quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Armação contra Robinho

Jornais britânicos sóem faturar em cima de factóides, meias-verdades capazes de iludir a massa*. É comum naquele pequeno rincão, sempre envolto em brumas, ávido por novidades, vir à baila qualquer sensação, coisa provinciana. Os vanguardeiros e intrépidos bretões não dispõem de praias, nem de sol, muito menos de carnaval. São conhecidos por sua fleugma, e seriedade. Então para diluir um pouco tanta aridez se reúnem em herméticos pubs, em panelinhas, em assuntos tão escassos quanto o tempo disponível ao lazer, e os próprios limites prediais.
Assim é que tablóides e paparazzos fazem a alegria daquela gente de pouco assunto.
Robinho desta feita foi acusado de "estupro a uma moça de apenas dezoito anos", como se a idade da suposta vítima tornasse este suposto crime mais hediondo. Ora a idade de uma parte tem que estar relacionada com a outra, para haver alguma identificação, ou configurar discrepância. Tal como é propalada, supõe-se que provavelmente um perverso ancião tenha ocasionado o delito. Robinho tem apenas 25 anos. Começa por aí. Mas isto é apenas uma pista, para aos poucos ir se desnvendando a chanchada armada.
Onde teria acontecido o episódio? The Space, Leeds, ponto de encontro de jogadores.

O diário The Sun, por certo sofrendo algum eclipse, disse que Robinho estava acompanhado de outros atletas na data em que a estudante afirma ter sido abusada. Ora, uma tentativa de estupro generalizada? Ou apenas de Robinho? E, ademais, não havia mais ninguém no PUB? Só a vítima e os tarados do Manchester? Pois seria a primeira vez que um estuprador resolveria mostrar seu talento em local público, ainda mais sobejamente guarnecido!
Não; essa é dura. É de amargar.
O diário Daily Mail publicou declarações de Pelé dizendo que o Chelsea tinha tido sorte em não contratar Robinho. Pelé negou, disse que não tinha dado nenhuma entrevista, mas o Rei não controla as palavras da mesma forma que o fazia com a bola. Pode muito bem ter dito isso enquanto estava de passagem por algum lugar, numa conversa de 20 segundos e se esqueceu no momento seguinte. Pode ser qualquer coisa. Marcelo Damato
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No caso presente, Pelé colheu o ensejo e renovou a responsabilidade ao jogador que saiu do mesmo reduto que ele:
"Coisas desses tipo me deixam muito triste. É uma notícia muito ruim, porque temos lutado para construir uma boa imagem dos brasileiros no exterior. O que aconteceu com Robinho, Adriano e Ronaldo fecha as portas para os jogadores brasileiros."
Não existe coisa mais fácil do que acusar quem quer que seja. Mas quem é S. Exa. para tecer um prejulgamento deste quilate, ainda mais sobre uma pessoa? Ademais, jogar a responsabilidade coletiva sobre um indivíduo não parece exagero?

O Rei nunca foi dessas sumidades comportamentais. Na estréia não queria enfrentar a botina soviética. Durante sua trajetória várias vezes foi caçado, mas também não foram poucos os cotovelaços distribuídos a seus marcadores. Em sua vida pessoal, existem paternidades jamais assumidas, vários casamentos, filho preso por drogas, ou seja, mal-educado, passagens estranhas em ministérios da República, isso para não falar na malfadada "lei de alforria" aos jogadores, a qual priva os clubes e os próprios jogadores de abiscoitarem lucros com vendas de passes.
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Pelé parece cultivar dor-de-cotovelo. "Espelho meu, quem é melhor do que eu?";
Robinho diverge das comparações arroladas. É um atleta que nunca foi expulso de campo, sequer teve alguma punição por ato de indisciplina. Diferentemente dos atletas citados, não tem na força, na impulsão, no rush, na velocidade, no ímpeto, seus maiores atributos. Estes recaem em apurada técnica, própria de quem age com extrema felicidade e leveza; portanto, completamente incompatível com o ato que lhe é imputado. Sua personalidade não afina com o asco que lhe denigrem.
O que parece flagrante é que esse Sun nada mais é do que um papagaio-de-pirata, desses que se empuleram nos ombros dos grandes artistas, no fito de poder tirar vantagem. No caso, acompanhado de uma servil papagaia. E o pior é que com a repercussão, vem um bando atrás. Ora alguns brasileiros também, como Pelé e claques. À acusação, colocam todos no mesmo saco, como se a profissão definisse a personalidade. Não falta quem condene o passado pobre, a falta de estrutura psíquica, psicológica, a imaturidade, carência de cultura, e tal dos jogadores, para que no contraste se sobrassaia a grande capacidade do acusador. Mostram-se sociólogos de quintal:
Romário Baixinho, Edmundo Animal, Adriano Imperador, Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho e agora a mascote Robinho, com sua cara de assustado. Saíram de famílias pobres, sem instrução foram para países com outro idioma, despediram-se de uma vida divertida de praia, churrasco, botequim, batuque. Não sabem o que fazer com tanto dinheiro. Deviam se engajar mais em causas sociais. Mas o que rola mesmo é balada, álcool, outras drogas, e 'as minas'. São lindas, gostosas, muitas piranhas e aproveitadoras.
RUTH DE AQUINO
diretora da sucursal RJ da revista ÉPOCA.
Robinho tem sido vítima de acontecimentos estranhos ao futebol, e não é de hoje.
O Deic (Departamento de Investigações contra o Crime Organizado) de São Paulo prendeu o sequestrador Fábio Fernandes da Silva, 22 anos, conhecido como "Vampirinho", participante do seqüestro de Marina da Silva Souza, 44 anos, mãe do jogador santista Robinho. A região foi palco do "capítulo final" do seqüestro, quando na noite do dia 16 de novembro, o pai do jogador teria pagado R$ 200 mil de resgate. O pagamento teria sido feito na Dutra, em trecho entre São José dos Campos e Jacareí.
Robinho vai tirar tudo de letra, de novo, como lhe apraz.
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*LONDRES, 6/2/2009 - Marco Materazzi ganhou uma indenização por calúnia feita por tabloide britânico. O sensacionalista havia dito que o italiano tinha insultado Zinedine Zidane o chamando de "filho de prostituta terrorista" na final da Copa do Mundo de 2006. A ofensa teria levado o francês a dar uma cabeçada no zagueiro, provocando a expulsão do meio-campista. Não foi revelado o montante da indenização, que foi descrita como "substancial". O jogador da Inter de Milão teve, portanto, êxito na ação impetrada contra o The Sun, no Tribunal Superior de Londres. O processo acusava o jornal de ter reportado incorretamente o que Materazzi disse para Zidane.

