quarta-feira, 25 de março de 2009

O preconceito de Einstein

Deus é sutil, mas não malicioso. 
Ele não joga dados.
Jovem Albert
Admiro Richard Dawkins, que ainda não li: (Deus é um delírio. - Companhia das Letras, 2007). Mas se não for, nem vem ao caso, a não ser para nos alertar sobre a necessidade de nos livrarmos da fé: ela nada mais é do que uma flagrante manifestação de preconceito, ainda que possa ser tomado genuinamente virtuoso. Não chegaria a tanto, mas Bertrand Russell (p. 21), detonou: “Se houvesse um Deus, ele (ou ela, aquilo, ou eles) deveria ser julgado por crimes contra a humanidade.”
A ciência sem a religião é manca. A religião sem a ciência é cega.
Einstein teve enorme dificuldade em escapulir do marco introjetado. "A região do mundo colhia, pelo menos parcialmente, a herança grega, e a combinara com a visão da natureza e a vocação do homem trazida pela tradição judaico-cristã." (LADRIÈRE, Les enjeux de la racionalitè, 1977)
Atordoado por Deus não vir ao caso, o gênio tentou, pelo resto da vida, a unificação da Física Quântica com o eletromagnetismo e a Relatividade:
Einstein discordou da interpretação de Copenhagen porque ela defendia que a realidade era aleatória ou probabilística. Einstein concordava que a Mecânica Quântica era a melhor teoria disponível, mas procurou sempre uma explicação determinista, isto é não-probabilística.
Religião significa religar. O ato  deve ser precedido pelo desligar, obviamente.  Do desligamento fundamental tratou a Igreja com a estória da criação, da expulsão de Adão e Eva do Paraíso. Não creio que o sagaz cientista sustentasse tal efeméride.  Assim como não há possibilidade de mergulhados no oceano permanecermos enxutos, igualmente não há como não estarmos no meio do cosmos, integrados no Universo, na eternidade, e tudo o mais. Mesmo que a Igreja nisso não acredite, isso é impossível de algo ou alguém desfazer. Portanto, nada há para fazer; muito menos religar.
Einstein apresentou esse quadro surreal: porque dedicado às intensas pesquisas que demoliriam completamente todo o artifício cientístico até então formulado, o excepcional físico não teve tempo de percorrer maiores meandros filosóficos, exceto por raros autores. Entre esses, o chato KANT, e o cético HUME. Todavia, encontrou tempo para se abeberar em SPINOZA, a quem teceu  elogios. A abordagem científica do excomungado iluminista catalizou sua atenção, mas EINSTEIN não ligou o fato às evoluções quânticas, nada mais do que malabarismos panteístas:
Spinoza defendeu que Deus e Natureza eram dois nomes para a mesma realidade, a saber, a única substância em que consiste o universo e do qual todas as entidades menores constituem modalidades ou modificações. Ele afirmou que Deus sive Natura ("Deus ou Natureza" em latim) era um ser de infinitos atributos, entre os quais a extensão (sob o conceito atual de matéria) e o pensamento eram apenas dois conhecidos por nós. Wikipédia.
Quando EINSTEIN definiu que E=MC2, ficou bastante claro que a separação primordial proposta por Platão e adotada pela Igreja, entre o corpo e a alma, aquele mundano, ela divina, era totalmente desprovida de razão; portanto, sequer merece fé:
Tanto o platonismo quanto o cristianismo distanciam os seres humanos do meio que os rodeia. A natureza e a experiência eram encaradas como o mundo das modificações perturbadoras, o mundo do erro e do caos. Para o cristianismo, a dúvida e a incerteza são obra do diabo. ZOHAR, D., O Ser Quântico, Uma visão revolucionária da natureza humana e da consciência, baseada na nova física: 188.
Bohr registrou os embates no artigo Discussions with Einstein, reproduzida já em 1948 pela coletânea Albert Einstein: Philosofer - Scientist. Seis anos depois, finalmente, Einstein entregou os pontos
No homem primitivo era o medo, acima de quaisquer outras emoções, que o levava à religião. Esta religião do medo – medo da fome, de animais selvagens, de doenças e da morte – revelava-se através de atos e sacrifícios destinados a obter o amparo e o favor de uma divindade antropomórfica, de cujos desejos e ações dependiam aqueles temerosos sucessos. Como o entendimento do homem primitivo sobre as relações de causa e efeito era pobremente desenvolvido, essa religião do medo criou uma tradição transmitida, de geração a geração, por uma casta especial de sacerdotes que se postara como mediadora entre o povo e as entidades temidas. Essa hegemonia concentrou o poder nas mãos de uma classe privilegiada, que exercia as funções clericais como autoridade secular a fim de assegurar seu poderio. Nesse ínterim se verificava a associação dos governantes políticos à casta clerical, na defesa dos interesses comuns.
EINSTEIN, A.,
cit. GABERDIAN, H. GORDON: 314)
"A palavra de Deus para mim é nada mais que a expressão e produto da fraqueza humana, a Bíblia é uma coleção de lendas honradas, mas ainda assim primitivas, que são bastante infantis." (Carta escrita em 1954, um ano antes de sua morte, ao filósofo alemão Eric Gutkind)
Assim lentamente, vamos todos superando o primordial preconceito da civilização:
A teoria quântica dos campos é a aplicação conjunta da mecânica quântica e da relatividade. Ela fornece uma estrutura teórica usada na física de partículas e na física da matéria condensada. Em particular, a teoria quântica do campo eletromagnético, conhecida como eletrodinâmica quântica (tradicionalmente abreviada como QED, do inglês 'Quantum EletroDynamics', é a teoria provada experimentalmente com maior precisão na Física. Resumidamente, pode-se dizer que a teoria quântica dos campos é uma segunda quantização, isto é, realiza a quantização dos campos, ao passo que a mecânica quântica apenas realiza a quantização da matéria. A teoria quântica dos campos considera tanto a matéria (hadrons e leptons) quanto os condutores de força (bosons mensageiros) como excitações de um campo fundamental de energia mínima não-nula (vácuo).

A falha de Einstein

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