quinta-feira, 24 de abril de 2008

O fim da Torre de Papel



No ano de 1905, dois grandes eventos
balançaram, de modo indelével, a civilização. Na Rússia vingava o pontal da bestialidade, através da inolvidável revolta do Encouraçado Potemkim. Para completar o desastre, o Czar, exclusivamente movido pelo medo, promoveu o Domingo Sangrento, dia do fuzilamento em massa sobre os marinheiros comunistas, mas também sobre a inocente, queixosa e sofrida população daquele pós/guerra com Japão. Em vez de união, o governante conseguiu um rastro de pólvora contra si mesmo, contra
o poder constituído. No embalo, pôs-se acelerada a marcha do criminoso comboio, e nem sequer aquela nova e ainda mais dantesca guerra internacional elidiu sua trajetória; pelo contrário, aproveitando-se da confusão reinante e da exaustão do conflito, em 1917 Lênin perfez o golpe.Essa história raros desconhecem; e muitos puderam acompanhar o seu fim, sem derramamento de sangue, como uma nova Revolução Gloriosa, encetada justamente  quando a original completava o terceiro centenário. Eis a dimensão do atraso.
NA ALEMANHA acontecia outro estupendo fato, até infinitamente mais decisivo, porém no âmbito da ciência, e por isso pouco assimilado. Por bizarro e paradoxo, contudo, malgrado tanto tempo, raros conhecem esta história. Dizem que não vem ao caso. À manada, tanto faz ser o Sol que dê voltas sobre a Terra ou o contrário. Coisa da ignorância, mesmo. Ignorar a data, em si, até é admissível; contudo, desconhecer seus efeitos, até mesmo nos atuais cursos universitários, é simplesmente lamentável; intolerável é termo mais adequado. A academia continua singrando no mar da ilusão, levando seus passageiros à ilha da fantasia. Passo a lhes informar as novas, datadas recentemente, há mais de século, a fim de que não permaneçam a desencaminhar nossos filhos.-
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O desmanche da Torre de Papel
1905 também assistiu o desmoronamento da "ciência" (mal) calculada. Dois definitivos petardos fizeram ruir a torre do blá, blá blá, empilhada por quatrocentos anos, mas os soviéticos não quiseram disso saber. Para eles, o zenith chamava-se materialismo. O primeiro approach que mudou radicalmente todos os conceitos da ciência levou o discreto título de Sobre a Eletrodinâmica dos Corpos em Movimento, atenção de Albert Einstein aos paradoxos aferidos nas medições da velocidade de deslocamento da luz e especulações sobre sua influência, detectada na Teoria Quântica, por Max Planck (1828-1947), esta desenvolvida desde 1900.
O segundo tiro levou o nome de Teoria Especial da Relatividade, justamente cognominada Especial porque Einstein pensava não poder aplicá-la, num primeiro instante, ao geral, no completo, em tudo, pelo insólito motivo: a luz insistia, independentemente de qualquer movimento da fonte emissora, conservar exatamente a mesma velocidade de partida e de deslocamento. Em outras palavras, a velocidade da luz não é relativa ao corpo donde ela se despreende e isso a incompatibilizava com a Teoria da Relatividade. Intrigava-se o iluminado cientista. Que vetor, per se, transformar-se-ia em “estado da matéria” (1) e não matéria em si mesmo?
Lei do Movimento Browniano - a dança das partículas de pólen em suspensão na água, fato capaz de balançar os céticos do atomismo - e Teoria Quântica dos Raios e a Identidade da Massa e da Energia foram trabalhadas na seqüência, sendo que a última saía à cata de algo que fosse responsável por aquele incrível deslocamento da luz, em “flutuações” que percorrem o campo eletromagnético com freqüências altíssimas e variadas, entre quatrocentos a setecentos trilhões de ondas por segundo (2). Einstein aceitou a exceção. E a Teoria Especial da Relatividade passou a ser chamada Teoria Geral da Relatividade; ou, simplesmente, Teoria da Relatividade, “a maior obra de síntese do engenho humano até os dias de hoje”. (3)
