quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Darwinismo à caminho do fim



A teoria de Darwin foi falha. Não há evidência direta para a seleção natural como um processo evolucionário. Ninguém jamais observou um organismo evoluir, sob condições naturais, para outra forma de organismo. Que formas intermediárias concebíveis poderiam ter levado à aparição do olho? Como poderia a Seleção Natural ter dado origem à aparição de pássaros? Quando um animal arrisca sua vida para salvar um companheiro, suas possibilidades de sobrevivência não são aumentadas.(1)
No Jungle Park, Flórida, uma chimpanzé adotou dois filhotes de tigre, recém-chegados de outro parque na Carolina do Sul. Os pequenos Mitra e Shiva ainda não se adaptaram ao calor de Miami, e desde a sua chegada, encontraram na macaca Anjana uma espécie de mãe adotiva. BBC Brasil, 12/11/2208
Uma bateria de recentes constatações coloca em xeque o arquétipo do Turista do Beagle:
Um exemplo de abnegação e desprendimento (que bem poderia inspirar alguns políticos e servidores públicos) vem da diminuta formiga brasileira Forelius pusillus, habitante de canaviais. Todas as noites, por volta das 20h, em um ato de sacrifício, em nome do bem da comunidade, um grupo de operárias trabalha incessantemente, carregando grãos de areia. Objetivo: fechar a abertura do formigueiro. Terminado o trabalho, que se estende por cerca de 50 minutos, até oito delas ficam do lado de fora. Manhã seguinte, por volta das 10h, as entradas começam a se abrir, de dentro para fora. Não há praticamente sobreviventes entre as ‘voluntárias’. VIEIRA, CÁSSIO LEITE, Tudo pelo bem comum: formigas operárias de espécie brasileira se sacrificam em nome da colônia. - Revista Ciência Hoje, novembro de 2008.
E essa então:
Os chilenos têm um novo herói. Uma câmera de vigilância de uma estrada de Santiago gravou imagens de um cão andando entre carros em alta velocidade para puxar o corpo de outro cão que morreu atropelado.
Estadão, 8/12/2008
Não quero falar dos desempenhos dos golfinhos, ou das girafas, que ficam de plantão, nas colinas, correndo ao se aproximar o malvado Rei, desse modo avisando búfalos, elefantes e e vários quadrúpedes menores que saciam a sede no açude.
O homem só muito lentamente descobre como o mundo é infinitamente complicado. Primeiramente ele o imagina totalmente simples, tão superficial como ele próprio.
NIETZSCHE, F., O livro do filosofo: 41
Genealogia é questão por demais intrincada para ser afeta ou explicada pela empírica singeleza darwinineana.
A visão da evolução como uma crônica competição sangrenta entre indivíduos e as espécies, um desvirtuamento popular da noção de Darwin da 'sobrevivência dos mais aptos', dissolve-se diante de uma nova visão de cooperação contínua, forte interação e dependência mútua entre as formas de vida. A vida não conquistou o globo pelo combate, mas por um entrelaçamento. As formas de vida multiplicaram-se e tornaram-se complexas cooptando outras, e não apenas matando-as.
SAGAN, D., cit. DAWKING, R.: 288
A evolução nos moldes do paradigma darwiniano dominante, via seleção natural, também é questionada pelo doutor em filosofia pela Universidade de Nova Iorque. Nem tudo na natureza ocorre à luz da adaptação, e para tal Stephen Jay Gould e seu parceiro Richard Lewontin são acionados.
REGIS, Ed, O que é vida.
Farrar Straus Giroux, 2008
A ordem é multiforme
“Há infinitos universos paralelos formando ramificações. Em cada um se atualiza uma realidade.” (TOFFLER, A. & TOFFLER, H., : 20)
Nos ecossistemas resplandece a teia, a importância dos vínculos, a tendência à associação, até à cooperação entre elementos ligados por diversas razões, mas sem imperiosidade determinística, jamais abdicando os "participantes" da originalidade, das características e respectivas vocações:
"Isto faz dos seres vivos elementos numa vasta rede de inter-relações que abarca a bioesfera de nosso planeta – que em si mesma é um elemento interligado dentro das conexões mais amplas do campo psi que se estende pelo cosmos." (LASZLO: 198)
Podemos até admitir que a primata hipótese contemple alguns estágios homeostáticos, ou seja, explique como as espécies adaptam-se a mudanças ambientais. Mas não demonstra como uma espécie torna-se outra. Não temos uma continuidade de fósseis mostrando como um réptil tornou-se um pássaro. Há movimentos descontínuos no mundo para os quais não existe explicação matemática ou lógica.
A pergunta sobre como a vida funciona não era do tipo que podia ser respondida por Darwin, ou seus contemporâneaos. Eles sabiam que os olhos são feitos para ver – mas como, exatamente, ele vêem? De que modo o sangue coagula? De que maneira o corpo combate a doença? (2)
Nenhum dos dois pontos de partida de Darwin – a origem da vida e a origem da visão – foi explicado por sua teoria. Darwin nunca imaginou a complexidade estranhamente profunda que existe até nos pontos mais básicos da vida (3)
Para Thomas Nagel, o que resta não oferece a menor segurança:
Se pudéssemos aplicar as idéias de Darwin para explicar a nossa racionalidade, teríamos de admitir que essas nada mais seriam do que um produto efêmero da história e da evolução biológica, o que solaparia sua confiabilidade como instrumento de explicação. (4)
Gonzaguè de Reynold cita o episódio do descobrimento do homo faber de Neanderthal, quando ficou constatado não ser este o antepassado do homo sapiens:

Estes descobrimentos tiveram a virtude de romper o bonito encadeamento da evolução progressiva. O neandertalense é, pois, início de um fim, não um começo; foi um tipo humano em regressão ou - como diz Marcelliun Boule - um ramo murcho. Com isto nos achamos com duas hipóteses equivalentes: a do animal em progresso e a do homem em regressão. Dito de outra maneira: ou os homens fósseis descendem de um primeiro antepassado animalóide, com respeito ao qual progridem, ou descendem de um homem parecido com o atual, com respeito ao qual retrocedem. (5)
Acquamacaco?
Em 2002, no deserto do Chade, na África, foi encontrado o fóssil Sahelanthropus tchadensis. O francês Michel Brunet, da Universidade de Poitiers foi taxativo:
“Este é o mais antigo hominídio. Como ele tem sete milhões de anos, a divergência entre humanos e chipanzés deve ser ainda mais antiga do que nós achávamos.” (6)
O mais novo achado fóssil, um crânio de igualmente 7 milhões de anos, sugere ao sul-africano Philip Vallentine Tobias acompanhar o alemão Max Westnhofer e o britânico Alister Hardy. (7)
Nossos ancestrais podem ter vindo vindo da água, não das árvores, através da rara espécie de acquamacaco.
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Variações atômicas
O ex-positivista Pontes de Miranda abandonou a teoria porque ela “não se preocupou com a questão de saber de onde vêm as variações individuais que produzem a seleção natural. A mentalidade contemporânea já o deixou atrás, no meio da grande estrada.” (8)
Abundam questionamentos:
“A teoria da evolução, de Darwin, de mutação acidental e de sobrevivência dos mais capazes, inevitavelmente tem se mostrado inadequada para responder a um grande número de observações biológicas.” (9)
Evoluções não são apenas conseqüências de grosseiras antagonismos, mas de interações externas, internas, longínquas, encostadas, mais ou menos oblíquas, de passadas, presentes e futuras:
Eminentes cientistas e filósofos da Ciência como Niels Bohr, Louis Victor de Broglie, Philip Frank, Gaston Bachelard e F. Gonseth sentem a necessidade de recorrer a um novo tipo de dialética, a de complementariedade, para explicar problemas insuscetíveis de solução em termos de lógica axiomática.
REALE, M., 1992: 72

