terça-feira, 20 de maio de 2008

A cabeceira cartesiana da medicina



A ciência procura leis não somente independentes mas determinantes da vontade humana. Ela insiste em regularidades, estrutura, sistema, invariantes e, para tanto, procura delimitar e recortar claramente os objetos de estudo. Cultural e socialmente revestida de positividades, bondade e poder, ela menospreza a filosofia, percebida como figura diminuída qurecisa ser 'abolida' ou 'desvalorizada'.
LACOSTE, JEAN, A Filosofia do Século XX: 49 


Não há classificação do Universo que não seja arbitrária e conjetural. A razão é muito simples: não sabemos o que é universo. Jorge Luís Borges*
NESTA DATA aniversariava meu pai. Cada mínimo sintoma, ele se submetia a porção  de exames clínicos. Em seguida, lá vinha  ele aliviado. Certo dia, porém, não. Acusava diabetes. Malgrado o cuidado, sobreveio um derrame. Na seqüência, complicações estomacais. Cada médico que lhe atendia, passava para outro, porque patologias estranhas às especialidades. (A wikipédia lista nada menos do que 53 subcategorias!) O resultado disso é que recebemos a notícia fatídica há uma semana da partida, em que pese ele estar lúcido, e aparentemente hígido, não fosse pequenas dores, amenizadas com remédios. O que chocou foi o tardio diagnóstico. A razão é prosaica: nenhuma especialização contempla núcleos atômicos, que dirá potencialidades de campos. Em que pese se dedicarem ao estudo das células, que são obviamente formadas por átomos, "isso é coisa da Física", disse-me o gastroentereologista médico-chefe do maior hospital gaúcho. Por bizarro, o elemento primordial não figura na cátedra! Então, só identificam o mal quando ele está difuso, aparente, proliferado em campo aberto. Pois repliquei-lhe: se a medicina não conhecer a Física, que é sua base mais primária, sua raiz, a natureza, enfim, como saberá o modo de formação e o tipo que vê?
A ênfase excessiva na análise (na parte) conduz ao reducionismo escotomizante, enquanto a focalização unilateral na síntese conduz ao globarismo obscurecedor. Existe uma polaridade onde a totalidade é vista pelos elementos, e vice-versa, formando um círculo que determina a reciprocidade da parte e da totalidade. JASPERS, KARL Psicopatologia Geral, Ed. Atheneu, 1987, Vol I: 40
Causas não são com médicos. Eles tratam de remediar; portanto, agem depois do efeito. Não há tempo à investigações, exceto as encomendadas aos igualmente cartesianos laboratórios. Todos atuam por realidade aparente, e não pelo virtual, considerado devaneio pelo positivismo platônico. Só enxergam o ser quando quebrado. Aí dizem o indefectível "sinto muito;  seguido do "infelizmente a medicina ainda não descobriu um medicamento eficaz para isso". Resta a confusão:
O número de processos por erro médico que chegaram ao Superior Tribunal de Justiça triplicou nos últimos seis anos. Em 2002, o STJ recebeu 120 recursos em ações por erro médico. Neste ano, até o final do mês de outubro, já eram 360 novos recursos autuados por esse motivo, a maioria questionando a responsabilidade civil do médico. As informações são da Assessoria de Imprensa do STJ.
Médicos devem ter momento de silêncio e reflexão após morte de paciente Mas a culpa pode não ser tanto assim dos profissionais.