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O Fio-de-Ariadne
Na metade do século XIX, precisamente em 1845, o astrônomo Leverrier alarmara a comunidade científica com narração de estranho fato - o planeta Mercúrio apresentava sutil irregularidade em sua órbita elíptica, no periélio, alternando o momento de sua elipse em relação ao sol por vagarosos deslocamentos. A explicação contemplava uma eventual ação de uma imaginário produto de uma força, dialética pertinente à “guerra” do magnetismo interplanetário, o jogo de “atração/repulsão”, batida verificação dialética oriunda do obtuso pensamento platônico. O desvio apresentava 532 segundos de arco por século. O avanço medido, todavia, era de 574, restando 42 segundos percorridos que não encontravam justificativa. Einstein veio com a resposta: sua lei de gravitação dava a chance à discrepância. O eclipse solar de 29 de maio de 1919 simplesmente confirmou o acerto da hipótese. Coberto pelas fotografias, deleitou-se o espirituoso cientista:
Agora que se demonstrou a exatidão da minha teoria da relatividade, a Alemanha vai proclamar que eu sou alemão e a França vai declarar que eu sou cidadão do mundo. Se se provasse a falsidade da minha teoria, a França diria que eu sou alemão e a Alemanha declararia que sou judeu. (4)
Até a nacionalidade, pois, fez-se relativa no cientista, anarquista (?!) para quem conviveu com a inigualável personalidade:
“E era irreverente, anarquista, pacifista, silencioso e dócil. Um homem bom.” (5)
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O tempo não é curto; é curvo
Além de sublimar antagonismos, evitando as estéreis emulações dialéticas, Einstein fez retornar à constelação científica sua estrêla d´Alva, a “hipótese”, apagada nas nuvens desde Francis Bacon. Este carrasco da natureza especulava: “É preciso procurar se há uma espécie de força magnética, operando entre a Terra e as coisas pesadas, entre a Lua e o oceano, entre os planetas, etc.” (6) Einstein o satisfez, sem procurar, sem precisar enxergar, ou sequer medir. Aliás, não é a força que atrai os corpos à Terra. E o espaço é curvo. O que? O espaço é curvo nas vizinhanças da matéria. Quanto maior a massa, maior é a curvatura. É esta distorção, criada em volta da matéria, que forma o contínuo espaço-tempo. Trattner comenta e explica:
Foi em conseqüência disto que Einstein predisse que os astrônomos verificariam uma curvatura dos raios estelares na proximidade do Sol, sendo ela maior junto à borda do grande orbe solar e diminuindo com o afastamento, até se tornar nula. É a curvatura do espaço, e não a suposta força da gravidade que faz o projétil cair no chão depois de descrever uma trajetória curva. A própria idéia da redondeza da Terra - e da curvatura de sua superfície - é um tanto recente. Foi preciso muito tempo para que a humanidade viesse a reconhecer esta verdade. Por que? Porque deslocando-nos sobre sua superfície numa direção qualquer, temos a impressão de que viajamos em linha reta. A realidade, como se sabe, é outra; e a prova é que se nos continuássemos a viajar na mesma direção, acabaríamos fazendo o circuito da Terra e regressando ao ponto de partida. Por aí se vê que a Terra é ilimitada, porém não infinita. (7)
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Notas
1. "O movimento da onda, observado, é o de um estado de matéria e não matéria em si."
Einstein Albert e Infeld, Leopold, A evolução da Física, p. 87.
2.Brian, D., Einstein, a ciência da vida,p. 473.
3. Fillipi, Marco Antônio, O maior cientista do Século XX, em Trattner, Ernest B., idem, p. 115.
4. Einstein, Albert, cit. Henry Thomas e Dana Lee Thomas, A Vida do Grande Cientista,

Trattner, Ernest B., p. 64.
5. Rohden, H., Einstein, O enigma do Universo, p. 227.
6. Bacon, Francis, cit. Voltaire, Vida e Obra, Cartas Inglesas, p. 19.
7. Trattner, Ernest B.,Einstein por ele mesmo - A vida do grande cientista, p. 43/44.

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