Mas em nossa época, a tirania das vastas organizações-máquina, governadas desde cima por homens que nada sabem e a quem nada importa se as vidas daqueles que controlam estão matando a individualidade e a liberdade de pensamento e forçando os homens, cada vez mais, a se amoldarem a um padrão uniforme.
RUSSEL, Bertrand, 2001:20
VON MISES (cit. LEONI, B., A liberdade e a lei, p. 167) .compreende o processo, cruzador dos séculos:
O principal erro do pessimismo tão alastrado é a crença de que as idéias e as políticas destrutivas de nossa era emergiram do proletariado e são uma 'revolta de massas'. Na verdade, as massas, precisamente por não serem criativas e não desenvolverem filosofias próprias, seguem líderes. As ideologias que produziram todos os danos e catástrofes de nosso século, não são uma façanha da turba. São proezas de pseudo-intelectuais e pseudo-estudiosos. Foram propagandas das cadeiras das universidades e dos púlpitos; foram disseminadas pela imprensa, pelos romances, pelo rádio. Os intelectuais são responsáveis pela conversão das massas ao socialismo e ao intervencionismo. Para reverter o processo, é preciso mudar a mentalidade dos intelectuais. Então as massas os seguirão.
As sentinelas nacionalistas obtinham no lago positivista o espelho da certeza sociológica, o “ver para prever”, “prever para prevenir” e isto já mencionamos sobejamente. Então, prevendo o adversário ideológico manifestado através da
Internacional Socialista, a inversora do sentido, o negativo do positivo, a ampulheta do tempo histórico virada pela perspectiva dialética e equilibrada no eixo linear de disputa, repete-se a máxima de
MAQUIAVEL: “para tudo fazer, necessário que o poder tudo possa”.
Sonhava-se que o poder total pudesse mesmo regular todos os mecanismos sociais, desde que pautado em razão objetiva, quando se sabe que ele, o poder, sempre foi movido por vontades subjetivas. Benevolentes ações governamentais, não fugindo às regras, embalaram-se em redes de represamento popular com os muros dos aparatos estatais. O Estado unitário, “monstro concebido na Renascença, dado à luz por
ROBESPIERRE, evoluído em Napoleonismo”, concentração enfeixada de poderes, ligava tudo a uma só engrenagem, submetendo a um só impulso todas as forças e toda a vida de uma sociedade, obrigando aceitação de cada um. Nada deveria refrear o poder, muito menos concepções relativistas ou parlamentares.
Em que pese a presença marcante do iluminado
TOCQUEVILLE na Câmara dos Deputados, a contumaz praticante nostálgica, mais uma vez, buscava nas glórias passadas a solução de seu futuro, reavivando o execrado mito napoleônico, a glorificação do herói romântico, magistral e triunfante. O novo rei
LUÍS FELIPE primeiro manda buscar as cinzas de
BONAPARTE e as deposita, com toda a glória, debaixo da cúpula do já tradicional Inválidos, motivando o povo na base do “Olha o que eu trouxe para vingar vocês”.
A lenda refez-se: passadas somente quatro décadas e de novo, através de revolução, voltava o despotismo, período cognominado cesarismo, evidente alusão ao famoso imperador romano, claro demonstrativo de que a França regredia cada vez mais, no tempo, no espaço e nos costumes concernentes. E tome
NAPOLEÃO, agora em dose dupla, um de cada vez, é claro, não tão plenipotenciários, sem ornatos ou grandezas, submissos à supervisão real, quanto mais não seja, para que o próprio Rei não sentisse a guilhotina da antevéspera do original. O povo francês aceita. Mais uma vez, se demitia do poder.
O novo proprietário do Estado não hesita em praticar o enterro da liberdade em nome da segurança e da distribuição de “felicidade”. Diante do crescente terror, mister aquele governo uno, coeso, centralizado, esquema que veio atravessando séculos, desde o
Tirano de Siracusa, ao
Império Romano, daí a
CARLOS MAGNO, BÓRGIA, CROMWELL, etc, por fim
MAO TSÉ TUNG, com as inconfundíveis características:
1) A liberdade individual, alvo prioritário, suprimida em troca da lei de segurança nacional.
2) A liberdade de imprensa negada em nome do disciplinamento, impedindo serem decisões e acões governamentais conhecidas pela população.
3) A liberdade eleitoral extinta pela tutela processual de candidatura única.
4) A “liberdade” concedida aos representantes parlamentares, perfeitamente dispensáveis até por falta de matéria.
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A convulsão proletária foi desviada à “defesa” nacional: primeiro, contra a Rússia, na Criméia; depois, contra a Itália; no além-mar, contra o México. E por iniciativa do clone ou não, a retomada das hostilidades germânicas, desta feita atirando as tropas ao infortúnio contra
BISMARCK, que por sua vez espreitava a chance da desforra:
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A derrota frente a Napoleão e a resoluta defesa por parte dos intelectuais da supremacia da cultura germânica converteu-se em ideologia popular: surgiu o sentimento de que a verdadeira força de uma nação residia no âmbito do espírito e da cultura. Segundo Soppè, entre 1850-80 dominava na ciência alemã um materialismo mecanicista, segundo o qual a realidade obedeceria a leis inerentes às próprias coisas, matéria e força seriam constituintes últimos do real. Dentro desta perspectiva, o objetivo da ciência seria o estudo da matéria com vistas a descobrir as leis mecânicas que regem o mundo.
PEREIRA, JULIO CESAR: 38
OTTO era muito hábil para tentar abolir o socialismo emergente só com repressão ou choque frontal. A idéia era “roubar” parte da bandeira. BISMARX encetou a cantilena ao posar de combatente contra latifundiários e capitalistas, neste caso utilizando parte do argumento socialista, mas para aplicação exclusivamente nacionalista (?!).
