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O carma ocidental - BisMarx
O Estado alemão era, evidentemente, uma burocracia. E, embora outros Estados também o fossem, a burocracia alemã entrou para a história como um exemplo, enquanto mecanismo de controle e regulação da sociedade. O povo alemão lhe dispensava um respeito e uma obediência sem paralelo no resto da Europa. Comparando-se com outros impérios, somente na Rússia se incluia uma gama tão vasta de profissões e vocações nas categorias de serviço público como a que se registrava na Alemanha da época. AMORIM: 48
DAVID HUME (cit. LUCKÁCS, JOHN, O Fim do Século 20: 104) expressara um hino, um incentivo, até previsão de unidade para a supremacia do povo alemão, algo que custaria muito caro a seus próprios descendentes, alvejados pelas V-1 e V-2: “A Alemanha é um País excelente, sem dúvida, cheia de gente honesta e trabalhadora; se unida, seria a maior potência já vista no mundo”. Foi. Mas, antes, também foram os alemães quem primeiro deram lições de paz, civilidade, cidadania, de liberdade: “Quem ler a admirável obra de Tácito sobre os costumes dos Germanos verá que é deles que os ingleses extraíram a idéia do governo político. Este belo sistema foi encontrado na floresta”. (MONTESQUIEU, Esprit des Lois, Livro XI, cap. 5)
MAQUIAVEL (O Príncipe, Quomodo omniun principatuum vires perpendi debeant, (De que modo devemos medir as forças de todos os principados): 61) já se obrigara a reconhecer: "As cidades da Alemanha são absolutamente livres: cercadas por pequenas campanhas, elas obedecem ao Imperador quando bom lhes parece, não o temem, como não temem nenhum de seus poderosos vizinhos.”
Antes da centralização, a Alemanha espraiava-se por 18 estados. Embora as emergentes estrelas políticas propugnassem pela imediata reunião estratégica, em 1820 o liberalismo e a descentralização ainda se mantinham no Parlamento de Frankfurt. No fatídico 1848, todavia, alguns parlamentares tomavam para si as reivindicações proletárias, assim atendendo o pleito do patrono: "Sie konnen sich nicht vertreten, sie müssen vertreten werden." (Não podem representar a si mesmos; devem ser representados). (MARX, K. O dezoito Brumário)
ALMOND & POWELL (p. 60), da Universidade Stanford, confirmam:
“Eles não estavam respondendo a pressões e demandas encaminhadas de baixo, e sim agindo como guardiões independentes e voluntários desses interesses.”
Naturalmente que tais desprendimentos nunca aconteceram antes do forte motivo.
“Bismarck compreendeu muito bem o partido que poderia tirar das idéias do socialismo de cátedra: usou-as como um instrumento de luta contra o socialismo e como meio de expandir o poderio do Estado.” (HUGON, PAUL, História das Idéias Políticas: 279)
OTTO era muito hábil para tentar abolir o socialismo emergente só com repressão ou choque frontal. A idéia era “roubar” parte da bandeira. Bismarck encetou a cantilena ao posar de combatente contra latifundiários e capitalistas, neste caso utilizando parte do argumento socialista, mas para aplicação exclusivamente nacionalista(?!). Sempre de olho nas guerras e, como no período da Renascença, objetivando soldados leais e fortes, o "marechal" soube se colocar “a favor” do trabalhador (!?) contra a doença, velhice e outras atenções, “de modo que estes senhores (socialistas) façam soar em vão o canto das sereias”...
A guerra deixa ao Estado o encargo dos créditos das vítimas de guerra. Os governos adotam o princípio de que as vítimas de guerra fazem jus à solidariedade da nação. Direitos logo materializados pela carta de ex-combatente, pelo estabelecimento de pensões. Todos os anos parte apreciável do orçamento público se destina ao pagamento das pensões de guerra. RÈMOND, R., O Século XX, de 1914 aos nossos dias: 37
Ai do governante que assim não procedesse; teria que se confrontar com a adversidade aglutinada dos que nada tinham a perder, o grande receio dos chamados elitistas, prenunciado por ENGELS (On the History of Early Christianity. MARX, K. e ENGELS, F., On Religion: 319) na década de 1890: “São atraídos pelos partidos trabalhistas, em todos os países, os que nada tem a esperar do mundo oficial, ou chegaram ao fim de seus vínculos imbecis honestos ou velhacos desonestos”.
Além do “honroso serviço militar”, muitos imbecis honestos saiam de perto da natureza por entenderem-na de difícil “doma”. De fato, as dificuldades operacionais advindas da chuva, do frio, do vento, acessos precários, falta de veículos, de roupas, escassez de recursos médicos a picadas de toda sorte (ou azar) e, principalmente, inclinações próprias de jovens levaram-nos a experimentar alternativas na aventura da vida nas cidades. E os “burgueses filantrópicos”, ao tratarem com pequenos favores lideranças operárias, inocentes úteis, ou velhacos de quadrilha, solidificavam a fabricada representação, evitavam a revolta contra si e mais - arranjavam, com isto, ativos parceiros, ao mesmo tempo anulando formações adversárias e ações desestabilizadoras. Era conveniente que pedidos e concessões político-sindicais assumissem a relevância, senha para a manutenção e ampliação do poder concedente e trava ao algoz socialismo revolucionário universalista. Donde provinham os recursos? O platônico e obsessivo HEGEL (cit. BOBBIO, N., Estudos sobre Hegel, Direito, Sociedade Civil e Estado: 119) já havia cuidado de tudo ensinar : “Os impostos não são, em absoluto, lesões do direito de propriedade. O direito do Estado é algo mais que o direito do indivíduo a sua propriedade e a sua pessoa.” Bastava lançá-los. Cada um que pagasse a conta por este “algo mais” tão difícil de qualificar quanto de mensurar.
O comando alemão, como o francês e o italiano, sufocou naturais vocações regionalistas em nome do centrismo e do determinismo racista, ingredientes fundamentais à estupidez dos Reich, especialmente o III. Hume mencionara. Nietzsche mostraria a razão. Deus havia morrido; vivia o super-homem, a super-raça, a germânica, de conduta única, sob única batuta. O Império Romano no século XX dever-se-ia chamar Prussiano. E fim. Foi mesmo o fim:
A construção do Estado da Prússia envolveu a absorção da nobreza feudal pela burocracia central e o exército, ao contrário da Grã-Bretanha. Além disso, a penetração da autoridade central foi conduzida sob os auspícios militares, numa época em que a Prússia engajava-se ativa e freqüentemente em guerras. Os agentes da centralização foram os oficiais militares, que deram ao autoritarismo prussiano uma qualidade militar. O padrão de autoridade e subordinação no processo de construção do Estado na Prússia, conseqüentemente, parece ter sido mais completo, mais destrutivo da liberdade individual e da independência, tanto das elites quanto das massas, do que em outros países europeus. ALMOND, G., & POWELL Jr, G.: 97
O jovem EINSTEIN (cit. THOMAS, H. e THOMAS, D. L., Einsten, perfil bibliográfico, A Vida do Grande Cientista: Einstein por Ele Mesmo: 53) chegou a conhecer o BisMarx: "Mas quando o assunto das palestras se desviava para a política, e as pessoas começavam a falar em Bismarck e na ascensão do Império Alemão, Albert se assustava e saía da sala.”
As efervescentes lutas de classe estimuladas a partir da marxisma exigiam organização de opressores e oprimidos. Malgrado conservador, aristocrata, e monarquista, BISMARCK foi o introdutor de leis de acidentes de trabalho, o seguro de doença, o pioneiro em valorizar os sindicatos. Naturalmente ao aristocrata o que menos importava eram as condições dos trabalhadores, mas a manutenção de um exército leal e agradecido, saudável e disposto a morrer por seus caprichos. Para aliciá-los o "Chanceler de Ferro" (Eiserner Kanzler) primeiro lhes fez todas as vontades: instituiu a aposentadoria, e aquelas várias leis sociais; depois, mandou-os aos campos talados de minas e canhões, para que realizassem o supremo sacrifício. HEGEL (Fenomenologia dello Spirito, v. II, p. 15; cit. BOBBIO, N., Estudos sobre Hegel, Direito, Sociedade Civil e Estado: 48) também neste particular havia deixado suas recomendações. Assim ele delineou o caminho (do precipício) para o “êxito” dos governos junto a seu povo:
Para não deixá-los lançar raízes e enrijecerem-se em tal isolamento, para não deixar desagregar o todo e envaidecer o espírito, devem sacudi-los de quando em quando, em seu íntimo, com as guerras; devem fazê-los sentir, com aquele trabalho imposto, o seu senhor: a morte.
BISMARCK era consciente de sua maldade, e tentou o suicídio. Suas ações tiveram as mais graves conseqüências, assim apanhadas por EINSTEIN (New York Times, 23/6/1946; cit. PAIS, ABRAHAM, Einstein viveu aqui: 276):“Se a Alemanha não tivesse sido vitoriosa em 1870, que tragédia para a raça humana teria sido evitada!”
Logo a Alemanha veria o rio de sangue envolto em delta:
Em Munique centenas de trabalhadores ocuparam estações ferroviárias e praças, enfrentando um exército de soldados e policiais. Arames farpados e barricadas brotavam por toda a parte, enquanto rajadas de metralhadoras varriam as ruas. Os vizinhos se acusavam mutuamente: 'Seu maldito bolchevique!' Ninguém estava a salvo dos delatores. Os revolucionários presos eram tratados como traidores. Em questão de semanas, os membros da Guarda Vermelha perceberam que haviam perdido sua mal concebida tentativa de tomar o poder; mas render-se significaria possivelmente enfrentar um esquadrão de fuzilamento. A loucura continuou assolando as ruas. DIGGINS, J.: 271
Apesar do auxílio soviético, a rebelião foi esmagada. ROSA DE LUXEMBURGO e KARL LIEBKNECHT que convocaram a luta nas ruas, ali mesmo tombaram. Tiveram o pouco de suas vidas jogadas em vão. O ambiente se adequava à demência de ambos os lados, confirmando os prenúncios de SEIPPEL, e mesmo de SPENGLER..
Na cervejaria daquela Munique sentaria mero cabo, liderando mesa com sete serviçais, a fundar a obra requerida por HEGEL, FICHTE,WEBER, e SPENGLER. O Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães nascia com o nome sugerido, e já com chefe: o prático e carismático moço ADOLF.
THOMAS MANN logo logo saudou a poderosa reunião. Seguiu-lhe LUDWIG WOTMANN (cits. RICHARD, L.: 248): “A raça alemã foi selecionada para dominar a Terra”.
SCHWARTZENBERG (Sociologia Política: 290) relata:
A classe capitalista alemã aceitou, sem reticências, esta ideologia racista, como 'guarda-fogo' ao socialismo, como diversão hábil: as infelicidades da Alemanha derivavam, não dos erros de seus dirigentes, mas desse cômodo 'bode expiatório'. Iludindo assim o proletariado alemão, trocando a luta de classes pela luta das 'raças' (isto é, uma realidade concreta por um mito) as classes dirigentes alemãs adquiriam um seguro formidável contra a revolução socialista.
EINSTEIN, mais uma vez, estava coberto de razão: “Hitler afirma ter lido durante o tempo que passou em Viena, principalmente história. Suas idéias foram influenciadas em especial por um livro acerca da Guerra Franco-Prussiana”. (DOWNS, R.B.: 140)
Afunde o Bismarck!
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As grandes obras são sonhadas pelos gênios, executadas pelos lutadores,
ResponderExcluirdesfrutadas pelos felizes
e criticadas pelos inúteis crônicos.
Parabéns pelo seu excelente trabalho.
Bjux