segunda-feira, 4 de maio de 2009

O carma ocidental - 21. Descalabro mundial


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De fato, a partir do momento que somos os rebentos de gerações anteriores, somos também os resultados dos erros dessas gerações, de suas paixões, de seus desvios e mesmo de seus desvios.
NIETZSCHE, F., Da utilidade e do inconveniente da história para a vida: 46.
Se a "filosofia" de COPÉRNICO, VESÁLIO, BACON, DESCARTES, KEPLER, TICHO BRAHE, GALILEU, NEWTON, LAPLACE & MACH tornou a ciência cega de suas possibilidades, a "ciência" encordoada de MAQUIAVEL, HOBBES, ROUSSEAU, MIRABEAU, SAINT-SIMON, LAMARCK, LINEU, QUÈTELET, MALTHUS, DARWIN, HAECKEL, BENTHAM, MILL, COMTE, MERCIER DE LA RIVIERE, HEGEL, FICHTE, HERDER, SCHELLING. IHERING, SAVIGNY, THIBAULT, ENGELS, MARX, AUSTIN, os dois SOREL, GRAMSCI, WEBER, DURKHEIM, SPENCER, PLEKHANOV, RADEK, JULIO VERNE, MAURRAS, TARDE, DILTHEY, WUNDT, VEBLEN, FOULLIÈE, LAPOUGE, PIERRE DRIEU, JULIEN GRENFEL, FREUD, GOBINEAU, WISER, OPPENHEIMER, FRANK, NEURATH, HAHN, SCHILICK, CARNAP, SCHLICK, KARL SCHIMITT & KEYNES (ufa!) consagrou o carma que humanidade até hoje suporta - uma ciência que anatomiza e derrete as entidades humanas como matéria inerte..
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O carma

Conforme exaustivamente demonstrado, o ralo provém de um cano, pelo qual todos entramos:
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“Durante seu desenvolvimento pelo pensamento grego, a filosofia da natureza enveredou por um caminho equivocado. Esse pressuposto errôneo é vago e fluído no Timeu, de Platão.”
(WHITEHEAD, Alfred North, O conceito da natureza: 31
"A marca da filosofia platônica é um dualismo radical. O mundo platônico não é um mundo de unidade, e o abismo que, de diversas formas, resulta dessa bifurcação, surge em inúmeras formas." (KELSEN, H., 2001:81)
Foi este ovo que esparramou a dialética, não só à filosofia, e por extensão ao mundo jurídico, como a todas ciências humanas, e de resto a tudo que se conhece:
"Desde o Renascimento a ciência e a filosofia sofreram o rompimento entre sujeito e objeto." (RANDOM: 175)
De fato existe a coincidência, mas nada por acaso:
Até o Renascimento, o Ocidente praticamente desconhecia Platão. Mas alguns manuscritos gregos, comprados em Constantinopla, mudaram esse cenário. Entre eles, levados a Florença em meados de 1430, estava nada mais nada menos do que a obra completa de Platão.
ABRÃO, B.:136
Retransmissores
Desde então, a humanidade vai de roldão:
A filosofia de Platão, que outrora
reclamara ser senhora no Estado,

torna-se com Hegel o seu mais servil lacaio.

POPPER, KARL, 1998: 269
Os escritos de Hegel estão entre as obras
mais difíceis de toda a literatura filosófica,
devido não só a natureza dos tópicos discutidos,
mas também ao estilo canhestro do autor.

RUSSELL, B., 2001: 354
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Se examinarmos todos os conflitos internacionais, revoluções civis e desafetos que Alemanha, França e Itália precipitaram nos séculos XIX e XX, fulgura a incidência do carma.

O mesmo acontece com a segregação racial, com o desatino ecológico e com as guerras pintadas religiosas. Se pegarmos a Bolchevique e suas afilhadas, nem precisa falar. A filosofia influencia os povos, não há dúvidas. PLATÃO foi muito capaz. Sua nefasta pauta se vê em todas as ciências; e, por fatal, em todas as sociedades.

