domingo, 2 de novembro de 2008

Finados e Religião


Neste dia de homenagens aos antepassados, em especial àqueles que tivemos o privilégio de compartir alguns momentos, enviamos nossa repórter Foca Lisa para uma inédita entrevista com o presidente da 7 co., empresa localizada fora do alcance de nossos olhos.
O senhor pode comentar algo confortável sobre a morte, algum sopro que aplaque a dor de tamanha separação?
Por curiosidade, a separação fundamental é promovida justamente por quem tem a bandeira religiosa. Você sabe, religião oriunda de religar, significando promover a religação do ser humano com a Entidade Superior. Isso não é possível; mas tampouco necessário.
Não é correto estabelecer o liame com o Divino?
A rigor nada pode ser desligado, assim como não se pode estar dentro do mar sem estar molhado. A religião é que procura a priori o desligamento, para depois se colocar, oferecer o remédio. Liga o ar-condicionado a pleno, e depois oferece o cobertor.
Como assim?
Ao Superior recai o inferior. É o corte que justifica a presença do adesivo. Eis a primaz preocupação da religião: separar, em vez de unir!
Mas Deus une. Com relação ao casamento, por exemplo, os embaixadores são unânimes: o que Deus une, o homem não separa.
E o que Deus desune, pode o homem juntar?
Deus nada desune!
Lembra da primeira estória contada pelos religiosos? Adão foi expulso do Paraíso. Eis o edito da discriminação. Justo por sermos dotados de inteligência é que podemos evoluir. E tudo o que é conforme a natureza nem nos cabe confrontar. Se o homem não colher a maçã, na maturidade ela se despreende para vir à seus pés. Foi este fenômeno que desconcertou o ex-reverendo Newton. Logo ele arrumou os contrários, os corpos a exercerem atrações uns sobre os outros. Não é assim. A gravidade não é produto de nenhuma força, mas cortesia espacial, em função da presença hegemônica da energia temporalmente solidificada.
Ele mandou Jesus para redimir o pecado.
Então, não é o que digo? Primeiro estabeleceu a ruptura; depois ofereceu sua cola.
O que isso tem a ver com a morte, que é o nosso assunto?
Nascemos num mar sem fim, para usar a terminologia do excepcional navegador. Amyr Klink.

No espaço aparentemente vazio há um nexo, uma vida eterna, que une tudo quanto existe no Universo - tanto animado quanto inanimado - uma onda de vida que flui através de tudo o que existe.
PARAMAHANSA YOGANANDA, Onde Existe Luz.
Nossas impressões já estão indeléveis no EspaçoTempo:

Todo corpo reage a tudo que acontece no universo, de tal sorte que, se alguém pudesse perceber tudo, poderia ler em cada coisa o que está acontecendo em toda parte, e até mesmo o que já aconteceu e o que acontecerá; mas uma alma só consegue compreender dela mesma o que aí se acha representado distintamente. Não pode, de uma vez, explorar todos os seus recônditos, porque eles se estendem ao infinito.
LEIBNIZ, cit. IRA, Progoff, Jung, Sincronicidade e destino humano: 66.- MAGALDI, Ercilia Simone Dalvid
Querer molhar quem está dentro do imenso oceano não lhe parece uma grande bobagem? Como ligar o que jamais se desliga? Todavia, a religião prega o Juízo Final, que corresponde ao momento da morte. Então ela propaga a possibilidade da ruptura. A Bíblia é absolutamente clara ao afirmar que após a morte só nos resta o juízo-final. Ensina também, que o fato de toda e qualquer decisão por Cristo só pode ser tomada em vida, o que, por conseguinte, nos leva a entender de que não existe fundamento teológico para interceder a favor dos mortos. Para o cristianismo vivos e mortos não podem se comunicar de maneira alguma (Lucas 16.10-31). Por isso é que se põem a rezar pedindo proteção "agora e na hora de nossa morte, amém."
A Igreja se refere à morte do corpo.
Este é o ponto nuclear da perfídia. Novamente se cristaliza o vêzo da separação. Para se impor, ela cinge o ser humano em corpo e alma, esta divina; e aquele, mundano. Trago a sacada do ALLmirante:
Matéria sem espírito não tem sentido. Espírito sem matéria não é sentido.
A religião diz que o pecado veda a entrada no Paraíso, mas admite a vida eterna.
Ela dispõe sob suas condições.

