terça-feira, 8 de abril de 2008

Declínio do Ocidente

Venho insistindo há tempos que por detrás da crise atual econômicofinanceira vige uma crise de paradigma civilizatório. De qual civilização? Obviamente se trata da civilização ocidental que já a partir do século XVI foi mundializada pelo projeto de colonização dos novos mundos. Este tipo de civilização se estrutura na vontade de poder-dominação do sujeito pessoal e coletivo sobre os outros, os povos e a natureza. BOFF, Leonardo, Zen e a Crise da Cultura Ocidental
Na esperança de um mosaico de histórias FUKUYAMA anunciou O fim da História. Por enquanto, a civilização ocidental permanece com as pernas-de-pau que sustentam o corpo ilusório, e a cabeça esquizofrênica de PLATÃO:
Constatamos durante a campanha que o talento de Obama para a oratória era uma vantagem enorme, e creio que será ainda também um de seus grandes atrativos como presidente. Na verdade, a política não mudou desde a sua invenção pelos gregos. GALSTON, Willian, da Brookings Institution e ex-assessor da Casa Branca.
.* * *

Há século houve o alarme:: o Ocidente declinaria rapidamente. As profecias de Oswald Arnold Gottfried Spengler (1880 – 1936) catalizaram os debates historiográficos, filosóficos, sociológicos, e políticos da intelectualidade européia durante as primárias do século XX. 
Falou-se muito nestes anos da decadência da Europa. Eu suplico fervorosamente que não se continue cometendo a ingenuidade de pensar em Spengler simplesmente porque se fale da decadência da Europa ou do Ocidente. Antes de que seu livro aparecera, todo o mundo falava disso, e o êxito de seu livro deveu-se, como é notório, a que tal suspeita ou preocupação preexistia em todas as cabeças, com os sentidos e pelas razões mais heterogêneas. GASSET, José Ortega Y, Rebelião das massas.
Hoje, nossa civilização começa a perceber um sopro de morte no ar.  Diletantes proclamam, em alta voz, que todas as civilizações, inclusive a nossa, devem perecer: esta é uma lei inexorável.  Chegou a hora final da Europa, afirmam os profetas da catástrofe.  E encontram audiência! Começa-se a perceber, por todo lado, um espírito outonal.   MISES, L., Liberalismo - Segundo a tradição clássica  Cap. V - O Futuro do Liberalismo
The Decline of the West atingiu cem mil cópias vendidas.(1)  Se o futuro parecia assombroso, e a U.R.S.S já se adiantara, muito pior se tornou pelo convencimento da negritude pintada:
O Declínio do Ocidente (1918) de Spengler, que pretendia reconhecer a ascendência morfológica da vida sobre a razão e do dinheiro e da máquina sobre a cultura e o indivíduo, atraiu intelectuais revoltados com os Estados Unidos por ser uma 'civilização comercial' puritana. Nos anos trinta, o texto de Spengler foi escolhido como um dos dez 'livros que mudaram nossa mente'. (2)
Impressionado com a agonia européia, Waldo Frank intitulou a obra Redescobrimento da América para também detonar o Eua. Naquele 1918 Le journal de Geneve publicva o alarme do Prof. Paul Seippel, testemunha da “grande onda revolucionária vinda do Oriente propagando-se na Europa, passando pelas planícies alemãs e vindo quebrar ao pé dos rochedos dos nossos alpes”. (Sorel, G., Reflexões sobre a Violência, apêndice III: 314)
Há década do desenlace nazista, o atento professor captava seus prenúncios:
“Na Alemanha o socialismo está impregnado do mesmo espírito despótico. O militarismo prussiano é o irmão inimigo do marxismo”. (Idem, ibidem)
No ano seguinte a revolução socialista alemã tentaria implementar o despotismo bolchevique, o Der Sozialismus:
Em Munique centenas de trabalhadores ocuparam estações ferroviárias e praças, enfrentando um exército de soldados e policiais. Arames farpados e barricadas brotavam por toda a parte, enquanto rajadas de metralhadoras varriam as ruas. Os vizinhos se acusavam mutuamente: 'Seu maldito bolchevique!' Ninguém estava a salvo dos delatores. Os revolucionários presos eram tratados como traidores. Em questão de semanas, os membros da Guarda Vermelha perceberam que haviam perdido sua mal concebida tentativa de tomar o poder; mas render-se significaria possivelmente enfrentar um esquadrão de fuzilamento. A loucura continuou assolando as ruas.