A tradição filosófica do Ocidente, em todo caso desde o século XVII, foi profundamente influenciada pelo desenvolvimento da física matemática e das ciências naturais fundamentadas na experiência, na medição, na pesagem e no cálculo. Tudo quanto não era redutível a grandezas quantificáveis foi, por isso mesmo, considerado vago e confuso, alheio ao conhecimento claro e distinto. PERELMAN, CHAÏM, Ética e Direito: 672
A Universidade brasileira se desenvolve sob estas fortíssimas influências: descompromisso elitista das 'Grandes Écoles', o reducionismo profissionalizante pragmático dos 'Land Colleges Americanos', e a departamentalização do saber de Humbolt e Descartes. Nesse ambiente cultural é formada em 1934 a primeira Universidade Brasileira, a Universidade de São Paulo, e, logo em seguida, em 1935, a Universidade do Distrito Federal. PINOTTI, JOSÉ ARISTEMO, Professor titular e Diretor da Divisão de Ginecologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo/Hospital das Clínicas, Ex-Reitor da Unicamp. - A Universidade : do Arcaísmo à Transcendência; Folha de São Paulo, 8/2/2003: 5
As ciências médicas tem evoluído com surpreendente morosidade. Malgrado consideráveis avanços tecnológicos, capazes de intrumentar especialmente as cirurgias, o conhecimento medicinal parece, dentre todos, o mais estagnado; e, portanto, inoperante. Em pleno terceiro milênio, ainda convivemos com doenças endêmicas, para não falar das mais perversas, todas sem solução:
Centenas de cientistas, entre eles Luc Montagnier e Robert Gallo, descobridores do vírus da Aids, se reuniram na segunda-feira (19 de maio) no Instituto Pasteur de Paris, onde acontece um encontro de três dias para discutir os 25 anos do HIV e os esforços da comunidade científica para vencer a doença. No início da reunião, Montagnier e Gallo lamentaram a lentidão no enfrentamento da epidemia. Folha, 21/5/2008
Ora, em quarto de século de nosso século cabe, no mínimo, um século do passado. Contudo, já se vão gerações embretadas no labirinto. Precipita-se o bizarro: "Alguns adotam postura mais distanciada, enquanto outros choram com doentes. Pesquisa feita por médico de Harvard revela que residentes têm crises de choro comuns." (Barron H. Lerner New York Times, 7/5/2008)
"A medicina progrediu tanto em termos tecnológicos que o sentido do normal se perdeu." (Revista da Semana, 28/4/2008, p. 22)

"Conhecer o que é comum, voltar à prática da medicina 'antiga', cujo parâmetro era a normalidade do funcionamento do corpo, parece o essencial." (Pat Brown Universidade de Stanford, 28/4/2008, Revista da Semana, p. 22.)
 Dividir, para dominar.

Muito antes de Maquiavel, Descartes e Hegel, e até de Platão, já estava assentado o prático princípio do dividir para conquistar, dominador (não denominador) generalizado (não o comum) na busca de conhecimento, do usufruto do poder e da riqueza. No pequeno comentário do professor Franklin Cunha, as ironias:
Tudo começou com o Criador (ou o Classificador) Supremo, pois criando o homem já o classificou em macho e fêmea. Em seguida, criou duas outras categorias: a do bem e do mal. Depois, os sete pecados capitais, os dez mandamentos, anjos e demônios, fé e idolatria, esperança e desespero, caridade e avareza, castidade e luxúria, prudência e loucura, paciência e cólera, concórdia, discórdia, obediência e rebelião, perseverança e inconstância.
(Borges, Jorge Luis, Outras Inquisições - O idioma analítico de John Wilkins, cit. Cunha, Franklin, Zero Hora, P.Alegre, 27/11/1992.)
Efetivamente o Gênesis traz subjacente várias idéias de separações e antagonismos quase platônicos:
No Princípio Deus criou o céu e a terra. A terra, porém, estava informe, e vazia e as trevas cobriam a face do abismo, e o Espírito de Deus movia-se sobre as águas. E Deus disse: Exista a luz. E a luz existiu. E Deus viu que a luz era boa; e separou a luz das trevas. E chamou a luz de dia, e as trevas noite. E fez-se tarde e manhã: o primeiro dia.
