sábado, 30 de maio de 2009

O Carma Ocidental - 43. Comuna de Paris




Haverá uma nova classe, uma nova hirerarquia de verdadeiros e pretensos sábios e o mundo ficará dividido entre uma minoria que governará em nome da ciência e uma enorme maioria ignorante. Então essa massa ignorante que tome cuidado! Podemos ver como sob todas as fases democráticas e socialistas do programa do sr. Marx sobreviveriam no estado por ele criado e as características cruéis e despóticas de todos os Estados, seja qual for a forma de governo que se utilizam e que, em última análise, O Estado do Povo tão entusiasticamente recomendado pelo sr. Marx e o Estado aristocrático-monárquico mantido com tanta habilidade pelo sr. Bismarck são completamente idênticos tanto nas suas metas internas quanto nas externas. BAKUNIN, MICHAEL, Obras, 1910; cit. WOODCOCK: 128
A filosofia de Platão, que outrora reclamara ser senhora no Estado, torna-se com Hegel o seu  mais servil lacaio. POPPER, K., 1998, T. I: 269.

A CULTURA ASIÁTICA percebe os polos complementares. CONFÚCIO, LAO-TZÉ, a vertente do Tao, e por fim o Budismo consagram a integração.
De Esparta ao Império Romano, do Bizantino ao Soviético, a civilização ocidental, prefere o confronto. O sabre coloca o povo à serviço do rei:

A sociedade grega e romana se fundou baseada no princípio da subordinação do indivíduo à comunidade, do cidadão ao Estado. Como objetivo supremo, ela colocou a segurança da comunidade acima da segurança do indivíduo. Educados, desde a infância, nesse ideal desinteressado, os cidadãos consagravam suas vidas ao serviço público e estavam dispostos a sacrificá-las pelo bem comum; ou, se recuavam ante o supremo sacrifício, sempre o faziam conscientes da baixeza de seu ato, preferindo sua existência pessoal aos interesses do país.
TOYNBEE, Arnold J.:196.
A ideologia da numerologia

A matemática pura, mais do que qualquer outra disciplina,
tornou-se aquele discurso vivo que Platão considerou
a única forma de conhecimento.

FEYERABEND, P., 1991: 13
“Não tenho dificuldades para admitir, identificando o platonismo com matematicismo, o caráter platônico da ciência galileana”. (GEYMONET, L.: 42)
Analisando aspectos da luta que os primeiros cientistas modernos travaram contra o misticismo,o ocultismo e o orientalismo, e como que refazendo o processo de Galileu, o autor procura renovar o significado e o valor daquela Revolução Científica que permanece nas raízes da civilização moderna.
ROSSI, Paolo, A ciência e a filosofia dos modernos: aspectos da revolução científica. - S.Paulo: UNESP, 1992

Newton é um mero materialista. Em seu sistema o espírito é sempre passivo, espectador ocioso de um mundo externo... há motivos para suspeitar que qualquer sistema que se baseie na passividade de espírito deve ser falso como sistema.
S
HAFTESBURY, carta a THOMAS POOLE. - Cit. BRETT, R. L., La Filosofia de Shaftesbury y la estetica literaria del Siglo XVIII: 109.
“O desencanto do mundo e o progresso da ciência calculista, levando à perda total não somente do mistério, mas do desejo de revelar o mistério, provocaram o irracionalismo da dominação.” (HAGUETTE, T. M. F. org., HAGUETTE, A. , BRUHL, D., OLIVEIRA, M. A., DEMO, P., Dialética Hoje: 26)
Depois do carma subverter quase todas as ciências e filosofias, então retornou a vez da política, e, por consequência, da civilização, precipitarem-se pelo despenhadeiro:..
Marx, enquanto materialista, enquanto alguém que advoga que toda a realidade e matéria, porém não apenas isto, que toda a realidade e matéria obedece a leis que são absolutamente determinadas não apenas é materialista, como também determinista, isto é, crê ser possível compreender a realidade de tal forma que, uma vez descoberta suas leis, poderíamos antecipar seu futuro desenvolvimento e O Capital tem a pretensão de ser a obra que descreve o desenvolvimento das leis econômicas da sociedade moderna.
PEREIRA, J. C., Epistemologia e Liberalismo - Uma Introdução a Filosofia de Karl R. Popper: 134
Tal qualquer religião, as "leis" de GALILEU, KEPLER, DESCARTES, NEWTON & MARX não refletem a ciência, mas a coincidência; não fotografam a realidade, mas a projeção da crença no céu, para proventos na Terra, naturalmente. O materialismo clássico, qualquer determinismo enfim, conduz justamente a uma "teologia", não à Filosofia, que lhe é muito mais ampla; por conseguinte, superior.

