sábado, 9 de maio de 2009

O carma ocidental - 26. O mal-estar do Estado de Bem-estar

Salve bravos carregadores,
'Mais longo o trabalho, maiores favores',
Sem ânimo ou vontade de sorrir,

sempre duros de cabeça e braço,

de originalidade nenhum traço
.

Sans géni et san esprit

NIETZSCHE, F.,
Acima do bem e do mal: 121

.A filosofia de Platão, que outrora reclamara ser senhora no Estado, torna-se com Hegel o seu mais servil lacaio. POPPER, KARL, 1998: 269

A chicana dialética
“Sob influência dos filósofos absolutistas e autoritários, Hegel, Marx, Comte e uma pletora de epígonos contaminados por esta magia negra da política que é Ideologia - o Liberalismo recuou a partir da segunda metade do século XIX." (PENNA, J. O. M: 179
Nq esteira ideológica surgiram HERDER, FICHTE, HEGEL, SCHELLING, IHERING, KELSEN, KARL SAVIGNY, THIBAUT, DILTHEY, WUNDT, GOBINEAU, ENGELS, JUNG, MAX WEBER, FRANZ OPPENHEIMER, FRIEDERICH WIESER, CARL SCHMITT,, apenas para citar os germânicos. BERTRAND RUSSEL (p. 352) traz algumas fichas:
Shelling (1775-1854), assim como Hegel e o poeta romântico Hölderlin, era de origem suábia e os três se tornaram amigos quando Schelling entrou para a Universidade de Tübingen, aos quinze anos. Kant e Fichte foram as principais influências filosóficas que absorveu.Tanto em Fichte como em Schelling, encontramos formas que Hegel mais tarde utilizou como método dialético. Com Hegel, a filosofia idealista alemã recebeu a sua forma final e sistemática.
O método desse "idealismo"não poderia ser mais nefasto:
“Hegel foi o filósofo clássico de todos os totalitarismos estatais e políticos, tanto os da direita (nazismo) como os da esquerda (comunismo).” (ROHDEN, H. 1993: 157)

Foi o próprio Estado que criou a necessidade política do estado de bem-estar. Quanto mais bem-estar é criado por tributação (em parte rebatizada como contribuições de seguridade social), mais se enfraquece o financiamento privado. Quanto mais o bem-estar privado foi inibido, tanto mais bem-estar público foi necessário criar.
ARTHUR SELDON
“A filosofia do direito de Hegel foi capaz de funcionar como apologia do Estado prussiano. ‘Assim como não se passeia impunemente por entre palmeiras tampouco se vive impunemente em Berlim,’ diz Karl Rosenkranz.” (CICERO, A.: 134)

