sábado, 11 de abril de 2009

O Socialismo de J. Locke - 9) Aleluia da Nova Era

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Depois do livro do americano Edward O. Wilson, Sociobiology e dos ensaios do inglês Richard Dawkins, os geneticistas das populações, assim como os especialistas em insetos sociais, procuraram compreender a organização social a partir dos interesses individuais. Não existe o formigueiro; só existem as formigas. Não existe a espécie; só existe o indivíduo. Falar de um sacrifício pelo grupo é, portanto, uma impossibilidade - pelo menos se estudarmos a evolução darwiniana dos caracteres sociais. Era preciso repensar a sociedade animal como a resultante do cálculo dos indivíduos e não mais como um vasto sistema dentro do qual os animais nascem e morrem. Esta revolução entre os animais assemelha-se às revoluções que as ciências políticas conheceram duzentos anos antes. LATOUR, BRUNO, Das Sociedades Animais às Sociedades Humanas; cit. WITKOWSKI: 207
Há quase meio século a esposa do popular cientista CARL SAGAN sugeriu revolucionária ótica, olvidada desde a excomunhão do iluminista SPINOZA: a Terra não estava colocada ao exercício de domínio, jus abutendi proporcionado pela Criação, tal qual propalava BACON, e o séquito da batina. A tese e demonstração da endossimbiose, de LYNNN MARGULLIS, lograva oferecer um oriente mais compatível com a realidade. De modo simultâneo o célebre JAMES LOVELOCK não titubeou: nosso planeta é um um sistema vivo. Ao desígneo, impõe-se conservar o máximo de peculiaridades, e o mínimo de gestão.
É a diversidade que conduz à associação; quanto mais perfeita é a organização social, quanto mais variado o exercício das faculdades físicas e intelectuais, tanto mais se acentuam os contrastes sociais mais se eleva o homem. TOFFLER & TOFFLER: 122
Como criar organizações que continuem vivas? Como criar organizações que não nos sufoquem com seus ditames de controle e obediência? A resposta é clara e simples. Precisamos confiar no fato de que nós temos a capacidade de organizar a nós mesmos e precisamos criar condições que favoreçam o florescer da auto-organização. WHETLAY, KELLNER-ROGERS, Um caminho mais simples: 58
Sem dúvida, o universo inteiro podia ser pensado como se desdobrando ou se expressando em ocorrências individuais. E dentro dessa visão global que se torna possível acomodar as sincronicidades como eventos significativos que emergem do coração da natureza. GLEICK, JAMES, Chaos, cit. LEMKOW, ANNA,: 216
Antes de tudo, cabe ao homem não transformar o sistema que lhe é vital, ao sabor de meros interesses circunstanciais e caprichos meramente materiais, mas preservá-lo, de preferência intacto, para que se produza a mais natural evolução. Em vez do ambicionar o poder sobre o planeta, podemos, no máximo, melhor usufruí-lo. Para tanto, antes de tudo, faz-se imperioso conservá-lo.
A atmosfera se constitui numa abóboda sem fronteiras, aberta, por isso suscetível e permeada por constante fluxo de energia e matéria cósmicas e endógenas, o que é conhecido como Gaia. Qualquer interferência no estupendo Delta, como barragem, produz desejados efeitos locais, mas também indesejados desdobramentos não-locais, até muito distantes, aos confins do Universo!
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A Ecologia se impõe sobre a volúpia de poder. A Ética precede qualquer Direito. A ciência, enfim, alienada desde a ratio platônica, pode ser realocada em favor da humanidade, da evolução do ser humano, e não apenas de uma elite dominante por aparelhos ideológicos:
Esta organização não pode ser abandonada à iniciativa dos governos: será alcançada quando os povos tiverem uma vontade firme e ativa, porque é renovação radical de todas as antiquadas tradições politicas. A compreensão e a vontade de resolver o problema estão-se generalizando. Acredito na influência de um individuo sobre outro e acredito no processo de seqüência e encadeamento entre os homens. EINSTEIN, Albert, Fala Einstein sobra o futuro da humanidade, Folha da Manhã, 4/3/1949.
Da tradicionalíssima Itália, BOBBIO (1992; prefácio à edição brasileira) confirmava a precariedade dos arranjos ideológicos:
Devo acrescentar que estávamos em meados de 68, ano dos protestos juvenis, que foram particularmente mais inflamados na Itália. A Universidade italiana (embora não apenas a italiana) mostrara-se politizada - e mal politizada - sobretudo nas Faculdades de Ciências Humanas.
Na Gloriosa Revolução as academias mais atiladas partiram a revirar as próprias entranhas. Ainda que a contragosto, à reboque, jamais na proa do inovador movimento, elas buscaram e encontraram conforto ao resgatarem o mentor da velha Revolução Gloriosa:
O ano de 1960 foi um marco para os estudos sobre Locke. Em um só ano, além da edição crítica de Laslett, já lembrada, foram publicadas três monografias importantes (1) que representam muito bem o interesse renovado pelo filósofo do liberalismo e do cristianismo racional. Todas as três enfatizam Locke moralista e político, mais do que o teórico do conhecimento, sobre o qual se havia detido especialmente os trabalhos e a crítica precedente. BOBBIO, NORBERTO, 1997: 78