Diggins, J.: 271
Prussianismo e Socialismo, justo neste 1919 (3), propugnara por organização rigorosa, mas ainda capitalista e, como Max Weber havia pedido, sob a égide de um senhor. Ao fanático formulador, cabia à Alemanha salvar o ocidente, desde que eliminasse a luta de classes. “Difundiu-se rapidamente a lenda de que a nação havia sido 'apunhalada pelas costas' pelos socialistas e judeus do governo.” (BURNS Edward McNall, LERNER Robert E. e STANDISH, Meacham: 702)
Não era lenda. Leon Trotski encetou temerária participação, para o protesto de Webber (Diggins, J.: 271): “Com a típica vaidade de um literato russo, ele queria mais e esperava, por meio de uma guerra de palavras e do mau uso de certas palavras como 'paz' e 'autodeterminação', desencadear a guerra civil na Alemanha. “
As ruas alemãs, mais uma vez, eram lavadas com sangue e lágrimas: “Durante vários dias as metralhadoras crepitam em Berlim. As tropas governamentais distribuem até armas aos civis que se apresentam como voluntários para liquidar os spartakistas.” ( RICHARD, L.: 42)
Apesar do auxílio soviético, a rebelião foi esmagada. Rosa de Luxemburgo e Karl Liebknecht , que convocaram a luta nas ruas, ali mesmo tombaram. Tiveram o pouco de suas vidas jogadas em vão. O ambiente se adequava à demência de ambos os lados, confirmando os prenúncios de Seippel, e mesmo de Spengler, por inevitável fáustica. Esta peculiaridade, a vocação da civilização tecnológica e científica moderna para a arregimentação autoritária, ao gigantismo estatal, também seria motivo da pessimista inspiração do Admirável novo mundo de ALDOUS HUXLEY, e 1984, de GEORGE ORWELL. Mister a presença do pai, o paladino, o herói, o exemplo do super-homem esperado, ora até por "sociólogos":
Ao se dedicar a um estudo do mundo contemporâneo, Weber concluiu ser inevitável que as sociedades caissem, cada vez mais, sob a influência de burocracias crescentes e potencialmente totalitárias. Reconhecendo o grau em que isso poderia ameacar a liberdade humana, Weber postulou a idéia da liderança 'carismática' como meio de fugir a mortífera tirania do controle estatal. O próprio Weber admitia os perigos, assim como as vantagens da autoridade carismática, perigos estes que as carreiras de Hitler e Mussolini logo tornariam gritantes. BURNS Edward McNall, LERNER Robert E. e STANDISH, Meacham: 710
Os americanos saíam vitoriosos da I Guerra, mas o horror perpetrado pelos bolcheviques suplantava qualquer comemoração. O receio da moda cruzar o Alaska fazia tremer até esquimó. O esperto Keynes (cit. Strathern: 224) vislumbrou a freeway:
Estamos hoje no meio da maior catástrofe econômica – a maior catástrofe devida quase inteiramente a causas econômicas – do mundo moderno. Sustenta-se em Moscou a idéia de que é a crise final, culminante no capitalismo e que nossa ordem existente da sociedade não sobreviverá a ela."
