quinta-feira, 5 de março de 2009

O fim dos partidos



Um homem vota em um partido e permanece infeliz; ele conclui que era o outro partido que traria o período de felicidade e prosperidade. No momento em que estivesse desencantado com todos os partidos, já seria um homem idoso, à beira da morte. Seus filhos teriam a mesma crença de sua juventude, e a oscilação contínua.
RUSSELL, Bertrand, Ensaios céticos: 121.

Nem tudo que se enfrenta pode ser modificado, mas nada pode ser modificado até que seja enfrentado.
Albert Einstein
Diante dos dramáticos rumos tomados pelas democracias, tornadas meras particracias, em especial a verde-amarela, despachamos a competente repórter Foca Liza para um encontro com o Presidente da 7 co. uma empresa voltada à realidade virtual.


Como o sr. vê a democracia que se pratica?
Uma lástima; pero necessária.
Como assim?
Para haver uma nova estrela, mister um ocaso total. É o que assistimos: uma política de conchavos, de negócios espúrios. Não tem luz própria. Apenas imita bebês antepassados. A população padece por tanta goteira. O sistema se encaminha ao colapso. O terreno será limpo a nova edificação.
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Como ousa a veemência?

Há muito tempo Spengler anunciou o Declínio do Ocidente. A Era de Aquarius 1968 prenunciou. Desde então, é aquela aquela avalanche. Daniel Bell assegura O Fim da Ideologia; Capra, o Ponto de Mutação; Fukuyama já anunciou O Fim da História; e Peter Ward, O Fim da Evolução (São Paulo: Campus, 1997).
Em 1989 ruía o muro, e Toffler registrava a Powershift: a Mudança de Poder.
Emir Sade o procura (O Poder, Cadê o Poder? Ensaios para uma Nova Esquerda. São Paulo: Bontempo, 1997). Bill Gates (p.213) pode informá-lo:
"O poder não vem acumulado, mas compartilhado."
Ninguém mais o detém. Don Tapscott aprecia o câmbio como fruto da interação cultural em
Paradigm Shift: the New Promise of Information Technology (N. York: Mc Graw Hill, 1993). Entendimento supranacional garante-me Maurice Bertrand, em La Fin de l´Ordre Militaire. Jacques Ion anuncia La Fin des Militants. É hora tirar as máscaras dos partidos, a maioria vendida aos consumidores como sociais.-
Nossa. É o fim de tudo?
Em prol do ser humano. Durante milênios ele vem suportando todas metonímias. Agora chega. A humanidade está no século XXI, o da maioridade. Hawking sinalizou o terminal da Física, porém Einstein já acabara com ela. Pensei em decretar O Fim do Direito, e principalmente da Sociologia, mas de certo modo o ALLmirante já arrolou tudo isso há dois lustros, em O conto de Comte (RJ, Papel & Virtual, 2002). Ademais, Kelsen, que era positivista, se arrependeu, e foi o primeiro a assinalar que a justiça é apenas uma das muitas artificialidades criadas por Platão para encantar seus amantes espartanos. Um quarteto de obras empolgantes arrasam o ex-secretário do Tirano de Siracusa.
Sem justiça vai ser uma maravilha. Guerra de todos contra todos, na impunidade geral.
Nada disso. A ética precede e dispensa a justiça.
Ora, isso é que é utopia.
Negativo, de novo. A ética comanda as pequenas ações. As grandes não, porque esssas justamente são mal conduzidas. No entanto, no mundo globalizado, as minorias, os setores, a diversidade sobrepuja o determinismo, a pujança do poder armado.
Mas alguém precisa regulamentar. Pelo menos a Economia. Veja o que tem acontecido por falta de regulamentação. Pessoal quer a presença do Estado para salvá-la.
Regulamentação é o que mais existe. Séculos de pilhas. Ainda assim, não pode tudo abranger. Então, é a própria lei que enseja milhares de furos no casco pelos quais o emendado navio vai à pique. Se não infringi-la, não é ilegal, embora possa ser imoral, amoral, ou antiético. Não há mais tempo para firulas e metonímias. Ou o mundo se torna ético, solidário, ao natural, ou então todos padecem, como sói acontecer, inclusive com os que pensam que comandam. Lembre-se do fim dos mais notáveis comandantes - Cromwell, Napoleão, Mussolini, Hitler, Lenin, e nosso clonezinho. Quanto à Economia, propriamente, Paul Ormerod propunha direto,
sua morte, exaurida por excesso de economês. Seu colega David Simpson apregoava o Fim da Macroeconomia louvando-se na escola austríaca precisamente em F. Hayek, que por sua vez propugnava tirar o monopólio do Estado da impressão e circulação monetária. (The Denationalisation of Money. - London : Institute of Economic Affairs, Hobart Paper no. 70, 3rd: 80, 1990). Eles identificaram justamente nos bancos centrais os núcleos de difusão da safadeza, e desse modo predisseram a estupenda crise, sem precisar se valer das elucubrações marxistas. Aliás, se E=Mc2, ou seja, se a matéria é apenas um estado da energia, o materialismo não tem, sequer, objeto!
Quack!
