terça-feira, 8 de abril de 2008

Canhões, ao ritmo de castanholas

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A Revolução Bolchevique completava a maioridade, ameaçando se expandir,
mas os formadores de opinião acreditavam que o fascismo predominaria na Europa,
e alhures. Instalavam-se regimes totalitaristas na Alemanha, na Itália, em Portugal,
na Polônia, na Hungria, na Áustria na Turquia, na Grécia, na Romênia, no Japão,
Argentina, Paraguai, e Brasil, todos convivendo com a dramática dicotomia.
STÁLIN, HITLER e Mussolini marcaram seu primeiro combate direto no reduto espanhol, campo neutro, onde não perigavam seus lares. “Heróis” nacionalistas comandavam “torcidas organizadas” - Confederação Española de Derechas Autonomas (CEDA) e Juventudes de Accion Popular (JAP). O escopo se resumia em matar ou morrer:
“Ou a Accion Popular esmaga o marxismo, ou o marxismo destruirá a Espanha.” (1)
As atuações foram “exitosas”.
A trágica guerra civil, iniciada em 17 de julho de 1936, foi a primeira grande conseqüência do acirramento entre as duas bestiais locomotivas. Os espanhóis se prestaram à bucha-de-canhão. Garcia Lorca e milhões pagaram a discórdia com a vida:
As gangues da ‘Frente Popular’ geravam assassinos sádicos, que mais tarde se tornaram os piores agentes do terror stalinista durante a Guerra Civil. Em maio, a invasão de fábricas e ocupação de grandes propriedades. Em junho, a violência piorou - 160 Igrejas queimadas; 269 assassinatos; 1287 casos de agressões; 69 escritórios destruídos; 113 'greves gerais'; 228 'greves parciais'; 10 sedes de jornais saqueadas. (2)
Centenas de livros foram escritos a respeito. Por quem os sinos dobram, de Ernest Hemingway, A guerra acabou, de Alain Resnais, Terra e liberdade, de Ken Loach, retratam com lirismo, mas também com realismo, o triste desenrolar das batalhas na Pátria do “papai” Generalíssimo Franco, e dos “padrinhos” italianos e alemães.
Primo de Rivera já havia deixado um rastro de corrupção e desencanto; com Mussolini e Hitler, Franco encontrou seu maior argumento. Para quê instituições democráticas?
“Os espanhóis estão cansados de política e de políticos. Só os que vivem de política deveriam temer nosso movimento.”(3)
Franco solicitou e os alemães contribuíram, de imediato, com dez mil homens; Mussolini enviou cinqüenta mil soldados, cento e cinqüenta tanques, quase mil aviões, canhões antiaéreos, metralhadoras. Daí chegaram bombardeiros; da Alemanha, suplementos e aviões de caça. A sirene do debutante Stuka estremeceu os acuados corações espanhóis.
Envolveram-se ainda os franceses com nove mil homens, somando-se aos portugueses de Salazar, escandinavos, americanos, britânicos, belgas, etc. (4):
“No princípio de agosto Franco transportou pelo ar 600 mil cargas de munição e conseguiu atravessar três mil homens pelo estreito só num dia”. (5)
O fratricismo espanhol liquidou com 40 mil voluntários, de 50 países. (6)
Em 1939 os republicanos se renderam. Franco pode entrar em Madrid, depois de fuziladas mais de cem mil pessoas. E calcula-se que morreram um milhão, durante os três anos de embates. (7)
Com tamanha devastação impune, e inequívoca demonstração de força, Hitler se animou. O ensaio em território espanhol acabou em março. Em setembro, a peça correu noutro cenário: o debilóide invadiu diretamente a Polônia, mas a Espanha não lhe acompanhou: o povo, prostrado, exaurido, assistia Franco lamentar que o país fora usado só para treinamento das milícias e experiências de armas de Hitler, Mussolini, Stálin, mas a neutralidade se deu porque o Generalíssimo exigira pesado armamento para atacar Gibraltar e defender as Canárias, requerendo ainda o espólio dos territórios de Oran, Marrocos e alguns da África. O III Reich lhe dispensou, para alívio das famílias espanholas sobreviventes. E Franco pode reinar soberano, por cima dos valientes, graças às rajadas que ensejou sobre seu próprio povo. O rebanho ficou bem domesticado. E o Generalíssimo, bem recompensado.
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Notas
1. Johnson, P., p. 277.
2. Idem, ibidem.
3. Idem, p. 275.
4. Revista Manchete, R.Janeiro, 12 de outubro de 1996, p. 55.
5. Johnson, P., p. 277.
6. Números registrados idem, 274/5
7. Revista Manchete, R. Janeiro, 12 de outubro de 1996, p. 55.

Um comentário:

  1. Oi, acabo de acessar o site e por qui no internet explorer esta tudo OK!

    Abraços

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