O que parece inegável é que foi o movimento hippie quem colocou historicamente a questão da rejeição da ciência como prática social de conhecimento inerente às sociedades vivendo com base na exploração do homem e da natureza. DEUS, JORGE DIAS DE, organizador. - Artigos de R. K. MERTON, T. S. KUHN, W. O. HAGSTROM, J. HABERER, G. B. VAN ALBADA, Ph. ROQUEPLO, F. GIL, R. HORTON, A. MASLOW, A.N. WHITEHEAD: 24
O ano de 1968, que foi igualmente o da invasão e da normalização da Checoslováquia, marca para a história o fim definitivo, nas democracias populares, de todas as esperanças em uma 'boa' sociedade comunista e em uma 'regeneração' de sua ideologia. DEWITTE, J., posfácio de KOLAKOWSKI: 174
Nesse contexto, o mês de maio de 1968 aparecera como um acontecimento que ninguém previra. Generalizado, o discurso político perdeu então seu privilégio. A proclamação do que era científico ficou abalada; as ciências políticas não souberam antecipar esta explosão internacional. DESCAMPS, C. : 15
Na Bélgica, ILYA PRIGOGINE acusava a importância da não-linearidade; HERMAN HAKEN a verificava nos estudos sobre laser; e MANFRED EIGEN se dedicava no exame de fenômenos catalíticos. No Chile, HUMBERTO MATURANA ratificava a auto-organização dos sistemas vivos, o que chamou de autopoiese. HEINZ VON FOESTER , nos EUA, montava uma rede de pesquisas interdisciplinares no intuito de investigar auto-organizações; THOMAS KUHN apresentava The Structure of Scientific Revolutions; THEODORE ROSZAK detectava a contracultura, e ABRAHAM MASLOW (cit. FERGUNSON, M.: 54) propunha a feliz analogia:.
É cada vez mais claro que uma revolução filosófica se encontra em marcha. Um sistema abrangente está se desenvolvendo com rapidez, como uma árvore que começa a dar frutos em todos os seus galhos ao mesmo tempo....
Para alastrar uma doença, bastam poucos corpos; para formar a moda, apenas um sucesso: "Ter mais liberdade melhora o potencial das pessoas para cuidar de si mesmas e para influenciar o mundo, questões centrais para o processo do desenvolvimento." (DAWKINS, R.: 369)
A expansão é simplificadora:
“O fato significativo é que estamos, agora, deslocando-nos para futuras formas poderosas de processamento de conhecimento que são profundamente antiburocráticos.” (TOFFLER, A.: 199

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NOTA
1. As três monografias são: Viano, C. A., John Locke: dal razionalismo all'illuminismo; Polin, R., La politique morale de John Locke, onde o autor enaltece a validade temporal e espacial das hipóteses do iluminista; e Cox, R. H., Locke on war and peace.
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