quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Ciência e Profissão


Há muitas espécies de homens que se dedicam à ciência, nem todos por amor à própria ciência. Alguns penetram no seu templo porque isso lhes dá ocasião de exibir os seus talentos especiais. Para essa classe de homens a ciência é um esporte, em cuja prática se regogizam como o atleta exulta no exercício de sua força muscular. Há outra casta que vem ao templo fazer ofertório para seus cérebros, movida apenas pela esperança de compensações vantajosas. Estes são homens da ciência pelo acaso de alguma circunstância que se apresentou por ocasião da escolha de uma carreira. Se a circunstância fosse outra, eles se teriam feito políticos ou financeiros. No dia em que um anjo do senhor descesse para expulsar do templo da ciência todos aqueles que pertencem às categorias mencionadas, o templo, receio eu, ficaria quase vazio. Mas restariam alguns fiéis -uns de eras passadas e outros de nosso tempo. A estes últimos pertence o nosso Planck. E é por isto que lhe queremos bem. Albert Einstein
Não há dúvidas que necessitamos aptidão à sobrevivência, e ela inclui algum domínio sobre as potencialidades que nos cercam. Todavia, tais condições, ou prerrogativas, não se fazem exclusivas à nossa espécie. Manadas africanas conhecem antecipadamente os períodos de sêca,; e antes delas iniciarem, rumam incontinente para outras pradarias.
Há algo mais entre o céu e a terra além dos aviões de carreira, e isso é o que nos intriga.
Se o alimento tem função energética, e por isso não deixa nenhuma espécie estática, a nossa diferença recai na motivação. Enquanto aos quadrúpedes aprazem satisfações repentinas, somos dotados de complexa memória, e ela nos diz que a satisfação alimentar, e a própria vida são fugazes, mas nossos pensamentos não precisam ser tão restritos. Foi por esta paixão que Nietzsche foi condenado: o homem deveria abandonar o macaco, Como isso significava deixar de ser idiota, e passaporte para assumir as rédeas de seu próprio destino, Igreja e governos o destinaram ao sanatório. Hitler haveria de resgatá-lo para arregimentar o povo contra o darwinismo marxista. Diante desse involuntário deslize é que o maldito Zaratustra permanece lacrado a uns milhares de palmos-de-fundura.
A religião até tem tentado a sublimação, mas pelo fato de procurar a transcendência fora dos domínios humanos, per se nos coloca inaptos, na posição execrada pelo notável germânico.
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Não é suficiente ensinar a um homem uma especialidade. Através dela ele pode tornar-se uma espécie de máquina útil mas não uma personalidade desenvolvida harmoniosamente. A sobrecarga necessariamente leva à superficialidade.
EINSTEIN, Albert cit. PAIS, Abraham, Einstein viveu aqui: 271
A supremacia capitalista ofusca qualquer outra meta.
A preocupação dos pais os leva a de plano questionar: "o que serás quando crescer?" A resposta óbvia: "maior!" Ela não bastaria? Pois além de mais simples, e também mais abrangente, a configuração é absolutamente natural; portanto, não demanda maior esforço, exceto os triviais fisiológicos. Todavia, mercê de tantas carências, dessas que até os animais são capazes de suplantar, somos obrigados, em primeiríssimo plano, a nos precaver, adestrados à profissão. Grande parte da civilização encontra no patamar o alívio, mas subsiste, movido pelo sentimento de emulação, quem aliene sua existência em superar todos os demais. A inveja se faz no norte, e divide o portador: de um lado, ele procura implusionar a prórpia vida, a descendência; e do outro, busca denegrir os rivais. Por certo, se perseguisse a própria felicidade, e não o infortúnio alheio, obteriam maior rendimento para si. A minoria, contudo e felizmente, não se obscurece, e tem assumido maior pertinência.
A consciência ecológica, absolutamente desconhecida até os anos sessenta, ora é responsável pelo impulso mais contundente. Pela égide, ou assemelhada, vemos proliferarem solidários, abnegados, os despreendidos, todos voltados em salvar nossas circunstâncias. Como além e até mais importante do que o cenário são seus atores, a nova mentalidade tende a permear as relações sociais. Principalmente em tragédias naturais, mas também na escassez alimentícia se sobressai o novo caráter tomado pelas nações mais desenvolvidas de nosso tempo. Na verdade, como somos todos dependentes, seja de nosso planeta ou mesmo dos companheiros de jornada, ao salvar nossas circunstâncias nada mais fazemos do que propriamente nos salvar. Entretanto, o enorme contingente, por questão tradicional, educacional e cultural, permanece em torno da riqueza material, porque visível aos olhos, e quanto mais apropriada, supõe maior onipotência.
É desse elemento que se valeu o grego para tornear nossa atenção, e com isso exercer o domínio. É apenas por causa dele que os sinos dobram. Platão cingiu o corpo da alma, a carne do espírito, o número do argumento, para servir a humanidade em seu prato. A restrição veio dotada da maior gravidade, as vezes flagrante, outras tantas sutil, mas capaz de impregnar praticamente todo o EspaçoTempo de nossa existência.
O fog atinge quiçá sua maior densidade quando nos torna incapazes de discernir inclusive o amor. Todavia, enquanto a maior parte da humanidade trata de dividir o trabalho, não se opondo em se transformar em mera peça de uma monstruosa engrenagem, desde que subsista, de outra, ainda que diminuta, surgem candidatos ao rallye espiritual. Ascetas, filósofos, psicólogos, alquimistas, pastores e gurús são paulatinamente requisitados, e muitos tão admirados quanto a parte patinhas, diante de tantos dilemas ainda não transpostos, os quais assumem maior vulto na medida do espaço que se precipita através do tempo.
O legado é o desafio: tornar a abstração cognitiva compatível com nossas premências materiais, mas não submissas a elas.
"O cientista não é um ser que vive à procura da glória ou do sucesso e a evitar o fracasso. Sob esse aspecto, vejo o cientista como um ser que abre ou fecha portas.", nos diz Thomas Kuhn .O presente grego é o maior obstáculo a nossa completude. O que vemos ao esmiuçar a história das ciências e mesmo da filosofia é uma enorme quantidade de talentos à serviço de seus interesses pessoais. São apenas estrategistas. Agem em função de circunstâncias preestabelecidas, no fito de lograr reconhecimento.  A tanto, não é mister a epistemologia, a verdade cientifica, mas o que ela pode oferecer ao premente usufruto.  Platão inaugurou o placar sentando praça junto aos 30 Tiranos de Athenas; Não requer menção a quantidade de tribunos gerados à luz da República Romana. Dante, Da Vinci, Maquiavel, Kepler, Ticho Brahe, Hobbes e Bacon se deliciavam nos banquetes dos palácios. Depois  de seus arranjos, Newton foi guindado à presidência da Casa da Moeda da Inglaterra. MII, Bentham, Austin faturaram no exercício político. Darwin curtiu cinco anos de turismo tropical. Sempre protegido, aquietou-se em magnífica propriedade rural por longo tempo. Só depois que Wallace lhe confiou siuas pesquisas é que o artiuculador da Seleção Natural se apresenou no reino. O que ocorreu no passado ainda é presente: o Estado garante a subsistência dos pesquisadores, que por sua vez dedicam seu esforço em prol de quem lhes paga, naturalmente. Por paradoxo, um amador tem melhores condições de ascender à cientificidade, porquanto livre de interesses incidentes, ou pessoais. Como Einstein bem enalteceu, a estrada é íngrime, perigosa, pouco lucrativa, e geralmente solitária; mas para o amador, esta é sua vida; portanto, sua riqueza.

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