As mútuas relações entre Platão e a filosofia pitagórica constituem, de fato, um eixo fundamental para a crítica: se a filosofia pitagórica influencia o platonismo, é verdadeiro também o contrário... Aqui Platão estaria evidentemente utilizando os princípios (archaí) pitagóricos para fundamentar, do ponto de vista da dialética dos princípios supremos, sua teoria das Idéias. ENTRE PITAGORISMO E PLATONISMO. - www.puc-rio.br
Daí o futuro secretário do Tirano de Siracusa saiu lascando:
Para Platão, a ordem e a beleza que vemos no Cosmo resulta de uma intervenção racional, intencional e benigna de um divino artesão, um "demiurgo" (gr. δημιουργός), que impôs uma ordem matemática a um caos preexistente e, assim, produziu um Universo divinamente organizado, a partir de um modelo eterno e imutável (Pl. Ti. 26a). A visão platônica da origem do Universo também teve enorme influência na filosofia, especialmente na neoplatônica, no ocultismo e na teologia desde o século -IV até nossos dias.www.greciantiga.org
O portão
Quase que invariavelmente, todas as modernas áreas do conhecimento tiveram lume na Grécia Antiga.
MEISTER, L.F., A evolução do pensamento econômico - www.webartigos.com.br
ARISTOCLES DE ATHENAS (428–347 a.C.), discípulo do suicida
SÓCRATES, amava o mestre; e depois, os soldados espartanos. Banido da convivência dos patrícios, refugiou-se no sul da Itália, precisamente em Siracusa, onde encontrou pouso na cama do filho do tirano
DIONISO. Na viagem o ateniense recolheu a matéria-prima da colônia grega de Crotona, incrustrada na península italiana, onde havia a "primeira Universidade do mundo, obra do pioneiro"
filósofo":
"A sabedoria plena e completa pertence aos deuses, mas os homens podem desejá-la ou amá-la tornando-se filósofos." (PITÁGORAS)
No desembarque o príncipe amou sua complexão avantajada, de modo que era mais fácil tratá-lo com o carinhoso apelido de
PLATÃO. Ao se liquidar aquele
virtuoso reino, o consorte (ou sem sorte) se obrigou a retornar à Grécia, desta feita para as terras de
Acade mus, onde fundou sua famosa escola, no rastro da "primeira universidade do mundo" pitagórica. No frontespício o astuto ergueu o veredicto: "Que aqui não adentre quem não souber geometria
www.consciencia.org/platao.Platão se harmonizava, perfeitamente, com a doutrina cristã. Tanto nele quanto na Igreja, tudo procede da mesma fonte, a saber, do 'logos' divino."
Outro exemplo de Ser Positivo é o 'Deus Organizador', em que a divindade (ou divindades) exerce o papel de controlador da oposição primordial entre Ordem e Caos. O Caos representa o Mal, a desordem, e é simbolizado em vários mitos por monstros como serpentes ou dragões, ou simplesmente deuses maléficos que lutam contra outros deuses em batalhas cósmicas relatadas muitas vezes em textos épicos, como no caso do Eubuma elis dos babilônios. GLEISER, MARCELO, A Dança do Universo Dos Mitos de Criação ao Big-Bang: 31
Aristóteles recusou a maioria das idéias pitagóricas, em prol de um método qualitativo. Nele não cabem números. Como medir um talento? Talvez bilheteria? Platão, contudo, adorava a numerologia, e jogou a bola que cairia na bota de Galileu. Explica-nos KOYRÉ (1986: 81):
Ocorre que para Aristóteles a geometria era apenas uma ciência abstrata. Por isso, a geometria nunca poderia explicar o real. As suas leis não dominam o mundo físico. O estudo da geometria não precede o da física. Uma ciência do tipo aristotélico não se apoia numa metafísica. Conduz a ela, em vez de partir dela. Uma ciência tipo cartesiana, que postula o valor real do matematismo, que constrói uma física geométrica, não pode dispensar uma metafísica. E tem mesmo que começar por ela. Descartes sabia-o. E Platão, que fora o primeiro a esboçar uma ciência desse tipo, sabia-o igualmente.