NA MOSCA:
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Nav' s ALL foi ao futuro para antecipá-lo para você. Missão cumprida:

A polícia inglesa anunciou que o atacante Robinho, acusado por uma mulher de 18 anos de abuso sexual em uma boate na cidade de Leeds, em janeiro, não será indiciado criminalmente pelo caso. A polícia de West Yorkshire investigou a acusação, e a Promotoria britânica resolveu não levar o caso adiante após analisar os depoimentos. Porta-voz de Robinho, Chris Nathaniel comentou a liberação:

"Robinho é um homem de família, trabalhador, extremamente apaixonado por futebol. Ele quer agora concentrar sua atenção no Manchester City para ajudar sua equipe a ter um final de temporada de sucesso."

Folha de São Paulo, 6/4/2009




quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Os bilhões à disposição

As grandes nações não são jamais arruinadas pela prodigalidade e
mau emprego dos capitais privados, embora, às vezes, o sejam pelos
públicos. Na maior parte dos países, a totalidade ou a quase totalidade
das receitas públicas é empregada na manutenção de indivíduos não
produtivos [...] Toda essa gente, dado que nada produz, tem de ser

mantida pelo produto do trabalho de outros homens. SMITH, A., Inquérito
Sobre a Natureza e as Causas da Riqueza
das Nações, vol.I, 1999: 599.
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As políticas mundiais de crescimento induzido pelo Estado tiveram exatamente o efeito oposto do que pretendiam: tinham aumentado, e não reduzido, o custo da produção de bens e serviços e tinham abaixado, e não aumentado, a capacidade das economias de conseguirem uma produção vendável.
SKIDELSKI, Robert: 14
Barack Obama pretende dispor bilionária intervenção, mas encontra oposição dentro de seu próprio partido. Acusa politicagem. Não creio. Por um lado o fenômeno logra um lado humanista, sincero, leal, amante do justo, de notável saber jurídico. De outro, todavia, de contabilidades, de economia, talvez careça de melhor formação, ainda que pela história possa deter muita informação. Mas a história muitas vezes realça detalhes insignificantes, enquanto solapa motivos essenciais, seja por desconhecê-los, ou por interesse de quem a relata. Muitos não desconhecem que a microimaginação da macroeconomia só sabe apelar à diabruras e metonímias. A cavada depressão serviu aos ardilosos pilares do New Deal , sustentáculos de inúmeros travestis econômicos.
Por qualquer resultado, e o provável é a anuência da proposta, nada ficará igual, nem nos EUA, tampouco entre as outras nações. Malgrado as independências promulgadas especialmente durante o XIX, e ainda esforço com a implantação do Euro, as economias tem no dólar o diapasão ao comércio internacional. Todos acompanham com ansiedade o desfecho americano. Corremos o risco de trocar a provocada crise recessiva, por inflação proliferada:
Aumentos rápidos da quantidade de moeda provocam inflação.
Quedas acentuadas provocam recessão.
Esta é uma proposição igualmente bem documentada.
FRIEDMAN, M.: 242

Rezemos.
* * *
O exemplo da derrocada de 1929
O poder excessivo do setor
financeiro é o motivo pelo qual
o mundo chegou à crise atual.

RUSSELL, B., O moderno Midas, 1930:2002: 69
Estudos econômicos englobam administração, produção, comércio, meios de pagamento e serviços, mas não é a primeira vez que tudo se torna refém do sistema financeiro. Prepondera a ficção.
Há século o ouro balizava as transações. Era um produto conhecido mundialmente, raro, e impossível de ser adulterado. No fito de agilizá-lo, ele era "repartido", e representado por "vales", as moedas em circulação.
Marx se encantou com as previsões de Malthus e anunciou o inexorável fim do capitalismo. Se diante do crescimento da população haveria escassez de alimentos, o mesmo acarretaria o colapso ao capitalismo.
Por todas essas épocas se julgava que a matéria fosse estática, e a energia sequer era considerada, aliás, totalmente desconhecida.
Naturalmente as previsões malthusianas, ainda que apropriadas à países subdesenvolvidos, não se aplicam na maioria das nações, de maneira que tal falseabilidade arrasa com a hipótese científica. Quanto as previsões de Marx, essas foram ainda mais facilmente elididas, mercê das artimanhas keynesianas:
Quando ficou amplamente evidenciado, há cerca de 50 anos, que a convertibilidade em ouro era apenas um método de controlar a quantidade de uma moeda, sendo este fator que realmente determina seu valor, os governos logo ficaram ansiosos para escapar a essa disciplina, e o dinheiro tornou-se, mais do que nunca, um joguete na mão dos políticos.
MISES, Ludwig Von, cit. BICHIR: 82
Na década dos gângster, imediata ao pavoroso golpe soviético, a sinistra previsão de Marx fazia tremer até esquimó. Roubos de toda a espécie, corrupção desenfreada, aumento de impostos e vertiginosas taxas de juros estrangularam a circulação e compuseram o quadro-negro onde se escreveria a solução de Keynes. Por que a Casa da Moeda coloca em circulação apenas o dinheiro que se transforma em ouro, se toda a produção também se considera riqueza? Se falta dinheiro ao povo, é só mandar fabricá-lo, e distribuí-lo à vontade. Adeus, foice-e-martelo:
..A Floresta Negra
....,,,,,,,,,,,,,,,,,,..Qualquer gasto é preferível a nenhum gasto. Abra buracos e os tape de novo. Ou pinte a Floresta Negra. Se não puder pagar aos indivíduos um salário para que façam alguma coisa de útil, pague-lhes para que façam algo de idiota. Gastando-se assim a poupança, elevam-se os salários, o que aumenta o consumo que, por sua vez, aumenta a produção de bens e serviços.
KEYNES, J. M., cit. MISES, L. von, As Seis Lições: 52; HAYEK, F., Os Erros do Socialismo - A Arrogância Fatal: 84
Desse modo na década de trinta surgiram as grandes ditaduras mais ou menos radicais, e com elas seus sustentáculos - os grandes bancos e trusts, todos produto deste subvertido mercantilismo, ainda mais danoso que o original, pelo blend da realidade com a ficção, da produção com apenas seu projeto, do trabalho com a malandragem.
As águas turvas se misturavam com as cristalinas, mas estas, por hegemônicas,
absorveriam a torpeza, de modo que o vírus se espraiou, mas não se extinguiu.
Os americanos inverteram o preço: em vez de sacrificarem a produção por causa da
falta de moeda, resolveram sacrificar a moeda, desde que ela alavancasse a produção.
Com o tempo a produção seria forte para reanimar a salvadora:
Para combater a grande depressão, John Maynard Keynes, como nos recordamos, sugeriu ao governo deficitário que pusesse dinheiro no bolso dos consumidores. Com os bolsos forrados, os consumidores passariam a comprar coisas. Por sua vez, isso levaria os fabricantes a expandir suas fábricas e a admitir mais trabalhadores. Adeus desemprego. Os monetaristas, ao contrário, receitaram a manipulação de taxas de juros ou do suprimento do dinheiro, a fim de aumentar ou diminuir o poder aquisitivo de acordo com as necessidades. Mas há uma falha muito mais fundamental nas velhas estratégias: elas ainda se concentram na circulação de dinheiro, em vez do conhecimento.
TOFFLER, A. & TOFFLER, H.: 64
Tal oriente não levaria seu trem muito longe, mas o astuto tinha a resposta:
"A longo prazo estaremos todos mortos."
O que reanimou a moeda americana não foi sua produção, direcionada à guerra, mas fundamentalmente os despojos alemães e japoneses, entre os quais, de mais valia, os conhecimentos produzidos naquelas grandes nações.
Ora revivemos semelhante quadro, levado a cabo por semelhante estratégia, mas sem nenhuma razão, sequer da ficção. Marx se encontra sepultado, e a questão islâmica não tem tamanha gravidade. O que vemos assemelhado, porém ainda mais recrudescido é um fascismo mercantilista, cujo maior predicado é promover uma corrupção desenfreada, nos EUA e alhures. Este é o maior desafio a ser superado.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

