segunda-feira, 9 de março de 2009

Da estatização dos bancos


O poder excessivo do setor financeiro é o motivo pelo qual o mundo chegou à crise atual.  RUSSELL, Bertrand, O Moderno Midas, 1930/2002: 69
Diante do descalabro que inúmeros estabelecimentos bancários propiciam, não só nos EUA como alhures, reiniciado, curiosamente, no criativo Brasil do PROER,  a estatização do sistema financeiro vem encontrando respaldo generalizado. O dilema é inédito, malgrado a crise de 1929 ser assemelhada, e de certo modo superada. Todavia, o remédio da ocasião foi de tal modo arriscado, que apenas um episódio ainda mais dantesco, como a eclosão da II Grande Guerra Mundial foi capaz de elidir tantas mazelas criadas por aqueles  artifícios financeiros. Tentemos identificar as razões do precipício, e os métodos utilizados para manter o capitalismo incólume, especialmente diante dos graves prenúncios do cientismo marxista, provado fatal pela então recente atrocidade bolchevique...
O desvio do padrão contemplou os amigos do rei:
Os grandes banqueiros e industriais emergiram nessa época. Firmas de Wall Street - como Belmont, Lazard e Morgan - com apenas 15 anos de existência, ocupavam lugar de destaque na economia. Os tempos modernos da legislação para as práticas de comércio começaram em 1934. GLEISER, I.: 21
Tais estabelecimentos emergiram não por aportes privados, tampouco pelo trabalho junto à economia popular, muito menos fruto da desenvoltura econômica, mas exclusivamente pela dispensa daquele lastro, o qual ensejou "fabricar" o dinheiro em profusão, canalizado através das instituições supra elencadas, e outras mais. O argumento keynesiano provava que o "dinheiro falso" poderia ser lastreado com o desenvolvimento que ele acarretaria, e assim haveria um retorno ao equilíbrio. O macête também servia para aplacar a fúria operária, contemplada com uma infinidade de parcos "direitos sociais", todos implementados e custeados dessa forma subretícia. O mundo capitalista se encantou com a panacéia, e a doutrina keynesiana vigorou de plano no fascismo, no nazismo e em seus arremedos, mais ou menos fiéis. Todavia, porque lavrado na ficção, no artificialismo, o mundo elidiu o terror comunista, mas sob o preço inflacionário. Se o capitalismo excluia a classe proletária, a fórmula aparentemente científica de Keynes simplesmente lhe aniquilava. Inventaram-se correções monetárias, reajustes de salários e tal, mas todas essas medidas se mostraram inóquas, pelo detalhe fundamental: elas buscavam recuperar um organismo totalmente desvirtuado, destinado apenas à ludibriar a população. Novamente nos vemos envoltos na mesma armadilha:
O FBI investiga denúncias de fraude nos gigantes financeiros
Lehman Brothers, Fannie Mae e Freddie Mac, e na seguradora AIG.
A apuração inicial foi ampliada e agora inclui 26 companhias cotadas
em Wall Street. (Invertia, 23/0/2008)

O ministro Paulo Bernardo (Planejamento) é direto quando indagado se os bancos privados estão escondendo dinheiro por causa da crise: 'Claro que estão! O que eles fizeram? Fogueira com o dinheiro? Isso deve estar todo entesourado'
Folha de São Paulo, 23/11/2008
O quadro, todavia, ainda que não apresente a desgraça vista nos filmes da época, parece ser de maior porte e amplitude. Além dos bancos, querem sentar-se à mesa estendida no jardim do palácio outras inúmeras grandes empresas, com especial destaque à indústria automobilística, já aquinhoada com polpudas verbas emitidas pelos antigos tesouros nacionais, ora tornados gráficas impressoras:
"As ações 'rápidas e ousadas' do Federal Reserve evitaram o pior e a evolução da situação econômica e, em particular, a inflação dependerá da sabedoria das políticas de governo" (BUFFET, Warren, bilionário americano. UOL Economia, 9/3/2009)
"Até junho, o BEI deve ter aprovado para a indústria do automóvel um total muito mais significativo de 7 bilhões de euros de créditos, ou seja, mais de 10% de nosso total de empréstimos para este ano." (MAYSTADT, Philippe, Presidente do Banco Europeu de Investimentos. Folha de São Paulo, 9/3/2009)
Parece não haver dúvidas que no médio prazo essas medidas serão capazes de reerguer a economia. Cabe, contudo, a grande questão: para completar o quadro teremos que lançar mão de uma nova guerra mundial?

