O Testamento revogado
O primeiro, taxado de Velho, foi substituído pelo Novo. Vovô abusara de estorinhas. De Adão e Eva a Sodoma e Gomorra o método disciplinar é repressivo, até terrorista. Se não resiste a maioridade, que dirá unanimidade.
Aquela da Arca não se garante ao menor questionamento.
A rigor, não tem uma passagem sequer que permaneça incólume à uma crítica de viabilidade.
De quem falou com Deus
A estória de Moisés é de amargar. É o único ser da face da Terra, em todo o EspaçoTempo, que teve o privilégio de encontrar Deus! Nem Jesus se tem notícia de ter logrado tamanha façanha. Nem na cruz Deus apareceu. Dizem que Jesus O acusou de abandono.
Há gente que diz que fala com Ele. Tem até quem se julgue o Próprio:
Em Florianópolis foi detido em flagrante, por atentado ao pudor, Evanildo João da Cunha, 36 anos. Ele estava sem roupa, em frente a uma igreja, na Avenida Leoberto Leal, e gritava ser Jesus Cristo.O Globo, 4/5/2009
Outros preferem incorporar Napoleão.
Não falta quem reverencie as três meninas portuguesas, e o tal caminho de Santiago. Dizem que depois do percurso ninguém volta igual. Acredito. Nossa vida, como dizia Heráclito, é uma vertente. A água que passa não é a mesma que foi.
Mutatis mutandis, ao percorrer a famosa trilha a forma física deve melhorar bastante; e o contato com outros peregrinos deve fazer muito bem. Mas quem mais ganha mesmo, e bastante, são os promotores turísticos, não há dúvidas.
"Dos lugares das viagens missionárias de Paulo, visitaremos
Efésio, Tessalonica, Corinto, Athenas, Berea, Filipos, Roma, Óstia."
(Agência de Turismo ao Além)
A participação do mar
A da abertura para o povo passar bem serve a roteiro de filme. Em Dunkerke os ingleses não obtiveram tal ventura. Vai ver os libertários eram filhos do diabo; e Hitler os dizimou.
Dos mandamentos
Estranho as disposições da tal tábua. É "positivista", embora parte seja calcada no Direito Natural. Pelo cunho, todavia, vê-se eivada de interesse, e do pior, o de comando. A primeira cláusula dá conta que devemos "amar a Deus sobre todas as coisas."
.Ora, Deus colocado no nível das coisas? E, ademais, como amar o Quê, ou Quem não se vê? Como amar Quem não se dá a conhecer, apenas presumidos efeitos, ou ter ouvido falar, ou ter lido alguma coisa? E por qual Causa assim procede, mantendo-se envolto no mistério, que mais confunde do que acolhe, mais torna descrente qualquer candidato a crente? Seria somente um alvéolo, um projeto, quem sabe uma ameaça?
Outro artigo dá conta que "não devemos desejar a mulher do próximo". Neste caso, a coitada vira pertence, reduzida a objeto. Cadê seu direito à manifestação, ou livre escolha?
Honrar pai e mãe, não roubar, e não matar são determinações óbvias as quais, mesmo completamente desconhecidas por esquimós ou indígenas, por exemplo, são preservadas.
Deus faltou com a palavra
Tirante a estória contada por Moisés, não se sabe mais de nenhum lugar por onde Deus tenha emitido Sua palavra, muito menos a língua que preferiu. E não há sequer uma testemunha do furtivo encontro, lá atrás do monte, lujgar apropriado para quem na marcha se encontra apertado. Onde já se viu isso? Pelamor dedeus. Deus nunca falou; portanto, não existe a palavra de Deus. Ele falta com ela. Ainda bem.
A concepção
Nascer de uma virgem é incompreensível, além de afronta ao marido, mesmo sendo por demais compreensivo. Imagine a gozação na redondeza. Não sei porque este capricho. Já que se fez como homem, por que Deus não poderia ser produto da forma costumeira? A resposta o "louco" nos traz:
"Somente o cristianismo, com seu fundo de ressentimento contra a vida, fez da sexualidade algo impuro: joga lama sobre o começo, sobre a condição primeira de nossa vida."
Eis, certamente, a razão da Bíblia tornar Jesus isento do risco do amor.