Naquela década fatídica os americanos se submeteram a duas ondas entrecruzadas, mas ambas oriundas do transatlântico governamental: a primeira, de origem legislativa, positivista, coibia uma série de atividades comerciais e industriais, em nome de uma falsa moralidade. A Lei Sêca consagrou a prepotência oficial, para proveitos pessoais:
A capital do país, Washington, tinha trezentos bares licenciados antes da Lei Seca: agora havia setecentos bares clandestinos, supridos por quatro mil fornecedores. Tudo isso era possível em função da corrupção total em todos os níveis. Assim, em Detroit, havia vinte mil bares clandestinos.(Johnson,: 174)
Era o que buscava a politicalha da ocasião: uma forte recessão para justificar o golpe fascista, que tanto veneravam, e que seria perpetrado por Roosevelt, a suprimir até o padrão-ouro, em nome de um novo sonho, na verdade um pesadelo, só aliviado com a chegada dos despojos alemães e japoneses.
Então, o New Deal não seria uma revolução. Seu programa coletivista tivera antecedentes - recentes - com Herbert Hoover, durante a depressão; mais remotos, no coletivismo de guerra e no planejamento central que governaram os EUA durante a Primeira Guerra Mundial.(Rothbard: 41).
Ao Current History Magazine (cit. idem, ibidem) a manobra era flagrante, e culminaria, como de fato se sucedeu, na ascendência do Estado, frente ao cidadão:
A nova América não será capitalista no velho sentido, e tampouco será socialista. Se a tendência atual é para o fascismo, será um fascismo americano, que incorporara a experiência, as traições e as aspirações de uma grande nação de classe média. Quando o New Deal é despido de sua camuflagem progressista, social reformista, o que fica é a realidade do novo modelo fascista de sistema de capitalismo de Estado concentrado e servidão industrial, envolvendo um implícito ‘avanço rumo à guerra’.
Mesmo Galbraith (1989: 197) se espantou: "O poder nos EUA foi mais concentrado do que se costuma imaginar. Quem controlava o Pentágono, a Cia, o Departamento de Estado, o Tesouro e o homem que coordena estes órgãos na Casa Branca, controlava tudo, e tudo isso o sistema controlava." Havia, pois, muito mais aquém da bu(r)la ideológica:
Os grandes banqueiros e industriais emergiram nessa época. Firmas de Wall Street - como Belmont, Lazard e Morgan - com apenas 15 anos de existência, ocupavam lugar de destaque na economia. Os tempos modernos da legislação para as práticas de comércio começaram em 1934.(Gleiser, I.: 211)
As portas de Wall Street foram cerradas; dentro se dividiram os despojos: "A grande depressão reduziu as poupanças pessoais de US$4,2 bilhões em 1929 a uma descapitalização líquida de US$600 milhões em 1932 e reduziu os ganhos retidos das firmas de negócios de US$16,2 bilhões para menos de um bilhão." (Pipes, 2001: 183).
Para "recuperar a economia", Roosevelt criou a portentosa NRA - Administração de Recursos Nacionais, entregando a batuta para um general reformado - Hugh Johnson, com poderes ilimitados :"Era um administrador do sistema corporativista nacional de Mussolini na Itália e se inspiou na experiência italiana para formular o New Deal.".(PARKER, S., O crash de 1929: 357)
Roosevelt em seguida ainda colocou o almirante francês Jean Darlan como govemador-geral de toda África do Norte francesa. Darlan era um dos principais colaboradores nazistas e autor de leis anti-semitas, promulgadas no governo de Vichy.
Em 1938 se descobriu a enorme quantidade de fraudes na Bolsa de Valores, perpetradas por Whitney, seu célebre Presidente. A regulação havia colocado o bebê ( investidor) numa gaiola com um tigre, para controlar o tigre.
Não obstante, o cartel corria solto. Ford, GM, e Chrysler faziam a "reforma agrária" do mercado, partilhando os fregueses antes de oferecer seus produtos.
Onde se meteu o fã-clube, ninguém sabe; mas muitos vestígios nazistas contaminam as relações norteamericanas. Inúmeras quinquilharias permanecem impregnadas na roupa de Tio Sam.
