quarta-feira, 9 de abril de 2008

O espraiar fascista

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NA GRÉCIA o Gen. Metaxas aplicou o golpe em 1936, na “incumbência” de “disciplinar” o povo grego. O individualismo natural, próprio do arquipélago, deveria se integrar no ernst, “o sério espírito alemão”. A nova guerra civil matou oitenta mil gregos; vinte mil apodreceram em prisões, cinco mil execuções; e condenou milhares de refugiados a reencetarem as memoráveis viagens de colonização ao longo da costa do Mediterrâneo
A Yugoslávia elevou Tito (Marechal Josip Broz), Chapeuzinho Vermelho diante do lobo Stálin”.(1) O Kremlin o recebeu no interesse de cerrar fileira contra o avanço nazista, bem como de anexar as várias pequenas nações que compõem aquele reduto. Em seguida, todavia, o "Chapeuzinho" bloqueou a crescente interferência do marxismo em seus domínios:
“Não importa o quanto cada um de nós ame a terra do socialismo, a URSS; o que não se pode de maneira alguma é amar menos o seu próprio país”. (2)

Com esta conversinha Tito manteve o peculiar nacional-socialismo por mais de quarenta anos, fazendo de seu cargo uma atividade vitalícia e definitiva. Depois de tantas cabeças cortadas, a Iugoslávia, dilacerada, esfarelou-se nas guerras étnicas.
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Recém completados os dezoito anos da Proclamação da República, nossos irmãos lusitanos ainda caminhavam pela mão do “papai”. Antônio de Oliveira Salazar, responsável pelas finanças do erário desde 1928, adotava os métodos maquiavélico-keynesianos, designado 1º. Ministro “vitalício”. Já em maio de 1930, implantou o Estado Novo, na designação que seria copiada, após sete anos, por Getúlio, no Brasil. A Constituição portuguesa de 33, tal como o fascismo, moldou um poder de Estado forte, corporativo, anti-parlamentar e positivista. Salazar tratou logo de publicar o Decálogo do Estado Novo, justificativa que tolhia o espaço do indivíduo, permitindo sua existência apenas como membro de grupo natural, isto é, da família; de grupo territorial, isto é, do município; e do grupos profissional, leia-se por corporações e sindicatos. Os arreios fascistas e os chicotes “corretivos” açoitaram a dócil população portuguesa, como a iugoslava, por quarenta anos. Em setembro de 1968, o cavaleiro (sem “h” mesmo) caiu da montaria; da residência de verão, Forte de São João do Estoril, veio a notícia: o ditador sofrera uma queda de cavalo, daí resultando um coágulo no cérebro, seguido de trombose. Salazar ficou cego de um olho e semi-paralítico. Marcelo Caetano assumiu, pouco variando, mantendo inclusive o sistema de informação. A população se revoltava cada vez com mais intensidade. O socialismo recebia contingente extra pelos descontentes e revoltados. Em 74, veio o epílogo, na Revolução dos Cravos. Marcelo Caetano conseguiu se evadir para o Brasil.
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Na confusa Indochina, os comunistas açambarcaram o poder a partir de abril de 75; à tiracolo, programas de engenharia social da escola de Stálin.
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Na Índia foram os escritos de Thoreau e não os de Marx ou de algum dos Roosevelt, que influenciaram Mohandas Karamachand Gandhi (1869-1947), mais tarde cognominado Mahatma - Grande Alma. Gandhi colheu seu intento justamente pela pregação da “desobediência civil”. Einstein o reverenciou:

O trabalho da vida de Mahatma Gandhi é único na história política. Ele elaborou um método totalmente novo e humano para promover a luta pela libertação do seu povo oprimido e o implementou com uma enorme energia e devoção. Acredito que Gandhi teve as idéias mais iluminadas de todos os políticos de nosso tempo. (3)
Informa o biógrafo:
“Percorrendo os escritos de Einstein, encontrei expressões de sua admiração por Gandhi já em 1929 e até 1954. O Mahatma claramente causou uma impressão muito mais profunda em Einstein do que Tagore.” (4)

A propósito, nada consta que Einstein conhecesse a obra do inspirador Thoreau. O excepcional físico, embora filósofo nato, não teve oportunidade de mergulhar em importantes obras das ciências humanas, entre as quais a (des)articulação da “Desobediência Civil”; tampouco acessou as concepções de John Locke, Montesquieu, Shaftesbury, Adam Smith. Suas observações filosóficas se restringiram, afora algum mais remoto, a David Hume, Kant, Stuart Mill e Spinoza, com o qual afinava. (5)