A infância e a adolescência
A ninguém é dado conhecer a juventude de Jesus. Todos sdizem que ele nasceu numa manjedoura, mas ninguém sabe do seu gatinhar, até os trinta. Lembra a Nav's ALL ao entrar na atmosfera: por uns instantes perde todo o contato.
Porque Jesus nada escreveu?
Hitler fez seu Mein Kampf; Churchill contou suas peripécias em prosa e verso. Napoleão não ficou atrás. Mitterand também não. Até Féliz hc, o semialfabetizado da Bobonne, deu-se ao luxo de dourar sua pílula em centenas de páginas. Porque Cristo nunca escreveu nada?
Neste ponto lembro da carta-testamento de Getúlio Vargas, única despedida que se conhece datilografada em máquina de escrever,por acaso ausente em seu quarto de dormir, onde solitariamente consumou a insanidade. Coisa de Sócrates, claro. Evidentemente, não foi Gegê quem a elaborou, muito menos a ditou, como gostava de fazer com os milhares de decretos contrabandeados da Itália fascista. Foram seus órfãos que trataram do espólio. Mas do pequenino ditador, todavia, temos a certeza da existência, bem como dos demagogos que pariu. Com Jesus, todavia, já não cabem as mesmas certezas; sequer com os apóstolos. A Bíblia é lavrada num estilo único, presumindo-se costurada, no máximo, à duas mãos: a de Agostinho, com a empalhada de Platão.
A questão do centro do Universo
O elemento mais contundente é um fato inequívoco: naquela época todos supunham que o Sol girasse em torno da Terra, e, pior, que ela fosse chata. O Filho de Deus se incluiria em tamanha ignorância? Mas se a resposta for negativa, porque não avisou o pessoal? Não dá. A estória, infelizmente, não escapa ao que Popper tão bem observa - a questão da falseabilidade da hipótese.
O bode Judas
A imputação a Judas também dói. Dizem que na ceia o traidor beijou a face do procurado, a fim de apontar a vítima aos malvados soldados romanos. Mas não era flagrante a liderança? Quem sentava no meio da mesa? Quem poderia ter alguma dúvida, naquelas aldeias onde se conhecia até quem estava para nascer?
Também é dura, essa, pobre Judas, o bode-expiatório, exemplo negativo, mas comumente seguido, pela humanidade crédula e incrédula, mas principalmente hipócrita.
A ignorância de Pilatos
Tem mais essa, se me permite: não foram os soldados que prenderam e levaram Jesus ao chefe? E como este chefe lavaria as mãos? Seria idéia dos recrutas, à despeito da vontade do graduado? Surpreenderam-lhe? Ele nem sabia do quê, nem de quem, nem por quê? Como Lula, do mensalão?
Fico por aqui. Minhas lembranças são parcas, e circunscritas às decorebas que nos obrigam em tenra idade.
O papel de Belzebú
De certo modo ele é mais importante que Deus. Sua atuação independe de sparring. Deus, todavia, necessita contendor. Sem adversário, não há espetáculo; portanto, não acorre o público.
A Divina Comédia
Não dá para ser levada levada ao pé-da-letra, tampouco do ouvido. Nada tem de divina, por geopolítica, É ridícula a forma ameaçadora com que ela embreta o rebanho, desde então, ao sabor dos pastores-do-pasto-verde. Dante, diz Nietzsche, é "a hiena que versifica nos túmulos." (O crepúsculo dos ídolos, ou como filosofar a marteladas: 65)
Na divina comédia cabe a platéia se vestir de arlequim.
O estilo da Bíblia
É dialético. Se lembrarmo-nos de que Aristocles chegou ao sul da Itália para tomar a carinhosa alcunha de Platão, torna-se flagrante de onde o Livro Sagrado buscou inspiração: na doutrina órfica, aquela que separava o corpo da alma, colocando-os em confronto direto, ao gosto do estereotipado Primeiro-Secretário. A obra é toda montada em contrastes, no estilo do grego. A quantidade de vestígios ultrapassa o próprio número das páginas canônicas.
Um conselho cruel
"Se teu olho direito é para ti uma ocasião de queda, arranca-o."
Três Cruzes! Não conheço ninguém sem quedas. Basta sair do colo da mãe, e plaft!
Felizmente também desconheço alguém que tenha respeitado a advertência. Nem cristão, nem sacristão.