O conto de Comte
Não são poucos os que propugnam por maior regulamentação. É contra-senso. Quanto maior a regulamentação, menor a liberdade. Ademais, não há a menor possibilidade da regulamentação, por mais ampla e abrangente que se faça, cobrir ou coibir todas virtuais hipóteses, porque ela sempre se refere ao passado, o qual, por limitado, é menor do que o futuro. Assim é que ao encontrar brechas na legislação, as falcatruas recrudescem, porque "não ilegais", ainda que amorais, ou imorais.

Da estatização
O poder de Estado, que parecia planar bem acima da sociedade,
era todavia, ele próprio, o maior escândalo desta sociedade e,
ao mesmo tempo, o foco de todas as corrupções.
Comuna de Paris, 1871
Não concordo com nenhum tipo. Não há estatizações, mas apropriações, e por quem nada produz. O Estado é irresponsável, porque não identificável. A rigor, é um ente ficcional. O que existe são seus jockeys. .O maior exemplo de estatização foi dado pelos soviéticos. O que se viu foi uma casta encastelada, se adonando de tudo, deixando os soviéticos .a ver navios. O que diria um Einstein?
Para mim, o elemento precioso nas engrenagens da humanidade não é o Estado, é o indivíduo, criador e sensível, a personalidade; é só ela que cria o nobre e o sublime, enquanto a massa permanece estúpida de pensamento e estreita nos sentimentos EINSTEIN, Albert, cit. ALMEIDA, M. O., A Ação Humana e Social de Einstein: 65; TRATTNER: 75.
Outro episódio de estatização, ainda que bem menor escala, foi oferecido pela França, de Mitterrand. Um fiasco. Seu governo ficou caracterizado por grande corrupção, em especial contrabando de armas. Terminado o exercício, tudo voltou como antes, com um agravante: as cartas patentes foram redistribuídas aos amigos do rei. Como no episódio recente, da liquidação dos Nacional, Bamerindus, e Econômico, oferecidos graciosamente aos espanhóis, em troca de polpudas comissões depositadas diretamente nas Caymanns.
O dinheiro, a rigor, não pertence ao Estado, e sim à produção, mas Leviathan detém o monopólio, a prerrogativa de "fabricá-lo". Pois como nada produz, quanto mais afastado ele estiver do criado,  menor será o índice de corrupção.
Quanto às quebras dos bancos, ainda que de efeito social, podemos jogar no rol dos infortúnios que todos passamos ao sermos alvos de pequenos e grandes calotes. Ninguém quebra por isso, ainda mais um banco, exigente na concessão do crédito, ao tempo em que sua atividade é amenos operativa e a mais rentável do mundo. Banco só quebra por gestão temerária. Em palavras claras: se gerenciado por gatunos.
Estatização significa passar o controle do estabelecimento a um partido político, a troco de nada, e sem a menor responsabilidade:

A democracia fala de um governo comandado pelo povo e sujeito às suas leis; na realidade, entretanto, os regimes democráticos são dominados por elites que planejam maneiras de moldar e dobrar a lei a seu favor. PIPES, R.:251
Se  uma oligarquia acarreta graves prejuízos sociais,  o monopólio arruína tudo, sem exceção, inclusive seus dirigentes. A gestão da Economia, que é privada, não é tarefa do Estado, que é público. Não acha elementar, meu caro Watson?

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