segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Navegar & viver

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PASSO CURTA TEMPORADA lavando-me da poluição generalizada. Nao aguentava mais a sonora, a visual, o podre odor, esquadrões de elite, quadrilhas, cpmfs, icms, ágio para a passagem do pé, ou seja, pedágio, multas patrimoniais, tramóias da "justica" do trabalho, sedes judiciais faraônicas, mensalões, cuecões, concursos de cartas marcadas, renans, cobras, macacos, tucanos, maracutaias em tudo.
Trouxe algumas leituras. Uma explica a razão de tanto desconforto - as escabrosas manobras da Anta, de Diogo Mainardi. Depois de uns sete anos divulgando fatos os quais, apenas um deles, seria o suficiente para varrê-la, o sagaz jornalista se confessa inútil. E promete ir dormir, pelo restante do mandato. O alvo já foi atingido por tiros de tudo que é lado, mas nao cai. Antigamente tinha o joão-bobo, briquendo de guri. Cada soco que levava, voltava com maior ímpeto. Assim é a anta, para desespero do caçador.
Eu me confesso inútil também, mas ganho de Diogo em dois aspectos: minha Anta é mais esbelta. Como veadinho, é mais finesse. Coleto dados comprometedores já há 12 anos. Envelheço como Old Eight, mas ela nao. Gastei-os jogando as evidências em tudo que era meio de comunicação. Supus que encontraria algum Robert Redford, algum "homem do presidente". Dei o caminho das Índias, isto é, das Caymais. Também dei com os burros n' água. Encontraram o dossiê, mas alcunharam-no falso. O beneplácito vem com juízes escolhidos pelos indiciados. (Quack!) Vai ver, nao é mesmo o valor apurado. É muito mais. Pelos meus cálculos, uns 35% de todo o dinheiro circulante do Brasil veraneia (e hiberna) nas ilhas dos paraísos fiscais, por conta do professor. Tudo em notas de cem reais. Desde entao, jamais se viu o papel azul, exceto nas notas de dois, que o velhaco mandou fazer para o lugar daquelas.
Em dia de chuva, peguei sua longa e chata obra, a qual nem sequer lembro o título. É narcisista extremada. Pintou no ano passado, com o fito de justificar o alto custo que sua estada no Alvorada exigiu. É pródigo em tentar explicar seu incomparável turismo internacional arcado por mim e por você. Cada página é mais vulnerável do que a outra. Apresenta flancos de todo o lado, mas o flagrante maior é a falta de caráter. O gajo segue a linha da marxisma: como o marxismo foi desmascarado, agora ele cisma com mercantilismo.
Tão evoluído quanto o professor charlatão é seu discípulo, companheiro de diretas já, ora caça de Dioguito. Com muito menos, o operário comprou o superavião. O que nele acontece ninguém sabe, exceto os que recolhem o lixo.

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UMA PIADA PORTUGUESA, COM CERTEZA
Outro texto que apreciei se inspira em famosa poesia. Todavia, tal qual sói acontecer, o comentário parte de interpretação equivocada. É mal traduzida, do português ao próprio português! Pobre Fernando Pessoa, tornado colega de um Waldick Soriano.
Diz a famosa estrofe: ¨Navegar é preciso, viver nao é preciso."
Aquele articulista concorda. Para viver, mister se movimentar, navegar, na frase que julga metáfora.
Será que o poeta pregava uma ode ao suicídio?
Procurei outro arrazoado. Por esta há o óbice, mas ele pode dar cria:

Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: Navegar é preciso; viver não é preciso'. Quero para mim o espírito [d]esta frase, transformada a forma para a casar como eu sou: Viver não é necessário; o que é necessário é criar. Só quero torná-la de toda a humanidade; ainda que para isso tenha de a perder como minha.
www.jornaldepoesia.jor.br
Navegar pode ser mais imprescindível do que simplesmente viver? Mas como navegar sem viver? Ou será que a vida se restringe em navegacão? De certo modo é uma grande navegação, um rally, mas nesse caso teria que ser bem calculada.
Ora, não se trata disso. Seria excessiva metáfora, e de modo muito dúbia.

Então, o que quis dizer o poeta?
Sutilmente a poesia não se vale da metáfora, mas de memorável pegadinha.
A resposta pode ser apreciada pela conotação que a genialidade legou à eternidade: "navegar é preciso", mas no sentido de precisão, de correção de rumo, de tempo e espaço, não de necessidade. Se o barco andar à deriva, o destino ser-lhe-á fatal.
"Viver nao é preciso" quer dizer ser impossível alguém passar pela vida de acordo com um planejamento inicial, e cumpri-lo à risca. Diverge da navegação. Navegar e viver sao contrastantes, não somente pelo negativa de um. Incidentes se abatem sobre a vida de todos, mas ao navegar são evitados pelos mapas e controles. À vida acorrem milhões de vetores externos, até internos, que contribuem para alterar o curso individual, e mesmo social. Por isso que viver nao é preciso. É incerto. Ñavegar ao léo é certo: certamente levará ao encalhe.
A versão corriqueira da malícia de Fernando Pessoa demonstra que merecemos a piada. Os portugas, todavia, não. Eles RIEM de nós. Como de resto, o globo.
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