quinta-feira, 10 de abril de 2008

A renovação do infortúnio argentino

Argentina - Hiperdesemprego é risco para governo; Menem precisa de soluções para o problema - Buenos Aires: Depois de ter superado décadas de inflação galopante, a Argentina enfrenta agora um índice recorde de desemprego, o segundo maior da América, logo atrás da Nicarágua. Nestes primeiros meses de 1995 a forte desaceleração da economia provocou também o desaparecimento de milhares de empregos. Tudo o que o governo promete é a busca de soluções em reuniões com empresários e sindicatos. (1) -
Desemprego na Argentina pode chegar a 24% - Pesquisa indica que até a virada do século um quarto da população estaria no máximo subempregada. (2)
A produção industrial na Argentina caiu 5,7% no primeiro bimestre de 1996, em relação a igual período do ano passado, segundo revela o vice-ministro da Economia, Juan Llach. O governo já admite uma queda no Produto Interno Bruto em torno de 4,4%. (3)
Argentina vive crise de confiança - Sem crédito e sem demanda, economia ficou dependente das exportações e dos recursos externos - A Argentina atravessa a maior recessão dos últimos dez anos e vem apresentando os maiores índices de desemprego de toda sua história, com cerca de dois milhões desempregados. (4)
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A Argentina entrou em forte recessão em 95 - seu Produto Interno Bruto encolheu 4,6% no ano passado. O preço da deflação foi um enorme encolhimento da produção industrial, do comércio e dos serviços em geral e brutal redução dos investimentos. A taxa de desemprego disparou para 18%. O aumento de impostos vem sendo praticado com desenvoltura, mas a arrecadação vem caindo por causa da recessão. A economia argentina superou a hiperinflação mas se defronta hoje com protestos sociais, empresas cambaleantes, consumo débil, receitas em queda, déficit público em alta e grande desemprego. Gatos, cachorros, papagaios e até cobras. Esse passou a ser o cardápio de uma parte da população argentina.”
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Cavallo chora e pede desculpas – Com lágrimas nos olhos o ex-ministro argentino da Economia Domingo Cavallo desculpou-se ontem diante do sofrimento do povo argentino pelos sofrimentos causados em função do drástico plano de ajuste econômico que colocou em prática a partir de 1991. 'Perdão pelo sofrimento', disse Cavallo em um programa de televisão.(6)
Atualmente em países como Argentina e Brasil, a classe média parece derrotada. Há alguns anos os membros dessa classe eram a chave da prosperidade de pequenas empresas e de serviços públicos de educação e saúde eficientes. Agora, parecem resignados diante da queda drástica de sua qualidade de vida. A impunidade de autoridades corruptas, assim como a insensibilidade do modelo econômico em relação aos problemas sociais, criaram uma frente de tempestade ameaçadora. No fim de setembro mais de setenta mil pessoas marcharam para a Plaza de Mayo, em frente a Casa Rosada de Buenos Aires, sede do governo, para protestar contra as medidas de austeridade impostas pelo presidente argentino Carlos Menem. Pela primeira vez os sindicatos peronistas acusaram Menem, líder de seu partido, de traidor. 'Menem está voltando as costas para o povo, para apoiar a concentração monetária e financeira de riqueza', declarou o líder da Central Geral dos Trabalhadores. O próprio Menem respondeu: 'Nada, nem mesmo a maior pressão, torcerá meu braço'. (7)
Conseguiu sair ileso*; e a Nação, esfacelada. Nos últimos dias do século, a gravidade foi total:
O título de 'Paris da América do Sul' já não vale para Buenos Aires. Nos últimos cinco anos, a cidade, que já vinha empobrecendo, acelerou o processo de exclusão social. Os mendigos, que antes não se viam, espalham-se por todo o centro. Sem a conotação poética do 'clochard', o homeless boêmio parisiense, mais de 1.103 pessoas passam todas as noites ao relento na capital argentina. A denúncia foi feita pelo Programa Buenos Aires Presente (BAP) da Secretaria de Planejamento Econômico, que também anunciou que a situação na Grande Buenos Aires agravou-se drasticamente. Ali, 340.000 pessoas tornaram-se novos pobres entre maio de 1999 e o mesmo mês deste ano. Isso indica que de forma geral, a pobreza, que atingia 27,1% da população de todos os municípios da região metropolitana um ano atrás, agora passou para 29,7%. Isso equivale a 3,5 milhões de argentinos que não conseguem adqüirir a cesta básica de alimentação e serviços. Este nível é o mais alto desde 1990, quando a economia do país havia sido arrasada pela hiperinflação. A situação social é mais grave no segundo cinturão de municípios da Grande Buenos Aires, o setor mais pobre da área mais populosa do país, a proporção de pessoas pobres passou em um ano de 38,5% para 44%. Além dos pobres, este país, uma vez denominado 'o celeiro do mundo', não consegue fornecer alimentos para 7,5% dos habitantes da Grande Buenos Aires, que são considerados indigentes. No total, são 895.000 pessoas que não conseguem dinheiro suficiente para a quantidade mínima de calorias necessárias para desenvolver uma atividade física moderada. Segundo analistas, o número de protestos tende a aumentar nas próximas semanas. Em apoio aos manifestantes, as três centrais sindicais do país anunciaram que realizarão uma greve de 36 horas a partir dia 23 de novembro. A ministra do Trabalho, Patricia Bullrich, tenta deter a mobilização. 'Não é o momento para uma greve', disse. O governo se reunirá com os sindicalistas para evitar a paralisação, que ocorreria no mesmo dia da visita de uma missão do FMI a Buenos Aires. A recessão que assola o país causou no mês passado o recorde de falências no último ano e meio: segundo a consultora Fidelitas-Experian, em outubro passado foram registradas 131 falências em Buenos Aires. Isso significa um aumento de 44% em relação ao mesmo mês de 1999. No mesmo período, aumento em 25% o número de concordatas. A Secretaria de Planejamento Econômico Regional anunciou que a produção industrial caiu 1,9% em outubro em relação ao mesmo mês de 1999. Em relação a setembro deste ano, a produção caiu 1,2%.” (8)
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Decadente como Menem, fracassado como Menem, prestes a ser denunciado pelos escândalos das privatizações como Menem, torpe como Menem, neoliberal como Menem, privatizador como Menem. Merece um tango como Menem. Talvez 'Cambalache', por seu tom depressivo.
Ou apenas uma milonga.
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Na mais completa falta de imaginação, o filme permanece em cartaz:
Para o escritor peruano Mario Vargas Llosa a presidente argentina Cristina Fernández de Kirchner é um desastre total, e a Argentina está conhecendo a pior forma de peronismo: populismo e anarquia.
Corriere della Sera, 20/3/2009
Adivinhou:
"A Vila 17 de Novembro é a maior invasão de terras da história recente argentina. Remete à data em que 7.500 famílias ocuparam um terreno alagadiço do tamanho de 13 campos de futebol, em Lomas de Zamora, na periferia pobre de Buenos Aires." (Folha de São Paulo, 12/05/2009)
"Cristina Kirchner está levando a pecuária argentina à bancarrota. Estima-se que em 2011 os argentinos farão churrasco com carne importada." (/www.claudiohumberto.com.br, 16/5/2009)
No sempre presente efeito Orloff, o Brasil também vem padecendo na silvilização, infortúnio constantemente renovado:
"FHC optou por lançar seu livro de memórias nos EUA, como se prestasse contas do seu mandato a quem de fato o colocou lá. Para quem suspirava com a idéia de ser um misto de Mitterrand e Felipe Gonzalez, parecer Carlos Menem deve ferir o orgulho." (10)

