Por disperso, o liberalismo jamais pode brecar o comunismo. Ao contrário, serviu de passarela, Sapucaí pela qual brilhou o sabre leninista. O inimigo marxista sempre foi o fascismo. A artimanha original de Bismarck logrou calar o pleito operário. Tal êxito atraiu seguidores de todo planeta: "O Führer era idolatrado não somente em sua terra natal; tinha adeptos em número considerável de americanos barulhentos e vociferantes." BRIAN, Einstein, a ciência da vida: 329
Os grandes banqueiros e industriais emergiram nessa época. Firmas de Wall Street - como Belmont, Lazard e Morgan - com apenas 15 anos de existência, ocupavam lugar de destaque na economia. Os tempos modernos da legislação para as práticas de comércio começaram em 1934. GLEISER, I.: 211
Liberdade tem sua essência no radical lib-et, o que agrada. No alemão, lieben - do amor. Eis de onde emanou lib-eri, que por sua vez designa os filhos, os que nos são caros; lib-ertas, que era a condição dos filhos; e lib-ido, nascente da paixão dos escravos, que não conheciam nem Deus, nem lei, nem pátria. De certo modo também atinge licentia, de licença, óbvio, mas que em casos também pode encorpar a licenciosidade. A disseminada subversão propicia o deleite do Leviathan: "Em 1929, as despesas federais para todos os bens e serviços montavam a 3,5 milhões de dólares; em 1939, eram de 12,5 bilhões." (GALBRAITH, 1968: 251) Ao Current History Magazine (cit. ROTHBARD: 41) a manobra era flagrante. Culminaria, como de fato se sucedeu, na ascendência do Estado frente ao cidadão. Como aquele per se não é concreto, quem lhe faz a concretude é a nomenklatura que o dirige:
O Estado rooseveltiano ou a república da França apresentava, na época histórica do fascismo, características do Estado intervencionista (função econômica do Estado e fortalecimento do Executivo, por exemplo) que marcavam igualmente os fascismos alemão e italiano, sem que isto tenha significado o Estado de exceção. POULANTZAS, N.: 240Em 1936, reeleito sabe-se lá por qual arranjo, Roosevelt ampliou ainda mais as funções da Casa Branca. A tanto, prescindiu do golpe e dos arroubos do Duce, mas não da retórica trovejante da incansável Eleonor, espelho à demagógica Evita. Saúde, educação, "proteções" trabalhistas, legalização de sindicatos, e incontáveis arapucas embretaram as relações sociais e econômicas. Tais benesses eram fáceis de serem concedidas, e se proliferaram, alhures:Inspirados por essas certezas keynesianas, desenvolvimentistas e social-democráticas - já amplamente consensuais - Estados Unidos, Itália, Espanha, França e Inglaterra, além de vários países latino-americanos, entre os quais o Brasil, apertaram o gatilho e dispararam políticas desenvolvimentistas, trabalhistas e sociais. MASCARENHAS, E. : 130A Casa da Moeda, virada de tolerância, emitia as gigantescas quantias. No caso original, as promissórias foram quitadas graças aos despojos alemães e japoneses, às custas de milhões dos "protegidos" trabalhadores americanos, que com capacetes foram enterrados..
O inconseqüente Zé Carioca, entretanto,
não pode cobrir os papagaios. O dragão
da inflação tocou fogo nas pradarias dos
macaquitos brasileños, por várias gerações.
* * *
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Enquanto o comunismo pregava a união internacional dos operários contra os patrões, o fascismo apelava para a união da Nação contra outras nações. O primeiro se convencionou chamar de esquerda, cabendo por conseqüência à direita arregimentações nacionalistas. Esta geometrização, entretanto, é apenas um arranjado referencial. Não há possibilidade da extensão da raia do embate. Melhor aferindo: de que modo alguém se posta ideologicamente mais ou menos à esquerda, ou no centro? Centro do quê? Tal ponto seria apropriado ao liberalismo, ou ao neoliberalismo? Nem assim. A ética foi simplesmente banida pelos dois regimes, em nome de uma pretensa justiça social, sob a pecha da igualdade. Walter Lippmann (cit. POPPER, K., Sociedade Democrática e Seus Inimigos, p. 88) bem identificou os tipos:
Os coletivistas tem o empenho de progresso, a simpatia pelos pobres, o ardente sentido do injusto, o impulso para os grandes feitos, coisas que tanto vem faltando ao liberalismo nos últimos tempos. Mas sua ciência se baseia num profundo mal-entendido; e suas ações, portanto, são intensamente destrutivas e reacionárias. Assim, os corações dos homens são destroçados, suas mentes divididas e são apresentadas alternativas impossíveis.De fato ambos sistemas tornaram a raça humana tal qual manada, cujo indivíduo perdeu até mesmo o próprio nome, por numerado nas extensas listas militares organizadas pelos pseudo-pastores do pasto-verde, cujo destino exigiu a marcha ao corredor da morte, em campos talados de minas e canhões:
Havia, na verdade, uma conexão direta, freqüentemente comentada, entre o militarismo e o desenvolvimento inicial da democracia e do welfare state; os direitos de cidadania foram criados no contexto da mobilização maciça para a guerra.Roosevelt ficou paraplégico, e partiu antes do fim da guerra. Mussolini morreu feito carneiro à gaúcha, pendurado numa viga de um posto de gasolina milanês, de cabeça para baixo, alvo do próprio povo italiano, dos nada protegidos trabalhadores. A Hitler não restou outro destino além do suicídio. Não foram poucas as tragédias promovidas por seus clones espalhados alhures, entre os quais fulgurou nosso nanico. É que Maquiavel, o diretor da peça, programou o final sem variação, reservando um final melancólico, senão trágico, ao seu astro principal, justamente para deleite da platéia.