O Estado alemão era, evidentemente, uma burocracia. E, embora outros Estados também o fossem, a burocracia alemã entrou para a história como um exemplo, enquanto mecanismo de controle e regulação da sociedade. O povo alemão lhe dispensava um respeito e uma obediência sem paralelo no resto da Europa. Comparando-se com outros impérios, somente na Rússia se incluia uma gama tão vasta de profissões e vocações nas categorias de serviço público como a que se registrava na Alemanha da época.
AMORIM: 48
“Se a Alemanha não tivesse sido vitoriosa em 1870, que tragédia para a raça humana teria sido evitada!”(EINSTEIN, A. New York Times, 23/6/1946; cit. PAIS, ABRAHAM, Einstein viveu aqui: 276)
Mais uma vez o gênio estava coberto de razão:
Entre as consequências mais notáveis da guerra de 1870 esteve um enorme florescer de sociedades geográficas e uma demanda poderosamente renovada por expansão territorial. Grande parte do fervor expansionista na França no último terço do século XIX teve origem em um desejo explícito de compensar a vitória prussiana em 1870-1.
SAID, EDWARD, Orientalismo: o oriente como invenção do ocidente: 224
“Hitler afirma ter lido durante o tempo que passou em Viena, principalmente história. Suas idéias foram influenciadas em especial por um livro acerca da Guerra Franco-Prussiana”. (DOWNS, R.B.: 140)
A classe capitalista alemã aceitou, sem reticências, esta ideologia racista, como 'guarda-fogo' ao socialismo, como diversão hábil: as infelicidades da Alemanha derivavam, não dos erros de seus dirigentes, mas desse cômodo 'bode expiatório'. Iludindo assim o proletariado alemão, trocando a luta de classes pela luta das 'raças' (isto é, uma realidade concreta por um mito) as classes dirigentes alemãs adquiriam um seguro formidável contra a revolução socialista.
SCHWARTZENBERG, Sociologia Política: 290
Exemplares da ignorância espartana
"O poder de Estado, que parecia planar bem acima da sociedade, era todavia, ele próprio, o maior escândalo desta sociedade e, ao mesmo tempo, o foco de todas as corrupções." (Comuna de Paris, 1871).)
Os inescrupulosos métodos se alastraram pelo continente, para daí atravessarem o Atlântico.
Não só nos países autocráticos, como naqueles supostamente mais livres - como a Inglaterra, a América, a França e outros - as leis não foram feitas para atender a vontade da maioria, mas sim a vontade daqueles que detêm o poder.
TOLSTÓI, Leon, A escravidão de nosso tempo, 1900, cit. WOODCOCK, G.:106
A política do governo prussiano de reprimir ao invés de cooptar o movimento operário levou ao surgimento de um poderoso partido social-democrata revolucionário, que se tornou um modelo para os trabalhadores de toda a Europa. O PSD alemão foi imitado pelos franceses, belgas e italianos. Os movimentos trabalhistas holandês, escandinavo, suíço e americano seguiram os passos do movimento alemão. Oradores eram convidados de honra nos sindicatos que aconteciam em toda a Europa Ocidental e Estados Unidos. Os movimentos operários russo e eslavo também se inspiraram no alemão, e a segunda Internacional Comunista estava sob a liderança reconhecida do partido alemão. Suas filiações ultrapassavam 1 milhão em 1912; nos sindicatos, dois e meio milhões.
SCHWARTZ, J. O Momento Criativo - Mito e Alienação na Ciência Moderna: 130
"O medo atingiria o povo e a liderança seria entregue àqueles que oferecessem uma saída fácil, a qualquer preço. A época estava madura para a solução fascista." (POLANYI: 275)
Em 1906 DAVID LLOYD GEORGE (1863-1945) iniciou a sedução dos trabalhadores britânicos. MAKSOUD (p. 114) se reporta:
O Trade Dispute Act conferiu aos sindicatos a liberação de toda a responsabilidade civil, inclusive pela perpetração dos mais graves prejuízos pelo sindicato ou seus funcionários, outorgando-lhes proteções, imunidades e privilégios não possuídos por quaisquer outras pessoas, constituídas ou não em associações.
O estratagema demagógico se prestava a responder à “conscientização marxista”, ao mesmo tempo em que arrefecia a Revolução Proletária:
O sucesso e a popularidade dos sindicatos deveu-se à sua capacidade para assumir como vitórias suas aquilo que decorreria naturalmente do crescimento económico. A farsa foi alimentada tanto por sindicalistas como por políticos. Os sindicalistas porque, tendo sido os maiores beneficiários do movimento sindical, nunca tiveram incentivos para reconhecer a farsa. Os políticos porque, tendo reconhecido a farsa, se limitaram a inventar mecanismos para a contornar. A popularidade do keynesianismo após a segunda guerra mundial deve-se em parte à necessidade de minimizar os efeitos desta farsa.
MIRANDA, J., www.causaliberal.net/documentosJM/sindicatos.htm
Isso esvaziava a bandeira, tal qual ensinara BISMARCK:
“Lloyd George foi o responsável, também, pela introdução dos primeiros auxílios-doença e benefícios trabalhistas.” ( HAZLLIT, H., Economia numa unica lição - A lição trinta anos depois: 163)
Como não existe almoço grátis, em 1909 apareceu a conta, mas o carma já ensinara a quem lançar: DIONÍSIO (405 a.C.-367 a.C ), "aluno" de PLATÃO, "taxava tão pesadamente os cidadãos que, segundo Aristóteles, chegava a confiscar toda a propriedade deles." (PIPES: 281)
Os britânicos também deveriam contribuir com fatia de seus rendimentos:
O início desse processo é por ele colocado em 1909/10, quando Lloyd George, o chefe do primeiro governo trabalhista britânico (Labour Party) introduziu uma legislação que criava o imposto de renda progressivo. O imposto deixava de ser igualitário e revelava uma verdadeira intenção expropriadora.
JOUVANEL, BERTRAND, Prefácio a Edição Brasileira apresentado por JOSÉ OSVALDO DE MEIRA PENNA, in A Ética da Redistribuição: 13
No fim, todos tiveram que comparecer no caixa, mas todos estavam mais pobres. A solução foi o calote generalizado:
A Alemanha e a Áustria repudiaram a totalidade de suas dívidas internas por meio da inflação. A França reduziu o franco a um quinto de seu valor, repudiando dessa forma quatro quintos de toda a dívida pública computada em francos. A libra esterlina hoje não vale mais que três quartos de seu valor original em ouro. Os russos disseram francamente que não pagariam suas dívidas, o que foi considerado um crime: o calote respeitável exige uma certa etiqueta.
RUSSELL,
B., cit. DE MASI, 2001: 94
Os Estados Unidos da América não permaneceram imunes às leviatânicas intervenções:
No final do século XIX, a principal influência sobre a teoria acadêmica social e econômica era das universidades. A idealização bismarckiana do Estado, com suas funções previdenciárias centralizadas foi devidamente reestudada pelos milhares de ocupantes de postos-chave do meio acadêmico que estudaram em universidades alemãs nas décadas de 1880 e 90.
SCHESINGER, ARTHUR M., The Crisis of the Old Order 1919-1933: 20; cit. JOHNSON, P.: 13
Quando viveu EUGENE V. DEBS (1855-1926), ainda não havia HITLER; só BISMARCK. DEBS se antecipou ao III Reich propondo, em pleno EUA, a protoformação nazi-socialista, em The Promise of American Life. POULANZTAS (O Estado, o Poder, o Socialismo: 236) comenta o “estrago”:
Da escola de Frankfurt aos radicais americanos manifestava-se a terrificante imagem de um Estado-Moloch totalitário e todo-poderoso, fundado num capitalismo de manipulação, que teria conseguido 'integrar' as massas populares e culminaria inelutavelmente na devoração de pessoas.
"Não será audácia afirmar que em 1917, ano da revolução e insubordinação, assinalou também uma revolução cultural nos EUA - um movimento que iria adotar o vocabulário de Marx somado ao de Freud.” ( MASCARENHAS, E. : 190)
A ética dominante na História da Humanidade foi uma variante da doutrina altruista-coletivista, que subordinava o indivíduo a alguma autoridade superior, mística ou social. Conseqüentemente, a maioria dos sistemas políticos era uma variante da mesma tirania estatista, diferindo apenas em grau, não em princípio básico, limitada apenas pelos acidentes da tradição, do caos, da disputa sangrenta e colapso periódico.
RAND, Ayn,
A Virtude do Egoísmo: 118
Os americanos saíam vitoriosos da I Guerra, mas o horror perpetrado pelos bolcheviques suplantava qualquer comemoração. O receio da moda cruzar o Alaska fazia tremer até esquimó. O esperto KEYNES (cit. STRATHERN: 224) vislumbrou a freeway:
Estamos hoje no meio da maior catástrofe econômica – a maior catástrofe devida quase inteiramente a causas econômicas – do mundo moderno. Sustenta-se em Moscou a idéia de que é a crise final, culminante no capitalismo e que nossa ordem existente da sociedade não sobreviverá a ela."
Roosevelt, influenciado por Felix Frankfurter, pela Sociedade Socialista Intercongregada e por outros, fabianos e comunistas, maquinou uma revolução que colocou o país na senda que leva ao socialismo e, numa perspectiva mais distante, ao comunismo. Foi, contudo, a emenda do imposto de renda, levado em 1909, no Congresso americano, o início do socialismo. Então, o New Deal não foi uma revolução. Seu programa coletivista tivera antecedentes - recentes - com Herbert Hoover, durante a depressão; mais remotos, no coletivismo de guerra e no planejamento central que governaram os EUA durante a Primeira Guerra Mundial.
ROTHBARD: 41
Havia, pois, muito mais aquém da bu(r)la ideológica:
Os grandes banqueiros e industriais emergiram nessa época. Firmas de Wall Street - como Belmont, Lazard e Morgan - com apenas 15 anos de existência, ocupavam lugar de destaque na economia. Os tempos modernos da legislação para as práticas de comércio começaram em 1934.
GLEISER, I.: 211
A despeito de três grandes reveses - em 1920, 1928 e 1937-8 - Keynes aumentou seu ativo líquido de 16.315 libras em 1919 para 411.238 - equivalentes a 10 milhões de libras em valores atuais - quando morreu.
SKIDELSKI: 35
"Em 1929, as despesas federais para todos os bens e serviços montavam a 3,5 milhões de dólares; em 1939, eram de 12,5 bilhões." (GALBRAITH, 1968: 251)
Estamos explicados?
Não fossem os despojos alemães e japoneses, os EUA estariam atolados numa dívida incomensurável, provavelmente um tsunami que levaria a um colapso mundial, ainda mais se somada a onda que hoje aflige o colosso:
O Estado de bem-estar era um ardil político: uma criação artificial do Estado, pelo Estado, para o Estado e seus funcionários. É um eco irônico da democracia de Lincoln de, por e para ‘o povo’. Quando seus bem escondidos, porém crescentes, excessos e abusos no governo central e local foram revelados recentemente, havia se passado um século de defesa falaciosa.
SELDON: 60
A história não acabou, como precocemente anunciou FUKUYAMA.