Já que Deus havia completado a obra, no outro dia foram os homens que passaram a dividir tudo. Os métodos científicos de busca do conhecimento através de cortes para análises de objetos “exumados” e as subsequentes classificações envolvidas por ordenamentos numéricos se impuseram por essa gloriosa história de experiências, superstições, ardis, análises superficiais e por falta de imaginação:
O raciocínio quantitativo tornou-se sinônimo de ciência, e com tal sucesso que a metodologia newtoniana foi transformada na base conceitual de todas as áreas de atividade intelectual, não só científica, como também política, histórica, social e até moral.
Gleiser, Marcelo: 164
Até o advento das fundações científicas, as doenças eram combatidas por sacerdotes, curandeiros, feiticeiros, bruxos e alquimistas. Julgava-se que a invocação ao espírito seria forte para extirpar o sofrimento mais intenso da humanidade. Deus, principalmente, sempre foi invocado, e até hoje, a julgar por inúmeros depoimentos, parece ter nesta tarefa sua principal função. Então, quando a peste assolava pelas pradarias, os sacerdotes convocavam o povo para se reunirem nas rezas. Como resultado, a praga se disseminava a plena velocidade.
Quando Copérnico e Galileu demonstraram que não tínhamos assim, tanta importância para Ele, que não éramos mais o centro do Universo, mas que Deus o havia composto como um engenheiro, com tudo melimetricamente calculado, em perfeito ordenamento, o homem, à Sua imagem e semelhança, também partiu a tudo calcular. A gravidade do sulco cartesiano agravou o equívoco, e a humanidade ainda escorrega por suas veredas:
O próprio Descartes esboçara as linhas gerais de uma abordagem mecanicista da física, astronomia, biologia e medicina. Os pensadores do século XVIII levaram esse programa ainda mais longe, aplicando os princípios da mecânica newtoniana às ciências da natureza e da sociedade humana.
Capra, Fritjof, O Ponto de Mutação: 63
Russell (2001: 283) compreendeu a amplitude do carma:
"Afinal, o rígido determinismo da explicação cartesiana do mundo material, tanto físico como biológico, contribuiu muito para promover o materialismo dos séculos XVIII e XIX, em especial quando associado à física de Newton."
Regras para direção do espírito tocou o trem à desabalada carreira. No âmbito medicinal, o hábil francês demonstrara a veracidade da premissa:
"Não apenas os vegetais e os animais, mas também o próprio corpo humano eram máquinas.” (Cit. Lemkow, Anna F., Princípio da Totalidade, p. 84.)
Nem era assim, tão original: André Vesálio, em 1543, (cit. Henry, John, p. 38) já havia proposto o De humani corporis fabrica. O trilho bem servia à nova loco motiva:
“A analogia com a mecânica animal tinha por efeito reduzir o maravilhoso, negar a espontaneidade do existente e garantir a ambição de uma dominação racional no curso da vida humana.” (Canguilhem, G., Ètudes d'histoire et de philosophie des sciences, p. 221; cit. Descamps, C., p. 91)
Para completar, Descartes ainda elaborou a pretensiosa formulação intitulada O Homem (cit. Alquié, Ferdinand, p. 30), na qual aponta o ser humano com princípios gerais inerentes aos "animais-máquinas", devendo, por isso, ser imperativo "aplicar aos corpos vivos as leis da física mecanista."
A neurologia baseia-se na premissa de que o sistema nervoso - funcionando automaticamente segundo as leis conhecidas da física e da química - determina todas as operações que normalmente atribuímos à mente do indivíduo. O estudo da psicologia revela uma tendência paralela no sentido de se reduzir o objeto a relações explícitas entre variáveis mensuráveis; relações que sempre poderiam ser representadas pelos desempenhos de um artefato mecânico.
