quinta-feira, 16 de abril de 2009

O carma ocidental - 1. A razão da religião

Durante o século IV a.C., verificou-se, no mundo grego, uma revivescência da vida religiosa. Segundo alguns historiadores, um dos factores que concorreram para esse fenômeno foi a linha política adotada pelos tiranos: para garantir seu papel de líderes populares e para enfraquecer a antiga aristocracia, os tiranos favoreciam a expansão de cultos populares ou estrangeiros. Dentre estes cultos, um teve enorme difusão: o Orfismo (de Orfeu), originário da Trácia, e que era uma religião essencialmente esotérica. Os seguidores desta doutrina acreditavam na imortalidade da alma, ou seja, enquanto o corpo se degenerava, a sua alma migrava para outro corpo, por várias vezes, a fim de efetivar sua purificação.
Wikipédia
Pitágoras apreciava a tal ponto a teologia órfica que dela fez modelo para plasmar a própria filosofia. Em decorrência disso, as sentenças de Pitágoras passam a ser chamadas sacras na medida em que são derivadas dos esquemas órficos.  MIRANDULLA, Pico della, A dignidade do homem: 73  
Não puderam (os homens), com efeito, tendo considerado as coisas (da natureza), como meios, supor que elas tivessem sido produzidas por elas mesmas, mas, tirando a sua conclusão dos meios que se acostumaram a obter, tiveram que persuadir-se de que existiam um ou mais diretores da Natureza, dotados de liberdade humana, que tivessem provido todas as necessidades deles e tivessem feito tudo para seu uso (dos homens). Não tendo jamais recebido (a) respeito do propósito destes seres informação alguma, tiveram também de julgar segundo o seu próprio, e assim admitiram que os deuses dirigem todas as coisas para uso dos homens, a fim de que esses se lhes liguem e para que sejam tidos por esses na maior honra. Do que resulta que todos, referindo-se ao seu próprio propósito, inventaram diversos meios de render culto a Deus, a fim de que fossem amados por ele acima de todos, e para que obtivessem que dirigisse a Natureza inteira em proveito de seu desejo cego e de sua avidez insaciável. SPINOZA, B,, Ética, Prop. XXVI, Apêndice
Diz-se que religião não se discute. Concordo. Viver é melhor que sonhar. Pela teimosia Giordano Bruno morreu imolado. Spinoza demonstrou a irracionalidade cristã, e naturalmente foi excomungado. Nietzsche se meteu a enfrentá-la. Foi internado como louco. Nada vale desgaste. Foi por isso que Copérnico e Galileu ficaram quietos. O curioso é que Darwin e Marx até hoje se tem como heróis. Não fosse a implicação direta com todas as leis, com a História Geral, e com a insanidade mundial, não me preocuparia nem discernir essa raíz.
E como se desce, desse mundo de ironia e razão e veridicidade, ao reinado do sábio de Platão, cujos poderes mágicos o elevam muito acima dos homens comuns, embora não tão alto que dispense o uso de mentiras ou despreze o triste mercado de cada curandeiro, a venda de feitiços, de encantamento e criadores de raça, em troca de poder sobre seus concidadãos! PEREIRA, J.C., Epistemologia e Liberalismo - Uma Introdução a Filosofia de Karl R. Popper: 153