As desconstituições das constituições


A tendência geral de todos os homens é um perpétuo e irriquieto desejo de poder e mais poder que cessa apenas com a morte.
THOMAS HOBBES *
Getúlio, Perón, & Cardenas
Assentamos em que um príncipe não pode deixar de cumprir as leis sancionadas
nas Cortes por ser maior o poder da república que o dos reis; e dizemos agora que se,
apesar das nossas instituições e da força do direito, chegasse a violá-las, se poderia castigá-lo. Destroná-lo e até, exigindo-se as circunstâncias, impor-lhe o último suplício.

BARUCH SPINOZA

Os reis ditavam as leis. Elas variavam conforme o tempo, lugar, a quem se endereçavam, e precisamente de acordo com a vontade do soberano. Não tinham o menor compromisso com a justiça, tampouco com moral, relações internacionais, ou sociais. Houve alguma sapiência, esporádicas benemerências, mas muito infortúnio. Como o ser humano não pode ser atrelado à vontade de outro, é trivial concluir que desse modo ele se punha servente, súdito, jamais cidadão**. Por causa do disparate de milhões estarem submetidos apenas aos desejos de um é que em 1689 a Inglaterra instituiu a democracia. Sua base era impessoal: todos devem se sujeitar às leis, inclusive e especialmente o governante. Desde então a grande ilha jamais permitiu o advento de ditaduras, ou personalismos, malgrado a conservação da realeza, muito mais simbólica, institucional, do que pragmática. Cabe-lhe, também, obediência.
Como nada mais havia a fazer, nada mais foi feito. A constituição britânica cruza os séculos incólume, elevando aquele pequeno e isolado reduto de um canto europeu à vanguardeiro da civilização, até o presente, pode-se dizer.
Sua filha, modernizada, não precisou da tradição, mas de ainda maior repartição de poder. São cincoenta estados que conservam o molde original, ainda que maculado por algumas emendas, essas feitas no interesse do plantonista:

Eles transpuseram para suas instituições a idéia de checks and balances e conservaram em seus códigos a firmeza da common law. De modo que sua revolução pode parecer sob muitos aspectos uma seqüência (ou um coroamento) da Revolução Inglesa; uma democratização das instituições inglesas com fidelidade a seu espírito.
FURET, 2001: 74
Não é o caso, entretanto, da maioria esmagadora das nações. Malgrado nas democracias todos eleitos jurarem observar a constituição, o primeiro ato a desconstitui, sempre, e naturalmente, em proveito pessoal do "soberano":

A democracia fala de um governo comandado pelo povo e sujeito às suas leis; na realidade, entretanto, os regimes democráticos são dominados por elites que planejam maneiras de moldar e dobrar a lei a seu favor.
PIPES, R.:251
A América Latina é pródiga em estabelecer tantas constituições quantos forem os governantes. Em nossa famigerada Cidadã, na verdade vilã, costurada pelos estelionatários do Plano Cruzado, ainda assim havia uma salvaguarda democrática de valor primordial: o medo do socialismo trouxe veto à reeleição. O mensalão, todavia, fez-se mais forte, e a constituição foi facilmente envergada à reeleição. Wanderley Gulherme dos Santos (Não ao fracasso, in Veja 25 anos - Reflexoes para o futuro) estabelece sua ansiedade:

Hoje o país vive dificuldades de outra sorte. Com um presidente constitucionalmente legítimo e politicamente trõpego, o acelerado crescimento do hiato entre ricos e pobres (sem mencionar miseráveis e desempregados) e a exacerbação do corporativismo como forma privilegiada de associar participação e distribuição. Naturalmente espera-se que o Brasil e a América Latina consigam associar progresso e liberdade, recuperando, sem traumas, parte do atraso civilizatório em que se encontram. Mas é de toda conveniência examinar prognósticos que, pelo contrário, antecipam para a região uma permanente subalternidade, numa civilização de segunda classe.

O êxito do exemplo brasileiro tem servido,
e espalhado o caudilhismo alhures.
Nem nos tempos imperiais a A.L. foi
tão dominada, colocada sob o garrote de
tantos oportunistas. Nunca o povo esteve
tão apático, inerte, sem rumo.

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Nada vive que seja digno
De teus ímpetos e a terra não merece suspiro.
Dor e aborrecimento, esse é nosso ser e o mundo é lama
- nada mais que isso.
Fique tranquilo
Giacomo Leopardi, (1798-1837)
O próprio Simon Bolívar (Carta a um cavalheiro que tinha grande interesse na causa repúblicana na América do Sul (1815), cit. Mendoza, Montaner & Llosa, p. 36) discernira e profetizara:
Enquanto nossos compatriotas não possuírem os talentos e as virtudes políticas que distinguem nossos irmãos do Norte, os sistemas inteiramente populares, longe de nos serem favoráveis, receio que virão a ser nossa ruína. Infelizmente essas qualidades parecem estar muito distantes de nós, na intensidade que se deseja; e, pelo contrário, estamos dominados pelos vícios que foram contraídos sob a direção de uma nação como a espanhola, que só sobreviveu em atrocidade, ambição, vingança e avidez.
Na faina de reeleições, as constituições vem sendo modificadas em cascata, legitimando a impostura, a tirania, a ditadura.