O homem vulgar, antes dirigido, resolveu governar o mundo. Na cervejaria de Munique sentaria o senhor reivindicado, e  em seguida venerado até mesmo pelos yankees. O carismático liderava uma mesa com sete serviçais, a fundar a obra requerida por Hegel, Fichte, Weber, e de certo modo até Spengler. O Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães nascia com o nome sugerido, e já com chefe: o prático Adolf. Thomas Mann logo logo saudou a poderosa reunião da raça germânica.(4) Seguiu-lhe, a partir de  Darwin, Ludwig Woltmann:“A raça alemã foi selecionada para dominar a Terra”. (5) Schawrtzenberg relata:
A classe capitalista alemã aceitou, sem reticências, esta ideologia racista, como 'guarda-fogo' ao socialismo, como diversão hábil: as infelicidades da Alemanha derivavam, não dos erros de seus dirigentes, mas desse cômodo 'bode expiatório'. Iludindo assim o proletariado alemão, trocando a luta de classes pela luta das 'raças' (isto é, uma realidade concreta por um mito) as classes dirigentes alemãs adquiriam um seguro formidável contra a revolução socialista.(6)
Enquanto naquela estação de Munique o botequeiro rabiscava o projeto do trem que iria transportar a explosiva carga nazista, numa plataforma abaixo dos Alpes a locomotiva era ligada por outro néscio defensor da “pátria, da família e da tradição”.
Indefesos judeus atraiam as atenções da raça selecionada. Além de não possuirem a linhagem, sofriam a imputação de marxistas. Marx era judeu e todos pautavam por um internacionalismo capaz de deletar fronteiras nacionais. Poderia ser a secular raça germânica aniquilada por gente tão sem eira nem beira, dentro de seu próprio território? Hitler vinha para dizer não:
A linha de pensamento judeu em tudo isso é clara. A bolchevização da Alemanha - isto é, a exterminação da intelligentsia popular nacional para possibilitar a exploração da classe operária alemã sob o jugo da finança mundial judaica - é concebida apenas como uma preliminar para a ulterior expansão dessa tendência judaica à conquista do mundo. Como aconteceu muitas vezes na história, a Alemanha é o grande pivô dessa tremenda luta. Se o nosso povo e o nosso Estado se tornarem vítimas desses sanguinários e avarentos tiranos das nações, a Terra inteira afundará nas armadilhas desse polvo; se a Alemanha se libertar desse amplexo, poderá considerar-se destruído para todo o mundo o maior perigo para as nações. (7)
O motivo nazista levava Lênin como gurú:“O leninismo pode ser contemplado à luz do seu desenvolvimento como o primeiro movimento fascista do século 20.” (O Estado de São Paulo, 18/6/1995: A19)  D. Volkogonov viu nazismo e stalinismo serem a mesma coisa. (Hook Sidney, Idem, ,17/7/1994, p. 2) En passant ao III Reich, Hitler realçou a semelhança: “Se Stálin roubou um banco, não o fez para encher de dinheiro os próprios bolsos, mas para ajudar o seu Partido e movimento. O senhor não pode considerar isso um roubo de banco.” (Documentos da Polícia Alemã; cit. Toland, John, Adolf Hitler: 657)
A política de Hitler, ao criar um partido de elite de vanguarda, numa base de massa, foi, é lógico, copiada da experiência de Lênin. Em aspectos importantes, ele permaneceu um leninista até o fim, particularmente na sua crença de que um partido altamente disciplinado e centralizado, culminando em um ápice autocrático, era o único instrumento capaz de levar a cabo uma revolução fundamental. Uma vez no poder, colocou em funcionamento a tomada sistemática de todos os órgãos da sociedade pelo partido, exatamente como Lênin o havia feito. De início, planejava tomar o poder da mesma forma que Lênin o fizera em 1917, através de um putsch paramilitar. Tomou coragem para essa decisão depois do sucesso da marcha de Mussolini em direção a Roma, no outono de 1922. Um ano mais tarde, achou que era chegada a hora da Alemanha. (8)
Foi esta rivalidade extremada contra a eventual substituta que permitiu Hitler armar a maior tragédia da história da humanidade:
Era dever da Alemanha libertar o povo russo dos chefes bolchevistas. 'Se falamos hoje de solo na Europa', continuava Hitler, 'só podemos ter em mente acima de tudo a Rússia e seus Estados vassalos limítrofes. Aqui o próprio Destino parece desejoso de nos dar um sinal. Entregando a Rússia ao bolchevismo, ele despojou a nação russa daquela intelligentsia que anteriormente efetivou e garantiu sua existência como Estado. O gigantesco império de leste se acha maduro para o colapso. (9)
Em Mein Kampf, a sorte tinha sido lançada:
Nunca esqueçamos que os governantes da Rússia atual são criminosos comuns de mãos ensangüentadas; que são a escória da humanidade, a qual, favorecida pelas circunstâncias, avassalou um grande Estado em hora trágica, chacinou e exterminou milhares de seus guias intelectuais numa furiosa orgia de sangue.(10)
Einstein (Escritos da maturidade: artigos sobre ciência, educação, religião, relações sociais, racismo, ciências sociais /Albert Einstein: 9) neste caso lhe daria razão:
As coisas pioraram ainda mais do que teria ousado prever o pior dos pessimistas. Na Europa, a leste do Reno, o livre exercício do intelecto não existe mais, a população vive aterrorizada por bandidos que se apossaram do poder e a juventude é envenenada por mentiras sistemáticas.