Complete o quadro apreciando:

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A introdução de Keynes no Brasil
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O desenvolvimento de Keynes no Brasil-
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Perón, Keynes e a corrupção
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Notas
* BUENOS AIRES, 29/4/3008 - O ex-presidente argentino Carlos Menem deverá ser julgado em julho por suposta participação no contrabando de armas para Equador e Croácia durante seu mandato (1989-99), segundo decisão judicial divulgada na terça-feira. Menem já passou quase cinco meses preso em 2001 por causa desse mesmo processo. Ele pode ser condenado a até dez anos de prisão, mas teria o direito de cumprir a pena em casa, por causa da sua idade (77 anos).
BUENOS AIRES, 22/5/2008 - O senhor Carlos Saul Menen foi enquadrado como mandante do atentado que vitimou dezenas de judeus alojados numa sinagoga argentina. Um promotor federal pediu hoje a detenção do ex-presidente argentino.
BUENOS AIRES, 23/3/209 - A Justiça da Argentina resolveu bloquear US$ 54 milhões do ex-presidente e atual senador do país Carlos Menem. Ele é investigado por administração fraudulenta em uma concessão radiofônica a uma empresa francesa enquanto estava à frente da direção do país. As informações são da Reuters.
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1. O Estado de São Paulo, 21/10/1995, p. B18.

2. Zero Hora, 21/7/1995, p. 45.
3. O Estado de São Paulo, 17 /10/1995, Economia, p. 17.
4. Zero Hora,1/4/1996, p. 26.
5. Figueiredo, Odail, O Estado de São Paulo, 15/4/1996, p. B9.
6. O Estado de São Paulo,10/5/1996, p. B14.
7. Tomas Eloy Martinez, Presidente do Departamento de Estudos sobre a América Latina da Universidade de Rutgers, EUA, autor de Santa Evita e O Romance de Perón, O Estado de São Paulo, 10/11/1996, p. 2.
8. Internet, Terra Notícias, 15/11/2000.

9. Sader, Emir, http://www.vermelho.org.br/, 9/2/2006.
10. Idem, ibidem.

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