POLANYI, MICHEL, Personal Knowledge: 262; cit. ROSZAK, THEODORE, A Contracultura: 232
Dessarte, até hoje há quem desse modo nos descreva, compostos por uma espécie de sistema hidráulico, irrigado por “tubos” capazes de encaminhar a constante circulação dos fluidos. Nas artérias e nas veias, nestes “tubos”, circula o sangue. O trânsito é movido pelo motor denominado coração. Contração e dilatação produzem a pressão e impulsionam o movimento pelas artérias, tudo baseado em ações mecânicas de trações e inchamentos:
Assim como podeis ter visto, nas grutas e nas fontes que estão nos jardins dos nossos reis, é a simples força pela qual a água se move ao sair da nascente que move diversas máquinas e até toca alguns instrumentos, ou pronuncia algumas palavras, consoante a diversa disposição dos tubos que a conduzem. E deveras se podem perfeitamente comparar os nervos da máquina que vos descrevo aos tubos das máquinas destas fontes; os seus músculos e os seus tendões, aos outros diversos engenhos e molas que servem para as mover; os seus espíritos animais, a água que as movimenta, de que o coração é a nascente e as concavidades do cérebro são as aberturas.
Descartes, cit. Alquié, Ferdinand, Galileu, Descartes e o Mecanismo: 66
Aspirando o reconhecimento científico, a medicina não titubeou abandonar as práticas esotéricas, em troca desses instrumentos terrenos. A analogia com a mecânica animal objetivava reduzir o fenômeno à leis inteligíveis. Isso demandava reduzir o maravilhoso, negar a espontaneidade do existente, tudo no fito de amparar a ambição da dominação racional no curso da vida humana, ao gosto de Bacon.
A concepção da natureza elaborada pelo Grande Arquiteto do Universo, portanto uma máquina perfeita, tornava tudo previsível. A função da ciência passou aos prognósticos. Em 1822, o opúsculo Plano dos Trabalhos Científicos Necessários para a Reorganização da Sociedade» decretou:
Toda a ciência tem por fim a previdência. Porque a aplicação geral das leis estabelecidas segundo a observação dos fenómenos tem por fim prever a respectiva sucessão. Na realidade, todos os homens, por pouco instruídos que os julguemos, fazem verdadeiras previsões, fundadas sempre sobre o mesmo princípio, o conhecimento do futuro pelo passado.(...) Está, portanto, evidentemente muito conforme com a natureza do espírito humano que a observação do passado possa facultar a predição do futuro, e que o possa fazer tanto em política como em astronomia, em física, em química e em fisiologia.
COMTE, Auguste, Reorganizar a Sociedade, Guimarães Editores, 4ª Ed., Lisboa, 2002: 146
Não haveria propósito, vida ou espiritualidade na matéria. A natureza funcionaria de acordo com o dimensionado padrão, e tudo no mundo material podia ser explicado em função da organização e do movimento de suas partes. Todavia, a identificação dessa partes, e de suas causas, foi paulatinamente se tornando cada vez mais complexa. Diante da chuva de incidentais, de dados inexplicáveis, o segmento haveria de se repartir ainda mais, na faina da especialização, tornando o erro, que já era grave, monumental. Sem dúvida é justamente esta faina, ironicamente, que conduz a disciplina aos labirintos, como de resto as acadêmicas em geral.
Se verificarmos a terminologia adotada pelas especialidades, veremos a maciça presença dos termos gregos, o que per se denota o equívoco epistemológico. É que PLATÃO, o carma ocidental e fundador da Academia, traçou o rumo da floresta ao chapeuzinho, com vistas ao próprio deleite. Não foram poucas as inocentes convencidas, notadamente a partir do Renascimento. Eis os líderes da procissão, partida de Florença rumo à Marte, justo por não amar-te (sorry): Da Vinci, Copérnico, Galileu, Bacon, e Newton. Entre esses, Descartes, cujo método subverteu de modo antecipado o edifício científico, comprometendo-lhe totalmente com as rachaduras propostas.