Adolf Hitler comungava do descaso pelo cidadão, "inerte, amorfo, sem alma, um joguete"; mas, para o talentoso estúpido, cada verme poderia contribuir para formar o glorioso monstro que espantaria liberais e socialistas:
As gigantescas demonstrações de massa, esses desfiles de centenas de milhares de homens, que gravavam a fogo no pequeno e miserável indivíduo a orgulhosa convicção de que, embora um verme insignificante, ele era, ainda assim, parte de um grande dragão sob cujo hálito ardente o odiado mundo burguês um dia havia de arder em labaredas e a ditadura do proletariado celebraria sua última vitória. (11).
Continua Downs:
Seu supremo desprezo às massas aparece aqui e ali, em frases como 'um rebanho de ovelhas de cabeça vazia e em sua crença, freqüentemente expressada, de que a humanidade em massa é indolente, covarde, feminina, emotiva e incapaz de pensamento racional. Por isso, jamais ocorreria às vastas massas suspeitar de uma mentira tão grande e elas seriam perfeitamente incapazes de crer que alguém pudesse ter o infernal descaramento de perverter a verdade a tal ponto ', declarou Hitler. (12)
HITLER se encorajou a partir das constatações de NIETZSCHE, levadas pela irmã, ELIZABETH.

O estudo da sociedade é tão precioso porque o homem é muito mais ingênuo como a sociedade do que como indivíduo. A sociedade jamais considera outro modo a virtude senão como meio para atingir a força, a potência, a ordem.
NIETZSCHE, F., Vontade de Potência, Parte 2 : 276
As arquiteturas da própria Igreja, do secretário Maquiavel, que tão bem soube servi-la, e de  Hobbes, Descartes, Bentham, Hegel, Rousseau, Newton, Galileu, Copérnico, Kepler, Comte, Darwin, Marx, Weber, Keynes, até Freud, foram elevadas sobre a plataforma greco-romana, no protótipo platônico, rumo à ficção de poder :.
O que estou tentando mostrar é que a ciência, por causa do seu método e de seus conceitos, projetou um universo no qual o domínio da natureza ficou ligado ao domínio do homem e que ela favoreceu esse universo – e esse traço de união tende a tornar-se fatal para esse universo e seu conjunto.