HEGEL
, primaz porta-voz, havia declarado que a consciência do homem determinava seu modo de ser.
MARX (Para a Crítica da Economia Política: 135) lhe corrigiu parcialmente, mas adotou o método na íntegra - o fenômeno seria inverso: o status social determinaria a consciência:
“O padrão final das relações econômicas como vistas na superfície é muito diferente, para não dizer o oposto, do seu padrão essencialmente interno e oculto."
O último elemento presente no materialismo histórico é a afirmação de que o homem não é dotado de consciência autônoma e liberdade de escolha, já que 'não é a consciência que determina o ser, mas, ao contrário, o ser social que determina sua consciência'.
PEREIRA, JULIO CESAR, Epistemologia e Liberalismo: 128
É muita charla:
Tem-se a impressão de que, na linguagem cotidiana do marxismo, o termo 'dialética' apresenta uma fluidez excessiva, escondendo em suas dobras significados variados, dificilmente articuláveis entre si, e que são, de resto, a maior fonte de confusão e polêmicas inúteis.
BOBBIO, N., Ensaios sobre Gramsci e o conceito de sociedade civil, p. 27.

O que ocorreu foi que as premissas tecnocráticas quanto à natureza do homem, da sociedade e da natureza, deformaram-lhe a experiência na fonte, tornando-se assim os pressupostos esquecidos de que se originam o intelecto e o julgamento ético.
LEONI, B.: 66
Destarte, o carma entortou a Economia, através das mãos bobas de MARX e KEYNES, para não mencionar o Direito, sua especialidade, completamente subvertido, reduzido à massa, fato pertinente a HITLER, MUSSOLINI, LÊNIN, STÁLIN, e seus inúmeros clones, mais ou menos fiéis: .
"Triste como Platão”
expressão utilizada já na antiguidade.

KELSEN, H. : 199
A sociedade grega e romana se fundou baseada no princípio da subordinação do indivíduo à comunidade, do cidadão ao Estado. Como objetivo supremo, ela colocou a segurança da comunidade acima da segurança do indivíduo. Educados, desde a infância, nesse ideal desinteressado, os cidadãos consagravam suas vidas ao serviço público e estavam dispostos a sacrificá-las pelo bem comum; ou, se recuavam ante o supremo sacrifício, sempre o faziam conscientes da baixeza de seu ato, preferindo sua existência pessoal aos interesses do país.
TOYNBEE, Arnold J.: 196