A impropriedade da Comuna

As idéias gerais não atestam a força da inteligência humana, mas só sua insuficiência, porque não existem seres exatamente semelhantes na natureza; não há fatos idênticos; não há regras aplicáveis indistintamente e da mesma maneira a vários objetos ao mesmo tempo.
TOCQUEVILLE, ALEXIS, 2000: 15
MARX & ENGELS destilaram o veneno platônico em Londres, mas era na obscura Cidade-Luz, “capital da astrologia, medicina marginal e religiosidade pseudo-científica"(JOHNSON, P., p. 119), que os morcegos se alimentavam.

O Marxismo introduziu dois axiomas: o de que a sociedade está dividida em classes cujos interesses estão em eterno conflito; e o de que os interesses do proletariado - só realizáveis através das lutas de classes - exigem a nacionalização dos meios de produção, de acordo com seus próprios interesses e em oposição aos interesses das outras classes.
VON MISES, LUDWIG, Uma Crítica ao Intervencionismo: 139
ENGELS postulava a (re) quebra da ordem econômica francesa. Meteu-se o confuso alemão no vizinho país pela força do título e do conteúdo de seu trabalho - As Lutas de Classe na França - onde incita a participação direta do povo à guerra civil. Mais uma vez, a Place de La Concorde seria tingida com sangue:


Já é passado o tempo de ataques surpresa, de revoluções realizadas por pequenas minorias conscientes à testa de massas inconscientes. Quando a questão é uma completa transformação da organização social, as próprias massas tem de participar, tem de haver compreendido o que está em jogo, pelo que estão lutando, de corpo e alma.
BURNS, E. M., LERNER, R. E. e STANDISH, M.: 623
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Para melhor compreensão do que estava em jogo (como podem vidas serem tratadas como peças de jogo?) os primeiros jornais de trabalhadores prepararam as manifestações da dupla. O Journal des Ouvriers, o Artisan e Le Peuple datam de setembro de 1830; e as insurreições, em novembro de 1831.
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Vivre en travaillant ou mourir en combattant
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O.

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LOUIS BLANC (1811-1882) se destacou estacaram pela condenação a realidade ofertada pela revolução industrial. Quase sempre utilizando-se daquele mesmo velho estratagema da meia-verdade, BLANC agia no sentido apontar a exploração da classe operária. Para ele, de aparente espírito democrático, deveriam os trabalhadores votarem, elegendo daí representantes que viriam colocar o Estado a serviço de todos como “banqueiro dos pobres”, uma instituição recomendada até pelo liberal TOCQUEVILLE** aos carentes reunidos em “associações de produção”. Mas a organização se assentou num autoritarismo estático colocando o Estado-banqueiro como senhor do capital e da produção, com os carentes trabalhadores tentando, sem o menor êxito, ritmar o Palácio de Luxemburgo.
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.B
BLANC
então tratou de instalar o Parlamento dos Trabalhadores, tal qual PLATÃO recomendara: "O sábio deve dirigir, e os ignorantes, segui-lo."
PROUDHON emprestou-lhe parcial apoio, mas em Contradições Econômicas (1846) com meio século de antecipação predisse dois relevantes fatos causadores de milhões de mortes pelo mundo afora: a possibilidade do socialismo ou do comunismo obterem sucesso, e o abuso que lhe sucederia..
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Graças ao reconhecido talento e a sua brilhante dialética, PROUDHON também formulou com êxito sua teoria da exploração, classificando a propriedade como “um roubo” - a mesma que MARX reencetaria, em seguida, com algumas alterações - liame que o colocou em sintonia com eco populista. O que resta indagar é de onde PROUDHON roubou os tijolos para formular sua construção teórica.
O engatinhante parlamento democrático dissolveu-se nas mão dos trabalhadores aglutinados por esses profissionais do trem platônico-cartesiano-darwiniano. Os maquinistas, como sempre, passaram a comandar as decisões... visando seu universo de atuação e usufruto. A colheita poderia ser farta. Kilos de alimentos não perecíveis assegurar-lhes-iam o ingresso nos palácios.



