terça-feira, 8 de abril de 2008

Filhotes do marxismo

-Mussolini enganou-se ao vaticinar que o fascismo seria a idéia do século XX. Vencido, decapitado na pessoa de seu líder e dirigentes, escarnecido pelos seus atos mesquinhos, amaldiçoado pelos seus erros, ignorado pelo seu ideal, despojado até mesmo dos seus métodos eficazes, ele já não pode ter a pretensão de ser a idéia do século; mas é reflexo, forma aparente, e chave deste século. Thierry Buron1
O FRENÉTICO RITMO incrementado pela revolução industrial, a massificação, produção em larga escala , as disputas decorrentes da I Guerra recém-terminada, a reconstrução necessária e, principalmente, o fantasma leninista pediam a presença do mago, do pastor, o defensor do povo, querido e heróico general às grandes pelejas da raça ariana.“'A revolução bolchevista', dizia o boletim Spartacus, 'é apenas o prólogo de uma revolução européia'.” (2)
A inspiração emanara dos próprios conterrâneos de Hegel e Marx: “A ideologia e até mesmo a terminologia dos primeiros marxistas russos também vieram da Alemanha.” (3)
O país de Bismarck, Nietzsche e Weber também deveria recuperar o destino glorioso, eliminando esses traidores: “Difundiu-se rapidamente a lenda de que a nação havia sido 'apunhalada pelas costas' pelos socialistas e judeus do governo.” (4)
As ruas alemãs, mais uma vez, eram lavadas com sangue e lágrimas: “Durante vários dias as metralhadoras crepitam em Berlim. As tropas governamentais distribuem até armas aos civis que se apresentam como voluntários para liquidar os spartakistas.” (5)Rosa de Luxemburgo e seus amigos foram sacrificados. A reportagem é de Einstein:
As coisas pioraram ainda mais do que teria ousado prever o pior dos pessimistas. Na Europa, a leste do Reno, o livre exercício do intelecto não existe mais, a população vive aterrorizada por bandidos que se apossaram do poder e a juventude é envenenada por mentiras sistemáticas. (6)
Deus não estava mais presente. Nietszche, como Darwin e Marx, havia rejeitado esta idéia, mas a consciência do "louco", bem desvirtuada pela irmã Elizabeth Nietzsche, bem serviria aos torpes propósitos. Deus estava morto. Em seu lugar, o Super-homem (7), a ser atingido pela ponte do carismático:
O super-homem destrói ídolos, orna-se com seus atributos. A apoteose da aventura humana é a glorificação do homem-Deus. A propaganda fascista/nazista cria uma nova religião: a do Estado e de seu chefe providencial. Transforma esse salvador em ídolo de um novo culto. Adorado, adulado, incensado. (8)
Explica-nos Rohden sobre a dramática peculiaridade desse pensamento:
Nietzsche julgou ter descoberto nesse principio darwiniano a solução para os problemas da humanidade: era necessário que o homem fizesse conscientemente o que os seres inferiores faziam inconscientemente: eliminar o que é fraco e incrementar o que é forte. (9)
Esta foi a percepção vendida por ELIZABETH, irmã de NIETZSCHE, uma verdade distorcida pela colaboradora nazista, de amplo agrado do REICH. Mister a presença do pai, o paladino, o herói, o exemplo do super-homem esperado, ora até por "sociólogos":
Ao se dedicar a um estudo do mundo contemporâneo, Weber concluiu ser inevitável que as sociedades caissem, cada vez mais, sob a influência de burocracias crescentes e potencialmente totalitárias. Reconhecendo o grau em que isso poderia ameacar a liberdade humana, Weber postulou a idéia da liderança 'carismática' como meio de fugir a mortífera tirania do controle estatal. O próprio Weber admitia os perigos, assim como as vantagens da autoridade carismática, perigos estes que as carreiras de Hitler e Mussolini logo tornariam gritantes. (10)
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Primogênito
Dez anos antes, as trágicas peças já tinham sido ensaiadas na Alemanha, e se estenderam ao público húngaro. Em março de 1919, a República Soviética, comandada por Bela Kun, tomou de assalto a Hungria; em agosto, Belinha foi liquidado. Milhares partidários de marxistas foram executados. O fascismo fazia o debut. “Colocar a casa em ordem” era sua especialidade. Julgava-se descoberta a fórmula que corrigiria tanto a ordem econômica como a social.
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Os irmãozinhos
Thierry Buron e Pascal Gauchon se dedicaram a pesquisar as avalanches. Além da Hungria, Itália e Alemanha, naturalmente, eles verificaram ocorrências fascistas na Grã-Bretanha, na Irlanda (cujo fascismo é considerado “cristão”), Bélgica, Noruega, Finlândia, Áustria, Romênia, Espanha. Duverger observou o alcance:
O fascismo consiste na invenção de instrumento de força capaz de fazer voltar as massas à obediência: um partido organizado sob a forma de milícia. Por volta de 34/39 encontram-se quase que por toda a parte partidos fascistas: mesmo na Grã-Bretanha, nos Países Baixos, na Escandinávia. Mas eles só têm importância mesmo na Itália, na Alemanha e na França, com as ligas, o Partido Social Francês e o Partido Popular e na Bélgica, com o rexismo, aliado ao nacionalismo flamengo. (11)
No estado corporativo, o mito e a fama mereciam prioridade. O Estado Espetáculo criou os bombásticos Som e Luz, artifícios publicitários dos quais iriam também se valer os revolucionários comunistas Mao Tsé Tung e Stálin, entre vários. Burdeau resume a estratégia de marketing utilizada pela família:
a) Não lhe interessa agir sobre indivíduos, mas sobre grupos;
b) o indivíduo, sozinho, que reflete, é um obstáculo;
c) urge neutralizá-lo, tornando impotente a reflexão pessoal.
d) a propaganda se assentará no esforço de obter reações emocionais. (12)
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Notas
1. Os Fascismos, Rio de Janeiro: Zahar Editores.
2.Richard, Lionel, A República de Weimar (1919-1933), p. 25.
3. Lukács, John, O Fim do Século 20, p. 63.
4. Burns, Edward McNall, Lerner, Robert E. e Standish, Meacham, p. 702.
5. Richard, L., p. 42.
6. Einstein, Albert, Escritos da maturidade: artigos sobre ciência, educação, religião, relações sociais, racismo, ciências sociais /Albert Einstein, p. 9.
7. O Super-homem no lugar de Deus, mote de Nietzsche em Assim Falava Zaratustra.
8. Schwartzenberg, Roger-Gérard, O Estado Espetáculo, p. 28.
9. Nietzsche, Friederich, cit. Rohden, Huberto, Filosofia Contemporânea, p. 220.
10. Weber, Max, cit. Burns, Edward McNall, Lerner, Robert E. e Standish, Meacham, p. 710.
11. Duverger, Maurice, p. 408.
12. Burdeau, Georges, cit. Bonavides, Paulo, Ciência Política, p. 463.

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