Virgílio indicou os sinais pelos quais se pode avaliar, de antemão,
se o boi é bom de charrua e a vaca para reprodução.
ERASMO DE ROTERDÃ (1466-1535)
Em vez do poder do sabre fascista, o que gira é a máquina de imprimir dinheiro.
We can change. I hope.
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*HOBBES, Thomas, LEVIATÃ, ou Matéria, Forma e Poder de um Estado Eclesiástico e Civil. Trad. de João Paulo Monteiro. São Paulo: Coleção Os Pensadores. Abril Cultural, 1974.
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** "Poder despótico é aquele possuído por um homem, facultando-lhe o direito sobre a vida de outro sempre que lhe aprouver [no caso atual, sobre o patrimônio] e o exercício de poder além dos seus direitos em benefício próprio. Por ser injusto e ilegal, não é amoral opor-se a ele." LOCKE, John, Segundo tratado sobre o governo civil. - São Paulo:, Coleção Os Pensadores, Abril cultural, 1973.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Macroeconomia InterDisciplinar

Não é suficiente ensinar a um homem uma especialidade. Através dela ele pode tornar-se uma espécie de máquina útil mas não uma personalidade desenvolvida harmoniosamente. A sobrecarga necessariamente leva à superficialidade. EINSTEIN, Albert, cit. PAIS, Abraham, Einstein viveu aqui: 271
A matemática é incompleta; não pode, jamais, alcançar a certeza absoluta. GÖDEL, Kurt, cit. STRATHERN: 243
Ao formulador econômico não basta conhecer e entender apenas de Economia. Há que integrá-la, equalízá-la no contexto de todas as ciências.
A ciência econômica é a ciência humana mais sofisticada e mais formalizada. Contudo, os economistas são incapazes de estar de acordo sobre suas predições, geralmente errôneas. Por quê? Porque a ciência econômica está isolada das outras dimensões humanas que lhes são inseparáveis. Idem, Em busca dos fundamentos perdidos: textos sobre o marxismo: 16
A ciência não é especialista. Ipso facto deixaria de ser verdadeira. 
GASSET, José Ortega Y, Rebelião das Massas.
A realidade de fato excede, infinitamente, as parcas fronteiras acadêmicas, neste caso meras contábeis, justamente fincadas na faina de represá-la.
Um sistema constitui-se de partes interdependentes entre si, que interagem e transformam-se mutuamente, desse modo o sistema não será definível pela soma de suas partes, mas por uma propriedade que emerge deste seu funcionamento. MORIN, Edgar, Introdução ao Pensamento Complexo, 1991:20
Nenhuma certeza é possível, mormente em Economia: "As teses de matemática não são certas quando relacionadas com a realidade, e, enquanto certas, não se relacionam com a realidade." (EINSTEIN, A., 1997: 15) Se a matemática,  per se, é incapaz de sintetizar o real, no âmbito econômico ela é praticamente imprestável:
Conforme tem sido muitas vezes mostrado no passado e amplamente comprovado pela experiência, as futuras características de uma economia de mercado - isto é, de um sistema econômico constituído pelas decisões de milhões de diferentes seres humanos - são imprevisíveis no sentido de qualquer quantificação precisa. (Simpson: 37)
O que pode lhe emprestar guarida é justamente o arrimo da Física consubstanciada pela Filosofia, ambas abandonadas por taxadas complexas. Segundo a Escola Austríaca de Economia, quiçá a variação mais avançada do holos monetário,.mesmo para ela a Economia é apenas praxeológica, mercê de apenas tradutora dos anseios pessoais, de modo indiscutível, portanto, independentemente de qualquer filosofia, e também incalculável, razão pela qual a Física também não lhe diria respeito. Com todo o respeito,  tolice.
A fé na cultura moderna era triste: era saber que amanhã ia ser em todo o essencial igual a hoje, que o progresso consistia só em avançar com todos os sempres sobre um caminho idêntico ao que já estava sob nossos pés. Um caminho assim é a bem dizer uma prisão que, elástica, se alarga sem nos libertar.  
 Ortega Y Gasset, Rebelião das massas
"Qualquer economista deveria ser, mesmo que pouco, matemático, historiador, homem de Estado e filósofo." (PASSET, René, Economia: da unidimensionalidade à transdisciplinaridade; cit. MORIN, E., 2002: 224) .
Não podem as bifurcações ajudar-nos a entender a inovação e a diversificação em áreas outras do que a física ou a química? Como resistir à tentação de aplicar essas noções a problemas da esfera da biologia, da sociologia e da economia? Demos alguns passos nesta direção e hoje muitas equipes de pesquisa em todo o mundo seguiram este caminho. Só na Europa, foram fundados nestes últimos dez anos mais de cinqüenta centros interdisciplinares especializado em estudo dos processos não-lineares. PRIGOGINE, I.,: 74
Não são poucas as contribuições e constatações da Física moderna à Ciência e à Filosofia. Ilya Prigogine, (2) ganhou em 1977  prêmio Nobel ao demonstrar a possibilidade do fenômeno: "É lidando com a flutuação e a instabilidade do meio ambiente de forma criativa que os organismos auto-organizadores crescem e evoluem. Uma economia pode ser um sistema auto-organizador. A cultura de uma sociedade também."
A teoria do caos não só fornece uma explicação para as flutuações de uma economia de mercado, mas também demonstra que o Estado não tem o conhecimento necessário para adotar as medidas anticíclicas corretas. Na medida em que é extremamente baixa a probabilidade de se alcançar um estado final desejado em um mundo caótico, é difícil enxergar como o governo poderia especificar uma política para atingir esse objetivo, a não ser por acaso. ROSSER, J.B. Jr., Chaos Theory and New Keynesian Economics, The Manchester School, Vol. 58, n. 3: 265-291, 1990; cit. PARKER & STACEY, : 95
A Economia não pode ser nem opinativa, ideológica, ou política. Sequer é questão partidária. Às ciências econômicas mister antes de tudo a cientificidade, obviamente. E "a ciência não é especialista. Ipso fato não seria ciência".  
Hoje a Antropologia não pode abster-se de uma reflexão sobre: o princípio de relatividade einsteniano; o princípio de indeterminação, de Heisenberg; a descoberta da ‘antimatéria’, desde o anti-elétron (1932) até o antinêutron (1956); a cibernética, a teoria da informação; a química biológica; o conceito de realidade. Tudo o que diz respeito ao homem nos revela ao mesmo tempo o homem em movimento e o homem permanente; o homem diverso e o homem uno. 
Complexus quer dizer aquilo que é ‘tecido’ junto, ou pelo menos, tudo que deve ser levado em conta. Por qual razão a Economia teima nos trilhos estendidos ainda na época da revolução industrial?  Relegada por estéril,e já resolvida, em que prateleira jaz a Filosofial? Em que lata colocam o Direito, conceitos de propriedade e humanos, especialmente? Por que desdenhar a  refeita Sociologia? Quanto a História, merece esquecimento de acordo com o tempo transcorrido?  Como pínçar um período histórico sem esfacelá-lo? Pois nada disso parece afeto à ciência que quantifica a produção. Trata de todas as relações da humanidade, porém  não se atém à Ciência Política, desprezada por dúbia, inexata. Claro, tal desídia não é exclusividade economista. Todos  dispõem a Política   em esquerda e direita, portanto, pretensamente ideológica, ainda que pragmática, e pronto. Todos se perfilam no eixo, uns mais para lá, outros mais para cá, e  os mais espertalhões se dizem de centro. Muito engraçada esta. A esquerda pregava a guerra do proletariado contra os patrões. E a direita, a luta entre as nações. Onde encontrar um centro aquèm da ilusão? É mirando imenso delta, e não o eixo estendido à smplória metafísica pitagórica, que a realidade pode ser apreciada. Os exclusivos sistemas matemáticos não dão conta da amplitude do Universo; sempre haverá sempre um conjunto de axiomas que estará fora da geometria aferida. Fulgurantes catedráticos, entretanto, ainda se baseiam nos moldes cartesianos, a formarem   patchworks de parcas coletas, não raras vezes embalados em invólucros mais ou menos marxistas, e pelos tênues sinais se deitam a estipular diagnósticos e prognósticos, todos pernósticos, calcados nas parciais, selecionadas e truncadas experiências, ou estatísticas de resultados, as quais não revelam causas.  
Mas os governos, e aqueles que os assessoram nestas questões, sofrem da ilusão de controle. Não é possível, no estado corrente do conhecimento científico, fazer previsões econômicas de curto prazo com razoável grau de precisão. ORMEROD, P. 2000: 124
A fim de dourar a pílula, os astutos costumam propalá-las sociais; e ao intento, emprestam-lhe a conotação altruística. No entanto, os mosqueteiros prescindem de todas as âncoras citadas, mormente jurídicas e filosóficas, para eles motivos de atraso. O que se apura é o desperdício do suor alheio, acentuado nas tragédias. .
O Estado comprovou ser um gastador insaciável, um desperdiçador incomparável. Na verdade, no século XX, ele revelou-se o mais assassino de todos os tempos. O político fanático oferecia o New Deal, grandes sociedades, e estados de bem-estar social; os fanáticos atravessaram décadas e décadas e hemisférios; charlatães, carismáticos, exaltados, assassinos de massas, unidos pela crença de que a política era a cura dos males. JOHNSON, P.: 616.
E lá se vem a civilização, alienada no trem da inconsequência:
Essa perda da compreensão dos fatores que determinam tanto o valor do dinheiro como os efeitos dos eventos monetários sobre o valor de bens específicos é um dos principais danos que a avalanche keynesiana causou ao entendimento do processo econômico. HAYEK, F. 1986: 73
Von Mises (1990: 112), com pesar, já identificara:

O que ocorreu foi que as premissas tecnocráticas quanto à natureza do homem, da sociedade e da natureza, deformaram-lhe a experiência na fonte, tornando-se assim os pressupostos esquecidos de que se originam o intelecto e o julgamento ético.
Evidentemente é deplorável que a loco motiva atropele ética, leis e costumes por meio de expedientes. Uma maciça divulgação de dúbias estatísticas, e vários outros macetes numéricos, precede qualquer ação, propalando  suposto progresso material. Malgrado o ideal que projeta, a ciência mater já demonstrou, na simplicidade de E=Mc2, que o materialismo é desprovido até mesmo do próprio objeto!  Infelizmente a mais famosa equação ainda não é assimilada no interior de alguma outra academia além da catalogada especialista. Urge atenção. A viagem platônica se endereça ao infortúnio
Assim, a economia, a ciência social matemáticamente mais avançada, é também a ciência social e humanamente mais fechada, pois se abstrai das condições sociais, históricas, políticas, psicológicas, ecológicas, etc., inseparáveis das atividades econômicas. Por isso, os seus experts são cada vez mais incapazes de prever e de predizer o desenvolvimento econômico, mesmo a curto prazo. MORIN, E., Compreender não é preciso; cit. MARTINS e SILVA: 30
"Não é de causar espanto que a economia seja, com freqüência, chamada de ‘triste ciência'!" (PILZER , Paul, Deus quer que você enriqueça : a teologia da economia: 35)
As políticas mundiais de crescimento induzido pelo Estado tiveram exatamente o efeito oposto do que pretendiam: tinham aumentado, e não reduzido, o custo da produção de bens e serviços e tinham abaixado, e não aumentado, a capacidade das economias de conseguirem uma produção vendável. SKIDELSKI, Robert: 14.