De acordo com a vox que se tornou populi, o procedimento do Grande Arquiteto do Universo se mostrava coerente, por ordenado, cadenciado pelos dias, e a matemática pura, mais do que qualquer outra disciplina, tornou-se aquele discurso vivo que Platão considerou a única forma de conhecimento. (FEYRABEND, 1991: 135)
O longo eclipse das ciências humanas se iniciou, justamente, na singela premissa: a matemática excluia a possibilidade de controvérsias:
Agora demonstrarei a estrutura do Sistema do Mundo: todo o corpo continua no próprio estado de repouso ou de movimento uniforme numa reta, a não ser que seja impelido a mudar esse estado por forças que lhe forem aplicadas. A mudança de movimento é proporcional à força motriz aplicada e ocorre na direção da reta em que a força foi aplicada. Para toda ação existe sempre uma reação igual e oposta. NEWTON, I., cit. ROHDEN, H.: 169
O câmbio paradigmático restringiu a ciência e subverteu a democracia:
Essa contradição de idéias reproduziu-se, infelizmente, na realidade dos fatos na França. E, apesar de o povo francês ter-se adiantado mais do que os outros na conquista de seus direitos, ou melhor dito, de suas garantias políticas, nem por isso deixou de permanecer como o povo mais governado, mais dirigido, mais administrado, mais submetido, mais sujeito a imposições e mais explorado de toda a Europa. BASTIAT, Frèderic, A Lei: 63
Para Da Vinci nenhuma investigação humana poderia ser chamada de verdadeira ciência se não passa pelas demonstrações matemáticas’." Essa “verdadeira ciência”, lambuzada de preconceitos, constituiu-se como guia e fim, razão e justificativa à metafísica. O vigário polonês COPÉRNICO (cit. CHÂTELET, F: 49) revendeu o bilhete:
E no meio repousa o Sol. Com efeito, quem poderia no templo esplêndido colocar essa luminária num melhor lugar do que aquele donde pode iluminar tudo ao mesmo tempo? Em verdade, não foi impropriamente que alguns lhe chamaram a pupila do mundo, outros o Espírito, outros ainda o seu reitor.
Useiro crítico de Aristóteles, não por coincidência nascido na região de Maquiavel, Galileu Galilei (1564-1642) demonstrou a certeza e a eficácia dos cálculos. Tomemos sua ficha: "Deixou Pisa em 1585 sem qualquer diploma, mas rico de uma cultura adequada ao ideal de erudição humanista. Nutrira-se dos diálogos de Platão e meditara no isocronismo das oscilações do pêndulo."
O sopro da morte atingiu a teoria aristotélico-ptolomática em 1609. Neste ano Galileu começou a observar o céu à noite, através de um telescópio, que acabara de ser inventado. Ao focalizar o planeta Júpiter, Galileu descobriu que se fazia acompanhar de vários pequenos satélites, ou luas, que giravam a sua volta. Isto implicava que nada precisava necessariamente girar em torno da terra, como Aristóteles e Ptolomeu haviam pensado.
Della Miràndula, (Modena, 1463-1494, Florença) há um século de Galileu, bem que tentou demonstrar ao papado "uma alternativa ao descaminho que conduzia à fantasia mágica do pitagorismo remanescente, e mesmo à cabala, um terreno movediço." Tarde demais. O papado não se interessava em qualquer hipótese que colocasse em cheque a hegemonia conquistada à duras penas, por séculos de estórias bem formatadas. A história é sobejamente conhecida. Receoso de repetir os destinos de Giordano Bruno e de Copérnico, aquele executado e este desmoralizado, Galileu se recusava a expor as novidades, fato que gerou um pedido especial de Johannes Kepler (1571-1630), em 1597. Galileu acabou "cedendo"; e sedento, promulgou o Discorsi e dimonstrazioni matematiche intorno a due nuove scienze attenenti alla meccanica. Pronto. Estava inaugurada, oficialmente, a era mecanicista. Ao invés da fita cortada, entretanto, tivemos cabeças, aos borbotões; e sobreviventes mantidos em pesadas correntes, já há três séculos, atados pés, mãos e cérebros:
Se desejássemos retraçar a história do Determinismo, seria preciso retomar toda a história da Astronomia. É na imensidão dos Céus que se delineia o Objetivo puro que corresponde a um Visual puro. É pelo movimento regular dos astros que se regula o Destino. Se alguma coisa é fatal em nossa vida, é porque uma estrela nos domina e nos arrasta. Há, portanto, uma filosofia do Céu estrelado. Ela ensina ao homem a lei física em seus caracteres de objetividade e de determinismos absolutos. Sem esta grande lição de matemática astronômica, a geometria e o número não estariam provavelmente tão estreitamente associados ao pensamento experimental; o fenômeno terrestre tem uma diversidade e uma mobilidade imediatas demasiado manifestas para que se possa neles encontrar, sem preparo psicológico, uma doutrina do Objetivo e do Determinismo. O Determinismo desceu do Céu à Terra.GASTON BACHELARD
A justiça aritmética
O raciocínio quantitativo tornou-se sinônimo de ciência, e com tal sucesso que a metodologia newtoniana foi transformada na base conceitual de todas as áreas de atividade intelectual, não só científica, como também política, histórica, social e até moral. GLEISER, Marcelo: 164.
