as Lições dos Clássicos: 424)
A justificação da democracia, ou seja, a principal razão que nos permite defender a democracia como melhor forma de governo ou a menos ruim, está precisamente no pressuposto de que o indivíduo singular, o indivíduo como pessoa moral e racional, é o melhor juiz do seu próprio interesse.
Isso já dizia o mestre de todos:
Esta organização não pode ser abandonada à iniciativa dos governos: será alcançada quando os povos tiverem uma vontade firme e ativa, porque é renovação radical de todas as antiquadas tradições politicas. A compreensão e a vontade de resolver o problema estão-se generalizando. Acredito na influência de um individuo sobre outro e acredito no processo de seqüência e encadeamento entre os homens.
EINSTEIN, Albert, Fala Einstein sobra o futuro da humanidade, Folha da Manhã, 4/3/1949
CARLOS LACERDA(p. 50) de certa forma os repetiu:
"A democracia só é possível onde os homens, em sua maioria, tomam consciência da relatividade das soluções. Do contrário, o que domina é o sentimento, tipicamente totalitário, das soluções absolutas – ou absolutistas. "
Parece-me que o processo surpreendente de desafio à autoridade governante está absolutamente de acordo com a atmosfera geral da Revolução Liberal no mundo, a Segunda Revolução Gloriosa – que é uma Revolução contra uma classe ou um governo determinado, mas contra a própria idéia de governo e de sistema estatal hegemônico.
PENNA, O.M, 1997: 433
Por ironia, a própria ciência, pela matemática endeusada, deparou-se com a paradoxal impossibilidade da verdade absoluta:
"A Teoria da Relatividade Geral freqüentemente é considerada a derrota final do absolutismo." (RAY)
Infelizmente, nem tanto assim. Ela agoniza, mas é teimosa.
Ainda que o fascismo e o nacional-socialismo tenham sido destruídos enquanto realidades políticas na Segunda Guerra Mundial, suas ideologias não desapareceram e, direta ou indiretamente, ainda se opõem ao credo democrático.
KELSEN, HANS, A Democracia: 140
A nova ciência não interessa aos napoleões. Então, dê-lhe manter arranjos híbridos, social-democracias, keynesianismos, trabalhismos e sindicalismos. Nenhum quer entregar a chave do cofre a quem pertencem os depósitos. Por fora da realidade, todavia, ainda que objetivem escrevê-las, estão fadados ao retumbante insucesso:
O terceiro princípio vital para a política do amanhã visa a quebrar o bloqueio decisório e colocar as decisões no lugar a que pertencem. Isso, que não é simplesmente um remanejamento de líderes, e o antídoto para a paralisia política. É o que chamamos de ‘divisão de decisão’.
CHARDIN, Teilhard, cit. FERGUNSON, N.: 48
Por bizarro, a "política do amanhã" poderia ter sido a de ontem, há muito tempo:
O esforço natural de cada indivíduo para melhorar suas própria condição constitui, quando lhe é permitido exercer-se com liberdade e segurança, um princípio tão poderoso que, sozinho e sem ajuda, é não só capaz de levar a sociedade à riqueza e prosperidade, mas também de ultrapassar centenas de obstáculos inoportunos que a insensatez das leis humanas demasiadas vezes opõe à sua atividade.
SMITH, Adam, cit.DOWNS : 56
Se demoramos mais de tres séculos para conhecermos J. LOCKE; dois para entender ADAM SMITH, e um para EINSTEIN, não foi por falta de aviso. Há mais de meio apregoava o socialista BERTRAND RUSSELL (Ideais Políticos: 10):
"Não um único ideal para todos os homens, mas um ideal diferente para cada homem é o que deve ser alcançado, se possível."
"Isto faz dos seres vivos elementos numa vasta rede de inter-relações que abarca a bioesfera de nosso planeta – que em si mesma é um elemento interligado dentro das conexões mais amplas do campo psi que se estende pelo cosmos." (LASZLO: 198)
We can change. I hope.


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