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"O pensamento econômico contemporâneo é esquizofrênico. A teoria clássica foi quase virada de ponta-cabeça." (CAPRA, 1995: 207).
As relações inerentes à matéria em tela, social por excelência, não podem ignorar nenhuma fonte do conhecimento. "Tudo o que é humano é ao mesmo tempo psíquico, sociológico, econômico, histórico, demográfico. É importante que esses aspectos não sejam separados, mas concorram para uma visão 'poliocular'." (MORIN, Edgar, Contrabandista dos saberes, cit. PESSIS-PASTERNAK: 86)
Denominador traçou o saudoso psiquiatra, ex-Dep. Fed. Eduardo Mascarenhas (1994: 3):
Tanto o psicanalista quanto o economista proclamam o poder de influência desse inconsciente coletivo composto de mitos, lendas, crenças, ideologias, valores e ideais - o imaginário social - sobre as subjetividades individuais. Ou seja, ambos, psicanalista e economista, sublinham a importância dos investimentos efetuados por cada uma destas subjetividades nas suas circunstâncias. Entre o psicanalista e economista existe uma poderosa convergência: ambos estudam as reações e as expectativas das pessoas (agentes econômicos) quando imersa no espaço social. Até porque desse formigueiro intersubjetivo ninguém escapa.
Como todas as ciências, especialmente a econômica, que deve ter por objeto o ser humano, e não apenas quantificações, tem obrigação de ser multidimensional e interdisciplinar, com isto melhor aferindo, podendo e até devendo ampliar seus horizontes pelos faróis das ciências mais tradicionais:
Uma concepção adequada de desenvolvimento deve ir muito além da acumulação de riqueza e do crescimento do Produto Nacional Bruto e de outras variáveis relacionadas à renda. Sem desconsiderar a importância do desenvolvimento econômico, precisamos enxergar muito além dele. SEN, Amartya: 28
Talvez por isso o ex-todo poderoso Alain Greenspan tenha escrito:
O problema essencial é que os nossos modelos tanto os de risco quanto os econométricos, por mais complexos que se tenham tornado, ainda assim são simples demais para capturar a ampla gama de variáveis que definem a realidade econômica mundial.
É óbvio: “Há infinitos universos paralelos formando ramificações. Em cada um se atualiza uma realidade." (TOFFLER, Alvin e TOFFLER, Heidi, p. 20)
A superioridade do jusnaturalismo medieval sobre o moderno consiste em que ele nunca teve a pretensão de elaborar um sistema completo de prescrições, deduzidas, more geométrico, de uma natureza humana abstrata e definida de forma permanente. Se é verdade que a função constante do direito natural sempre foi impor limites ao poder do Estado, é também verdade que a concepção medieval preenchia essa função atribuindo ao soberano o dever de não transgredir as leis naturais. BOBBIO. NORBERTO, Locke e o Direito Natural: 46
Eis porque ela, a Macroeconomia, necessariamente solapa as tradições regionais, até vocações nacionais. Seus motivos, pois, nem são assim, tão econômicos:
Quanto mais forte a vontade de poder, menor o apreço à liberdade. A negação total do valor da liberdade, a maximinização do domínio - eis ai a idéia de autocracia e o princípio do absolutismo político, que se caracterizam pelo fato de todo o poder do Estado estar concentrado em um único indivíduo, o governante. KELSEN: H. A Democracia: 181
O maquiavelismo da macroeconomia keynesiana
We can change. I hope.
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Aprecie:
A essencialidade da interdisciplinaridade
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A Economia através de Fractais*
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quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Do vício e da virtude

A orientação ao Chapeuzinho Vermelho tinha o exato motivo: a inclinação, a tendência do ser humano em optar pela rota mais fácil, mas atraente, ou saborosa. Eis a razão da criança preferir o açúcar. Vê-se o percurso florido, e seu horizonte colorido. De fácil acesso, no início o caminho  se faz deslumbrante, encantador. Belas paisagens, e agradáveis aromas; ademais, trilha mais rápida, a rigor pavimentada. Por tudo se mostra mais prazerosa; portanto, mais adequada. O inusitado, o inexplicável não aparece, e é por ele que os conselhos se debatem. A curva do esconde o monstro da vista, de modo que a incauta seguiria direto à boca do lobo...
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O caminho indicado pela sabedoria se apresenta acinzentado, pedregoso no início, pantanoso no meio, mas glorioso no fim. A orientação é óbvia à eternidade, não ao instantâneo.
Pragmáticos, inconsequentes, teimosos  e oportunistas sóem preferir a colorida freeway. Partem sorrindo. Como resultado lhes acomete choro e ranger de dentes..
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quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Direito do trabalho ou interesse pelo trabalho?

O trabalho é amor tornado visível. E se não conseguires realizá-lo com amor mas somente à contragosto então abandona teu trabalho e vai à porta do templo pedir esmolas. Pois quem assa o pão com indiferença assa um pão amargo que só sacia parcialmente a fome da alma humana. Khalil Gibran - http://shimarina.blogspot.comgt;
Quando reparamos nos luminares que conduziiram as nações para os massacres coletivos resplandecem três exclusivas cabeceiras: da esquerda, a comunista; da direita, a fascista; e a última, vinda do céu. Todas abusam da retórica, da falácia, da dialética, de falsos argumentos a não menos falsos ideais. Com tal proselitismo, numa tacada arrastavam milhões às covas comuns. A façanha era possível graças ao conceito aparentemente lógico, porém de uma estupidez extremada: "A união faz a força."

Rousseau, Hegel e Marx construíram os arquétipos de aliciamento utilizando a primária constatação, tanto quanto a Igreja: Vox populi, vox Dei. Napoleão enfeixou a nação inteira, para assaltar outras nações. Hegel implorou pela reunião alemã; Marx, pela união dos operários do mundo; e a Igreja, pela universal.
As idéias corporativas tiveram grande aceitação: receberam apoio da Encíclica Papal Quadragésimo Anno, de 1931, influenciaram decisivamente a doutrina do partido nazista alemão e de inúmeros outros movimentos fascistas em diversos países. No Brasil, foi notória a sua influência na década de 30, durante a ditadura de Getúlio Vargas. STEWART JR., DONALD, O Que é Liberalismo: 24
O povo reunido jamais seria vencido:
Com base num profundo e abrangente estudo da ciência, Lênin provou que os métodos do materialismo dialético, tal qual formulados por Marx e Engels, eram inteiramente confirmados pelo desenvolvimento do pensamento científico em geral e pela ciência natural em particular. FADIMAN, Clifton org.:318
A criação de necessidades repressivas tornou-se há muito parte do trabalho socialmente necessário; necessário no sentido de que, sem ele, o modo de produção estabelecido não poderia ser mantido. Não estão em jogo problemas de psicologia nem de estética, mas a base material da dominação ideológica. MARCUSE, H., apud. MAAR, 1998: 69

