domingo, 5 de junho de 2011

A ascenção neofascista

Feliz aquele que ainda esperança pode ter,
De desse mar de equívocos emergir!
O que não se sabe, é o que mais se precisou saber,
E do que se sabe, não se pode mais servir.
FAUSTO à WAGNER, por GOETHE.
É inconcebível que uma das mais importantes democracias do mundo seja assombrada por uma forma de autoritarismo hipócrita.
Jurista Hélio Bicudo, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Carlos Velloso, cientistas políticos Leôncio Martins Rodrigues, José Arthur Gianotti, José Álvaro Moisés e Lourdes Sola,,o poeta Ferreira Gullar, d. Paulo Evaristo Arns, os historiadores Marco Antonio Villa e Bóris Fausto, o embaixador Celso Lafer, os atores Carlos Vereza e Mauro Mendonça e a atriz Rosamaria Murtinho. Manifesto em defesa da democracia,
"O totalitarismo de esquerda criou o totalitarismo de direita, o comunismo e o fascismo eram o martelo e a bigorna pelos quais o liberalismo foi despedaçado. Se o leninismo gerou o fascismo de Mussolini, foi o stalinismo que tornou possível o leviatã nazista." (JOHNSON,  P.:  232)  “Mussolini aparece no partido socialista como um verdadeiro chefe. Se tivesse prosseguido, nada o teria diferenciado de um comunista vermelho.” (FARIA, Octávio, Machiavel e o Brasil: 99)
Se na ribalta internacional estrelavam a máfia e os gangsters, no Brasil pintaram cangaceiros e partners “O Estado, jornal, expressava que Getúlio, o caudilho, chefe do peronismo brasileiro, fomentava a crise a fim de justificar perante ao povo e as classes armadas, o seu tão acariciado golpe continuista.” (SKIDMORE, T.,  Brasil, de Getúlio a Castelo: 167.)
O Presidente se transformava em ditador e falaria à nação justificando seu ato como desejo de livrar o país da desagregação e do domínio comunista. Nesta mesma ocasião, imitando o primeiro Imperador do Brasil, ele outorgava ao País a nova Constituição, elaborada pelo jurista Francisco Campos, que era nomeado seu Ministro da Justiça.  (Wikipédia
"O país ficou entregue, como não é segredo para ninguém, a uma quadrilha de assassinos e torturadores e de gatunos profissionais, que tinham carta branca para a consumação dos crimes mais hediondos contra os adversários do regime.” (MUNIZ, E., cit. JORGE, Fernando: 7)
O fascismo caracteriza-se pela tomada de poder por gangsters, o que Marx chama de lumpen, gente não pertencente a nenhuma classe organizada da sociedade. Tomada de poder em nome do povo e da comunidade sem a limitação de nenhum controle racional. LIPSET, Seymor Martin, O homem político: 182
Em 1945 o mundo tomou pleno conhecimento ao que leva o projeto megalomaníaco. Curiosamente restou uma nação ainda supondo que pudesse fazer tudo, desde que ordenada. Como o ordenamento per se solapa a criatividade, e exige até mesmo a ignorância, o mundo assistiu estarrecido a enorme montanha de entulho, cuja remoção até hoje exige o sacrifício daquela gente tocada a produzir tal qual gado leiteiro. A permanência da quimera democrática soviética, porque em se falando de democracia nada poderia ser mais perfeito do que o poder do povo, do proletariado sobre todos, esta "opção política" indicava que fora apenas alguns erros emocionais os responsáveis pela derrocada do nazismo e do fascismo, porquanto sua racionalidade era tão imbatível, até maior e mais sensata do que a gêmea sobrevivente. O que mais nos restaria? Com tamanha certeza, às raias da obssessão, o Brasil retroagiu à artimanha. Para enfeitar suas aspirações, nosso ducinho criou seus dois partidos, um à esquerda, e outro sentado à sua direita, os quais pela inexistência de outros tornaram-se hegemônicos pelo menos até aparecer algum gaiato com vassoura na mão. Se a democracia requer escolha do povo pelo voto popular, o povo então podia escolher. O clone reestilizado assim facilmente retornou ao Catete, para de lá só sair morto. A  coadjuvante, todavia, por distante e à ferro alienada, manteve-se incólume por mais duas gerações, indicando que até seria possível manter o povo enfeixado, desde que anunciado bom motivo. "O chefe deve mostrar constantemente o caminho ao povo, que não conhece sua verdadeira vontade; deve fazê-lo ver as coisas como elas são – ou como devem lhe parecer." (ROUSSEAU, J. J., Contrato Social, cit. KOSELLECK, R: 142)
Eis o caminho da servidão:
Enquanto os direitos de liberdade nascem contra o superpoder do Estado - e, portanto, com o objetivo de limitar o poder - os direitos sociais exigem, para sua realização prática, precisamente o contrário, isto é, a ampliação dos poderes do Estado. BOBBIO, N. A Era dos Direitos: 72
Quanto mais forte a vontade de poder, menor o apreço à liberdade. A negação total do valor da liberdade, a maximinização do domínio - eis ai a idéia de autocracia e o princípio do absolutismo político, que se caracterizam pelo fato de todo o poder do Estado estar concentrado em um único indivíduo, o governante . KELSEN, H., A Democracia: 181
1968 mandou o que julgava definitivo aviso, em letras garrafais:
É PRECISO QUE A  IMAGINAÇÃO CHEGUE AO PODER !
Sem maiores tragédias, mais uma vez as ditaduras eram desmascaradas, solenemente desmoralizadas, mas a  Primavera de Praga acabou esmagada pelos tanques soviéticos.  E lá se veio pela enésima vez o flamante comboio platônico-maquiavélico-hobbesiano-hegeliano fascista, pintado com frisos marxistas, e com vontade multiplicada geometricamente, disfarçada aritméticamente.
Senhora Liberdade
Em 1989 o mundo pode assistir ao que levou a estupidez  soviética, de modo que a unanimidade tomou conta do salão. Chega de ditaduras - sejam pessoais ou corporativas, do proletariado, de exércitos, fundamentalistas, ou de quem quer que seja! Ma o quê colocar no lugar, se por século o mundo inteiro marchou sob vara? Como soltar assim, de repente, a boiada a se espezinhar, ainda mais diante da inequívoca ciência darwinista? "Ainda ninguém explicou direito por que tudo aconteceu naquele ano, e de que forma o mundo absorveu os impulsos revolucionários daquela geração”, disse  Zuenir Ventura, ao lançar o emblemático 1968 - o ano que não terminou. Centro-esquerda, pronto. Social, sim, mas democrático. Os desgarrados, os liberais, uns libertinos, que se adaptem à vontade da maioria. Não é o mais forte que deve se impor? A sociedade não é muito mais ampla, por conseguinte não tem muito mais direito do que qualquer recalcitrante?  E lá se veio o comboioi, desta feita sem obstáculos, e em velocidade acelerada: "Quando declina o senso do Estado e prevalecem as tendências dissociadoras e centrífugas dos indivíduos e dos grupos, as sociedades nacionais se dirigem para o ocaso." (MOURA, G.A. O Fascismo Italiano e o Estado Novo Brasileiro, www.ebooksbrasil.org) 
O crime, a velhacaria, e a traição compõem a trama social. Como não entender e até perdoar nossos aplicados condottieris, literalmente escolhidos a dedo, humanos como nós, mas que dos males sóem apresentar apenas a banal corrupção, acusados por mera apropriação indébita de dinheiro, um artefato que é de todos, portanto de ninguém em especial? Que falta pode fazer alguma coisa sem propriedade?  Dessarte o guardião se manteve intacto no salão. Quem se atreveria a contrariar tamanha moralidade? O Estado não é formado por funcionários amorosos, cuidadosos e sábios, sempre em prontidão para confortar os angustiados e fornecer seguridade para os marginalizados? Só mesmo os velhos ricos, acostumados a enriquecerem às custas dos pobres, podem se opor à tanta bondade desses  executores, não executivos. "Portanto, ninguém deve se tranquilizar pensando que os bárbaros ainda estão longe de nós, porque, se há povos que deixam arrancarem-lhes das mãos a luz, outros há que a apagam, eles próprios, sob seus pés." (TOCQUEVILLE, 2000: 54)
O que colhemos é uma confusão generalizada, nações à deriva, sem saber ao certo onde se encontra o norte
A diferenciação teórica e prática entre democracia e autoritarismo nunca foi tão difícil de ser feita como hoje, na medida em que suas características antagônicas nem sempre se encontram separadas em regimes opostos, se não muitas vezes convivendo dentro do próprio regime democrático. Isto quer dizer que num sistema político onde seus dirigentes possuem impunidade para violarem a lei, não respeitando os direitos individuais ou das minorias, a vontade política da maioria expressada através do exercício eleitoral não pode ser considerada autenticamente democrática. O que garante a legitimidade democrática, em última instância, é o rigor do Estado de Direito. LEIS, Hector,  O mandato democrático-autoritário do populismo contemporâneo. 28/1/2010