Na ânsia pela “câmera em close” à visão pormenorizada, o cartesianismo e sua filha positivista tiram de foco movimentos periféricos, eventualmente responsáveis pelo objeto analisado. Obtém, destarte, um conhecimento incompleto e obtuso, errando na identificação da fonte, desorientando o investigador pela falsidade de base. Niels Bohr (cit. Pais, Abraham, Einstein viveu aqui, p. 42.) enquadra com fina ironia:
Qual a diferença entre um especialista e um filósofo? Um especialista é alguém que começa sabendo um pouco sobre algumas coisas, vai sabendo cada vez mais sobre cada vez menos e acaba sabendo tudo sobre o nada. Já um filósofo é alguém que começa sabendo um pouco sobre algumas coisas, vai sabendo cada vez menos sobre cada vez mais e acaba sabendo nada sobre tudo.
Guy Sorman (A Solução Liberal: 54) endossa, e aponta a gravidade do rumo tomado pelo trem:
A culpa inicial cabe a Descartes. Ele foi o primeiro a negar a sabedoria inconsciente, persuadindo-nos de que só o que era demonstrável, era verdadeiro. Rousseau substituiu-o, imaginando que não havia leis fora das desejadas pelo homem. Finalmente veio Augusto Comte, que instalou de vez a universidade no positivismo, fez as ciências humanas oscilarem para a sociologia e eliminou todo o ensinamento sério da economia
Não só na Economia, e no Direito, senão que contaminou todas as ciências. "A partir dessas considerações, podemos então nos questionar como a filosofia de Descartes influenciou as concepções de saúde e doença, na medicina moderna, e que ainda hoje se mantém imperativa nos sistemas de saúde." (Ediara Rabello Girão Rios , Senso comum, ciência e filosofia - elo dos saberes necessários à promoção da saúde.)
Ao fomentar apenas a especialização e desprezando o conhecimento abrangente, o trem epistemológico cartesiano evidencia  conotação própria de dinâmica desenhada para rápido desenvolvimento tecno-estratégico; não suporta, todavia, o selo científico. Não deveriam os diagnósticos serem emitidos em função de comensuráveis.
Ver para crer, este é o ideal desta estranha pedagogia. Pouco importa se o pensamento for, por conseqüência, do fenômeno mal visto para a experiência mal feita em vez de ir ao programa racional de pesquisas para o isolamento e a definição experimental do fato científico, sempre artificial, delicado e escondido.
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br
Por este prisma, a medicina pode até remediar; porém, dificilmente curará:
É esse o erro de Descartes: a separação abissal entre corpo e a mente, entre substância corporal, infinitamente divisível, com volume, com dimensões e com funcionamento mecânico de um lado, e a substância mental, indivisível, sem volume, sem dimensões e intangível, de outro; a sugestão de que o raciocínio, o juízo moral e o sofrimento adveniente da dor física ou agitação emocional poderiam existir independentemente do corpo. Descartes pensava que o calor fazia circular o sangue, que as finas e minúsculas partículas do sangue se transformavam em espíritos animais, os quais poderiam mover os músculos. Porque não censurá-lo por uma dessas noções? A razão é simples: há muito tempo que sabemos que ele estava errado nesses aspectos concretos, e as perguntas sobre como e por que circula o sangue receberam já uma resposta que nos satisfaz completamente. O mesmo não sucede com as questões relativas à mente, ao cérebro e ao corpo, em relação as quais o erro de Descartes continua a prevalecer. Para muitos, as idéias de Descartes são consideradas evidentes por si mesmas, sem necessitar de nenhuma reavaliação.
Damásio, Antônio R.: 113
Hoje não há mais dúvidas, nem desconhecimento:

O cérebro e o corpo encontram-se indissociavelmente integrados por circuitos bioquímicos e neurais recíprocos dirigidos um para o outro. Existem duas vias principais de interconexão. A via em que normalmente se pensa primeiro é a constituída por nervos motores e sensoriais periféricos que transportam sinais de todas as partes do corpo para o cérebro, e do cérebro para todas as partes do corpo. A outra via, que vem menos fàcilmente à mente, embora seja bastante mais antiga em termos evolutivos, é a corrente sangüínea; ela transporta sinais químicos, como os hormônios, os neurotransmissores e os neuromoduladores.
