domingo, 13 de abril de 2008

Qüen, qüen do Plano Cohen*

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O sindicato dominado e dirigido pelo Estado', afirmou outro partidário do regime em 1936, era fundamental à operação do novo sistema. Ao eliminar o 'espírito antipatronal', suprimir resolutamente a agitação daninha e criar uma elite colaboradora na classe operária, o Estado brasileiro teria garantido a ordem social capitalista, desviando assim os ventos das velas do comunismo. John D. French ¹ 
COMANDANTE DE MINGUADOS pseudomarxistas, em maio de 1930 Luiz Carlos Prestes contribuiria com o jogo compondo um manifesto ameaçador.  Uma revolução bolchevique verde-amarela haveria de propiciar“um governo de todos os trabalhadores, baseado nos conselhos dos trabalhadores da cidade e do campo, soldados e marinheiros.” (2)
Organizada sua coluna, mais turma do que exército, Brancaleone levou as novas ao interior. Os “gatos pingados”, o “perigo nacional” da tal Coluna, já havia motivado a troca do hóspede do Catete: “Não resultou dela, em grande parte, a Revolução de 30? E não sentimos hoje as conseqüências imediatas deste último acontecimento?”(3)
Brasilianistas que se detiveram sobre a performance de Gegê informam: “Ele fez uma poderosa e adaptável mistura política. Atuou dentro do lema positivista do Brasil: 'Ordem e Progresso'." (4)
“O Príncipe” sabia-se de cor. São inúmeros os testemunhos; vale a pena rever amostras: “Ainda com Maquiavel, defino outro traço da mentalidade política do Presidente Getúlio: o desejo de ser temido, sem deixar de ser amado.” (5)“Getúlio era um fiel discípulo do secretário florentino, daquele que Gioberti considera o “Galileu da política” e Emil Ludwig chama de 'instrutor dos ditadores'.” (6)Octávio de Faria exultava em seu Machiavel e o Brasil:
Paremos um momento e detenhamo-nos ante a figura de um homem que Maquiavel parece ter previsto e que teria saudado, Mussolini, indivíduo de exceção que o Brasil precisava ter produzido para si ou ter a possibilidade de criar, de modo a poder dirigir-se amanhã para rumos menos negros. Mussolini é em traços gerais o homem com quem Maquiavel sonhou. (7)
Ele atingia o intento: “E sei, por testemunho de Augusto Frederico Schmidt, via Oswaldo Aranha, que Getúlio Vargas leu e teceu comentários à margem de 'Machiavel e o Brasil', encontrando-se, evidentemente, na figura desse chefe carismático idealizado, a imagem, certa ou errada, de Benito Mussolini”. (8)
“Seu exasperados inimigos rotularam-no de maquiavélico.* * Essa denominação era exata; Getúlio também a teria achado lisonjeira. Na morte como na vida os atos de Getúlio foram cuidadosamente calculados para produzir o máximo efeito político”. (9)
O Presidente Tancredo Neves, também ex-colaborador, tentou arrumar a defesa, mas confirmou a predileção pelo tíbio estilo florentino:
Muitas vezes, quando ele tinha que adotar processos que o levassem a ser considerado maquiavélico, era em função da permanência desses objetivos. De maneira que é perfeitamente compreensível que, na luta pelos objetivos maiores, ele tivesse que, muitas vezes, abandonar o amigo de ontem pelo inimigo rancoroso, porque isso era necessário. (10)
Essas mudanças foram vistas, em requintada ironia, por Assis Chateaubriand:
Outra das suas armas políticas prediletas era a apatia pela sorte dos amigos. O amigo é, em política, uma calamidade, ao lado de uma complicação dos mil demônios. Para manobrar seguro em política é indispensável organizar entreveros de amigos e inimigos, o chefe extraindo os sucos de um desgaste, que de certos amgos é até bom, porque os torna mais habitáveis. (11)
A Revista Manchete publicou forte entrevista com o mais notável tributarista brasileiro. O prof. Aliomar Baleeiro disparou:
Que fez ele? Inaugurou, no Brasil, o tipo do ditador paraguaio. Reduziu as construções ferroviárias a zero. Suprimiu todas as liberdades e garantias. Anulou, por Decreto, decisões do Supremo Tribunal. Matou a manifestação de pensamento, oprimiu e corrompeu a imprensa. Nenhum outro homem, na história do Brasil, causou tanta morte, viuvez, orfandade, prisões, exílio, sofrimento. Nenhum outro homem, em todos os tempos, neste país, responde por tantas dificuldades de vida, descrédito nacional, negociatas e desesperos. Poderíamos inverter as palavras do grego e dizer: Nunca ninguém fez sofrer tanto aos seus concidadãos. (12)-
Pois assim como Deus precisa do diabo para se legitimar, Luiz Carlos Prestes só veio a calhar.
O plano previa a mobilização dos trabalhadores para a realização de uma greve geral, o incêndio de prédios públicos, a promoção de manisfestações populares que terminariam em saques e depredações e até a eliminação física das autoridades civis e militares que se opusessem à insurreição.(FGV - Anos de Incerteza (1930 - 1937) O Plano Cohen)
O fantasma colorido de vermelho e armado de foice e martelo justificou a presença do caudilho:
O Presidente se transformava em ditador e falaria à nação justificando seu ato como desejo de livrar o país da desagregação e do domínio comunista. Nesta mesma ocasião, imitando o primeiro Imperador do Brasil, ele outorgava ao País a nova Constituição, elaborada pelo jurista Francisco Campos, que era nomeado seu Ministro da Justiça. (13)
Apreciemos o depoimento inserido em arquivo nacional:
Getúlio divisou, na psicose ou fobia do comunismo, do regime moscovita, dos adeptos de Luiz Carlos Prestes a oportunidade de consumar o golpe. Era necessário atuar logo, mesmo acima da lei, evitando 'sentimentalismo', empregando 'meios violentos', rápidos, desfechados de surpresa, de roldão, 'capazes de frustrar o movimento articulado que todos percebem prestes a explodir'.”(14)
Ia ser muito engraçado um carnaval carioca levado à cabo por comunistas. Prestes serviu de inocente útil à raposa. Custou-lhe a mulher,Olga Benário Prestes oferecida em sacrifício aos amigos da Gestapo.
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Notas
* O "Plano Cohen" consistia em "documento" firmado pelo capitão Olímpio Mourão Filho, na época membro do "Serviço Secreto" integralista, por solicitação do líder Plínio Salgado. O intento era de simular uma revolução comunista no Brasil. Em 1945, o general Góes Monteiro denunciou o plano como uma fraude forjada dentro do próprio governo de Getúlio Vargas, com o envolvimento da alta cúpula militar do país. A designação da perfídia foi criteriosamente lançada para dar mais autenticidade à notícia. Era o nome de seu suposto signatário: o comunista húngaro Bela Cohen. Apenas em março de 1945, com o Estado Novo já em crise, o general Góes Monteiro denunciou a fraude produzida oito anos antes, isentando-se de qualquer culpa no caso. Segundo Góes, o plano fora entregue ao Estado-Maior do Exército pelo capitão Olímpio Mourão Filho, então chefe do serviço secreto da Ação Integralista Brasileira (AIB) Mourão Filho, por sua vez, admitiu que elaborara o documento, afirmando porém tratar-se de uma simulação de insurreição comunista para ser utilizada estritamente no âmbito interno da AIB. Ainda segundo Mourão, Góes Monteiro, que havia tido acesso ao documento através do general Álvaro Mariante, havia-se dele apropriado indevidamente. Mourão justificou seu silêncio diante da fraude em virtude da disciplina militar a que estava obrigado. Já o líder maior da AIB, Plínio Salgado, que participara ativamente dos preparativos do golpe de 1937 e que, inclusive, retirara sua candidatura presidencial para apoiar a decretação do Estado Novo, afirmaria mais tarde que não denunciou a fraude pelo receio de desmoralizar as Forças Armadas, única instituição, segundo ele, capaz de fazer frente à ameaça comunista.
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1. Afogados em leis; a CLT e a cultura política dos trabalhadores brasileiros. Tradução de Paulo Fontes. - São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2001, p. 87
2.Silva, Hélio, A Revolução Traída, cit. Andrade, Manoel Correia de, A Revolução de 30 - Da República Velha ao Estado Novo, p. 51.