O fim do materialismo

A asserção de que o marxismo-leninismo, ideologia basilar da União Soviética, tinha alguma coisa a ver com a verdadeira ciência foi um puro artifício retórico, um dos maiores logros deste século, embora propaganda deste tipo fosse ensinada a todas as crianças dos países comunistas. DESCAMPS: 139
Se Marx ignorava, Lênin apenas tapeava. Nesta época Einstein já havia provado que E=Mc2; portanto, o materialismo já não tinha, como nunca teve e jamais terá, nenhum objeto. Não obstante, a bomba atômica, ironicamente construída à difusão energética, ainda provou que o disperso sobrepuja facilmente a concentração.
* * *
A política do governo prussiano de reprimir ao invés de cooptar o movimento operário levou ao surgimento de um poderoso partido social-democrata revolucionário, que se tornou um modelo para os trabalhadores de toda a Europa. O PSD alemão foi imitado pelos franceses, belgas e italianos. Os movimentos trabalhistas holandês, escandinavo, suíço e americano seguiram os passos do movimento alemão. Oradores eram convidados de honra nos sindicatos que aconteciam em toda a Europa Ocidental e Estados Unidos. Os movimentos operários russo e eslavo também se inspiraram no alemão, e a segunda Internacional Comunista estava sob a liderança reconhecida do partido alemão. Suas filiações ultrapassavam 1 milhão em 1912; nos sindicatos, dois e meio milhões. SCHWARTZ, J. O Momento Criativo - Mito e Alienação na Ciência Moderna: 130
Os russos, que também já haviam experimentado as consequências da democracia estrangeira, partiram logo à estupidez soviética.
Sim: aprendam com os alemães! A história caminha em ziguezagues e por vias tortuosas. Acontece que são os alemães quem, agora, lado a lado com o imperialismo bestial, incorpora o princípio da disciplina, da organização, do trabalho sólido, conjunto, com base na maquinaria mais moderna, na mais estrita prestação de contas e controle. E isso é exatamente o que nos falta. LENIN, W. On Left Infantilism
Dentre as metonímias, além dos criminosos soviéticos outras duas até mais candentes polares guiaram à civilização ao precipício: em primeiríssimo plano, a figura patética de Mussolini; em segundo, o macaco amestrado da super-raça. Ambos trajavam fardas, e com isso já demonstravam seus intentos. A meta comum estava delineada, o adversário flagrante, e os palhaços se apresentaram para comandarem as milícias de "salvação nacional", mas precisavam lotar os vagões.
Assim como a luz é o infortúnio das mariposas, a matéria serviu de polo gravitacional a todos incautos. Dessarte as ardilosas e funestas lideranças lograram atrair enormes séquitos ao descalabro.
A felicidade geral dependia da vontade da maioria, ou da união de todas as forças, mas o que menos interessava à plêiade era o destino de seus povos, e por isso foram hábeis em introjetar a ficção nas ingênuas mentes de seus peões. Artifício de maior eficácia, provado na tradição: o telos da justiça. Todos os impostores se colocam como justiceiros, com isso arando o terreno pelo qual frutificam suas ervas daninhas.
Nem esquerda, nem direita
Herdam-se as leis e os direitos em profusão,
Como uma eterna doença que segue sem parar;
Elas arrastam-se de geração a geração
E se vão suave de lugar para lugar.
Bom senso torna-se bobagem; benefício, tormento.
Mefistótofoles, in Goethe, Fausto, p.65
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Poderiam aqueles artífices cultivar algum apreço pelos gigantescos rebanhos que se propuseram conduzir? Pois foram esses elementos que reforçaram os cabos sindicais, e criaram a "justiça" do trabalho.
(Fascismo & sindicalismo: o papel de Sorel)
Na marcha sindical, quem marcha são os próprios sindicalizados: "Em princípio, o único encorajamento ao trabalho, que a ciência pode admitir, é o lucro. De fato, se o trabalho não pode encontrar em seu próprio produto sua recompensa, longe de ser encorajado, de ser abandonado o mais rápido possível." (PROUDHON, P.-J., Sistema de contradições econômicas, ou Filosofia da miséria: 202)
Se a justiça é apenas um motivo ao rodeio da manada, o direito do trabalho assume a máxima função, posto de efeito à granel. Todavia, ao apelar para os estéreis princípios, porque platônicos, e não só por isso, mas por equívoco de meta, tal miragem sói recrudescer o sofrimento de todos. No fim da viagem se constata a impropriedade: de nada vale o direito, se não houver possibilidade de sua realização. Pensando bem, quem não tem direito a viver mais de cem anos? Poderia alguma constituição garantir esse "direito" elementar? A resposta é evidente.
O fim da picada
O estilo de vida Web muda a natureza da relação entre empresas e clientes, e entre governos e cidadãos. Em última análise, põe o consumidor-cidadão no comando da relação. GATES, B., A empresa na velocidade do pensamento: 136.

De fato, a vida no espaço cibernético parece estar se moldando exatamente como Thomas Jefferson gostaria: fundada no primado da liberdade individual e no compromisso com o pluralismo, a diversidade e a comunidade. NAISBITT, J. Paradoxo Global: 96
Coincidentemente, mas não por acaso, ora se descortina a obviedade:
Se o capital e o trabalho são, em última instância, sinérgicos, como insistir nas políticas sindicalistas de confronto, apoiadas nos velhos paradigmas da luta de classes? ... e aquela mentalidade anti-empresarial apoiadas na crença do lucro como exploração e na teoria de que os ricos ficam mais ricos, enquanto os pobres ficam mais pobres? Enfim, como oferecer suporte lógico a teoria central da obra de Marx, qual seja, a da luta de classes e motor da historia? A deposição de tais crenças, teorias e conceitos equivale a uma verdadeira revolução epistemológica e a uma revogação do paradigma marxista. Depois de erguer-se com tanto brilho, o edifício teórico construído pelo autor de O Capital parece tombar em ruínas, nada dele restando senão escombros conceituais. Inacreditavelmente, doravante, seria tudo ao contrário: capital e trabalho não mais seriam fatores antagônicos, seriam fatores sinérgicos! A disjuntiva capital e trabalho - base do paradigma marxista - não mais prevaleceria e deveria ser substituída pela conjuntiva capital e trabalho! Onde existia puro antagonismo e conflito existem agora enriquecimento mútuo e recíproco. MASCARENHAS, E.: 202
* * *
Direito ao trabalho todos tem; portanto, não há necessidade de estipulá-lo, tampouco penalizar quem o frustra, porque o êxito não é uma questão jurídica, mas comercial, aferido pelo interesse em recompensá-lo, ou não.
O que impulsionou o autor de O Capital a decretar ‘uma verdadeira capitulação da liberdade face à necessidade’, diz ainda Arendt, ‘foi a ambição de erguer a sua ‘ciência’ ao nível da ciência natural, cuja categoria fundamental era ainda a necessidade.’ On Revolution, 1963, cit. GIORELLO: 243
Os operários ora são órfãos dos pastores do pasto-verde, já sobejamente desmascarados. Ainda assim os humildes permanecem entoando os mesmos cânticos, em procissões pelas ruas da capital, porque nos palácios habitam alguns fantasmas, clones disfarçados, nada além de jardineiros muito além dos jardins, porém supostamente sensíveis às "justas" reivindicações:
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um discurso inflamado neste sábado, 2, durante a posse da nova direção do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. A centenas de sindicalistas presentes, Lula disse que 'esta é a hora de se reivindicar salários, aumentos de conquistas e mais direitos trabalhistas'. (Lula fala como 'sindicalista' e diz que é hora de pedir. - Estadão, 2/8/2008)
Infelizmente faz-se oportuno o já antigo alerta de Kelsen (A democracia: 140):