MARCUSE, Herbert,
Uma ciência sem domínio?; P. Seuil, 1970; cit. CHRÉTIEN
: 212
Não dominamos sequer nossos próprios sonhos, e no entanto aspiramos nos impor perante tudo o mais, especialmente no que tanmge ao semelhante. Pois veio a Física, a rainha das ciências, a implodir seu próprio pedestal:
Hoje em dia todos nós estamos profundamente cônscios de que o entusiasmo que nossos precursores tinham em relação aos feitos maravilhosos da mecânica newtoniana levou-os a fazer generalizações nesta área de previsibilidade, na qual de modo geral talvez tenhamos tendido a acreditar, antes de 1960, mas que hoje reconhecemos que era falsa. Queremos nos desculpar coletivamente por haver confundido o público instruído em geral, fazendo-os acreditar em idéias sobre o determinismo de sistemas que satisfazem as leis de movimento de Newton, as quais, a partir de 1960, foi provado serem incorretas. COVENEY, P. & HIGHFIELD, R., A flecha do Tempo: 242
O mundo ocidental, todavia, ainda passa alienado na primata postulação. Pelo seu poderio, arrasta inclusive boa parte do outro lado. "A estimativa é de que atualmente haja 35,6 milhões de pessoas vivendo com demência no mundo. Este número deve subir para 65,7 milhões até 2030 e 115,4 milhões até 2050." BBC-Brasil, 21/9/2010  O que vemos são as mesmas tentativas espartanas, romanas, de domínio e submissão, na crença de que a força constitui o poder. Este é o maior perigo que hoje ameaça a civilização: a estatificação da vida, o intervencionismo do Estado, a absorção de toda espontaneidade social pelo gigante, um monstro a serviço de seus criadores e descendentes. Anula-se a espontaneidade histórica, que em definitivo sustenta, nutre e impele os destinos humanos. Suprime-se todos os trâmites normais e vai-se diretamente à imposição do que ele deseja.  Ela é a norma que propõe a anulação de toda normalidade, que suprime tudo, que medeia os. propósitos.  Sua "ação direta" consiste em inverter a ordem e proclamar a violência como prima ratio.
Sob o falso pretexto de defender os interesses do povo, esse gigantesco Leviatã consome a renda da população, gere mal os recursos e fecha a economia do país a seus desejos, inibindo investimentos internos ou externos. Com políticas econômicas frágeis e na maioria das vezes mal formuladas (dado o fraco entendimento dos governantes nesse assunto), o crescimento econômico pode se iniciar acelerado, mas ao longo do tempo mostra-se ineficiente e frágil, fadando o país a um atraso monstruoso em relação a regiões mais democráticas.
VASCONCELLOS, Daniel, A ameaça do "Estado-pai", O Globo, 27/8/2010
Todas as civilizações feneceram pela insuficiência de seus princípios. O Império romano findou por falta de técnica. Ao chegar a um grau de povoação grande e exigir tão vasta convivência a solução de certas urgências materiais, que só a técnica podia achar, começou o mundo a involuir, a retroceder e consumir-se. Agora é o próprio homem ocidental, representado nas alturas americanas, quem mostra sinais do fracasso. Não pode mais continuar emparelhado com o progresso de sua própria civilização. Maneja temas políticos e sociais com o instrumental de conceitos completamente anacrônicos, apropriados há quinhentos anos, e com eles tenciona enfrentar situações quinhentas vezes mais sutis.A cultura medieval superior floresceu porque o povo seguia a visão da cidade de Deus.
A sociedade moderna floresceu porque o povo foi vitalizado pela visão do crescimento da Cidade Terrena do Progresso. Em nosso século, porém, esta visão deteriorou-se no que foi a Torre de Babel, que está agora começando a ruir e em última análise sepultará a todos em suas ruína. Se a Cidade de Deus e a Cidade Terrena foram tese e antítese, a única alternativa para o caos é uma nova síntese. FROMM, E., 195
Bobagem. “Uma verdade superficial é um enunciado cujo contrário é falso" (BOHR, N., cit. DESCAMPS, C.: 103) Neste caso uma síntese dobra o equívoco. Qualquer um que tome conhecimento de que é a informação, não a queda-de-braço, a complementariedade, não a dialética, os elementos que regem as leis gravitacionais, e portanto todo o Universo, pode afirmar, com precisão, que o ocidente toma o bonde errado, e que fatalmente chegará no fim-da-linha.