Ainda sobre Luiz Carlos Prestes, aponta-se a bibliografia: Sodré, Nelson Werneck, A Coluna Prestes; Moraes, Fernando, Olga; Amado, Jorge, O Cavaleiro da Esperanca; Meireles, Domingos, As Noites das Grandes Fogueiras; Prestes, Maria, Meu Companheiro - 40 anos ao lado de Luiz Carlos Prestes.
3.Prefácio ao livro de Lima, Lourenço Moreira, A Coluna Prestes, Marchas e Combates; cit. em Andrade, Manoel Correia de, A Revolução de 30 - Da República Velha ao Estado Novo, p. 33.
4. Bourne, Richard, Getúlio Vargas of Brazil (Sphinx of the Pampas) p. 91, 200/221.
5. Idem; também Reale, Miguel, p. 174.
6. Capanema, Gustavo, Dois Traços Getulianos em Maquiavel, Folha de São Paulo, 21/8/1977.
7. Faria, Octávio, Machiavel e o Brasil, p. 88.
8. Sadek, Maria Tereza Aina, Machiavel, machiavéis: a tragédia octaviana (Estudo sobre o pensamento político de Octávio de Faria), p. 186.
9. Skidmore, Thomas E., Brasil: de Getúlio Vargas a Castelo Branco (1930-1964), p. 57/60.
10. Neves, Tancredo, Vargas, Getúlio, cits. Mascarenhas, Eduardo, p. 25.
11. Chateaubriand, Assis, cit. Jorge, Fernando, p. 97/98.
12. Baleeiro, Aliomar, Política em preto e branco, Revista Manchete de 20/12/1952.
13. Andrade, Manoel Correia de, A Revolução de 30 - Da República Velha ao Estado Novo, p. 85.
14. Arquivo do gen. Eurico Gaspar Dutra - Ata de reunião de Generais no Ministério da Guerra, lavrada pelo Cel. Benício da Silva, 27 de setembro de 1937.

2 comentários:

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