quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Reversão à vista!

"Esse aspecto genético do paralelo entre o desenvolvimento científico e o político não deveria deixar maiores dúvidas."
Thomas Kuhn
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A TEORIA DA RELATIVIDADE e a mecânica quântica evidenciaram que as ciências tinham erigido uma Babel. As humanas, convocadas à inglória empreitada, converteram o ser num objeto programado ao fim idealizado, triste fim. No estupendo lapso, o poder foi exercido ao gosto dos velhacos e tiranos.
Maquiavel, Galileu, Bacon, Descartes, Newton, Hobbes, Rousseau, Bentham, Mill, Proudhon, Hegel, Malthus, Darwin, Freud, Comte, Keynes e Marx são as estrelas mais brilhantes da via láctea do inolvidável Platão. A montagem milenar, força concentrada de tamanhas brilhaturas, varou os tempos precipitando os povos à insanidade, desde as peripécias do Tirano de Siracusa* ao obscuro César Bórgia; do galante Cromwell, à sangrenta Revolução travestida democrática, daí ao Corso e às guerras civis e mundiais que se sucederam. Malgrado Napoleão morrer envenenado; o linchamento de Mussolini; os suicídios de Hitler e Getúlio; a bomba atômica; e o colapso soviético, suas perfídias ainda não foram enterradas. Até hoje os arranjos impregnam quase a totalidade das constituições, sempre conservadas e até aprimoradas pelo poderoso de plantão.
O inferno curte a festa, mas pelos derradeiros acordes. O Sol já está raiando. Os falsos brilhantes perdem o brilho emprestado pela própria ciência que outrora lhes oferecia guarida. É tempo de abandonar o salão:
"A civilização emergente estabelece um novo código de comportamento para nós e nos transporta para além da padronização, da sincronização e da centralização, para além da concentração de energia, dinheiro e poder. Essa nova civilização tem sua própria e distinta concepção de mundo, maneiras próprias de lidar com o tempo, o espaço, a lógica, e a relação de causa e efeito."
(Ormerod, p. 194.)
O homem está faminto e sedento após tanto sacrifício, tanto trabalho inútil, estéril, até destrutivo. Começa a ganhar coragem para perguntar por aquilo que necessita: interligações dinâmicas, sentido de valor individual, oportunidades compartilhadas, efeitos:

"Nosso relacionamento com os símbolos de autoridade do passado está se modificando, porque estamos despertando para nós mesmos como seres, cada qual dotado de governo interior. Propriedades, credenciais e status não são mais intimidativos. Novos símbolos estão surgindo: imagens de unidade. A liberdade canta não só dentro de nós, como em nosso mundo exterior. Sábios e videntes previram esta segunda revolução. O homem não quer se sentir estagnado, o que deseja é ser capaz de mudar." (Richards, M. C., The crossing point,1973; cit. Ferguson, p 57/8. )
Naisbitt (p.96) reconhece:
"De fato, a vida no espaço cibernético parece estar se moldando exatamente como Thomas Jefferson gostaria: fundada no primado da liberdade individual e no compromisso com o pluralismo, a diversidade e a comunidade."
Einstein apreciaria viver nesse espaço. O "Grande Relativo" sublinhou:
“A liberdade é uma necessidade fundamental para o desenvolvimento dos verdadeiros valores.” (Cit. Brian, p. 253.)
A expansão é simplificadora:
O fato significativo é que estamos, agora, deslocando-nos para futuras formas poderosas de processamento de conhecimento que são profundamente antiburocráticos.” (Toffler, p. 199.)
A velocidade das comunicações, e, por conseqüência, das alterações, as quais já Justificarnão conhecem tempo, nem barreira, sequer distância, indica que o político tem que ser sua imediata expressão, sob pena de triste fim, soterrado nos escombros de sua própria morada. Resta-lhe despir-se dos adereços e abandonar o palco ilusionista no qual florescem as ervas daninhas e o podre odor suavizado nas gotas dos falsos ideais.
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* Dionísio (405-367), "aluno" de Platão, "taxava tão pesadamente os cidadãos que, segundo Aristóteles, chegava a confiscar toda a propriedade deles." (Pipes, p. 281.)

FONTES
BRIAN, Denis, Einstein, a ciência da vida. Tradução Vera Caputo.- São Paulo: Editora Ática, 1998.
FERGUSON, Marilyn, A conspiração aquariana.Tradução Carlos Evaristo M. Costa, 10 ed.- Rio de Janeiro: Ed. Record, 1995.
KUHN, Thomas S., A estrutura das revoluções científicas. Tradução Beatriz Vianna Boeira e Nelson Boeira. - São Paulo: Ed. Perspectiva, 1982
NAISBITT, John, Paradoxo global. Tradução Ivo Korytowski. - Rio de Janeiro: Ed. Campus, 1994.
ORMEROD, Paul, A morte da economia. Tradução Dinah de Abreu Azevedo. - São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
PIPES, Richard, Propriedade e liberdade. Tradução de Luiz Guilherme B. Chaves e Carlos Humberto Pimentel Fuarte da Fonseca.- Rio de Janeiro: Record, 2001.
TOFFLER, Alvin, Powershift: as mudanças do poder: um perfil da sociedade do século XXI pela análise das transformações na natureza do poder; Tradução de Luiz Carlos do Nascimento e Silva.- São Paulo: Ed. Record, 1992.

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