Quer se suceda que governem com a lei ou sem a lei, sobre súditos, voluntários ou forçados; quer que purguem o estado, para bem deste, matando ou deportando alguns de seus cidadãos enquanto procederem de acordo com a ciência e a justiça e preservarem o estado, tornando-o melhor do que era, esta forma de governo pode ser descrita como a única que é certa.
PLATÂO, Estadista, cit. POPPER, K.M., Sociedade Democrática e Seus Inimigos, T.I: 184
A rica França, a tonta Alemanha, a hibernada Rússia, a folclórica Itália, los valientes espanholes, outros europeus, africanos, muitos asiáticos e TODOS os povos latinos foram aquinhoados, desde então, com inúmeras perturbações, corrupção desenfreada, guerras civis e internacionais, ditaduras e constituições de toda índole.
Faça a conta dos regimes que nos levam a codificar com um gesto nossas paixões do momento. Compensamos nossa inconstância através de visões eternas logo gravadas no mármore. Nossas revoluções passam primeiro pelo tabelião. Conseqüência: quinze Constituições em cento e oitenta se sucederam na França depois da Convenção: Diretório, Consulado, Primeiro Império, Restauração, Cem Dias, Restauração, Monarquia de Julho, II República, Segundo Império, III República, Vichy, de Gaulle, IV República, V República, ufa! "
MITTERRAND, François,
Aqui e Agora, p. 90.
* * *
Nada vive que seja digno
De teus ímpetos e a terra não merece suspiro.
Dor e aborrecimento, esse é nosso ser e o mundo é lama
- nada mais que isso.
Fique tranquilo
Giacomo Leopardi, (1798-1837)
Depois da maçã, vestimos preto-e-branco, de listas horizontais, e numerado.
O desígnio do trabalho vem do próprio latim, tripaliare, significando uma tortura através de um instrumento chamado tripalium.
“Na concepção cristã, o trabalho representava o pagamento do pecado, um ato de expiação que sugere necessidade, aflição e miséria.” (ROHMANN, C: 122)
Nesta época se definiam os lugares:
“Para os católicos, o trabalho é uma sentença condenatória, como reafirma a Rerum Novarum, em 1891.” ( DE MASI, D.: 47)
Um pouco antes MAZZINI e CAVOUR (1), em que pese tenaz resistência, lograram a reunião do povo no slogan do Risorgimento (2). E tome guerra: primeiro a civil, contra milícias federalistas de GARIBALDI; depois, contra os Habsburgos, Criméia, Áustria, até contra o Papado.
No afã de reestabelecer o prestígio junto ao "eleitorado", é que LEÃO XIII promulgou a Rerum Novarum, nada mais nada menos do que uma ponte fascista. GAETAN PIROU (Introduction a l'etude de Economie Politique, Paris, : 280, cit. HUGON, P., História das Idéias Econômicas: 352) tentou explicar:
“O catolicismo considera a corporação um meio de assegurar a ordem sem matar a liberdade, escapando, a um tempo, da anarquia liberal e da coerção socialista”.
MUSSOLINI montou o teatro solicitado.
Erro lamentável foi confundir tão dignificante afazer com atividade penal; ainda por cima, torná-lo eterno. PIERRE LEGENDRE (cit. DESCAMPS, CHRISTIAN: 55) explica no que consiste a fórmula tática:
“O direito canônico, a força pontificial e as burocracias patrióticas contemporâneas bebem - sob uma aparente diversidade - nos tesouros de uma liturgia de submissão.”
Não por acaso houve o contundente protesto:
A Igreja, que hoje protesta, e com razão, contra a opressão que sofre nas mãos do Estado totalitário, faria bem em lembrar-se de quem primeiro deu ao Estado o mau exemplo da intolerância religiosa ao usar o braço secular para defender, pela força, o que só pode brotar de um ato livre de vontade. A Igreja deve sempre lembrar-se, com vergonha, de que foi o primeiro mestre do Estado totalitário em quase todos os seus aspectos.
BRUNNER, EMIL, Gerechtigkeit:Eine Lehre von den Grundgesetzen der Gesellsachaftsordnung (Zurique: Zwingli Verlag, 1943.); cit. KELSEN, H., A Democracia: 210.
A Alemanha não ficaria inerte, obviamente:
"A filosofia do direito de Hegel foi capaz de funcionar como apologia do Estado prussiano. ‘Assim como não se passeia impunemente por entre palmeiras tampouco se vive impunemente em Berlim,’ diz Karl Rosenkranz.” (CÍCERO, A.:134)
Antes da centralização, o belíssimo país se espraiava por 18 estados. Embora as emergentes estrelas políticas propugnassem pela imediata reunião estratégica, em 1820 o liberalismo e a descentralização ainda se mantinham no Parlamento de Frankfurt. No fatídico 1848, todavia, alguns parlamentares tomavam a seu cargo a articulação dos interesses das classes trabalhadoras, mas não pelos humildes. ALMOND & POWELL (p. 60) da Universidade Stanford, os flagraram:
“Eles não estavam respondendo a pressões e demandas encaminhadas de baixo, e sim agindo como guardiões independentes e voluntários desses interesses.”
Obviamente, tamanho desprendimento jamais foi gratuito.
Vinte e cinco anos após, no Manifesto de Eisenach e na Liga de Política Social,* nos movimentos de entendidos em economia e sociologia, escalaram-se os G. SCHMOLLER, WAGNER, SHAEFFLE, BRENTANO, COHN, CONRAD, ENGEL, HELD, HILDEBRAND, KNAPP, ROSHER, NEUMANN, SCHEEL, SCHONBERG, time completo. Foram exitosos, proporcionando os argumentos definitivos para que o mundo tomasse conhecimento da existência de BISMARCK. A história arranca a capa de homem que encobria deste outro notável oportunista, uma das maiores raposas da política mundial de todos os tempos - OTTO von BISMARCK (1815-1898):
“Bismarck compreendeu muito bem o partido que poderia tirar das idéias do socialismo de cátedra: usou-as como um instrumento de luta contra o socialismo e como meio de expandir o poderio do Estado.” (HUGON, PAUL, História das Idéias Políticas: 279)
O jovem EINSTEIN (Einsten, perfil bibliográfico, A Vida do Grande Cientista: Einstein por Ele Mesmo: 53) chegou a conhecê-lo:
“Mas quando o assunto das palestras se desviava para a política, e as pessoas começavam a falar em Bismarck e na ascensão do Império Alemão, Albert se assustava e saía da sala.”
O belo exemplo assim frutificou:
A fim de melhor compreender a arte da propaganda, Hitler estudou as técnicas propagandistas dos marxistas, a organização e os métodos da Igreja Católica, a propaganda britânica da Primeira Guerra Mundial, a publicidade norte-americana e a psicologia freudiana.
DOWNS: 147
"Consciente ou inconscientemente o Mein Kampf, de Hitler, deve muito a Maquiavel, Darwin, Marx, Mahan, Mackinder e Freud.” (Idem.: 8)
Na França o que se viu foi a desfaçatez em grau geométrico:
Entre os homens que ocuparam o poder na França nos últimos quarenta anos, vários foram acusados de ter feito fortuna à custa do Estado e de seus aliados, crítica que raramente foi dirigida aos homens públicos da antiga monarquia.
TOCQUEVILLE, A.,
A Democracia na América: 256.
Em seguida, o povo marchou na quimera contrária:
A Paris operária, com a sua Comuna, será para sempre celebrada como a gloriosa percursora de uma sociedade nova. A recordação dos seus mártires conserva-se piedosamente no grande coração da classe operária. Quanto aos seus exterminadores, a História já os pregou a um pelourinho eterno, e todas as orações dos seus padres não conseguirão resgatá-los.
MARX, Karl, Guerra Civil em França - 30 de Maio de 1871
A convulsão proletária foi desviada à “defesa” nacional: primeiro, contra a Rússia, na Criméia; depois, contra a Itália; no além-mar, contra o México. Por fim, por iniciativa do clone ou não, a retomada das hostilidades germânicas, desta feita atirando as tropas ao desastre contra Bismarck. Uma beleza de regime.