Graças à anistia, depois de vinte anos a imaginação chegou no Brasil,  O gênio da Bobbone e a companheirada militante protagonizaram grandes espetáculos pelos palcos das Diretas já, emocionando a Nação. A marcha a Brasília foi coroada de pleno êxito. O resultado fulgura pelo céu da Pátria.
O que distingue o fascismo dos demais sistemas políticos autoritários é que, enquanto as ditaduras capitalistas tradicionais se contentam em monopolizar o poder, mantendo o povo calado e subjugado sob as patas de seus patrões (ou “donos”) respectivos, e garantir a continuidade da dominação de classes, os fascistas pretendem regulamentar, vigiar, fiscalizar e manter sob estrito controle cada aspecto da vida de seus “súditos”. Não lhes basta que os corpos retorcidos, famintos e mal-tratados dos trabalhadores sirvam ao doentio fausto e ao luxo fútil dos senhores, mourejando de sol a sol na produção dos meios para a vadiagem chique, em troca de migalhas Lula em filme é bom demais para ser verdade, diz 'Economist'
Quando na mesma pessoa, ou no mesmo corpo de magistrados, o poder legislativo se junta ao executivo, desaparece a liberdade; pode-se temer que o monarca ou o senado promulguem leis tirânicas, para aplicá-las tiranicamente. Não há liberdade se o poder judiciário não está separado do legislativo e do executivo. MONTESQUIEU, Do Espírito das Leis, Livro XIX.
'LULA QUER PARTE DA MEMÓRIA DE VARGAS. Professora da USP analisa influência do modelo populista de Getúlio Vargas no atual governo. A historiadora Maria Lígia Coelho Prado, coordenadora do Seminário Internacional Perón e Vargas, Aproximações e Perspectivas, realizado no início do mês, vê Lula como administrador de uma contradição: busca se apresentar como 'pai dos pobres' e, ao mesmo tempo, atende aos interesses dos banqueiros e grandes empresários. Ela analisa o que há de herança varguista no atual governo .(Estadão,  15/4/200810)
neofascismo  não se mantém pela eloquência da baioneta, mas apenas por um marketing que não resiste a qualquer código de consumidor. Ao contrário da publicidade, ele vinga  pelo que se esconde pelos bastidores, pelas cuecas,  em registros laranjas, e o grosso pelos paraísos-fiscais.  
Hoje o país vive dificuldades de outra sorte. Com um presidente constitucionalmente legítimo e politicamente trõpego, o acelerado crescimento do hiato entre ricos e pobres (sem mencionar miseráveis e desempregados) e a exacerbação do corporativismo como forma privilegiada de associar participação e distribuição. Naturalmente espera-se que o Brasil e a América Latina consigam associar progresso e liberdade, recuperando, sem traumas, parte do atraso civilizatório em que se encontram. Mas é de toda conveniência examinar prognósticos que, pelo contrário, antecipam para a região uma permanente subalternidade, numa civilização de segunda classe.  Wanderley Gulherme dos Santos, Não ao fracasso, in Veja 25 anos - Reflexoes para o futuro
O ilustre professor acabou defenestrado pela nomenklatura do chão- -de-fábrica.. Os cupins se tornaram robustecidos; e o povo, ludibriado:
Nessa visão o infeliz destino dos trabalhadores brasileiros é fruto do fato de terem sido integrados, nas palavras de Maria Helena Moreira Alves, em 'organizações corporativas baseadas em um código de trabalho copiado de Mussolini, visando o controle dos sindicatos'.  ALVES, M. H. M., cit. FRENCH, J. D.: 32
O presidente  Lula da Silva fez um discurso inflamado  durante a posse da nova direção do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. A centenas de sindicalistas presentes, Lula disse que 'esta é a hora de se reivindicar salários, aumentos de conquistas e mais direitos trabalhistas'. (Lula fala como 'sindicalista' e diz que é hora de pedir. - Estadão, 2/8/2008)

Um comentário:

  1. O fascimo é um Crime tal como o nazismo que o é, tanto que mesmo Himmler chegou pouco distinguir este do sistema comunista de Stalin. Porém, algumas coisasjamais serão legais. Mesmo que tente me marginalizar, pelas leis não vão me ferrar, mesmo o julgamento de Jesus fora legitimado por leis e um tribunal primitivos, antes o holocausto judeu e suas leis fossem legais. Mandar-me um policial me espancar, estará fora da lei, se me violentar, será estupro.

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