'É preciso que o Estado governe em acordo com as regras de ordem essencial', diz Mercier de la Rivière, 'e então deve ser todo-poderoso'. Segundo os economistas, o Estado não deve unicamente comandar a nação, também deve formá-la de uma certa maneira; cabe-lhe moldar o próprio espírito dos cidadãos, enchê-lo com certas idéias e fornecer ao seu coração certos sentimentos que julga necessário. Na realidade, não existem limites aos seus direitos nem ao que pode fazer; não reforma simplesmente os homens, quer transformá-los; talvez, se o quisesse, poderia fabricar outros! 'O Estado faz dos homens tudo o que quer', diz Bodeau. Esta frase resume todas suas teorias.
TOCQUEVILLE, A, O Antigo Regime e a Revolução: 157

Morte ao Duce, viva o fascismo

Sim: aprendam com os alemães! A história caminha em ziguezagues e por vias tortuosas. Acontece que são os alemães quem, agora, lado a lado com o imperialismo bestial, incorpora o princípio da disciplina, da organização, do trabalho sólido, conjunto, com base na maquinaria mais moderna, na mais estrita prestação de contas e controle. E isso é exatamente o que nos falta.
LÊNIN, I., On Left Infantilism, Collected Works, XXII: 378
ROOSEVELT, paralítico, morreu antes do fim da guerra; MUSSOLINI, trucidado; HITLER se matou; o pouco original GETÚLIO seguiu-lhe no caminho do infortúnio, mas do inferno se ouvem gargalhadas, porque persiste o detalhe: o espólio, a torpe estratégia, o arcabouço político, jurídico e econômico do tíbio Estado de Bem-Estar permanece aliciando a gente.
“Em nossos próprios tempos, o historicismo histérico de Hegel é ainda o fertilizante a que o totalitarismo moderno deve seu rápido crescimento. Seu uso preparou o terreno e educou os meios cultos da desonestidade intelectual.” (POPPER, K.:282)
Infelizmente:
Ainda que o fascismo e o nacional-socialismo tenham sido destruídos enquanto realidades políticas na Segunda Guerra Mundial, suas ideologias não desapareceram e, direta ou indiretamente, ainda se opõem ao credo democrático.
KELSEN, HANS, A Democracia: 140
Ainda há quem prefira a riqueza, em especial aquela fruto do trabalho alheio, mesmo custando milhões de vidas, e /ou sobregarregando o sistema produtivo:
"Partido político não é seminário. Aqui dentro [no Congresso] não há seminaristas." (Sen a dor Walter Pereira, PMDB-MS, 3/3/2009)
Os políticos acercam-se dos cofres das estatais para desviar verbas públicas. Em português claro: para roubar. Todo o nosso esforço deve se voltar para o combate à corrupção e às práticas políticas nocivas. É preciso desnudar diante dos olhos da nação esse esquema nefasto dos partidos para alcançar os cofres do Estado.
SENADOR JARBAS VASCONCELOS, Folha de São Paulo, 25/2/2009
Como disse JAMES BUCHANAN (cit. KLAUS, VÁCLAV, Ministro das Finanças da Tcheco-Eslováquia de 1991, Presidente da República. - Demolindo o Socialismo, série Ensaios e Artigos - Inst. Liberal, R. Janeiro, 1992: 10), “o socialismo está morto, mas Leviathan ainda vive”:
O modelo keynesiano acabou sendo totalmente assimilado pela corrente principal do pensamento econômico. Em sua maioria, os economistas tentam hoje fazer uma 'sintonia fina' da economia, aplicando os remédios propostos por Keynes: imprimir dinheiro, aumentar ou baixar as taxas de juros, cortar ou aumentar impostos, e assim por diante.
HEDERSEN, HAZEL, cit. CAPRA, F., 1995: 206
Quando o governo não se subordina a normas gerais de conduta, ele passa a ter uma interferência intensa na economia, ou através de medidas indiretas; em conseqüência, perde o indivíduo segurança na condução de seus afazeres, diminui o ritmo de progresso da sociedade como um todo, cresce a incerteza no dia a dia da vida das pessoas e intensificam-se. O fascismo e toda a espécie de totalitarismo leva o hábito dos grandes negócios entre o abuso, os desmandos, a corrupção e o arbítrio por parte dos homens de mau caráter que fatalmente acabam empoleirando-se em todos os galhos do poder governamental desregrado.
MAKSOUD, H., Demarquia: um novo regime político e outras idéias: 48
Resta o lamento, por nós, mas também por seus jockeys "empoleirados", a maioria com tão lamentável destino quanto a artimanha proposta.
“A nova geração, pelo menos, devia ser ajudada a libertar-se dessa fraude intelectual, a maior talvez da história de nossa civilização.” (POPPER,K. 1998: 85)

Bismarck Pictures, Images and Photos
Afunde o Bismarck!
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