quinta-feira, 2 de junho de 2011

Gigantes atados em barbantes 2/3

O povo é como boi manso
Quando novilho atropela
Bufa, pula e se arrepela,
Escrapeteia e se zanga;
Depois...vem lamber a canga
E torna-se amigo dela.
Home é bicho que se doma
Como qualquer outro bicho;
Tem às vezes seu capricho,
Mas logo larga de mão,
Vendo no cocho a ração,
Faz que não sente o rabicho
Ramiro Barcelos
Era uma questão tanto de sobrevivência quanto de política: uma panacéia que, pelo voto do trabalhador e pela transformação radical do Parlamento, proporcionaria ao trabalhador muitos assados, muito pudim de ameixas e cerveja forte, com três horas de trabalho diário. RUDÈ, GEORGE: 190
Na época em que "se amarrava cachorro com lingüiça" uns propugnavam pela união dos operários contra os patrões; e outros, pela união da Nação contra outras nações. A bomba atômica e a queda do muro liquidaram com tais perfídias, mas ao mesmo tempo tornaram os partidos "desideologizados", desprovidos de outra razão além da  simples ambição pela chave do cofre. O que vemos pelo mundo afora é uma plêiade de impostores e oportunistas, gente sem a menor qualificação ou conhecimento, sentada nas pontes de comando graças a vitoriosas campanhas de marketing, antecipadamente cobertas por não poucas pesquisas arranjadas, em porfias nas quais os adversários já se apresentam derrotados, ou mesmo combinados 
A democracia favorece apenas aqueles que estão no poder, bem como todo o seu grupo de apoio.  Ao contrário dos regimes absolutistas do passado, a democracia é a única forma de governo que fornece os meios mais consistentes para aqueles que estiveram no poder poderem dormir e morrer em paz.  O mesmo se aplica para toda a nomenklatura e seus apparatchiks e cortesãos.  Esses bajuladores, após a invenção da democracia, não mais precisam temer traições, assassinatos e o subsequente coroamento de um novo rei.  A elite e sua burocracia podem se aposentar tranquilamente em suas fazendas e gozar o resto de suas vidas sem qualquer receio — suas riquezas e descendentes estarão seguros, pagos regiamente pelo contribuinte livre'.  ,
Basta  mero  barbante para neutralizar a incauta viandante:
Para Michaël Zöller, sociólogo alemão da universidade de Bayreuth, o que se chama de Estado é certamente um sistema de interesses pessoais organizados, uma Nova Classe. Como todos nós, sua ambição é aumentar a remuneração e a autoridade. Como classe, ocupam-se, pois, a desenvolver seus poderes, suas intervenções e sua parte no mercado, isto é, a apropriação pelo setor público dos recursos nacionais, operada através do imposto sobre a sociedade civil. SORMAN, G. :74
Em  muitos Estados do Terceiro Mundo, o assim chamado povo soberano não é nada. Ou quase nada. Fica à margem ou ausente do jogo político, limitado a um círculo restrito. Chamam-no somente para ratificar, plebiscitar e aplaudir. [...] Sobretudo por ocasião das eleições presidenciais. SCHWARTZENBERG, Sociologia Política:: 320
Não somos uma sociedade indignada. Somos acostumados a conviver com os desmandos. Se fôssemos tão atentos com a políticas e economia como somos com o futebol, viveríamos melhor. O projeto divino e imperfeito de observar o ser humano, 2/6/2011
O Estado Poder inverte a ordem dos fatores. Para ele a força do Estado é que confere liberdade e prosperidade aos cidadãos. Seu princípio prioritário é a autoridade. Ávido de tudo reger, sequioso de tudo regular, o Estado Poder absorve e centraliza um número sempre crescente de atividades. Apoiando-se num aparelho tecno-burocrático, ele dirige, comanda, ordena. O Estado Poder mantém a nação sob tutela. Para fazer a felicidade dos cidadãos a despeito deles, senão contra.  Idem : 329
Esses novos almirantes miram o velho porto por tudo condenável: "A democracia brasileira é, como o fascismo, 'autoritária'. A sua novidade consiste no quase desaparecimento da divisão de Poderes, pela supremacia concedida a um deles, o Executivo. Assumindo este a chefia suprema, ficariam os demais reduzidos a 'funções'. (ALMEIDA MOURA. G. de, A representação proporcional e a Carta de 10 de Novembro de 1937.

