sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Uma piada não portuguesa, com certeza.


Aos queridos passageiros do Além-Mar,
em massa na Nav's ALL.
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Rir é o melhor remédio. (Seleções)
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OS SILVÍCOLAS MANTINHAM estreitos laços com a natureza. Sobreviviam sem hegemonias ou artimanhas interpessoais; não eram submissos nem concessivos, tampouco obstinados à imortalidade, ou voltados ao acúmulo de bens materiais. Que bens?
Eles adentravam à eternidade livres do pecado do Paraíso. Não há necessidade de salvar quem não tem idéia da culpa original, a grande mácula da humanidade, mas aos missionários recaia cumprir a missão. Um caldo primeiro, depois a salvação.
Cara-pálidas adoram seu próprio totem. A Revelação trouxe o motivo:
O homem só acreditou poder comandar a natureza porque se convenceu, num dado momento, que recebera seus títulos de um comando supremo.” (Needham)
Então vieram os autômatos:
Um viajante conta que, nas florestas do Equador, vivem tribos índias sem contato algum com os civilizados. Um dia chegam ao seu território centenas de caminhões, escavadoras, bull-dozers que, ao ser de uma Cia. de Petróleo, abrem estradas, furam poços, modificam a floresta. Eis como os índios, estupefatos, explicaram entre eles semelhante acontecimento: ‘Acabam de chegar animais novos. Domesticaram os homens, que lhes obedecem e os servem como escravos. E os homens brancos alimentam-nos e abrem-lhes passagem através da floresta.’ (Claude Lévi-Strauss)
Pois enquanto o norte incentivava a policultura, no andar de baixo, por meio de massacres, roubava-se ouro mexicano, prata peruana e boliviana. No colosso, trabalho livre, em pequenas colônias. Na carne de pescoço, capitanias hereditárias e escravidão indígena:
"A estrutura social e econômica que a América Latina herdou da Península Ibérica impediu-a de seguir o exemplo das antigas colônias inglêsas e suas repúblicas nunca desenvolveram os símbolos e a aura de legitimidade." (Lipset)
Os TriPulantes enxergavam longe:
Logicamente predizia Adam Smith que a América Latina, em contraste com as ‘colônias’ da América do Norte, ia acabar na pobreza e na tirania, porque sua tradição visava reconstituir a velha ordem romana, sustentada na visão mercantilista da riqueza como ouro e prata, numa economia produtiva de grandes latifúndios e na união da Igreja e do Estado. O novus ordu proposto por Smith repudiava precisamente esses três sustentáculos do absolutismo. (Penna)
Passados séculos da oportuna advertência, continuamos na passarela do bamba, a divertir turistas:
Não é sem razão que a imprensa norte-americana tenha tratado com descrédito e até humor a nova constituição brasileira, de 1988. Um texto constitucional como o brasileiro, que desce a níveis bem específicos e se prolonga por centenas de artigos é, na tradição americana, uma piada. (Karnal)
Uma piada, sim, com certeza. Mas não mais portuguesa.

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