Por causa de suas interações, dentro dos campos de suas recíprocas influências, as micropartículas se organizam em grupos, com constituições definidas, e que se chamam átomos. Por causa de suas interações, dentro dos campos de suas recíprocas influências, os átomos, também, se organizam em grupos, com constituições definidas, e que se chamam moléculas. Um corpo é uma associação de moléculas. A infinita variedade de moléculas é o que explica a infinita variedade de corpos. Combinados de diversas maneiras, os elementos químicos produzem a variedade infinita do Universo. Os corpos são associações de uma enorme multidão de átomos. Cada corpo tem suas propriedades. A causa dessas propriedades está nas propriedades dos átomos e das moléculas que os constituem e nas propriedades resultantes das combinações de tais átomos e moléculas. As próprias faculdades da vida têm sua causa em complexas combinações atômicas. Pois todo o ser vivo é composto de átomos, dos mesmos átomos que constituem o mundo mineral. Por causa de suas interações, dentro dos campos de suas recíprocas influências, moléculas de ácidos nucleicos e de aminoácidos se organizam em grupos, com constituições definidas. Estes grupos se chamam células. Dentro do núcleo de cada célula, nucleotídios se dispõem em filamentos. Estes filamentos foram organizados ao sabor de bilhões de anos de experiência. Constituem o ácido dosoxirribonucleico, o DNA, que é, ao mesmo tempo, o patrimônio genético da célula (a memória celular) e o centro de seu sistema cibernético governante. O primeiro fundamento das tábuas morais, dos sistemas axiológicos de referência, dos usos e costumes, das ordenações jurídicas se encontra nos elementos quânticos, de que se compõem as moléculas do ácido nucleico, no núcleo das células humanas.(10)
O homem cresce partir das informações transportadas pelo DNA; todavia, no componente, jamais há notícia do presente, muito menos sobre o futuro, pelas óbvias razões: o tempo transcorre a partir da transmissão; e, no caminho, há interferências de tantas variáveis quantas são as estrelas. O passado também se faz por conjeturas não assimiladas. Vejamos a possibilidade da clássica predisposição passado/futuro em se tratando de genes:
A própria genética solapou com severidade o neodarwinismo, que depende do DNA como o mais importante mecanismo para estabilidade e transformação evolucionárias. Descobertas recentes mostram que os próprios genes tem uma natureza fluida ou mutável. Na bactéria, o DNA pula para frente e para trás dos cromossomos, expandindo-se e contraindo-se, de modo que o próprio conceito de gen agora exige revisão. O Prêmio Nobel e descobridor da Vitamina C, Albert Szent-Gyorgi argumenta que a célula na verdade realimenta o DNA com informações e muda suas instruções. Em outras palavras, o DNA parece ser afetado por algumas próprias coisas que se supunha que ele controlasse. Isso levou Waddington e outros biólogos a sugerirem que os genes na verdade interagem com o ambiente. (11)
Como pinçar a lógica apregoada, neste universo tão amplo e atemporal, para sedimentar aquela ousada, mas predeterminada teoria?
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O transplante
A sorte, de todo modo, fora lançada. Na rota riscada por Bacon, Descartes, Newton, Hobbes, Rousseau, Bentham, Hegel, Mill, Ricardo, Comte, Sorel, Lamarck, Darwin e em seguida Engels e Marx, criativas equações sociológicas, econômicas e legislativas passaram a “ordenar”, cada vez com maior ênfase e precisão, os fatos sociais.
A manobra de transferência de um poder (real) para outro (do povo), como queriam Rousseau, Bentham e seus cometas, não buscava a liberdade, mas novo absolutismo. De fato, as formulações tecno-políticas embasadas no chamado “utilitarismo” passaram a sobrepujar, até mesmo na Inglaterra, o “utópico” e “primitivo” liberalismo, enquanto líderes comunitários exibiam ceticismo a caminhos particulares.
O trem da alienação desceu a ribanceira, em desenfreada carreira. Tal como se vê na nuvem o desenho que se quer, a “força-maior” biológico-determinista encaixou no estudo de todas as ciências humanas. No parâmetro da nova moda, o universo social passou a ser descrito em ordem uniformemente acelerada. A esquerda “festiva”, por seu maior porta-voz, dedicou a edição inglêsa de O Capital ao autor da Origem das espécies:
“O livro de Darwin é muito importante e me convém como base da luta histórica das classes.” (12)
Darwin recusou a homenagem, simplesmente por não entender o que teria a Seleção Natural a ver com o Socialismo. Na verdade era uma falsa modéstia. A expressão “podemos lançar um olhar profético ao futuro e ver que as espécies pertencentes aos grupos maiores e dominantes dentro de cada classe é que finalmente prevalecerão e darão origens a novas espécies dominantes” traduz a que se opõe o discurso dialético-comunista, mas é de Darwin a autoria. (13)
Ambas teorias renegam a estória de Adão e Eva, e talvez por isso foram consagradas. Mas se a estória religiosa era produto da imaginação, as atochadas de Darwin nunca passaram de grossa armação, e igualmente de excepcional serventia. Com a estória interpretada pelos dois na “sobrevivência do mais forte”, entendida a “força” na forma mais bruta, mais tosca, mais primata da ciência física, Marx montou a sua. Eis para onde migrou o pecado do Darwinismo.
Reafirma o jurista Miguel Reale:
“Alguns postulados fundamentais caracterizam a filosofia marxista: o primado do real sobre o ideal, a admissão da teoria evolucionista de Darwin, a concepção materialista da historia, a dialética hegeliana revisada.” (14)
(Marx tanto se valeu do antropofágico curso que Turati e Kautsky o identificaram como o “Darwin da ciência social”.) (15)
A partir da direção do patrono comunista, nova leva embarcou no trem. Joseph Needham, em 1943, foi um dos arrastados:

A nova ordem mundial de justiça social e da camaradagem, o estado racional e sem classes, não é um desvairado sonho idealista, mas uma extrapolação lógica a partir de todo o curso da evolução, que não tem menos autoridade do que aquela que o precedeu é portanto de todas as crenças a mais racional.(16)
Needham igualmente cometeu redondo engano, teórico e prático. Não se trata de programação ordenativa, de tática, de imposição:
“Em resumo, a evolução é um desdobrar-se de uma ordem interna existente. Mas, por ser ela inteligente e não um processo mecânico, há espaço aberto para variações criativas e respostas individuais às circunstâncias ambientais." (17)
Deu pra ti, baixo-astral!
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Aprecie:
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Notas
1. Beher, M., p. 20.
2. Beher, M., p. 177.
3. Smith, Andrew P., Mutiny on The Beagle; cit. Lemkow, p. 167.
4. Darwin, C.; Nagel, Thomas, cits. Teixeira, João Fernandes, Assombrações da pós-modernidade; Folha de São Paulo, caderno Mais! 10/6/ 2001, p. 20. Nagel tem duas obras traduzidas: A última palavra, trad. Carlos Felipe Moisés, São Paulo: ed. UNESP 2001, com 176 págs. e Uma breve introdução à filosofia, trad. Silvana Vieira - São Paulo: Martins Fontes, 2001, com 108 págs.
5. Reynold, Gonzaguè de, cit. Goytisolo, J.V., p. 210.
6. Brunet, M., Folha de São Paulo, S.P., 13/7/ 2002, p. 2.
7. Tobias, P.; Westenhofer, M.; Hardy, A., cit. Bonalume Neto, Ricardo, Folha de SãoPaulo, 24/7/2002, p. A16.
8. Miranda, P. , p.198.
9. Ferguson, M., p. 149.
10. Telles Jr., G., p. 244/246.
11. Lemkow, A., p. 169.
12. Marx, K., cit. Japiassú, H., 1978, p. 60.
13. Darwin, C., cit. Carvalho, E. p. 21
14. Reale, M., p. 223
15. Turati e Kautsi, cit. Hayek, F.A., p. 83.
16. Needham, Joseph, cit. idem., p. 84.
17. Lemkow, A., F., p. 174.


2 comentários:

  1. Impressionante o artigo!!
    Muito, muito bom!
    Parabéns!

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  2. Um artigo excelente. Aliás, ALLmirante é um dos grandes textos do diHITT.

    Ao lado de Arthurius e outros bons mestres, sua presença aqui um orgulho para nós.

    Todos os cientistas do passado cedo ou tarde serão superados porque as condições da ciência em sua época eram limitadas.

    Os avanços vão expondo debilidades nas teorias, respondendo a questões que estavam em aberto, sugerindo novas proposições e tudo o mais que a ciência pode nos proporcionar quando substitui a crença pela dúvida.

    De minha parte, vou continuar sendo darwinista com base em um de seus pontos de partida que considero mais importante que todo seu turismo, suas anotações e até as perseguições que sofreu por parte dos "religiosos" e "cientistas" imbecis de sua época:

    "Se a miséria de nossos pobres não é causada pelas leis da natureza, mas por nossas instituições, grande é a nossa culpa".

    No mais, vamos descrer e duvidar, para que a ciência e a humanidade avancem.

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