Deus materialista
A religião costuma estigmatizar o desejo. Os ascetas obtém o que acreditam. É por esta falha que o protestantismo emerge. Este propugna o trabalho árduo, mas oferece recompensa: a riqueza. Ou seja, Deus se assume materialista. Existe, todavia, uma passagem bíblica antagônica ao preceito protestante fundamental:
"É mais fácil um camelo passar pelo buraco da agulha do que um rico entrar no reino dos céus."
Neste caso, encontrarei os europeus e americanos apenas no habitat de Belzebú.
Outrossim, o que recairá aos condutores do Vaticano, sabidamente um Estado riquíssimo em ouro e obras de arte?
Não; desse modo também não dá. Pode até ser em sentido figurado, parábola, ou nem lembro como definir exatamente. Mas que é exagero, não resta dúvida. Jamais qualquer camelo passará por buraco nenhum. Nem filhote. É piada.
Deus como atração turística
O caminho de Santiago, a basílica de Nossa Senhora Aparecida, a de Lourdes, Notre Dame, Montmartre, Sacrè-coeur, St. Paul, Westminster, a de Milão, de Brasília, a praça da Sé, as igrejas de Salvador, o sítio de Lourdes, o santuário de Caravaggio, todos são points turísticos, de alta rentabilidade. Jerusalém ferve na Páscoa. Graças à Deus.
O agente do EstadoPelo fim do século XIX, o sociólogo Max Weber desembarcou em New York. Assombrou-se: Deus agia. Era Agente do Estado. Então, os governantes americanos começavam a amealhar parte da produção, em nome dos desvalidos. O Presidente foi assassinado; e Ted Roosevelt, empossado. Com o cowboy, o Imposto de Renda surgiu. E o dinheiro sumiu. Acredite em Deus. Trabalhe e enriqueça. E pague o compulsório pela ousadia. Mas isto é fichinha.
Um Brasil de audiência
Parece-me gente de tal inocência que, se homem os entendesse e eles a nós, seriam logo cristão, porque eles, segundo parece, não têm nem entendem nenhuma crença. E, portanto, se os degradados que aqui hão de ficar aprenderem bem sua fala e os entenderem, não duvido que eles, segundo a santa intenção de Vossa Alteza, se hão de fazer cristãos e crer em nossa fé.
Carta de Pero Vaz de Caminha, cit. Faraco & Mora, Para gostar de escrever. - São Paulo: Ática, 2002.
A História é pródiga em aquilatar a consistência de tamanha santidade. Eles conseguiram. Ora vivemos na Pátria de maior contingente católico do mundo. Se Deus não estiver por aqui, não estará em lugar nenhum. O adúltero ex-Presidente do Senado assim presumia, e apelou. Acreditava ser o único salvo-conduto que poderia lhe salvar.** Pois
este país tão fervoroso, capaz de invocar Suas Bênçãos nos parlamentos, nos tribunais e até na moeda, também é o mais agiota do mundo, para não falar da corrupção alastrada. O índice de criminalidade é compatível com as enormidades. As ovelhinhas são cruelmente tosqueadas. Vai ver é porque o clima é tropical. Alívio às coitadinhas.
Neste País quem trabalha não tem tempo de ganhar dinheiro. Féliz nunca trabalhou; só fingiu que estudou. Sua filha casou com banqueiro. O banco saqueou os correntistas. O tesouro dos piratas está no Caribe.
Mula por pouco tempo enganou, mas tem recursos para comprar mansão em Babojá. Vai ver provém de seu filho, megaempresário.
Já o ALLmirante é um felizardo. Trabalha duro. Não precisa, além disso, ganhar dinheiro. ALL e muitos brasileiros solapam a tese de Weber. Deus nada tem a ver com trabalho, muito menos com a remuneração dele proveniente.
Querer não é poderNa Idade Média, quando a peste assolava uma região, os sacerdotes reuniam o povo na igreja, às orações. Como resultado, a peste se proliferava com absoluta rapidez. Eis o que pode levar a fé desprovida de conhecimento.
E ainda dizem que a fé remove montanhas. A civilização não acredita; daí inventou o trator.
O Médico
Deus é muito requisitado para curar doença. Reabilitado, o doente morre por outra, ou atropelado. Não há milagre capaz de estender a vida por um século e meio, digamos. Muito menos de modo eterno. Só na eternidade.