Comissão de Constituição e Justiça da Câmara aprova Lei da Mordaça

Não tratamos de ideologia, opinião, preferência clubística ou política. É ciência. Ciência da História, em primeiro lugar, coisa inexistente à turma do XIX. "Os estados foram responsáveis por mais de 200 milhões de mortes cruéis apenas no século XX" (WISNIEWSKI, Jakub Bozydar)  São ciências jurídicas sim, especialmente a ciência do Direito Natural, sempre desprezada pelos napoleões da vida, que por tamanha ignorância acabam pastando em Santa Helena. Também falamos de ciências da Economia, Contábeis, da Administração Pública e de Empresas, da Sociologia, as quais nem Marx, muito menos Gramsci puderam aferir com a U.R.S.S e os coitados satélites. Menção até da Física Nuclear, felizmente desacreditada pelos positivistas lógicos e daí por seu representante mais atuante, instalado no III Reich. Falamos de Filosofia, de ética, não dialética, assuntos por completo estranhos no chão-de-fábrica, e desdenhados, sem a menor noção, pelos serviçais dos tribunais. “Pega os peixe, não os emprego”
O emérito ex-senador NORBERTO BOBBIO (O futuro da democracia: 110) não concordava com a preponderância de intrometidos: "Democracia significava o que a palavra designa literalmente: poder do démos, e não, como hoje, poder dos representantes do démos."
Tempos sombrios com líderes sem limites Agem esses atores tal qual primitivos, primatas mesmo, uns naturmensches emergindo na Era do Conhecimento. Lamentável. Profundamente lamentável, porque o néscio é ainda mais funesto do que o malvado. Este descansa algumas vezes; mas o néscio, jamais. A trovejante retórica e a medíocre performance dispõem um cemitério à realidade; no máximo, hospital de inválidos.:O inglês vê, e igualmente lastima:
Os impostos no Brasil - com uma gigantesca carga tributária indireta, embutida nos preços de toda a cadeia produtiva, o que gera impostos em cascata - são ainda maiores que aqueles que Obama planeja implementar. O intervencionismo estatal no país é verdadeiramente horrendo. As tarifas de importação são abusivas. ROCWELL, Lew, As ideias são mais poderosas que exércitos.
É mais fácil e barato abrir empresa em NY do que em SP'
Tudo foi devidamente prenunciado pelo próprio SIMON BOLIVAR (cit. MINGUET, Charles, Myrthes fondateurs chez Bolivar, 'Simon Bolivar', Cahiers de l'Herne, 1986: 117; cit. GUSDORF, G: 259): “Não podemos governar a América. Este país cairá infalivelmente nas mãos da multidão desenfreada, para passar em seguida às mãos de pequenos tiranos, quase imperceptíveis, de todas as cores e de todas as raças.” O libertador já discernira e profetizara, (Carta a um cavalheiro que tinha grande interesse na causa repúblicana na América do Sul, 1815, cit. MENDONZA, MONTANER & LLOSA: 36):
Enquanto nossos compatriotas não possuírem os talentos e as virtudes políticas que distinguem nossos irmãos do Norte, os sistemas inteiramente populares, longe de nos serem favoráveis, receio que virão a ser nossa ruína. Infelizmente essas qualidades parecem estar muito distantes de nós, na intensidade que se deseja; e, pelo contrário, estamos dominados pelos vícios que foram contraídos sob a direção de uma nação como a espanhola, que só sobreviveu em atrocidade, ambição, vingança e avidez.
Reversão
Em outros tempos, se dissessem a um homem que, ao recusar-se a reconhecer a autoridade do Estado ele ficaria à mercê dos ataques de homens perversos - inimigos internos e externos - e que teria que lutar sozinho sujeitando-se a ser morto em combate, sendo portanto vantajoso suportar algumas dificuldades em troca de proteção, ele poderia acreditar, já que os sacrifícios que viesse a fazer pelo Estado seriam apenas pessoais e lhe garantiriam pelo menos a esperança de uma vida tranquila numa Nação estável. Mas no momento em que não apenas os sacrifícios parecem ter se tornado mil vezes mais penosos, mas os benefícios parecem ter desaparecido, é natural que os homens tenham chegado à conclusão de que a submissão à autoridade é algo totalmente inútil. TOLSTOI, Leon, O Reino de Deus está dentro de Vós, cit. Woodcock, G., p. 189.
Se o governo se exceder ou abusar da autoridade explicitamente outorgada pelo contrato político torna-se tirânico e o povo tem então o direito de dissolvê-lo ou se rebelar contra ele e derrubá-lo. 
LOCKE, J., Second treatise of civil government: 184
Apanhei,
Bati.
Fui mordida,
mordi.
Alimentei meus demônios
com sangue,
egoísmo e preguiça.
Fiquei quieta,
quieta demais.
Atrofiei.
Embruteci.
Cheguei ao desespero
e quase caí...
Uma queda profunda,
talvez sem volta.
"O que estou fazendo aqui?"
"Não aguento mais."
"Espera mais um pouco."
"Já chega!"
Todo esse dualismo!
Essa confusão.
Esse tédio.
Essa interrogação.
Um elefante amarrado pelo barbante!



"O terceiro princípio vital para a política do amanhã visa a quebrar o bloqueio decisório e colocar as decisões no lugar a que pertencem. Isso, que não é simplesmente um remanejamento de líderes, e o antídoto para a paralisia política .É o que chamamos de ‘divisão de decisão’. (CHARDIN, Teilhard, cit. FERGUNSON, N.: 48) É o que acontece no Oriente Médio, na Europa, e alhures. A onda de 1968, por não assimilada, de tantas voltas encorpou-se em tsunami. O fenômeno é capaz de varar praias e morros, e chegar até em planaltos centrais. Com certeza.
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