O estado estadunidense está submergindo — seu convés inundado com $12 triliões de dólares em dívida vencida não paga, afundando sob as ondas de dezenas de triliões de pagamentos futuros prometidos mas sem fundos, cercado de outros navios similares contra os quais gastou décadas disparando aleatoriamente seus canhões (ou ameaçando fazê-lo). Nenhuma nova bandeira transformará um Navio do Estado num Navio da Liberdade. É hora de seguir o exemplo das ratazanas só até certo ponto — pular do navio! — e não além. Uma vez na praia, em vez de juntarmo-nos às ratazanas no projeto de içamento/reflutuação/nova bandeira, precisamos começar a construir nossos próprios navios menores, mais ágeis, com melhores condições de navegação: Barcos nossos, sem capitães e sem ratazanas. KNAPP, Thomas L., A Corrida Para Escapar do Naufrágio do Navio do Estado. www.libertarianismo.com/index.php/textos/estrangeiros/997-a-corrida-para-escapar-do-naufragio-do-navio-do-estado
Não precisa ser bem assim, mas serve como maior alento. Ainda é tempo. Diante da surpreendente e deslumbrante importância da China. a locomotiva tenta iniciar a reversão:
"Os EUA pretendem se comportar mais como China do que como EUA daqui em diante." (CANZIAN, F., O mundo pós crise. - Folha de São Paulo, 24/8/2009)
Bem cabe a Spengler a primazia de suspeitar da tamanha lacuna. Se E=MC2, o materialismo não tem, sequer, objeto.
Portanto, a revisão dos fundamentos para aplicação inambígua de nossos conceitos elementares, necessária à compreensão dos fenômenos atômicos, tem um alcance que ultrapassa em muito o campo particular ciência física. BOHR, Niels, Física atômica e conhecimento humano: Introdução.
Nada consta que Spengler tenha neste campo se adiantado, mas sua intuição vem se confirmando, primeiro com a queda definitiva do totalitarismo de direita; e depois, com o natural esfacelamento do muro.
Nossa "sociedade" chegou no ápice, ponto de início de seu merecido declínio. Ao compreendermos seus torpes e estéreis motivos, estaremos aptos a ajudar na sua imediata extinção. Chegaremos mais próximos da reorganização e de um reacomodamento natural, paradoxalmente. lançando um cocktail desintegrativo nesse desenrolar pseudocientífico, ferrocarris de direita & esquerda  à passagem da loco motiva sócio-política. Parando ou rompendo com o determinismo oriundo deste pretérito mecanicista, egoísta e opressor, poderemos alcançar mais rapidamente a readaptação, arejada e transparente, a perfazer um tecido social condigno com a época e as aspirações de cada um de nós. Voltando-nos ao real, por que acontecido, restar-nos-á explicá-lo e abandoná-lo, para tomarmos os tapetes mágicos de nossos próprios sonhos, permitidos e queridos por uma nova ordem (ou desordem), múltiplo anseio de ver e viver o mundo mais harmonicamente integrado e desenvolvido. Estacionado o velho trem, retirada a carga, poderemos optar por pequenas, ágeis, versáteis e ecológicas naves, individuais ou não, mas definitivamente em consonância com a complexidade e leveza cósmica.
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Complemente

Filhotes do marxismo-

Atualidade:
O rebanho e a alcatéia

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Notas
1. Spengler, Oswald, cit. Richard, Lionel, A República de Weimar (1919-1933), p. 247/248.
2. Spengler, O. Der Untergang des Abendlandes cit. Diggins, J.P., p. 42.
3. Spengler, Oswald, cit. Richard, L. p./248.
4. Mann, Thomas, cit. idem, p. 20.
5. Woltmann, Ludwig, cit. Johnson, P., p. 98.
6. Schwartzenberg, Roger-Gérard, Sociologia Política, p. 290.
7. Hitler, A., Mein Kampf, cit. Downs, Robert B., p. 144.
8. Johnson, P., p. 109.
9. Idem, ibidem.
10. Hitler, A, cit. Downs, R., p. 145/6
11. Idem, p. 151
12. Idem, ibidem.

8 comentários:

  1. Prezado Professor Antônio Sávio,
    Honrado com seu qualificado prestígio, e agradecido por tão gentil registro.

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