Gore Vidal, entrevista em Veja. – São Paulo, 25/10/2000
A visão keynesiana dos governos como benignos maximizadores de benefícios sociais está hoje desacreditada irremediavelmente. SKIDELSKI: 148
Com o fim da faina pelo domínio dos povos, pensava-se que o povo poderia retornar a viver em paz, e cada indivíduo poderia tratar de sua própria realização, em vez de sair agrupado a destruir inimigos projetados. O comunismo se mostrava inviável, especialmente mercê da infelicidade e do atraso impingido ao povo russo, mas por duas gerações a humanidade ainda insistiria na ficção platônico-marxista. Em 89 o muro ruiu. O liberalismo pode se afirmar, e o mundo tomou um desenvolvimento jamais experimentado. Por coincidência, mas não por acaso, a civilização tomou um ímpeto desenvolvimentista jamais experimentado, nem tanto pelas indústrias de chaminé, mas pela presença do etéreo, do abstrato, da energia, da mente, das comunicações, do relacionamento:
"O exercício do poder está mudando do estado para o indivíduo. De vertical para horizontal. Da hierarquia para as redes." (NAISBITT, J., Paradoxo Global: 50)
Richers e Thurow, e de certo modo até Naisbitt não contavam com o insólito: O fim do Duce, mas não do fascismo. Com a queda do frontal inimigo, na distração dos povos às magníficas realizações que emergiam, e na absoluta carência de imaginação por parte dos sedentos por poder, esta característica primordial dos loucos de todo o gênero, napoleões voltaram a se proliferar sobre a crosta terrestre. O que se exigia era apenas a repetição da cartilha que sempre deu certo: o proselitismo desenfreado sobre as classes mais numerosas, porque na democracia é o número, e não a pessoa, o elemento que a legitima!Lester Thurow se utiliza desta imagem potente para invocar cinco forças econômicas que, como afirma, moldam o nosso mundo material, seja ele econômico, seja político. Para ele, essas cinco forças são: o fim do comunismo; mudanças tecnológicas para uma era dominada pela inteligência humana; uma demografia inédita e revolucionária; uma era multipolar que desconhece qualquer tipo de dominância econômica, política, ou militar por qualquer nação. RICHERS, Raimar, prefácio de THUROW: 7
Incontáveis energúmenos permanecem arregimentando contingentes rumo à estupidez. Dessarte, o mundo voltou ao impasse. As economias padecem, as bolsas estão furadas, o desenvolvimento estagnou. Brilham em primeiríssimo plano os semialfabetizados latino-americanos, mas não só eles. Afinal, esses oportunistas só ascenderam no trilho porque o trem passou com as portas abertas, e na corrida são os últimos vagões os mais fáceis de serem ocupados. Antes passaram os europeus, e todos foram puxados pela locomotiva do colosso, pilotada pelo maior impostor que aquele povo supostamente
capaz foi capaz de apresentar.
ReVerSão
O trem da carochinha desacelera, e finalmente vai parando. Resta aos passageiros abandonarem os vagões. E ligeiro:
Todo homem possui sua finalidade particular, de modo que mil direções correm, umas ao lado das outras, em linhas curvas e retas; elas se entrecruzam, se favorecem ou se entravam, avançam ou recuam e assumem desse modo, umas com relação às outras, o caráter do acaso, tornando assim impossível, abstração feita das influências dos fenômenos da natureza, a demonstração de uma finalidade decisiva que abrangeria nos acontecimentos a humanidade inteira. NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm, Da utilidade e do inconveniente da História para a vida: 74
Voltando-nos ao real, por que acontecido, restar-nos-á explicá-lo e abandoná-lo, para tomarmos os tapetes mágicos de nossos próprios sonhos, permitidos e queridos por uma nova ordem (ou desordem), múltiplo anseio de ver e viver o mundo mais harmonicamente integrado e desenvolvido. Estacionado o velho trem, retirada a carga, optamos por pequenas, ágeis, versáteis e ecológicas naves, individuais ou não, mas definitivamente em consonância com a complexidade e leveza cósmica.
A mudança para um humanismo congraçado com a natureza, por isto mais sensível, solidário e complementar, mostra-se tarefa inadiável, envolvente, prazerosa e natural...O imperativo da melhor convivência do habitante com o meio ambiente não pode olvidar, por óbvia extensão, o semelhante. Isto condiciona, pois, o aprimoramento das relações pessoais; por conseguinte, sociais. Em outras palavras: pelo respeito e consideração ao indivíduo (só por ele), chegamos ao resultado social. Massa é na pizzaria:
AO terceiro princípio vital para a política do amanhã visa a quebrar o bloqueio decisório e colocar as decisões no lugar a que pertencem. Isso, que não é simplesmente um remanejamento de líderes, e o antídoto para a paralisia política. É o que chamamos de ‘divisão de decisão’.
CHARDIN, T., cit. FERGUNSON, M. : 48
A economia faz-se, apenas, expressão numérica, por convenção; portanto, há que ser integrada de modo complementar, e não pauta destinatória.
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