O pastor R.R. Soares, que é fundador da Igreja Internacional da Graça de Deus e apresenta o programa "Show da Fé", da Band, comprou por US$ 5 milhões [cerca de R$ 8,6 milhões] um avião turboélice King Air 350 com banheiro a bordo e capacidade para oito passageiros. A informação foi divulgada neste sábado pela revista "Veja".
Admiro RICHARD DAWKINS, que ainda não li: Deus é um delírio. (Companhia das Letras: 2007) Mas se não é, nem vem ao caso, a não ser para nos alertar sobre a necessidade de nos livrarmos da fé: ela nada mais é do que uma flagrante manifestação de preconceito, ainda que possa ser tomado genuinamente virtuoso. Não chego a tanto, mas Sir BERTRAND RUSSELL (p. 21) detonou: “Se houvesse um Deus, ele (ou ela, aquilo, ou eles) deveria ser julgado por crimes contra a humanidade.”
Estratégia geopolítica
Uma ilusão geral constitui uma força social, que serve potentemente para cimentar a unidade e a organização política de um povo, como de uma inteira civilização. MOSCA, Gaetano, Scritti politici (Teorica dei governi-elementi di scienza política) vol.II, 633; cit. RÊGO, W.D.L.: 88
A cultura antiga, que a religião cristã assimilou e à qual se uniu para entrar, fundida com ela, na Idade Média, era uma cultura inteiramente baseada no pensamento platônico. É só a partir dela que se pode compreender uma figura como a de Santo Agostinho, que traçou a fronteira histórico-filosófica da concepção medieval do mundo. JAEGER 2003: 581
Nascido na Argélia e educado em Cartago, o padre Agostinho (354- 430) assimilou o maniqueísmo, (oriundo do persa mani, 215-276):
Os séculos IV e V, em que Agostinho vive, são uma época em que a filosofia, talvez com exceção do neoplatonismo de Plotino, perdeu a confiança na razão. Cabe então a Agostinho restaurar a certeza da razão, e isso, paradoxalmente, por meio da fé. ABRÃO, B.: 98
Considera-se AGOSTINHO (quem sabe AUGUSTINHO, para relembrar os césares recém passados?) como autor da primeira filosofia do cristianismo. Intitula-se ‘De Civitae Dei’ (Sobre a Cidade de Deus). Por isso ele é o pai ou precursor da hierarquia eclesiástica, esta que culmina no século XIII, teológica e políticamente sistematizada na ‘Summa Theologiae’ de Tomás de Aquino. O cruel Império de Roma, em plena decadência, pode ser recuperado, e até ampliado pela disposição agostiniana. "As Cruzadas** não diziam respeito apenas à libertação do Santo Sepulcro, mas antes a saber qual dos dois venceria na terra." (SAID, EDWARD, Orientalismo: o oriente como invenção do ocidente: 180)
O gênio irriquieto e ambicioso dos europeus... impaciente para empregar os novos instrumentos do seu poderio. FOURIER, JEAN-BABTISTE-JOSEPH, Descritiption de l'Égypte, prefácio.
Em vez do sabre, a cruz; em lugar da legião a religião; para o lugar dos governadores, e generais, bispos, arcebispos, e novas embaixadas, as catedrais, de cathedra, sede, em número sempre crescente.
O sistema filosófico-teológico de Agostinho está inteiramente calcado sobre a ideologia* do Antigo Testamento. As doutrinas de Agostinho sobre o pecado e redenção do homem são de uma clareza diáfana e foram aceitas quase universalmente, com algumas modificações pela Igreja cristã do Ocidente, até aos nossos dias. ROHDEN, H, Filosofia Contemporânea: 23
O renascimento de Platão, com Maquiavel
O pensamento monístico represou o meio social, especialmente a partir da redescoberta do texto grego:

Até o Renascimento, o Ocidente praticamente desconhecia Platão. Mas alguns manuscritos gregos, comprados em Constantinopla, mudaram esse cenário. Entre eles, levados a Florença em meados de 1430, estava nada mais nada menos do que a obra completa de Platão.
A Academia Platônica, fundada por Marsilio Ficino, com consentimento de Cosme de Medici, elabora com efeito uma doutrina destinada a uma larga difusão, por longo tempo benéfica à manutenção da hegemonia cultural florentina, mas da qual os Medici são os primeiros a tirar vantagem concretamente. LARIVAILLE, P.: 161.
PLATÃO foi o rei da separação. Duas senhas compuseram sua quimera. De PARMÊNIDES o grego contrabandeou a dialética, a configuração de opostos. E de PITÁGORAS, a lenda de ORFEU. O material lhe serviu para cingir o ser humano entre corpo da alma, e com isso nos desligou parcialmente da divindade celestial."
[PARMÊNIDES] levou a cabo a primeira crítica do aparelho cognitivo, sumamnete importante não obstante sua insuficiência e consequências calamitosas; ao desmembrar abruptamente os sentidos da capacidade de pensar abstrações, quer dizer, da razão, ele lançou por terra o próprio intelecto e incitou àquela separação totalmente equivocada entre 'espíritgo' e 'corpo', que, sobretudo desde Platão, recai sobre a filosofia como uma maldição. NIETZSCHE, F., A filosofia na era trágica dos gregos: 84.
Eis a razão primaz da religião, que significa religar: antes, mister desligar. Todavia, a propósito, acho bom esclarecer: é impossível a distância entre o ser e o divino, entre o terráqueo e o celestial; portanto, a religação proposta será sempre totalmente fictícia. A forja não cogitou o bizarro: se E=mc2, a separação será tão inócua quanto infrutífera, isto sob o ponto de vista epistemológico. Contudo, em seu aspecto tecnológico, no sentido pastoral, na construção do brete pelo qual encaminha as ovelhinhas, nada de melhor poder-se-ia inventar.
O mundo barroco pode ser descrito também como um grande teatro, onde cada homem deve ocupar o seu lugar. O mais belo dos teatros é o centro do mundo católico romano: a praça de São Pedro em Roma. A literatura, as artes, a filosofia giram em torno de Deus, de suas exigências e da salvação.
JAPIASSÚ, H., 1997: 81
O marco sedimentou o preconceito religioso, definiu o fim da Idade Média, e início da Renascença:

Na verdade, jamais houve qualquer legislador que tenha outorgado a seu povo leis de carácter extraordinário sem apelar para a divindade, pois sem isso estas leis não seriam aceitas... O governante sábio sempre recorre aos deuses. MAQUIAVEL, N., Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio. Brasília : Editora UnB, 1994: 58; tb. cit. BOBBIO, 2002: 164
A interpretação religiosa assenta nessa mesma ambiguidade: una est religio in rituum varietate, proclama Ficino, que, na Teologia Platônica – título revelador – desenvolve o acordo entre o platonismo e o cristianismo. ‘Eis a razão porque, quem quer que leia seriamente as obras de Platão, nelas encontrará, evidentemente, tudo, mas em particular essas duas verdades eternas: o culto reconhecido de um deus conhecido e a divindade das almas, onde reside toda a compreensão das coisas, toda a regra de vida e toda a felicidade. E tanto o mais que, sobre estes problemas, a maneira de pensar de Platão é tal que, de entre outros filósofos, foi a ele que Agostinho escolheu para modelo, como sendo o mais próximo da verdade cristã, afirmando que, com pequenas alterações, os platônicos seriam cristãos.’

Maquiavel considerava que a religião e sobretudo o temor a Deus, era essencial ‘para comandar os exércitos, para estimular a plebe a manter os homens bons, para fazer os reis se envergonharem.’ Escrevia ele também que o culto divino e o temor a Deus são necessários sobretudo nas repúblicas: ‘e como a observância do culto divino é origem da grandeza das repúblicas, também o desprezo daquele é origem da ruína destas. Porque onde falta o temor a Deus, convém ou que aquele reino desabe, ou que seja sustentado pelo temor a um príncipe que supra os defeitos da religião.’.

Mesmo os ateus estão de acordo acerca de que não há coisa que mais mantenha os Estados e as Repúblicas do que a religião, e que esse é o principal fundamento do poderio dos monarcas, da execução das leis, da obediência aos súditos, da reverência dos magistrados, do temor de proceder mal e da amizade mútua para com cada qual; cumpre tomar todo o cuidado para que uma coisa tão sagrada não seja desprezada ou posta em dúvida por disputas; pois deste ponto depende a ruína das Repúblicas.
BODIN, JEHAN, cit. CHEVALLIER, Tomo I: 55
Diz-se que todo o povo tem crença em algum Deus, que no fim dá tudo na mesma, e que, portanto, não se pode reputar as diferenças dos povos pelas características das crenças. É como se todos buscassem o mesmo destino, por veículos diferentes, uns mais eficazes, outros mais lentos, mais ou menos radicais. Assim é que tudo aceitamos, porque, afinal, somos todos imperfeitos.
As idéias corporativas tiveram grande aceitação: receberam apoio da Encíclica Papal Quadragésimo Anno, de 1931, influenciaram decisivamente a doutrina do partido nazista alemão e de inúmeros outros movimentos fascistas em diversos países. No Brasil, foi notória a sua influência na década de 30, durante a ditadura de Getúlio Vargas.
STEWART JR., DONALD, O Que é Liberalismo: 24
Só Deus é perfeito:


P

Parece-me gente de tal inocência que, se homem os entendesse e eles a nós, seriam logo cristão, porque eles, segundo parece, não têm nem entendem nenhuma crença. E, portanto, se os degradados que aqui hão de ficar aprenderem bem sua fala e os entenderem, não duvido que eles, segundo a santa intenção de Vossa Alteza, se hão de fazer cristãos e crer em nossa fé... "
Carta de Pero Vaz de Caminha, cit. FARACO & MORA, Para gostar de escrever. - São Paulo: Ática, 2002.
"Este gentio não tem conhecimento algum de seu Creador, nem de cousa do Céo, nem se ha pena nem gloria depois desta vida, e portanto não tem adoração nenhuma nem ceremonias, ou culto divino, mas sabem que têm alma e que esta não morre."  (CARDIM, F., Do princípio e origem dos índios do Brasil, e de seus costumes, adorações e ceremônias. www.consciencia.org.br)
.O liame não encontra porto nem mesmo no próprio estaleiro..
Platão admite que a crença em Deus não pode ser demonstrada, nem sua existência; mas fala que ela não faz mal, só bem. O mal para Platão é apenas a ignorância do bem, e ele procura demonstrar que o mal inexiste, e ninguém opta por ele de forma voluntária.
A prova de que existe o perfeito e que, portanto, somos imperfeitos não existe, porque tais apreciações são eminentemente relativas. Então a religião veio para comprovar uma premissa, pelo menos, sem a qual ela não pode se impor.
Religião significa o ato de religar. Portanto, mister o pressuposto do desligamento. Pois a primeira preocupação da religião nisso reside: provar que o homem, por natureza, vem desligado, e sói permanecer na obscuridade. Então ela apresenta sua lanterna. Primeiro o assassinato; depois, a ressurreição, desde que satisfeitas suas precondições.“Assim Platão constantemente estabelece o contraste nos seus diálogos.” (DEWEY, J.: 43)
Pois desconfio, a julgar pelo estilo, tempo e lugar, que o grande inspirador da Bíblia nasceu naquela prestigiada cidadela grega, e aperfeiçoado em Cartago:
Para Platão, a ordem e a beleza que vemos no Cosmo resulta de uma intervenção racional, intencional e benigna de um divino artesão, um "demiurgo" (gr. δημιουργός), que impôs uma ordem matemática a um caos preexistente e, assim, produziu um Universo divinamente organizado, a partir de um modelo eterno e imutável (Pl. Ti. 26a). A visão platônica da origem do Universo também teve enorme influência na filosofia, especialmente na neoplatônica, no ocultismo e na teologia desde o século -IV até nossos dias.
www.greciantiga.org
EINSTEIN (cit. GABERDIAN, H. GORDON: 314) apesar de toda religiosidade não poucas vezes expressada, soube bem compreender:
No homem primitivo era o medo, acima de quaisquer outras emoções, que o levava à religião. Esta religião do medo – medo da fome, de animais selvagens, de doenças e da morte – revelava-se através de atos e sacrifícios destinados a obter o amparo e o favor de uma divindade antropomórfica, de cujos desejos e ações dependiam aqueles temerosos sucessos. Como o entendimento do homem primitivo sobre as relações de causa e efeito era pobremente desenvolvido, essa religião do medo criou uma tradição transmitida, de geração a geração, por uma casta especial de sacerdotes que se postara como mediadora entre o povo e as entidades temidas. Essa hegemonia concentrou o poder nas mãos de uma classe privilegiada, que exercia as funções clericais como autoridade secular a fim de assegurar seu poderio. Nesse ínterim se verificava a associação dos governantes políticos à casta clerical, na defesa dos interesses comuns.
Não foram nem Montaigne, nem Locke, nem Bayle, nem Spinoza, nem Hobbes, nem Lorde Shaftesbury, nem o Senhor Collins, nem o Senhor Tolland, etc., que trouxeram à pátria o facho da discórdia; foram, na maioria das vezes, os teólogos que, tendo primeiramente tido a ambição de serem chefes de seita, bem depressa ambicionaram ser chefes de partido. Que digo! todos os livros dos filósofos modernos em conjunto não farão tanto barulho no mundo quanto outrora a disputa dos Franciscanos sobre a forma da manga e do capucho. VOLTAIRE, «13.ª carta», Cartas Filosóficas, Lisboa, Editorial Fragmentos, 1993: 55
O castigo à Adão e Eva enseja volumosa obra crítica, mas o núcleo, o leitmotiv é flagrante. "Aí está a fera que, com sua afiada cauda, trespassa as montanhas e derruba as muralhas e as armas; aí está a que corrompe o mundo inteiro. " (ALIGHIERI, Dante, A divina comédia: 63)
Não houvesse a inteligente venenosa, não haveria necessidade de religião. Mas ninguém faturaria:
A criação de necessidades repressivas tornou-se há muito parte do trabalho socialmente necessário; necessário no sentido de que, sem ele, o modo de produção estabelecido não poderia ser mantido. Não estão em jogo problemas de psicologia nem de estética, mas a base material da dominação ideológica. MARCUSE, apud. MAAR, 1998: 69
"Não é freqüente o caso em que a manipulação ideológica da religião com fins políticos é o catalisador real de tensões e divisões e, às vezes, da violência na sociedade?" (Papa Bento XVI, Folha de São Paulo, 9/5/2009)
Paraíso Perdido
No Paraíso não havia discordância, que dirá algum confronto:
Na língua dos pássaros uma expressão tinge a seguinte.
Se é vermelha tinge a outra de vermelho.
Se é alva tinge a outra dos lírios da manhã.
É língua muito transitiva a dos pássaros.
Não carece de conjunções nem de abotoaduras.
Se comunica por encantamentos,
E por não ser contaminada de contradições
A linguagem dos pássaros
Só produz gorgeios.
Depois da maçã, vestimos preto-e-branco, de listas horizontais, e numerado.
O desígnio do trabalho vem do próprio latim, tripaliare, significando uma tortura através de um instrumento chamado tripalium.
“Na concepção cristã, o trabalho representava o pagamento do pecado, um ato de expiação que sugere necessidade, aflição e miséria.” (ROHMANN, C: 122)
Nesta época se definiam os lugares:
“Para os católicos, o trabalho é uma sentença condenatória, como reafirma a Rerum Novarum, em 1891.” ( DE MASI, D.: 47)
Esta encíclica foi a ponte fascista. GAETAN PIROU (Introduction a l'etude de Economie Politique, Paris, : 280, cit. HUGON, P., História das Idéias Econômicas: 352) tentou explicar:
“O catolicismo considera a corporação um meio de assegurar a ordem sem matar a liberdade, escapando, a um tempo, da anarquia liberal e da coerção socialista”.
MUSSOLINI montou o teatro solicitado.
Erro lamentável foi confundir tão dignificante afazer com atividade penal; ainda por cima, torná-lo eterno. Pierre Legendre explica no que consiste a fórmula tática: “O direito canônico, a força pontificial e as burocracias patrióticas contemporâneas bebem - sob uma aparente diversidade - nos tesouros de uma liturgia de submissão.” ( LEGENDRE, PIERRE, cit. DESCAMPS, CHRISTIAN: 55)
Belzebú é o partner.
Então veio, parece, um sábio astuto,
o primeiro inventor do medo aos deuses...
Forjou um conto, altamente sedutora doutrina,
em que a verdade se ocultava
sob os véus de mendaz sabedoria.
Disse onde moram os terríveis deuses das alturas,
em cúpulas gigantes, de onde ruge o trovão,
e aterradores relâmpagos do raio aos olhos cegam.
Cingiu assim os homens com seus atilhos de pavor
rodeando-os de deuses em esplêndidos sólios,
encantou-os com seus feitiços, e os intimidou –
e a desordem mudou-se em lei e ordem.
Crítias,
tio de Platão e líder dos Trinta Tiranos em Atenas após a guerra do Peloponeso.
No choque das forças, o sábio astuto assume o mais alto valor.
O conceito de justiça é o primeiro conceito democrático mistificado por Platão. A justiça surgiria como uma propriedade do Estado. Seu totalitarismo é disfarçado sob a capa de 'verdadeira justiça', e se legitima teoricamente mediante a subversão doutrinária do humanitarismo em três frentes: defendendo o privilégio natural, postulando o coletivismo, advogando a tese de que o indivíduo existe para o Estado.
Estadista; cit. POPPER, KARL, M., Sociedade Democrática e Seus Inimigos, Tomo I: 184

Contemporaneamente o mito vai se identificando com a ideologia política: é que o processo mitológico sempre coloca suas crenças a serviço de uma ideologia. Barthes, coincidindo com este entendimento, afirma que através do mito consegue-se transformar a história em ideologia. WARAT, L. A., Mitos e Teorias na Interpretação da Lei: 128
.
É preciso que o Estado governe em acordo com as regras de ordem essencial', diz Mercier de la Rivière, 'e então deve ser todo-poderoso'. Segundo os economistas, o Estado não deve unicamente comandar a nação, também deve formá-la de uma certa maneira; cabe-lhe moldar o próprio espírito dos cidadãos, enchê-lo com certas idéias e fornecer ao seu coração certos sentimentos que julga necessário. Na realidade, não existem limites aos seus direitos nem ao que pode fazer; não reforma simplesmente os homens, quer transformá-los; talvez, se o quisesse, poderia fabricar outros! 'O Estado faz dos homens tudo o que quer', diz Bodeau. Esta frase resume todas suas teorias.  TOCQUEVILLE, A. O Antigo Regime e a Revolução: 157
A Igreja, que hoje protesta, e com razão, contra a opressão que sofre nas mãos do Estado totalitário, faria bem em lembrar-se de quem primeiro deu ao Estado o mau exemplo da intolerância religiosa ao usar o braço secular para defender, pela força, o que só pode brotar de um ato livre de vontade. A Igreja deve sempre lembrar-se, com vergonha, de que foi o primeiro mestre do Estado totalitário em quase todos os seus aspectos.
BRUNNER, EMIL,
Gerechtigkeit:Eine Lehre von den Grundgesetzen der Gesellsachaftsordnung (Zurique: Zwingli Verlag, 1943); cit. KELSEN, H., A Democracia: 210.
___________
Nota
* Ideologia é um conjunto lógico, sistemático e coerente de representações (idéias e valores) e de normas ou regras (de conduta) que indicam e prescrevem aos membros da sociedade o que devem pensar e como devem pensar, o que devem valorizar e como devem valorizar, o que devem sentir e como devem sentir, o que devem fazer e como devem fazer. Ela é, portanto, um corpo explicativo (representação) e prático (normas, regras, preceitos) de caráter prescritivo, normativo, regulador.
CHAUÍ, MARILENA, O que é Ideologia: 113; cit. COELHO, LUIZ FERNANDO, Teoria Crítica do Direito: 337.
.
** Chama-se cruzada a qualquer um dos movimentos militares, de caráter parcialmente cristão, que partiram da Europa Ocidental e cujo objetivo era colocar a Terra Santa (nome pelo qual os cristãos denominavam a Palestina) e a cidade de Jerusalém sob a soberania dos cristãos. Estes movimentos estenderam-se entre os séculos XI e XIII, época em que a Palestina estava sob controle dos turcosmuçulmanos. (Wikipédia)


Nenhum comentário:

Postar um comentário