Bismarck compreendeu muito bem o partido que poderia tirar das idéias do socialismo de cátedra: usou-as como um instrumento de luta contra o socialismo e como meio de expandir o poderio do Estado. HUGON, P., História das Idéias Políticas: 279
Malgrado
conservador, aristocrata, e monarquista, BISMARCK foi o introdutor de leis de acidentes de trabalho, o seguro de doença, o pioneiro em valorizar os sindicatos. Naturalmente ao aristocrata o que menos importava eram as condições dos trabalhadores, mas a manutenção de um exército leal e agradecido, saudável e disposto a morrer por seus caprichos.
.Sempre de olho nas guerras e, como no período da Renascença, objetivando soldados leais e fortes, o "marechal" soube se colocar “a favor” do trabalhador (!?) contra a doença, velhice e outras atenções, “de modo que estes senhores (socialistas) façam soar em vão o canto das sereias”.
...O "
Chanceler de Ferro" (
Eiserner Kanzler) primeiro fez todas as vontades: instituiu a aposentadoria, e aquelas várias leis sociais; depois, mandou-os aos campos talados de minas e canhões, para que realizassem o supremo sacrifício.
HEGEL (Fenomenologia dello Spirito, v. II: 15; cit. BOBBIO, N., Estudos sobre Hegel, Direito, Sociedade Civil e Estado: 48) também neste particular havia deixado suas recomendações. Assim ele delineou o caminho (do precipício) para o “êxito” dos governos junto a seu povo:
Para não deixá-los lançar raízes e enrijecerem-se em tal isolamento, para não deixar desagregar o todo e envaidecer o espírito, devem sacudi-los de quando em quando, em seu íntimo, com as guerras; devem fazê-los sentir, com aquele trabalho imposto, o seu senhor: a morte.
A guerra deixa ao Estado o encargo dos créditos das vítimas de guerra. Os governos adotam o princípio de que as vítimas de guerra fazem jus à solidariedade da nação. Direitos logo materializados pela carta de ex-combatente, pelo estabelecimento de pensões. Todos os anos parte apreciável do orçamento público se destina ao pagamento das pensões de guerra.
RÈMOND, R., O Século XX, de 1914 aos nossos dias: 37
O jovem
EINSTEIN (cit. THOMAS, H. e THOMAS, D. L., Einsten, perfil bibliográfico, A Vida do Grande Cientista: Einstein por Ele Mesmo: 53) chegou a conhecer o
chanceler:
"Mas quando o assunto das palestras se desviava para a política, e as pessoas começavam a falar em Bismarck e na ascensão do Império Alemão, Albert se assustava e saía da sala.”
BISMARCK era consciente de sua maldade, e tentou o suicídio. Suas ações tiveram as mais graves conseqüências, assim apanhadas por
EINSTEIN (New York Times, 23/6/1946; cit. PAIS, ABRAHAM, Einstein viveu aqui: 276): “Se a Alemanha não tivesse sido vitoriosa em 1870, que tragédia para a raça humana teria sido evitada!”
Logo a Alemanha veria o rio de sangue virou em delta:
Em Munique centenas de trabalhadores ocuparam estações ferroviárias e praças, enfrentando um exército de soldados e policiais. Arames farpados e barricadas brotavam por toda a parte, enquanto rajadas de metralhadoras varriam as ruas. Os vizinhos se acusavam mutuamente: 'Seu maldito bolchevique!' Ninguém estava a salvo dos delatores. Os revolucionários presos eram tratados como traidores. Em questão de semanas, os membros da Guarda Vermelha perceberam que haviam perdido sua mal concebida tentativa de tomar o poder; mas render-se significaria possivelmente enfrentar um esquadrão de fuzilamento. A loucura continuou assolando as ruas.
DIGGINS, J.: 271
Apesar do auxílio soviético, esta rebelião foi esmagada.
ROSA DE LUXEMBURGO e
KARL LIEBKNECHT que convocaram a luta nas ruas, ali mesmo tombaram. Tiveram o pouco de suas vidas jogadas em vão. O ambiente se adequava à demência de ambos os lados, confirmando os prenúncios de
SEIPPEL, e mesmo de
SPENGLER. Na cervejaria daquela Munique sentaria mero cabo, liderando mesa com sete serviçais, a fundar a obra requerida por
HEGEL, FICHTE, WEBER, SPENGLER, e os positivistas logicos, de Viena. O
Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães nascia com o nome sugerido, e já com chefe: o prático e carismático moço
ADOLF..
Naturalmente por total ignorância, tais estratagemas encantaram os povos germânicos, russos, e italianos, além dos próprios franceses. Desnecessário aquilatar o preço que tem sido cobrado de todos - duas guerras mundiais, dezenas de internacionais, e centensa de revoluções civis, tudo em nome social. Agora essa dos desorientados orientais coreanos, completando
a melhor idade do
carma ocidental.
Eis o grande dilema vivido desde então: tentando escapar da arapuca de
HOBBES, do
Leviathan, para quem o Estado incorporado em algum absoluto é o grande protetor, a civlização ocidental, e como vemos boa parte da oriental, escorrega na perfídia de
ROUSSEAU, que alterou apenas a origem do poder, mas não o poder, por entregá-lo ao sabor e feixe de um premiado, "ungido por ação popular."
Por um ou por outro, apuramos o bizarro: o cidadão se despe e se entrega totalmente à vontade do feitor, que se resume no usufruto das benesses do poder, e isento de qualquer responsabilidade, venha ele da esquerda ou da direita, do socialismo ou do fascismo.Pela música e conforto, lá se vão as gentes embarcando nos trens, com destino ao além: