quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

A corruptora indústria automobilística

O setor do automóvel é a espinha dorsal da indústria americana e uma parte
crítica de nossa tentativa para reduzir nossa dependência do petróleo estrangeiro.
Fiz uma das máximas prioridades da minha equipe de transição trabalhar em
outras opções para ajudar que o setor do automóvel se ajuste, combata a crise
financeira e tenha sucesso na hora de produzir nos Estados Unidos carros de
consumo reduzido.

Barack Obama

Diferentemente da maioria das indústrias, as montadoras de automóveis sempre foram dependentes diretas dos governos. De nada serviriam seus artefatos se não houvesse as vias, e sua consecução é incumbência do poder público. Washington Luíz, um presidente do Brasil do primeiro quarto do XX, tinha como slogan: "Governar é abrir estradas". Desse modo ele garantia o escoamento da produção; mas antes, muito antes, o escoamento do produto de rodagem.
Esta interatividade aos poucos foi sendo ampliada, a ponto de até mesmo governos comunistas assegurarem falcilidades nas plantas, injeções de recursos públicos, e por fim, garantia de escoamento da produção:
A Ford Motor Company e o governo da União Soviética fecharam um contrato de parceria que prevê, entre outros assuntos, o auxílio americano para a produção de automóveis em uma colossal planta a ser montada na cidade de Nizhny Novgorod a partir de 1930. Josef Stalin abraça calorosamente Henry Ford. O inesperado acordo também determina que o governo da União Soviética comprará, até 1933, um total de 72.000 carros da Ford.
Nos tempos desses gangsters, quando as quadrilhas fascistas se agadanharam do poder, as barreiras alfandegárias se fizeram em instrumentos de extorsão e negócios espúrios. Essas barreiras, por serem móveis e variadas de acordo com o freguês, isto é, com alíquotas que regulam a intensidade do veto ou não, são propícias a grandes negociatas, ainda mais se tratando de vultosas transações internacionais.
As montadoras americanas logo foram impelidas a participarem com propinas a diversos governantes, no fito da "licença" para vender seus produtos, e tal artimanha consagra o famoso "imperialismo".
Na era da democracia a propina viaja de modo antecipado, na "contribuição de campanha". Eleito o cavalo-do-comissário, ou qualquer matungo, porque ela colabora com todos, lá vem o investidor recolher os frutos de seus investimentos, numa abundância sem fim. Ele pode até escolher, de acordo com sua necessidade, ou ambição. Em espécie, como no atual caso americano, ou em redução de aliquotas, como a recentemente concedida pelo líder do ABC, ora Presidente do Brasil inteiro.
A patrocinadora determina alíquotas para as concorrentes estrangeiras; fornece com exclusividade à estupenda frota governamental; logra diminuição de impostos sobre seus produtos; abiscoita incentivos fiscais; e até fundos perdidos. Todos levam a rubrica "social", de modo que o bem-feitor além de desviar o suor de cada trabalhador em prol do segmento que lhe ampara com dinheiro, ainda leva a pecha de visinário político:
Um colapso da GM e da indústria automobilística doméstica vai acelerar a espiral descendente de uma já anêmica economia americana. Isso será devastador para todos os americanos, e não apenas para quem tem uma parte na GM, pois colocará milhões de empregos americanos em risco e aprofundará mais a recessão.
(Anúncio da própria GM, através de seu presidente Rick Wagoner,
publicado em Automotive News)
Periga essa excelência ter alguma preocupação social.
A nota ainda apela ao estapafúrdio: a gigante precisa se valer dos contribuintes porque, se ficar sem dinheiro, não terá como pagar contas, manter suas operações e investir em tecnologia.
Isso não se equivale à seqüestro relâmpago?
Pois então convém lembrar à Nação liberal, o ensinamento de seu maior inspirador:

Todo o sistema de política que se esforce, seja por extraordinários incentivos, para destinar a uma espécie particular de indústria uma parte do capital da sociedade maior do que naturalmente atrairia, seja por extraordinárias restrições, para afastar de uma espécie particular de indústria parte do capital que do contrário nela se teria empregado, na realidade subverte o grande propósito que deveria promover. O Sr. Smith investigou, com grande engenhosidade, que circunstâncias, na Europa moderna, contribuíram para perturbar essa ordem da natureza e, sobretudo para encorajar a atividade nas cidades, à custa daquela do campo
STEWART, Dugald, in SMITH, A.,Teoria dos Sentimentos Morais, LXIV

* * *
Na época de Getúlio Vargas bastou uma siderúrgica fornecedora da matéria-prima dos automóveis para fazê-lo virar de fascista tupiniquim, à democrata americano.
JK se lavou com as indústrias francesas, e o regime militar manteve o quintal fechado às carroças.
Collor tentou passar o chapéu por aqui mesmo. Sequer foi atendido. Os carroceiros pagaram o alto preço de ver seu quintal aberto à concorrência. Aprenderam a lição. O candidato subseqüente também, principalmente seu partido. Ao assumir o poder, o socio logo da Sorbonne reestabeleceu inúmeras barreiras alfandegárias, e brindou as siamesas americanas com plantas industriais, parques fabris, isenções de impostos. e vultosos contratos de fornecimento, garantindo, destarte, e de modo antecipado, o escoamento da produção. A desculpa foi que o Brasil não tinha dinheiro para importar automóveis. Desta maneira não se sabe em qual cartola ele tirou dinheiro para adquirir o magestoso porta-aviões, novo Colosso dos Mares de Iracema. Quanto à geração de empregos, de fato, foram criados talvez uns dez mil postos, mas às custas de duzentos milhões de brasileiros. Quem não pode ser empresário dessa forma?
Infelizmente a festa permanece no arraiá:

O escândalo sexual que atingiu a montadora alemã Volkswagen, que teria pago com
dinheiro da empresa orgias para corromper executivos e sindicalistas, respingou hoje no ministro Luiz Marinho (Trabalho).
Folha de São Paulo, 20/10/2005
* * *

Quando a mente toma a dianteira do espírito, constrói uma sociedade contra a natureza e persiste em seus conceitos até que apareça a Grande Complexidade proveniente de seus próprios processos. Ela percebe então que já não pode administrar essa realidade, nem quantativamente, nem qualitativamente.
RANDOM, Michel, O pensamento transdisciplinar e o real : 208

Malgrado o descomunal esforço, o bizarro se sobrepõe:
Malgrado o descomunal esforço, o bizarro se sobrepõe:
o automóvel tem os dias contados.
Se Malthus se equivocou na equação alimentos/crescimento populacional, porque esta relação não é estanque, a produção de veículos automotores em relação ao espaço necessário está fadado ao colapso.
A crise financeira é o marco de mudança. A pretensa falta de financiamento é apenas apanágio da fatalidade:
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"Não acho que os Estados Unidos estarão fabricando carros daqui a 15 anos.
É uma indústria moribunda." (Kenneth Rogoff, professor de Harvard, ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional. - Estadão, 15/12/2008)
O mundo que emergirá depois da tal crise será muito diferente do atual e não há dúvidas que o automóvel será restrito. Ainda bem.
O marcante fato poderá atingir o próprio Governo, o Leviathan, o pastor lobo do homem. Faz-se imperioso cortar-lhe suas garras, impedindo-o de oferecer nossos despojos à privilegiada classe dos contribuintes de suas campanhas.
Quanto ao monumental, porém tardio investimento programado pela monopolista Petrobras, equivaler-se-á jogar o fruto sagrado do trabalho de todos os brasileiros na cratera de um vulcão.

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