A lei e a nascitura democracia liberal, todavia, foram exterminadas na vontade de Nathuram Godse. O assassinato do Mahatma perverteu a harmonia, perdendo-se, na poeira vermelha da luta pela sobrevivência, os ideais tão ardorosa e sofridamente defendidos pelo líder maior, e pela multidão. O poder legislativo se transformou numa arena de lutas de conotações religiosas, políticas, econômicas, estratégicas, poder do mais forte. Eles venceram. O Congresso, virado partido, não encontrou dificuldade em aceitar e até justificar o regime do terror implementado. Nehru montou o cavalo fascista durante 17 anos, com os arreios do partido do Congresso (único) tomando o nome de sindical.
A Revolução Francesa e Napoleão tinham mais uma versão, não tão drástica, mas com outros danos irreparáveis. Executando uma reforma agrária que alienava a terra a um pequeno círculo sem produtividade, até hoje a Índia permanece estática, num eterno mar de lamentos.
Nehru preferia discursar sobre moral entre relações internacionais, promovendo especialmente os blocos socialistas asiáticos. As performances criminosas de Mao, Ho Chi Minh e a bandoleira invasão soviética na Hungria de 56 eram saudadas como prenúncios de justiça. Para completar, a Índia suportou a senhora Gandhi, nada de Mahatma. A dama “calculista e inescrupulosa”(6) radicalizou as atenções internacionais pisoteando o vizinho Paquistão. Com a hostilidade chinesa, ela optou pelo alinhamento soviético, jogando o país, de qualquer forma, para a esquerda, para inglês ver.

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O Egito arrumou seu maquinista na figura carismática e corrupta do Coronel Gamal Abdul Nasser. Como os colegas, o impostor árabe não inventava nenhuma estratégia, apenas o trabalho de copiar os desempenhos dos ditadores europeus precedentes. Uma vez no poder, abraçou-o todo, não hesitando em extinguir, de imediato, as instituições democráticas e braços partidários, assim dissolvendo as resistências. De novo, como Hegel e Sorel prescreveram e como Sukarno, Bismarck, Mussolini, Hitler implementaram, o aspirante precisava de amigos para criar inimigos; e vice-versa. Às hospedagens penais, Nasser montou a farsa das “Cortes do Povo”, não esquecendo de aplicar intermitentes doses terroristas. O ex-Primeiro Ministro Anthony Eden não se enganava:
“Nunca achei que Nasser fosse um Hitler, mas o paralelo com Mussolini é perfeito”. (7)

Em 54, Nasser conseguiu a expulsão inglesa de Suez, e o inimigo comum israelita foi a desculpa para coroar seu noivado com a Rússia, auferindo, no joguete, um extraordinário suprimento de armas.

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No Irã, em 53, caíra o 1º. Ministro que lutava pela nacionalização do petróleo, desde a 2ª. guerra. O xá Reza Pahlevi voltou do exílio e iniciou um governo semi-fascista, com forte presença americana.

Os poderes enfeixados numa só corrente “positivista” para fazer frente ao fantasma vermelho avançou por inúmeros países da África. Líderes da Costa do Marfim, Niger, Cameroon, Senegal, Gabão, Mauritânia tiveram a intimidade dos palácios parisienses na época do General dos generais, o mitológico De Gaulle e sua 5ª. República. A conta das recíprocas trocas de presentes foi paga pelos respectivos súditos.

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No Togo, o golpe veio em 63 com o assassinato do Presidente. Depois foi a vez de Cotonou, Zaire, Tanzânia, Uganda, Quênia. Por volta de 75 vinte países eram “ordenados” ao progresso por juntas militares, gáudio dos “positivistas”. Em Gana, foi a vez do “conscientismo”; Nkrumah tomou o país almejando todo o continente para si:

“Todos os africanos sabem que eu represento a África e falo em nome dela. Por conseguinte, nenhum africano pode ter opinião diversa.” (8)
Ninguém teve... até 66, quando um golpe militar o desterrou, morrendo poucos anos depois.
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No Senegal, a moda era a negritude.
Na Zâmbia, a capa “humanista” tinha o corte de Platão, Rousseau, Hobbes e Marx:

“O humanismo visava erradicar todas as más tendências do homem, livrando a sociedade do Presidente Joseph Kavasu, do Primeiro Ministro Patrick Lumumba e de inclinações negativas, tais como o egoísmo, ganância, hipocrisia, individualismo, preguiça, racismo, pobreza, doença, ignorância e exploração do homem pelo homem.” (9)

Com Mobuto o Congo viajou no botuísmo, sistema político pelo qual o “general” se digladiava com o premier de Katanga. Lumumba tentava criar um Estado para si, mas caiu nas garras de Mobuto; o exercito congolês, já por este dominado, o entregou de bandeja aos catangueses, para ser assassinado em 61.

No Zaire, há trinta anos há o massacre de rebeldes tutsis. Mas há também boas notícias: finalmente, conquistaram Kisangani, “aproximando o fim de um dos governos mais corruptos e ineficazes da África, golpeia a diplomacia da França e abre novas perspectivas estratégicas ao fragilizar as fronteiras impostas pela colonização européia. Depois do fracasso francês da última quinta-feira, que queria enviar uma força multinacional 'humanitária' ao Zaire, a derrubada do governo do ditador militar Mobutu parece inevitável”. (10)

Na Nigéria, mister escolher amigos e inimigos, a dialética para o progresso. Sobre um rastro de cadáveres, Biafra, Tanzânia, Gabão, Zâmbia e Costa do Marfim se prostraram à mercê de companhias multinacionais de petróleo, as quais não titubearam dizimar fauna, flora, florestas, remunerando o dono da propriedade e seus vizinhos com doenças, fome e desgraças.