A morte cancela a matéria!
Não diria isso. A assertiva é válida apenas ao mundo que enxergamos com nossos parcos sentidos. Para cruzar o EspaçoTempo a energia concentra toda a matéria. Ambas continuam complementares. A razão da cisão já lhe mencionei, mas trago ainda mais alguns depoimentos:
Na Grécia, berço das artes e dos erros e onde se levou tão longe a grandeza e a estupidez do espírito humano, raciocinavam sobre a alma como nós.
VOLTAIRE,
«13.ª carta», Cartas Filosóficas.
Os homens tinham a teoria de que a matéria celestial era fundamentalmente diferente da matéria terrestre e que era natural que os objetos assim caíssem, enquanto era natural que os objetos celestiais, tais como a Lua, permanecessem parados no céu.
BOHM, David, Totalidade e ordem implicada: 20
Dessa maneira o interior do homem virou ringue de combate, justificando a presença da justiça, das orientações religiosas. A mesma técnica é empregada especialmente na psicologia e na psiquiatria. Ambas fracionam a mente em compartimentos, e oferecem remédios para recompô-la.
É uma questão que atualmente deve ser reconsiderada, tendo em vista que a fragmentação já se espalhou completamente, não apenas na sociedade, mas especialmente em cada indivído; e isso conduz a um tipo de confusão generalizada da mente, que por sua vez cria uma série infinita de problemas, interferindo com a nossa clareza de percepção de maneira tão grave a ponto de bloquear nossa capacidade de resolver a maioria deles.
BOHM, David, Totalidade e ordem implicada: 17
Vê-se os estilhaços no mundo jurídico, político e até no econômico: de um lado os trabalhadores; do outro, os capitalistas. Pecadores x moralistas. Eis os motivos para a interferência do Estado, em conjunto com a Santa Sé.
Mas a verdade é uma só!
Sim; contudo, sua aparência não. Que cor tem a lua? Depende de onde é apreciada. É das aparências que se valem as alegorias. É pelas aparências que a civilização construiu suas ciências, até a metafísica. O grande inspirador da Bíblia é Platão. Veja que ela é composta toda em dialéticas. Platão é o rei da ilusão. Sua alegoria da caverna quer demonstrar a possibilidade do engano, e com ela ele enganou todo mundo. Pela aparência os religiosos pressupunham que a semana fosse igual aqui e alhures. Por isso não titubearam em ensinar que Deus fizera o Universo em sete dias, e depois fora descansar. De onde ele fez é que ninguém foi capaz de especular. Apenas dizem que do céu. Ora, se Ele habita no céu, a semana por lá terá a mesma duração daqui?
Você quer dizer o que?
A religião desencaminha!
Onde obteremos a certeza, então?
Impossível. A certeza se faz a cada instante, por cada um de nós, de acordo com nossa vontade, ou atenção, mas também depende de nossas circunstâncias, nelas incluídos todos os átomos de todos os tempos! Tudo interage com tudo, mas a incerteza é nossa sina. Não sabemos porque o eletron, diante da presença do simples olhar, muda a trajetória. O elétron não tem olhos, nem ouvidos, nem faro, nem dor, mas ele é "sensível". O átomo capta e emite energia, e por isso é a liga fundamental.
"O choque, a ação de um átomo sobre o outro,pressupõe também a sensação.Algo de estranho em si não pode agir sobre o outro." (NIETZSCHE, F. , O livro do filósofo: 45)
A partícula ao se propagar pelo espaço emite um campo que informa esse seu movimento no sentido de um 'abre-alas que eu quero passar' (como se fosse um empurrar a distância). Literalmente falando, ela empurra a distância tudo o que está a sua frente, e certamente receberá uma reação dinâmica conveniente (o que pode até mesmo provocar uma reflexão total)
MESQUITA FILHO, Adroaldo, Debates 'Ciencialist 2003' a respeito de uma Nova Teoria a propor as bases para o entendimento da Natureza Íntima da Matéria www.ecientificocultural.com/ECC2