Nossa Universidade atual forma, pelo mundo afora, uma proporção demasiado grande de especialistas em disciplinas predeterminadas, portanto artificialmente delimitadas, enquanto uma grande parte das atividades sociais, como o próprio desenvolvimento da ciência, exige homens capazes de um ângulo de visão muito mais amplo e, ao mesmo tempo, de um enfoque dos problemas em profundidade, além de novos progressos que transgridam as fronteiras históricas das disciplinas.
Lichnerowicz; cit. Morin, 2002: 13
Ao especializar o cidadão, a civilização o tornou hermético e satisfeito dentro de sua limitação; mas essa mesma sensação íntima de domínio e valia o levará a querer predominar fora de sua especialidade. E a conseqüência é que, ainda neste caso, que representa um maximum de homem qualificado - especialismo - e, portanto, o mais oposto ao homem-massa, o resultado é que se comportará sem qualificação e como homem-massa em quase todas as esferas da vida  GASSET, Ortega Y, A rebelião das massas: 56
Qual a razão do termo medicinal?  Ele provém de média, de medida, de modo que é  deve ser  rigorosamente matemático. Na dosagem das substâncias químicas artificiais empregadas, não há como negar a imprescidibilidade da aferição matemática.  Porém, aplicar a numerologia, more indiscriminado  configura a velha metafísica grega, pela qual Hipócrates (em grego, Ἱπποκράτης), não tem nada a ver, posto apanágio da  má temática de Platão & Pitágoras, o maior manancial cartesiano.
A humanidade contabiliza enorme gama de perdas irrecuperáveis, malgrado a compreensão e o reconforto do grande Werner Heisenberg (cit. CAPRA, Fritjof, Sabedoria Incomum, Conversas com pessoas notáveis: 16), há algumas décadas atrás: “A cisão cartesiana penetrou fundo na mente humana nos três séculos após Descartes e levará muito tempo para ser substituída por uma atitude realmente diferente diante do problema da realidade.”
Faz-se premente tal correção de curso, a uma visão mais abrangente, macroscópica, multifocal, uma lente holística que preserve a unidade do ser, a fim de não o recortá-lo em pedaços, ainda que em fractais, sob pena de jamais poder recompô-lo:
Enfim, defendemos que a Filosofia, especialmente sua dimensão crítica, tem muito a oferecer na formação e atuação dos profissionais da saúde. Ela contribui, especialmente no campo da educação em saúde, para o exercício de uma reflexão sobre os pressupostos epistemológicos que presidem a formação acadêmica (domínio da ciência) e a atuação no campo (domínio do senso comum), elaborando um esforço para compreender o elo entre os saberes.Ediara Rabello Girão Rios , Senso comum, ciência e filosofia - elo dos saberes necessários à promoção da saúde
Os acidentes, as doenças, assim como a infelicidade em que está mergulhada a maior parte da humanidade, tem como gênese o distanciamento da fonte de energia vital e cósmica. GONZALEZ, MATHIAS, O caminho cósmico. - Rio de Janeiro: Pallas, 1993
Conforme o próprio Hipócrates, "a boa Medicina trata o ser humano, e não a doença": Ela pode pode ser provocada, e pelo mesmo caminho eliminada, a partir das incidências citadas, em conjugação com comandos mentais, por neurônios, na composição de efeitos atômicos:

A grande maioria de nossos males é determinada não pelo que nosso corpo sofre, mas pelo que acreditamos e pelas nossas emoções. Por isso, a cura precisa ser buscada na mente antes de materializar-se no corpo.-CAIRO, Cristina, www.radiomundial.com.br
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* Outras Inquisições - O idioma analítico de John Wilkins, cit. Cunha, Franklin, Zero Hora, 27/11/1992.


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