Em Florença, florescia a Renascença. Pelo interior das "pétalas" de Lourenço de Médici, o "Magnífico" emergiu o sabre abridor das comportas para Marcílio Ficino (1433-1499) a fim de reacender a tocha olímpica, a atochada platônica. É oportuno frisar que o talentoso Pitágoras foi o primeiro filósofo a criar uma definição que quantificava o objetivo final do Direito: a própria Justiça. O ato mais justo seria a chamada "justiça aritmética", na qual cada indivíduo deveria receber uma punição ou ganho quantitativamente igual ao ato cometido, vê se isso é possível. Tal argumento foi refutado por Aristóteles, pois este acreditava em uma justiça na qual cada indivíduo receberia uma punição ou ganho qualitativamente, ou proporcionalmente, ao ato cometido; ou seja, ser desigual para com os desiguais a fim de que estes sejam igualados com o resto da sociedade. Bem o sabemos, contudo, que Pitágoras recebeu o reforço de Platão 2, e a humanidade se foi de roldão, embalada na dialética:
A marca da filosofia platônica é um dualismo radical. O mundo platônico não é um mundo de unidade, e o abismo que, de diversas formas, resulta dessa bifurcação, surge em inúmeras formas. KELSEN, H., 2001:81
O flagrante traço pitagórico, a oposição do par e do ímpar desempenha ainda um papel essencial na concepção acadêmica do número. Ele resplandece em diversos texto platônicos, e em particular no Górgias. No tal Epinomis, prescreve: "A ciência dos números, dentre todas as artes liberais (?!) e ciências contemplativas, (ou seja, apenas especulações, isentas de responsabilidade porque improváveis) é a mais nobre e excelsamente divina."
Ao ser questionado porque o homem se diferenciava doa animais, a sapiência foi categórica: "Porque sabe lidar com números."
Poetas e letrados foram expulsos de sua catedral.
Com efeito, hoje sabemos que o direito está imerso numa atmosfera ideológica e a teoria geral do direito, empenhando-se em abstrair este aspecto do direito, só pode falsear as perpectivas e, com isso, fica, por sua vez, sujeita à acusação de ser mais ideologia do que ciência. PERELMAN: 621
A eterna presença
Desenvolvido por Plotino (205/270) no início do século IV, em meio à decadência do Império Romano, o neoplatonismo tornou-se uma das mais importantes correntes filosóficas da época e foi a última contribuição do pensamento grego à filosofia Ocidental. O neopitagorismo, que sobrevivera desde o século -IV www.greciantiga.org
Astrônomos e todos adotamos o mico:
Seja qual for, de resto, a validade desta tese geral ela é verdadeira para o século XVI. Que tudo abalou, tudo destruiu: a unidade política, religiosa, espiritual da Europa; a certeza da ciência e a da fé; a autoridade da Bíblia e a de Aristóteles; o prestígio da Igreja e o do Estado.
O conhecimento anterior fora difundido por inconsistentes palavras; agora, cabiam aos iniciados a promoção do novo tom:
A ciência ocidental tornou-se matematizada. A linguagem matemática da ciência, que causa tanto desânimo ao leitor de outras áreas, implantou- se como resultado do conflito entre as visões de mundo eclesiástica e leiga e seu propósito era justamente causar o afastamento do público comum.
Números possibilitam mais segurança, tornam as atividades concretas, lógicas e práticas; compõem os elos da ciência. A matemática é o cimento, é a garantia de sua coerência, é a defesa segura contra qualquer tentativa de acolher, “com distorções de palavras”, proposições de variadas e incompatíveis procedências.
Sequer o Inferno, de Dante (Palestra na Academia Florentina, A Geografia do Inferno de Dante Tratada Matematicamente, 1588) escapou ileso.
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