terça-feira, 7 de abril de 2009

O socialismo de J. Locke- 5. O regalo da França

Os mestres-escolas da França são especialistas em pancadaria. Quando questionados a respeito, respondem que aquele povo, tal como dizem dos frígios, só se corrige a pauladas
ERASMO DE ROTERDÃ,
De Pueris: 70
De 1675 a 1679, a dupla se alojou na França, no fito de participar dos círculos intelectuais de Montpellier e Paris. Eis os postais:
Locke e Shaftesbury consideravam o despotismo como um mal francês e, quando escreveu o documento, em 1679, Locke acabava de voltar da França, após estudar o mal francês enquanto sistema político. A filosofia de Shaftesbury foi planejada para combater a interpretação mecanicista da realidade, mas sobrepujou a filosofia daqueles em seus esforços para salvar as artes dos efeitos das idéias mecanicistas: aspirou fundar bases não só para a verdade e a bondade, como também para a beleza.
BRETT, R. L.
: 109
,
.Foi igualmente pela recusa do dualismo cartesiano, e pela defesa da observação e da análise contra o espírito sistemático, que Locke se impôs como 'mestre da sabedoria' aos filósofos franceses do século XVIII.
CHÂTELET: 228
.
Nas margens do Tâmisa ainda se derramariam algumas viúvas cartesiano-newtonianas: MALTHUS, DARWIN, BEMTHAM, MILL, MARX; porém graças a LOCKE, os britânicos facilmente contornaram o monumental embuste epistemológico:
O escrito de Descartes se difundiu amplamente no continente, em particular na França e nos Países Baixos, mas não teve o mesmo sucesso na Inglaterra. A filosofia experimental tal como ali se desenvolveu impedia uma aceitação fácil de qualquer sistema dedutivo, e o sistema de Descartes foi considerado tão gerador de dissensões, quanto o sistema extremamente materialista de Thomas Hobbes.
HENRY: 71
O francês ALEXIS TOCQUEVILLE (2000: 15) corroboraria plenamente:
As idéias gerais não atestam a força da inteligência humana, mas só sua insuficiência, porque não existem seres exatamente semelhantes na natureza; não há fatos idênticos; não há regras aplicáveis indistintamente e da mesma maneira a vários objetos ao mesmo tempo.
Sobre o tour ao continente existe uma edição de 1953, de Cambridge, edição de JOHN LOUGH intitulada Locke’s travels in France (1675-1679) as related in his journals, correspondence, and other papers. Também há o estudo de GABRIEL BONNO: Les relations intellectuelles de Locke avec la France, da University of California Press, Berkeley e Los Angeles, 1955. São obras raras a nosotros do terceiro mundo. Todavia, posso assegurar: a semente que germinou pelas duas posteriores gerações, de MONTESQUIEU à Enciclopédia, saiu das mãos, ou melhor, das cabeças de LOCKE & SHAFTESBURY, tanto quanto as produções da Escola Fisiocrática de Economia, de FRANÇOIS QUESNAY, e a mais clássica composição, da ordem de ADAM SMITH. Como se não bastasse, ela ainda atravessou o Atlântico, para encontrar porto nos coaches JAMES MADISON, THOMAS JEFFERSON, e o scratch fundador dos Estados Unidos da América. Todos estavam, de fato, mais perto da verdade. Pelo viés contrário, até a Revolução Francesa, maior referencial marxista, e em seguida NAPOLEÃO, lhes forraram de razão:
A Constituição Francesa de 1791 proclamou uma série de direitos, ao passo ‘que nunca houve um período registrado nos anais da humanidade em que cada um desses direitos tivesse sido tão pouco assegurado - pode-se quase dizer completamente inexistente - como no ápice da Revolução Francesa.’
LEONI: 85
EINSTEIN e principalmente MAX PLANCK, como de resto a moderna ciência também lhes ofereceram ampla guarida:
"Max Born também escreveu, para dizer que não entendia como era possível conciliar um universo totalmente mecanicista com a liberdade da ética individual. 'Um mundo determinista é, para mim, um mundo muito aborrecido'.” (BRIAN: 374)
* * *
Após infausto episódio que precipitou a morte do inspirador, LOCKE foi recebido pelos neerlandeses. Na frente se postou CHRISTIAN HUYGENS. Juntavam-se aos pesquisadores de Amsterdã e Roterdã vários estrangeiros amantes da liberdade, na maratona de perseguição científica, em rastro desprovido de argumento matemático, ou volúpia pelo poder:
"A ideologia política do liberalismo originou-se de um sistema de idéias fundamentais que foram, inicialmente, desenvolvidas como teoria científica, sem qualquer significação política." (MISES, L. 1987: 158).
Ainda que utilizasse grande dose de empirismo e não menor religiosidade, (modernos filósofos e cientistas como DEWEY e CAPRA não o perdoam), a LOCKE não cabe o vezo determinista e mecanicista vigorante no continente, e recentemente aplicado pelos fascistas e soviéticos. A observação procede do socialista
BERTRAND RUSSELL (2001: 307):
“Assim, o Ensaio de Locke, mais do que oferecer um novo sistema, pretende varrer velhos preconceitos e prejulgamentos.”
Esse Segundo ensaio sobre o governo civil: um ensaio referente à verdadeira origem, extensão e objetivo do governo civil apresentava uma solução inovadora, genuinamente relativista.
Dos raros precursores da ciência política, praticamente nenhum lhe serviu, com exceção indireta de SPINOZA, contemporâneo. SHAFTESBURY e LOCKE, como o próprio SPINOZA, não se deixaram levar pela onda platônica que assolava o continente, já há dois séculos de vertiginoso crescente. De NEWTON nem falar, um ser de personalidade fechada, introspectiva e de temperamento difícil, por certo no receio de ser descoberto.
LOCKE não usou PLATÃO (1) , a não ser para lembrar das trinta tiranias de Athenas e Siracusa, as quais “tiveram como conselheiro o próprio Platão”; de MAQUIAVEL, igualmente, não tomou conhecimento; tampouco se deteve em HOBBES, já mencionei, exceto para rapidamente contestá-lo, mas esse intento custou menos tempo do que o gasto com o obscuro reacionário Sir ROBERT FILMER, autor de Patriarca: uma defesa do poder natural dos reis contra a liberdade inatural do povo.(Quack!) Dos franceses, nenhum seduziu. Nem BOUSSUET ou BODIN, muito menos DESCARTES sensibilizaram. Esses artífices instruiam os luízes, e até HOBBES, a ovelha negra responsável maior pela ascenção da única ditadura inglesa, levada à cabo por CROMWELL. Todos esses passistas eram totalitaristas, deterministas por mecanicismos, obscurantismo que exigiu a Era Iluminista.
VOLTAIRE
(
Vida e Obra: 25) em reportagem na Inglaterra, bem soube aquilatar, e reverenciar:
"Talvez nunca tenha havido espírito mais sensato, mais metódico, um lógico mais exato que o senhor Locke; não era, contudo, um grande matemático."
Ainda bem.

Na espetacular foto remetida por um amigo, vista de Paris à partir da cobertura da famosa Catedral de Notre Dame, no rio Sena, cercanias do Quartier Latin, precisamente na Saint German des Près av.
A região abriga a Sorbonne, lar do "pai do positivismo" e "mãe da pretensão" mundial, Auguste Comte, e de macaquitos brasileños, entre os quais um pior de todos.
Foi durante o período do famigerado Luís XIV, que se impuseram as alegorias.
Ao chegar o
Corcunda, de Victor Hugo, a residência já estava arrumada. .
.O detalhe enaltece a presença assustadora do Leviathan, sua fúria e prepotência, diante do acuado povo. "Não se metam!" O resultado da alavanca foi o surgimento do primeiro Hitler da humanidade, fato que gerou a assunção de Hegel e Marx, na Alemanha ferida, e precipitou TODAS as guerras mundiais e até civis que se sucederam, todas realizadas por vingança contra o império dos napoleões. O Arco do Triunfo se fez o epicentro de todas, desde Cavour na Itália e Bismarck, na Prússia, o primeiro a abrir fogo contra os descendentes do Corso, isso depois da própria marxista francesa, realizada também por vingança dos proletários contra o desgastado governo de ultradireita. Alguns anos depois, veio a soviética, de dose dupla - 1905/1917; a I Mundial, a marxista germânica, até a chegada do clone nazista. Adolf Hitler alcunhava a França de "Vaca Leiteira", de tanto apreço que lhe causava a vizinha de condomínio. Por fim, essas já realizadas de modo indireto, mas que também refletiram a vendetta contra o status quo imperial, em centenas de massacres pelo mundo a fora, alinhados tipo cabo-de-guerra na direita e na esquerda.
A tese é ousada, inédita, e certamente será rechaçada, até porque, diante de outras ligações levantadas, tipo judeus, loucuras dos caras, comunistas, raças, etc., damos o assunto por satisfeito. Para mim, mais um ledo engano, eivado do preconceito que busca elidir, tal qual centenas que acuso aqui da privilegiada cabine da Nav's ALL, dona de uma TriPulação jamais reunida em nenhum tempo ou lugar. Não encontro a menor dificuldade em perfeitamente identificar uma avalanche de rastros científicos, políticos. históricos, antropológicos, psicológicos, econômicos e religiosos, todos me conduzindo a este DNA.

Desse modo posso dizer que o efeito atômico da presença de Napoleão só terminou em 1968, quando os novos alunos daquela Sorbonne arrancaram o flamante busto do cartesiano-hobbesiano Comte, exigiram que a imaginação chegasse ao poder, e varreram De Gaulle, e tudo que o general representava.
Com o dèbacle soviético, em 1989, de cristalina lembrança, presume-se o encerramento da tosca peça tão bem formulada em Florença, e melhor encenada em Paris, Berlim, Roma e Moscou.

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Nietzsche: a consciência de um louco


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