domingo, 8 de agosto de 2010

A centralização das emissoras



A Record é a única rede de TV aberta que está sempre presente na cena do crime.  
Jornal Correio do Povo, veículo da rede Record, 8/8/2010
Não se usava micro-ondas. Para atingir uns 30% do território nacional, as rádios vinham equipadas com transmissores de potência máxima.
A solução se fez mais óbvia e sensata: liberou-se para que cada cidade tivesse lá quantas emissoras quisesse, ou pudesse, naturalmente com o compromisso de elaborar a programação.
As rádios transmitem assuntos de interesse direto da comunidade onde atuam, inclusive e especialmente, no que tange ao musical. Apreciador de música caipira diverge do sambista.
As emissoras tem que estabelecer vínculos comerciais na localidade coberta por suas ondas. Os assuntos em pauta, também conforme a região, variam ainda mais. Ao amazonense o que pode interessar uma reportagem sobre gado de cria?
As rádios são os porta-vozes da comunidade. Elas falam com sotaque local, e fortalecem a cidadela. Infelizmente, contudo, o veículo vem perdendo o caráter regionalista, em prol da ideologia dominante:
"Segundo a reportagem, a maioria delas (57%) beneficia veículos ligados a políticos ou a igrejas." Folha, 16/8/2010
Pior ainda se dá com emissoras e retransmissoras de TV.
Tratar dezenas de milhões de ouvintes e telespectadores a partir dos dois centros do país significa extinguir as tradições do restante, os ideais esparsos, os costumes diversos, muitas vezes até mais valiosos, justamente por serem peculiares, raridades.

O Tejo desce da Espanha
E o Tejo entra no mar, em Portugal
Muita gente sabe disso.
Mas poucos sabem qual é o rio de minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
Pelo Tejo vai-se para o mundo.
Para além do Tejo há a América.
E a fortuna daqueles que a encontram.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.

Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio de minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.

Alberto Caeiro, O guardador de rebanhos.
Rádios e tvs tem primado pela ignorância. Elas tem consciência disso, mas isso não lhes importa. Quando o objetivo é o poder, o meio, a forma, não vem ao caso.
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