Uma questão relativa
Max Planck, em seguida Niels Bohr, Erwin Schöeringer e principalmente Werner Heisenberg demonstraram a Einstein a incerteza atômica, provada pela quântica. No domínio do quantum não é possível chegar onde o cientista sempre quis: a objetividade completa. Bergson balançou, mas meu copiloto Albert escorregou na quimera, não perdeu a fé, e lascou: "Deus não joga dados!"
Por conta do preconceito inreojetado pelos ancestrais o Grande Relativo demorou assimilar, e depois gastou o resto da vida tentando a unificar a Quântica com a sua Relatividade. Desperdiçou seu inigualável talento. Tivesse o gênio se debruçado sobre seu compatriota Nietzsche, ou pelos vários outros autores, teríamos o caminho encurtado. O conhecimento essencial situa-se por maior amplitude - a unificação da ciências, sim, mas das exatas com as humanas! Sorry, meu parceiro. Ou melhor, obrigado.
Na defesa, ao ataque!
Uma das maiores forças capaz de induzir o ser humano ao apelo do extra-terreno advém da consciência de sua fraqueza. Então invoca o escudo: "Se Deus é por mim, quem será contra mim?"
Mas se Deus é por todos, onde arrumar contendor?
A bênção no esporte
Muito engraçado acontece nos vestiários de times de futebol. Quase todos tem capelas. Os jogos deveriam terminar empatados.
A convocação à guerra
Carlos Magno, as Cruzadas, a Inquisição, os Bórgia e Maquiavel, Napoleão e Cromwell, Mussolini e Hitler logo elegeram adversários; e Deus, imediatamente, foi convocado ao serviço militar. A negra cruz prenunciou o horror da Luftwaffe. Bin Laden também o mantém, vestido à caráter. Cabe, todavia, ao vulgar de Siracusa a primazia. O amante dos guerreiros espartanos dividiu o próprio ser: ele próprio era masculino e feminino. Para completar, dividiu ainda mais - em matéria e espírito. No âmago instalou o embate:
"Platão é essa fascinação de duplo sentido chamada 'ideal' que permite aos caracteres nobres da Antigüidade de se enganar a si mesmos e abordar a ponte que se chama 'cruz'." (Nietzsche, Crepúsculo dos ídolos: 103)
Do julgamento final
A desgraça do ser humano se tornou a graça de um mundano:
Então veio, parece, um sábio astuto,
o primeiro inventor do medo aos deuses.
Forjou um conto, altamente sedutora doutrina,
em que a verdade se ocultava sob os véus de mendaz sabedoria.
Disse onde moram os terríveis deuses das alturas,
em cúpulas gigantes, de onde ruge o trovão,
e aterradores relâmpagos do raio aos olhos cegam.
Cingiu assim os homens com seus atilhos de pavor,
rodeando-os de deuses em esplêndidos sólios,
encantou-os com seus feitiços, e os intimidou -
e a desordem mudou-se em lei e ordem.
Poeta Crítias, tio de Platão, líder dos Trinta Tiranos de Atenas, após a guerra do Peloponeso; cit. Popper, p. 160
O artista
Com a chegada da TV, Deus foi incorporado ao elenco. Carreia polpudos dividendos. Onde Ele atua, chega a fama e a riqueza. Bispo Vaicedo posa ao lado de Mula. Quanto custou nem o diabo sabe.
No teatro a performance rende alta bilheteria. A bispa Sonha e o apóstolo Estiveram, da "igreja" Binascer, detinham patrimônio de cerca de 130 milhões de reais, em uma única conta bancária. Os larápios sequer disfarçaram, ou escolheram laranjas, como sói acontecer.
Russell (p. 21), foi incisivo:
“Se houvesse um Deus, ele (ou ela, aquilo, ou eles) deveria ser julgado por crimes contra a humanidade.”
No caso da Binascer, como partner, ou comparsa.
Há que se dar o desconto: Sir Bertrand era mero pacifista; portanto, herege.
A suspeita Via-Sacra
Tirante os romanos, pelo que contam Jesus não desagradava a mais ninguém, ao contrário. Como é que, de repente, foi alvo de pedras, cusparadas, ponta-pés e impropérios de toda uma população nada romana, ainda mais de modo espontâneo, sem orquestração? E onde estavam seus apóstolos, neste momento? Por certo se trata do único movimento social sem condutor; ou, se havia, nada consta. Inacreditável.
Deus neoliberal
No dia em que aqui escrevia, Bento dizia:
"A lei de Deus é a única que pode garantir a liberdade do homem, porque a história demonstra que as maiorias podem equivocar-se."
Pronto. Nem a Vox Populi é mais a Voz de Deus. Isto sempre soube. Aliás, ouso afirmar: a maioria está sempre errada. Como bem diz Ortega Y Gasset, “a cultura de massa gera mediocridade e ignorância.”
Resta capitular o decreto do céu, por não democrático.
Na verdade a única atmosfera que garante a liberdade do homem, por definição, é o liberalismo. Este Papa, contudo, exceto a retórica, em nada parece liberal. Algo de errado acompanha o vento romano; vai ver, desde Florença.
A injustiça
A condenação popular a Friedrich Wilhem Nietzsche é invertida, descabida, precipitada. Quem decretou a morte de Deus, mas não Dele, propriamente, e sim da estorinha de Adão e Eva, foram Darwin, Marx e Engels; de certo modo, pesa a desconfiança sobre Copérnico, Descartes, Bacon, Galileu, e até sobre o suspeito religioso Newton. Nietzsche não pode ser incluído nesta lista. O vilipendiado filósofo visava apenas despertar o povo dos pesadelos advindos da tirania imposta ao mundo pelo venerado católico Napoleão; das artimanhas dialéticas de Hegel; da
Origem das Espécies; e
do Capital marxista, somados ao chicote de Bismarck, e sua guerra franco-prussiana. Tudo
doilética.
E
Assim falou Zaratustra (1961: 7):
Que é o macaco para o homem? Uma irrisão ou uma dolorosa vergonha. Pois é o mesmo que deve ser para o Super-homem: uma irrisão ou uma dolorosa vergonha. Percorreste o caminho que medeia do verme ao homem, e ainda em vós resta muito do verme. Noutro tempo fostes macaco, e hoje é ainda mais macaco do que todos os macacos.
Bismarck gerou o cabo Hitler, estrondoso animal. A parturiente? A própria irmã de Nietzsche, Elizabeth. Conheço o tipo. Nietzsche não, sequer supôs. Ele se interessava pelo motivo da
Santa Sé contra Galileu. Não cogitou que o inimigo morasse no quarto ao lado.
O fundamento do louco
O "filósofo do mal" conclamou o ser humano a se autoaperfeiçoar, em vez de ficar só tentando se equilibrar na corda bamba ardilosamente estendida entre o bem e o mal, na eterna luta da alma contra o corpo. Que o homem abandonasse o posto de escuta, que deixasse de esperar por benesses celestiais. Que fincasse seus pés na Terra, e tomasse as rédeas do próprio destino. Que se superasse, evoluísse, e fosse responsável por tudo, enfim, porque se
há malas que vem pelo trem, há malas que nunca vem. Não é prudente a estagnação:
O grande do homem é ele ser uma ponte, e não uma meta. Amo os que não procuram por detrás das estrelas uma razão para morrer e oferecer-se em sacrifício, mas se sacrificam para que a terra pertença, um dia ao Super-homem. Amo o que vive para conhecer, e que quer conhecer, para que um dia viva o Super-homem, porque assim quer seu acabamento.
Nietzsche, F., 1961: 10
O destemido pensador suplantou os grilhões da dialética, ainda no tempo dos falsos moralistas:
Será maior aquele que puder ser o mais solitário, o mais oculto, o mais divergente, o homem além do bem e do mal, o senhor de suas virtudes, o transbordante de vontade; precisamente a isto se chamará grandeza: pode ser tanto múltiplo como inteiro, tanto vasto como pleno.
Nietzsche, 1992: 120
Para Giacóia Jr., o impacto da filosofia de Nietzsche "advém de sua extraordinária clarividência":
"Ele pressentiu, em estado de gestação, as ameaças mais fatais de nosso tempo. Anteviu o panorama sombrio que poderia advir do projeto sociopolítico de uma sociedade de massas."
Nietzsche profetizou que a sociedade ocidental caminhava, desde então, para um nivelamento por baixo. Essa observação veio antecipadamente às grandes guerras, quando então milhões ficaram nivelados por baixo, a sete palmos. Alguém contesta?
A insensatez da inconsciência
Diante de tal farol, não havia mais como espichar o fio obscuro da perfídia. Eis a razão de colarem o dançarino na cadeira dos réus: internem o demente, seja na prisão, num hospício, ou já à cova. Rotulem-no: não presta. A feira é da ilusão!
Como seria mais fácil...
Se a estória fosse verdadeira. Seria só pedir."Pedi e recebereis." Quê barbada! Só em programa de rádio. Pois como dizem, Ele já nos deu a vida. O que mais cabe pedir? O que resta é fazermos por merecê-la, isto sim.
Infelizmente ou não, somos nós os responsáveis pelos nossos passos, desde a tenra idade, ainda que para eles necessitemos de estradas, de caminhos, de nossas circunstâncias. Mas essa dependência não atingiu os bandeirantes, por exemplo, de modo que permaneço fiel, sem o silogismo.
Posfácio
Não conte à minha mãezinha! Ela pensa que Deus me acompanha. Melhor assim.
*Epígrafe de A Gaia Ciência.
** Deus vai nos proteger, diz Renan Calheiros." (Jornal do Comércio. Porto Alegre, 5/10/2007, p. 23.)
Fontes
CHAMBERLAIN, Lesley, Nietzsche em Turim : o fim do futuro. Tradução de Pedro Jorgensen Jr. - Rio de Janeiro: Difel, 2000.
DAWKINS, Richard, Deus: um delírio. Tradução de Fernanda Ravagnini. - São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
GIACÓIA Jr., Oswaldo, Nietzsche. São Paulo: Publifolha.
DE MASI, Domenico. A economia do ócio / Bertrand Russell, Paul Lafargue; Domenico De Masi organização e introdução. Tradução de Carlos Irineu W. da Costa, Pedro Jorgensen Júnior e Léa Manzi. - Rio de Janeiro : Sextante, 2001.
NIETZSCHE, Friederich Wilhelm, Além do bem e do mal: prelúdio a uma filosofia do futuro. Tradução, notas e posfácio de Paulo Cesar de Souza. – São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
____________ Assim falava Zaratustra (Livro para toda a gente e para ninguém). Apêndices de autoria de Elizabeth Förster-Nietzsche. Tradução de José Mendes de Souza. - 5 edição. - São Paulo: Edições e Publicações Brasil Editora S.A., 1961.
____________A Gaia Ciência; em: Nietzsche, Obra Incompleta. Tradução de Rubens Rodrigues Torres Filho. Col. Os Pensadores. - São Paulo: Abril Cultural, 1974; p. 195.
____________Crepúsculo dos ìdolos, ou como filosofar a marteladas. Tradução Carlos Antonio Braga. - São Paulo: Editora Escala
POPPER, Karl, A Sociedade Democrática e Seus Inimigos. - Belo Horizonte: Ed. Itatiaia, 1959.
Ave, Cesar!
ResponderExcluirGostei do blog. Já está na minha lista de favoritos. Volta e meia darei as caras.
Abração
Matico
Parabéns pelo Blog
ResponderExcluirAcredito ser perfeitamente possível crer em Deus e mesmo assim não precisar buscar além das estrelas uma razão para estarmos aqui e para compreender o nosso compromisso com a Terra, com o próximo e buscarmos a meta de um dia sermos super.
É possível crer em um ente criador e, mesmo assim, acreditar que as mazelas deste mundo são reflexos das ações dos homens e fruto do acaso, sem precisar por Deus e o diabo na história.
Por obra do divino ou não, somos dotados de inteligência e devemos usá-la para buscarmos a excelência, o aperfeiçoamento, tirando dessa existência o melhor possível, através de nossos próprios esforços sem colocar a culpa pelos fracassos e desastres em Deus ou no diabo.
Já passou da hora do homem assumir o compromisso de ser senhor de si próprio, deixar de ser criança e assumir a responsabilidade de suas ações, sem culpar o “capeta” por seus equívocos e irresponsabilidades, desenhar o seu futuro e não esperar para desfrutar de paz, alegria, conforto, em uma futura e incerta vida.
O momento é agora. É preciso acabar com a idéia de que vivemos para sofrer e que somente será possível encontrar a paz e a felicidade em outra vida.
Esperar por outra vida é o recurso dos fracos que não têm coragem de enfrentar esta vida e buscar pela paz, felicidade e prazer de estar vivo.
Já dizia o poeta: quem sabe faz a hora, não espera acontecer.