Diante do descalabro que inúmeros estabelecimentos bancários propiciam, não só nos EUA como alhures, reiniciado, curiosamente, no criativo Brasil do PROER, a estatização do sistema financeiro vem encontrando respaldo generalizado. O dilema é inédito, malgrado a crise de 1929 ser assemelhada, e de certo modo superada. Todavia, o remédio da ocasião foi de tal modo arriscado, que apenas um episódio ainda mais dantesco, como a eclosão da II Grande Guerra Mundial foi capaz de elidir tantas mazelas criadas por aqueles artifícios financeiros. Tentemos identificar as razões do precipício, e os métodos utilizados para manter o capitalismo incólume, especialmente diante dos graves prenúncios do cientismo marxista, provado fatal pela então recente atrocidade bolchevique...O poder excessivo do setor financeiro é o motivo pelo qual o mundo chegou à crise atual. RUSSELL, Bertrand, O Moderno Midas, 1930/2002: 69O desvio do padrão contemplou os amigos do rei:Os grandes banqueiros e industriais emergiram nessa época. Firmas de Wall Street - como Belmont, Lazard e Morgan - com apenas 15 anos de existência, ocupavam lugar de destaque na economia. Os tempos modernos da legislação para as práticas de comércio começaram em 1934. GLEISER, I.: 21Tais estabelecimentos emergiram não por aportes privados, tampouco pelo trabalho junto à economia popular, muito menos fruto da desenvoltura econômica, mas exclusivamente pela dispensa daquele lastro, o qual ensejou "fabricar" o dinheiro em profusão, canalizado através das instituições supra elencadas, e outras mais. O argumento keynesiano provava que o "dinheiro falso" poderia ser lastreado com o desenvolvimento que ele acarretaria, e assim haveria um retorno ao equilíbrio. O macête também servia para aplacar a fúria operária, contemplada com uma infinidade de parcos "direitos sociais", todos implementados e custeados dessa forma subretícia. O mundo capitalista se encantou com a panacéia, e a doutrina keynesiana vigorou de plano no fascismo, no nazismo e em seus arremedos, mais ou menos fiéis. Todavia, porque lavrado na ficção, no artificialismo, o mundo elidiu o terror comunista, mas sob o preço inflacionário. Se o capitalismo excluia a classe proletária, a fórmula aparentemente científica de Keynes simplesmente lhe aniquilava. Inventaram-se correções monetárias, reajustes de salários e tal, mas todas essas medidas se mostraram inóquas, pelo detalhe fundamental: elas buscavam recuperar um organismo totalmente desvirtuado, destinado apenas à ludibriar a população. Novamente nos vemos envoltos na mesma armadilha:
O FBI investiga denúncias de fraude nos gigantes financeiros
Lehman Brothers, Fannie Mae e Freddie Mac, e na seguradora AIG.
A apuração inicial foi ampliada e agora inclui 26 companhias cotadas
em Wall Street. (Invertia, 23/0/2008)
O ministro Paulo Bernardo (Planejamento) é direto quando indagado se os bancos privados estão escondendo dinheiro por causa da crise: 'Claro que estão! O que eles fizeram? Fogueira com o dinheiro? Isso deve estar todo entesourado'
Folha de São Paulo, 23/11/2008O quadro, todavia, ainda que não apresente a desgraça vista nos filmes da época, parece ser de maior porte e amplitude. Além dos bancos, querem sentar-se à mesa estendida no jardim do palácio outras inúmeras grandes empresas, com especial destaque à indústria automobilística, já aquinhoada com polpudas verbas emitidas pelos antigos tesouros nacionais, ora tornados gráficas impressoras:"As ações 'rápidas e ousadas' do Federal Reserve evitaram o pior e a evolução da situação econômica e, em particular, a inflação dependerá da sabedoria das políticas de governo" (BUFFET, Warren, bilionário americano. UOL Economia, 9/3/2009)"Até junho, o BEI deve ter aprovado para a indústria do automóvel um total muito mais significativo de 7 bilhões de euros de créditos, ou seja, mais de 10% de nosso total de empréstimos para este ano." (MAYSTADT, Philippe, Presidente do Banco Europeu de Investimentos. Folha de São Paulo, 9/3/2009)Parece não haver dúvidas que no médio prazo essas medidas serão capazes de reerguer a economia. Cabe, contudo, a grande questão: para completar o quadro teremos que lançar mão de uma nova guerra mundial?