Na África Central, Jean-Bedel Bokassa trouxe distante cópia de Napoleão. O auto-proclamado Imperador subiu ao trono promovendo inesquecível festa, caríssima aos esquálidos contribuintes, mas aproximava a Nação ao beneplácito da França. Enquanto isso, seus asseclas torturavam, matavam, “devoravam” seus adversários. Numa chacina (Bangui) Bokassa ordenou o fuzilamento de centena de estudantes. Acabou ele mesmo condenado à morte por incontáveis assassinatos, concluios com a Líbia e fraudes com ouro e diamante, mas não morreu nesta ocasião: passou os últimos sete anos exilado na França, com 15 de seus 54 filhos, onde possuía quatro castelos, um hotel, uma vila e um avião. Em outubro de 95 sofreu um derrame, para morrer no início de novembro de 1996.

Falando em Líbia, basta mencionar o mundialmente afamado Kadhafi.

Uganda ganhou seu “presente” no “stalinista-napoleônico” Idi Amin Dada, um criminoso oficial que ceifou a vida de milhares de seus irmãos, deixando outros tantos aleijados pelas torturas, porém jamais perdendo seu sádico sorriso.

Na Etiópia, de Mussolini, o envio de tropas cubanas e russas culminou com o velho Imperador Haile Selassié asfixiado no travesseiro. A partir daí, o regime massacrou livremente oponentes e inocentes.

Por volta de 1970 foram contabilizados, pela ONU, mais de um milhão de refugiados africanos. Em 78, 5 milhões. (11)

Johnson listou a geração de tumulto:

Sudão: tentativa de golpe.

Marrocos: guerra do Saara contra guerrilheiros polisários.

Etiópia: 20.000 cubanos, além das tropas etíopes, lutavam contra a Somália, e Eritréia.

Tanzânia: 40.000 soldados invadiam Uganda; Amin, apoiado por 2.500 líbios, foi derrubado.

Gana: golpe e execuções em massa.

Nigéria: revoluções por alimentos.

Mauritânia: golpe.

Mali: eleições de um único partido.

Togo: idem.

Benin: idem.

Chade: guerra civil.

Congo: golpe.

República Central Africana: derrubada de Bokassa.

Burundi: subversões.

Moçambique: terrorismos e milhares de execuções.

Angola: guerra civil.

Zâmbia: milhares de prisões políticas.

Zimbabwe: guerra civil. 20.000 mortos.

Naníbia: guerrilhas.

Lesoto: idem.

África do Sul: idem.

Sudão: partido único.

Tunísia: tentativa de golpe frustrada.

Argélia: domínio militar soviético.

Etiópia: idem, contra somalis, oromos, etc.

Somália: 1,5 milhões de refugiados.

Zanzibar: tentativa de golpe.

Nigéria: tentativa de golpe com mil mortos.

Gâmbia: milhares de prisões.

Libéria: golpe e execuções por fuzilamento.

Mauritânia: golpe.

Costa do Marfim: eleições unipartidárias.

Alto Volta: golpe.

Níger: invasão financiada pela Líbia.

Benin: convertida à Líbia. (12)

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Vargas Llosa, Montaner e Mendoza relembram outros episódios:
As façanhas de Pol Pot e de Mao na Ásia, ou de Mengistu e do Movimento Popular para a Libertação de Angola na África, apenas para dar quatro exemplos, mataram de ódio, medo e fome os supostos beneficiários de tais revoluções. Mao, o Grande Timoneiro, conduziu 60 milhões de chineses para a morte com sua coletivização de terra. Para eles, o ‘grande salto para frente’ foi um salto para o túmulo, não propriamente ornado com flores. Haile Mariam Mengistu superou essa proeza ao arrasar 1,2 milhão de etíopes, ocultando e acelerando uma tragédia que poderia ter sido evitada a tempo, condenando seus compatriotas à fome para ferir a consciência do Ocidente e pedir ajuda econômica. Os revolucionários angolanos requereram a ajuda de 50 mil soldados cubanos e 5 mil assessores soviéticos para manter no poder a sangue e fogo, uma vez eliminada qualquer possibilidade de eleições livres, o Movimento para Libertação de Angola.(13)
Foi longe demais a tal dialética. Quase ninguém escapou. Não seríamos a exceção.
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Notas

1. Salgado, P., Doutrina e tática comunistas, p. 32.
2. Johnson, P., p. 378.
3. Einstein, A.; Gandhi, M., cit. Pais, A., p. 128/9.
4. Hume, David; Einstein, Albert; Kant, Immanuel; Mill, John Stuart, cits. Pais, A., p. 147.
5.Idem, p. 126.
6. Johnson, P., p. 478.
7.Idem, p. 412.
8.Idem., p. 432.
9.Idem, p. 447.
10.Jornal Correio do Povo de 23 de março de 1997, p. 12.
11.Jornal The New York Times, 11/maio/1980.
12Johnson, P., p. 454.
13.Mendoza, P.A.; Montaner, C.A., Llosa, A.V., p. 141.

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