Pois é. Por isso a exaustão do antagonismo na relação de produção também é fartamente promulgada e anunciada. Disso se ocupa O Fim dos Empregos, de J. Rifkin. Teria mais gente para relacionar, até alguns brasileiros, mas creio suficiente para sustentar a projeção que graciosamente lhes ofereço. Interessa a todos, porque decide tudo: constato a falência, o fim da democracia confeccionada por partidos, por carência de objeto. Ela não tem sentido.
Não posso acreditar. Voltaremos às ditaduras? Aos reis divinos?
Nada disso. O mundo não suporta mais plágios, nem clones, nem produtos pirateados, muito menos fórmulas obsoletas, testadas e não aprovadas. Haverá justamente o contrário. "O poder corrompe. O poder absoluto corrompe absolutamente".
Isso dizia Lord Action!
Ninguém entendia inglês. Hoje não, ninguém mais quer se prestar de bobo.
A democracia tem três poderes e o controle popular!
Ela se restringe aos partidos, em formação centenária, digo, cada qual com cem participantes, apenas, e alguns fornecedores. O povo é apenas objeto. Massa de manobra. Prescinde da consciência, porque tal prerrogativa é pessoal. Dela ele abdica ao integrar a coletividade. Por paradoxo, a união o desfaz de sua principal força. Prêsa fácil. Isso não prosperará:
O indivíduo tornou-se mais consciente que nunca de sua dependência para com a sociedade. Não vive essa dependência, contudo, como uma vantagem, um vínculo orgânico, uma força protetora, mas antes como uma ameaça a seus direitos naturais, ou até a sua existência econômica.
EINSTEIN, A. Escritos da Maturidade: 133
O povo queria diretas já! Agora as tem. Não lhe satisfaz? (Direto já, no queixo brasileiro.)
Qual a diferença entre o assalto e a vigarice? A mesma que distingue o totalitarismo da democracia: enquanto o primeiro toma o dinheiro com o revólver, a segunda vende bilhete premiado. Mas quando a vítima for no guichê, e perceber que foi tapeada, usará todos os recursos da bruxaria que aprendeu durante sua existência, de modo que sequer um caçador como o Putin poderá resgatar o lobo-mau da barriga da vovozinha. (Estranhos no ninho)
Você não acha que os políticos são apenas reflexo da sociedade? É o ser humano que é corrupto, O homem é lobo do homem!
Não é verdade. Repare na lista dos cem principais mandantes do pais. Algum deles algum dia trabalhou em alguma coisa? Assumiu algum afazer de responsabilidade? Agora veja a enorme quantidade de empresas e trabalhadores, que diariamente levantam cedo, e tomam conduções, e almoçam em marmitas, e profissionais liberais, e comerciantes, industriais, agricultores, dignas donas de casa, gente de muito brio e valor. Como ousa o disparate dessa comparação? Ocorre que todos estão envoltos naquilo que se dizia o aparelho ideológico do Estado, um enorme conluiu entre políticos e seus patrocinadores, envolvendo todas as instituições, e por isso, até a opinião pública, mas não a individual. E a soma dessas individuais, num crescente diário, suplantarão a massa amorfa. Imagine quanta gente boa poderia contribuir com a Política. No entanto, quem desses se sujeita a entrar nesses bandos, nessas quadrilhas oficializadas? E mesmo que se dispussesse a tal aventura, você acha que ele não seria sabotado, excluído? Por isso temos sempre os mesmos atores, alguns até anteriores à Revolução de 1964, vê se pode! A política para eles é profissão; ou melhor, meio de vida, porque em qualquer profissão mister qualificação, e principalmente honestidade.
Já que as escolas são obrigadas ao currículo oficial; os órgãos de comunicação são vendidos, em troca de comerciais oficiais; o congresso, comprado; os juízes escolhidos à dedo por quem vai ser julgado; os militares calados com aumentos de soldos e percentagens sobre aquisições de equipamentos; e as votações, por eletrônicas, sequer admitem conferências, como e quando o povo irá tomar conhecimento do imbroglio?
Aí é que está. Subestimam. Como a "cultura de massa gera mediocridade e ignorância” (GASSET, José Ortega Y Gasset, A Rebelião das Massas, 1929; cit. Rohmann, C.: 299), eles se atém só na regência. Todavia, vivemos uma era atômica, não mais muscular. A força não emana do acúmulo. Sua eficácia depende do contrário: é a dispersão que a torna efetiva. São relações, não concentrações. Por isso se pensou na democracia, para espraiar o poder, mas os partidos o enfeixam. Isso é tão antinatural e fatal como um coágulo de sangue ou um fio elétrico desencapado. A energia é fluente, não estática como a matéria, que se pensava a tudo reger.
Por qual processo haverá a mudança é o que me intriga.
Não assiste nenhuma razão para qualquer idéia ser apropriada por grupos. Não há mais ideologias. Os partidos não tem mais nenhum estandarte. A liberdade só pode existir com responsabilidade, e nos partidos ela é indefinível. Então, eles carecem de objetividade e até de legitimidade:

Eu estava vendo um interesse muito claro de algumas pessoas de estar enriquecendo. E algumas me colocaram de forma muito clara: 'campanha é o momento da poupança'. 'Tu não é deste ramo e está atrapalhando o processo'
FEIJÓ, P., vice-governador, sobre CRUSIUS,Yeda, governadora do RS
Mas como o povo assimilará o detalhe?
Pela disseminação da imaginação, das idéias, de fatos correlatos advindos das circunstâncias vizinhas e remotas, do EspaçoTempo, e do compartimento das possibilidades, tudo permeado através de pequenos condutores de não-matéria. São mais ágeis por não arrastarem inércias, e mais competentes. Nada obstaculizam, a não ser a ignorância. Nada fica mais submerso. Microcâmeras, celulares, gravadores, parabólicas, satélites, retransmissoras. Dezenas de quinquilharias. E outras mil energéticas. Por meio disso tudo, desse trânsito estupendo, os olhos vêem, os ouvidos ouvem, a emoção acontece, a pele arrepia; ou os cabelos, de muita gente. Olhe para os lados e confira. O povo está acordando, e os políticos, dormindo no berço esplêndido que julgam imóvel. O ronco esbanja prepotência. Não lhes ensinaram que a Terra gira a 180 mil kms. por hora. Em microondas:

Significa que estamos criando novas redes de conhecimento, interligando conceitos de maneiras surpreendentes, construindo espantosas hierarquias de inferência, gerando novas teorias, hipóteses e imagens, baseadas em novas suposições, novas linguagens, códigos e lógicas.
TOFFLER & TOFFLER: 42
Mesmo com tudo isso, é difícil supor tamanha revolução. Tem muita gente no barco. Haveria uma confusão sem precentes.
Nem tanto. A revolução já está em marcha, como elenquei. É até mera repetição, tomada pela renovação da consciência:
De fato, a vida no espaço cibernético parece estar se moldando exatamente como Thomas Jefferson gostaria: fundada no primado da liberdade individual e no compromisso com o pluralismo, a diversidade e a comunidade.
NAISBITT, J., Paradoxo global: 96
Temos que concordar que nenhum colapso é louvável; mas neste caso é mesmo oportuno, necessário, e, pelo jeito, muito mais premente do que supõe a orquestra do Titanic.
Vou avisar o pessoal.


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