Era uma questão tanto de sobrevivência quanto de política: uma panacéia que, pelo voto do trabalhador e pela transformação radical do Parlamento, proporcionaria ao trabalhador muitos assados, muito pudim de ameixas e cerveja forte, com três horas de trabalho diário
RUDÈ, GEORGE: 19

A reportagem de dezembro de 1851 delineia a tempestade:
O que acaba de acontecer em Paris é abominável, no fundo e na forma e quando se conhecerem os detalhes, parecerão ainda mais cruéis que todo o acontecimento. Quanto a este, já se encontra em germe desde a revolução de fevereiro, como o pintinho no ovo; para fazê-lo sair, não falta mais do que o tempo necessário de incubação. A partir do momento em que se viu aparecer o socialismo, devia se ter previsto o reino dos militares. Um geraria o outro. Eu esperava isso há algum tempo e, embora sinta muita pena e dor pelo nosso país, e uma grande indignação contra certas violências ou baixarias, que vão além do inaceitável, estou pouco surpreendido ou perturbado interiormente. Neste momento a nação está com medo louco dos socialistas e deseja ardentemente voltar a encontrar o bem-estar. É necessário que a nação, que nos últimos 34 anos tem esquecido o que é o despotismo burocrático e militar o prove de novo e, desta vez, sem o ornato da grandeza e da glória.
TOCQUEVILLE cit. RODRÍGUEZ, R. VÉLEZ : 119
Escudado pela voz da “maioria”, mais uma vez o povo puxou as armas, desta feita para depor o próprio CARLOS X. Vencida as barreiras da tradição institucional, o campo ficou limpo para o descambar da nova onda socialista.
A Paris operária, com a sua Comuna, será para sempre celebrada como a gloriosa percursora de uma sociedade nova. A recordação dos seus mártires conserva-se piedosamente no grande coração da classe operária. Quanto aos seus exterminadores, a História já os pregou a um pelourinho eterno, e todas as orações dos seus padres não conseguirão resgatá-los.
MARX, Karl, Guerra Civil em França - 30 de Maio de 1871
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A teoria econômica veio a ser uma ampla empresa de terrorismo intelectual, cujo aspecto pseudo-científico serve, na realidade, de coerção para excluir todos os verdadeiros problemas da sociedade contemporânea. Seu exagerado profissionalismo, herdado de sua mitologia científica, e todo o aparato matemático que a rodeia, servem para mascarar seu objetivo ideológico, que transforma sua disciplina numa máquina para estabelecer as leis das relações de força que existem na sociedade, numa civilização materialista e produtivista, orientada totalmente para a acumulação de bens materiais.
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Seu dinamismo serve, na realidade, para legitimar a posse do poder em mãos daqueles que dominam o aparato produtivo, quer seja a tecnocracia, nos países ocidentais, ou a burocracia planificadora, nos países socialistas.
GUILLAUME. MARC & ATTALI, JACQUES, cits. GOYTISOLO: 94
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Notas
*Viver trabalhando ou morrer combatendo”, cit. Rude, George, A Multidão na História, Estudo dos Movimentos Populares na França e na Inglaterra - 1730 a 1848, p. 180.
** Rodriguez (p. 64) salienta que Tocqueville (!) propugnava por uma espécie de “Banco dos pobres” uma entidade paraestatal com cerca de 27 mil beneficiados com empréstimos de capital sem juros, algo para ser mais estudado

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