Na Rússia a carnificina começou no raiar do XX.
Enquanto EINSTEIN oferecia suas maravilhas para um mundo estupefato, a Rússia assombrava ainda mais. O Czar obrigava a Nação à guerra (contra o Japão), a fim de aplicar o tradicional método de união do povo em torno da sobrevivência. Tarde demais, mesmo para emergência - o terrorismo soviético lavrava o primeiro ato na insurreição, através dos marinheiros do Encouraçado Potemkim. O célebre filme de S. EISENSTEIN mostra a coleção de barbáries que se abateu sobre a desgraçada população.
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Para completar o desastre, o Czar, exclusivamente movido pelo medo, promoveu o Domingo Sangrento de 1905, dia do fuzilamento em massa sobre os marinheiros comunistas, mas também sobre a inocente, queixosa e sofrida população daquele pós-guerra com Japão. Em vez de união, o governante conseguiu um rastro de pólvora contra si mesmo, contra o poder constituído. No embalo, pôs-se acelerada a marcha do criminoso comboio e nem sequer aquela nova e ainda mais dantesca guerra internacional elidiu sua trajetória; pelo contrário, aproveitando-se da confusão reinante e da exaustão do conflito, em 1917 LÊNIN perfez o golpe.
Por absurdo, até hoje o mundo se enreda na forjada dialética:
A Coréia do Norte ameaçou novamente uma guerra contra a Coréia do Sul se o país participar plenamente na Iniciativa de Segurança contra a Proliferação (PSI, na sigla em inglês) de armas de destruição em massa (ADM), informa o jornal Rodong Sinmun do Partido dos Trabalhadores do regime comunista, citado pela agência Yonhap.
Terra, 4/5/2009
Permanece, todavia, a grande esperança, há meio século prognosticada:
E o mesmo pode ser dito da maioria dos “direitistas”. Na verdade, quase todas as pessoas, não importando seus credos políticos, vêem o futuro como uma simples linha, reta, um prolongamento do presente. Acho que a eles está reservada uma grande surpresa. Chegamos ao fim de uma era - e nesse ponto todas as apostas são suspensas.
TOFFLER, A., Previsões e Premissa: 96
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Notas
* Criação de sectores Básicos da Economia a serem geridos pelo Estado
- Incrementação de uma Política Social – "Distribuição" da Riqueza
- Legislação Laboral

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1. Escreve Bobbio: "Num de seus escritos doutrinários mais completos, Os Sistemas e a Democracia, Pensamentos, 1850, Mazzini faz de Bentham o maior responsável pelo materialismo imperante nas doutrinas democráticas e socialistas, de Saint-Simon (1760-1825) aos comunistas; além do mais, chama Bentham de 'chefe e legislador da escola', que compreende todos os adoradores do útil." Bobbio, Norberto, Liberalismo e Democracia, p 76. Sobre Bentham há um post mais recente.
2. Risorgimento: Movimento romano do início do século XIX, tendo seu ápice acontecido por volta de 1870, quando se completou o processo de formação do Estado unitário italiano.

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