Temos certezas de muitas coisas, especialmente da passagem do tempo. Ele envelhece a gente, até nos tornarmos tão velhos que desaparecemos da face da Terra.
Disse bem. Desaparecemos, mas não da Terra, e sim de nossos olhos, projetados apenas para cruzar delimitado EspaçoTempo. Como um flash de fotografia. Quando ele se apaga, não significa que o personagem da foto tenha desaparecido. Ele apenas fica invisível.
Como identificá-lo sem luz?
Luz é manifestação energética, de tantas.
O ganho da massa de um corpo em movimento em alta velocidade fez Einstein concluir que energia (E) e massa (m) de um corpo são equivalentes. Ele estabeleceu uma fórmula para relacioná-las - a tão conhecida E=mc2, onde c é a velocidade da luz. Dada a magnitude de c, fica evidente que uma pequena quantidade de massa equivale a uma grande quantidade de energia. Esta é a base da energia nuclear. (EINSTEIN, A., A natureza do Universo - Teoria Quântica e Relatividade; cit. revista Isto É, julho de 1995.
Em simples conceito:
"A luz pode ser definida como uma transmissão de energia entre corpos materiais à distância." (BOHR, Niels, Física atômica e conhecimento: 6)
Ela flui por ondas, como todas as manifestações. O perfume viaja por ondas; a temperatura também. A gravidade realiza ondas de retração. O navegante produz ondas, e por elas podemos constatar sua passagem. Radares detectam ondas. A voz bate em algo para produzir o eco: eis a certeza de que há um corpo à frente.
A teoria quântica dos campos considera tanto a matéria (hadrons e leptons) quanto os condutores de força (bosons mensageiros) como excitações de um campo fundamental de energia mínima não-nula (vácuo).
As manifestações invisíveis aos olhos não precisam ser totalmente ignoradas só pelo prosaico motivo de não podermos enxergá-las. Os mortos permeiam toda nossa vida; portanto, vivem conosco.
Cruz, credo! Mas isso parece aqueles filmes de terror, nos quais fantasmas batem as portas, arrastam correntes, e vem puxar nossas pernas à noite.
Nenhum desses "fenômenos fantasmagóricos" parte de observações, ou mesmo de hipóteses suscetíveis de testes. São apenas alucinações provocadas pelos falsos moralistas que apelam à consciência. Isso faz parte da psicologia da religião: aguça a imaginação, impõe o medo, para clamarmos pelo Salvador.
A matéria é apenas energia solidificada, ou concentrada, se preferir. Destarte nossos olhos podem divisá-la. Veja o verbo que uso: divisá-la. Igualmente provém de dividir. Enxergamos tudo dividido, é isso: par e ímpar, dia e noite, mal e bem, norte e sul, esquerda e direita, número e letra, etc. Todavia, assim como o gêlo, que é sólido, mas líquido em potencial, e arrisco, vapor no estado final, a matéria pode ser visível, mas é invisível por natureza.
Ao invés de separáveis, e antagônicos, os desígneos são prolongamentos complementares. Tanto quanto o corpo é da alma! Então, não temo arriscar:
O corpo submetido ao quadrado
da velocidade da luz se torna alma.
A=Mc2.
.Não parece tudo muito mais simples do que as fórmulas que somos obrigados a deglutir de quadro-negros e de obras babilônicas?  Precisa de prova? Por ora ofereço-lhe uma forte razão:

O conceito de um mundo sutilmente interligado, um oceano cósmico no qual estamos intimamente ligados uns aos outros e à natureza, assimilado por nosso intelecto e abraçado por nosso coração, poderá talvez inspirar novos modos de pensar e de agir que transformem o espectro de uma derrocada global no triunfo de uma renovação global – uma renovação para uma era mais humana e sustentável.
LASZLO: 205
Por enquanto, neste Dia de Finados, saudemos a eternidade. Ela assegura a presença de todos.

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