O conto de Comte
Não são poucos os que propugnam por maior regulamentação. É contra-senso. Quanto maior a regulamentação, menor a liberdade. Ademais, não há a menor possibilidade da regulamentação, por mais ampla e abrangente que se faça, cobrir ou coibir todas virtuais hipóteses, porque ela sempre se refere ao passado, o qual, por limitado, é menor do que o futuro. Assim é que ao encontrar brechas na legislação, as falcatruas recrudescem, porque "não ilegais", ainda que amorais, ou imorais.
Da estatizaçãoO poder de Estado, que parecia planar bem acima da sociedade,
era todavia, ele próprio, o maior escândalo desta sociedade e,
ao mesmo tempo, o foco de todas as corrupções.
Comuna de Paris, 1871Não concordo com nenhum tipo. Não há estatizações, mas apropriações, e por quem nada produz. O Estado é irresponsável, porque não identificável. A rigor, é um ente ficcional. O que existe são seus jockeys. .O maior exemplo de estatização foi dado pelos soviéticos. O que se viu foi uma casta encastelada, se adonando de tudo, deixando os soviéticos .a ver navios. O que diria um Einstein?Para mim, o elemento precioso nas engrenagens da humanidade não é o Estado, é o indivíduo, criador e sensível, a personalidade; é só ela que cria o nobre e o sublime, enquanto a massa permanece estúpida de pensamento e estreita nos sentimentos EINSTEIN, Albert, cit. ALMEIDA, M. O., A Ação Humana e Social de Einstein: 65; TRATTNER: 75.Outro episódio de estatização, ainda que bem menor escala, foi oferecido pela França, de Mitterrand. Um fiasco. Seu governo ficou caracterizado por grande corrupção, em especial contrabando de armas. Terminado o exercício, tudo voltou como antes, com um agravante: as cartas patentes foram redistribuídas aos amigos do rei. Como no episódio recente, da liquidação dos Nacional, Bamerindus, e Econômico, oferecidos graciosamente aos espanhóis, em troca de polpudas comissões depositadas diretamente nas Caymanns.O dinheiro, a rigor, não pertence ao Estado, e sim à produção, mas Leviathan detém o monopólio, a prerrogativa de "fabricá-lo". Pois como nada produz, quanto mais afastado ele estiver do criado, menor será o índice de corrupção.Quanto às quebras dos bancos, ainda que de efeito social, podemos jogar no rol dos infortúnios que todos passamos ao sermos alvos de pequenos e grandes calotes. Ninguém quebra por isso, ainda mais um banco, exigente na concessão do crédito, ao tempo em que sua atividade é amenos operativa e a mais rentável do mundo. Banco só quebra por gestão temerária. Em palavras claras: se gerenciado por gatunos.Estatização significa passar o controle do estabelecimento a um partido político, a troco de nada, e sem a menor responsabilidade:
A democracia fala de um governo comandado pelo povo e sujeito às suas leis; na realidade, entretanto, os regimes democráticos são dominados por elites que planejam maneiras de moldar e dobrar a lei a seu favor. PIPES, R.:251Se uma oligarquia acarreta graves prejuízos sociais, o monopólio arruína tudo, sem exceção, inclusive seus dirigentes. A gestão da Economia, que é privada, não é tarefa do Estado, que é público. Não acha elementar, meu caro Watson?
segunda-feira, 9 de março de 2009
Da estatização dos bancos
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