E, ainda que o fascismo e o nacional-socialismo tenham sido destruídos enquanto realidades políticas na Segunda Guerra Mundial, suas ideologias não desapareceram e, direta ou indiretamente, ainda se opõem ao credo democrático.
Decretos e reivindicações são extemporâneos, estéreis e alienados. Fosse assim tão simples, não haveria miséria em nenhum lugar do planeta. A ordem produtiva, contudo, obedece a viabilidade econômica:"O trabalho é dito valer, não como mercadoria ele próprio, mas em função dos valores que se supõe potencialmente encerrados nele." (PROUDHON, P.-J.: 93)
O dinheiro é o termômetro indicativo de perda ou acúmulo calórico. A renda paga a um trabalho ocioso, sem valia, equivale a jogar o suor de outrem sobre a cratera de um vulcão. Desse modo, o trabalho não precisa, e a rigor nem aceita ser objeto de direito. Não foi por esquecimento que ele nunca constou da tradição jurídica.
Se alguns homens são outorgados por direito aos produtos do trabalho de outros, isso significa que esses outros estão privados de direitos e condenados ao trabalho escravo. Qualquer direito alegado de um homem, que necessita da violação dos direitos de outro, não é nem pode ser um direito. Nenhum homem pode ter o direito de impor uma obrigação não escolhida. RAND, Ayn, cit. PIPES, R.: 338
O trabalho igualmente não pode ser considerado fenômeno social, exceto na escravidão, ou em regimes corruptos, de aliciamento caudilhesco, cujos efeitos deletérios não são constitutivos:
Para mim, o elemento precioso nas engrenagens da humanidade não é o Estado, é o indivíduo, criador e sensível, a personalidade; é só ela que cria o nobre e o sublime, enquanto a massa permanece estúpida de pensamento e estreita nos sentimentos. EINSTEIN, A. cit. ALMEIDA, M. O., A Ação Humana e Social de Einstein: 65; ainda em TRATTNER: 75
O trabalho, pois, depende da iniciativa, da vocação, do talento, e da disposição, caracteres exclusivamente subjetivos:
Todas as formas de cooperação social legítima são portanto obra de indivíduos que nela consentem voluntariamente; não há poderes nem direitos exercidos legalmente por associações, inclusive pelo Estado, que não sejam direitos já possuídos por cada indivíduo que age sozinho no justo estado de natureza inicial. RAWLS, J.: 11
Ademais, quiçá por causa da peculiaridade, nenhum estado pode garantir o trabalho, ou melhor, a aceitação do produto que ele perfaz: são as pessoas que necessitam dos préstimos; por conseguinte, a nenhum governante é dado tabelar seu valor, eis que ele depende do endereço, de quem está disposto a pagá-lo, em tanta variedade quanto os pontos atômicos do universo. Como qualquer produto, a qualquer consumidor. O direito pertence a este, e não à produção. O direito de escolher, a liberdade de aquisição, ou não. Parece óbvio. No entanto, primamos pelo embuste, na sagaz inversão extraída das arranjadas dialéticas, numa das quais quem paga é considerado explorador, e quem recebe, o explorado.
A custosa reversão
Não por acaso só defende o direito do trabalho quem se vale do trabalho alheio: "Algumas demissões são inexplicáveis. O trabalhador não pode pagar a conta de uma crise que ele não criou." (Carlos Lupi, Ministro do Trabalho do Brasil)
Trabalhador não paga. Pode receber se houver dinheiro em circulação no país, não nas Cayman; e desde que a população se disponha a pagar pelo produto que ele gera. Senão, nada feito. É uma questão de interesse, não de justiça. É de conveniência, não de lógica.
We can change. I hope.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Uma razão à esperança


Por disperso, o liberalismo jamais pode brecar o comunismo. Ao contrário, serviu de passarela, Sapucaí pela qual brilhou o sabre leninista. O inimigo marxista sempre foi o fascismo. A artimanha original de Bismarck logrou calar o pleito operário. Tal êxito atraiu seguidores de todo planeta: "O Führer era idolatrado não somente em sua terra natal; tinha adeptos em número considerável de americanos barulhentos e vociferantes." BRIAN, Einstein, a ciência da vida: 329
Os grandes banqueiros e industriais emergiram nessa época. Firmas de Wall Street - como Belmont, Lazard e Morgan - com apenas 15 anos de existência, ocupavam lugar de destaque na economia. Os tempos modernos da legislação para as práticas de comércio começaram em 1934. GLEISER, I.: 211
Liberdade tem sua essência no radical lib-et, o que agrada. No alemão, lieben - do amor. Eis de onde emanou lib-eri, que por sua vez designa os filhos, os que nos são caros; lib-ertas, que era a condição dos filhos; e lib-ido, nascente da paixão dos escravos, que não conheciam nem Deus, nem lei, nem pátria. De certo modo também atinge licentia, de licença, óbvio, mas que em casos também pode encorpar a licenciosidade. A disseminada subversão propicia o deleite do Leviathan: "Em 1929, as despesas federais para todos os bens e serviços montavam a 3,5 milhões de dólares; em 1939, eram de 12,5 bilhões." (GALBRAITH, 1968: 251) Ao Current History Magazine (cit. ROTHBARD: 41) a manobra era flagrante. Culminaria, como de fato se sucedeu, na ascendência do Estado frente ao cidadão. Como aquele per se não é concreto, quem lhe faz a concretude é a nomenklatura que o dirige:
O Estado rooseveltiano ou a república da França apresentava, na época histórica do fascismo, características do Estado intervencionista (função econômica do Estado e fortalecimento do Executivo, por exemplo) que marcavam igualmente os fascismos alemão e italiano, sem que isto tenha significado o Estado de exceção. POULANTZAS, N.: 240
Em 1936, reeleito sabe-se lá por qual arranjo, Roosevelt ampliou ainda mais as funções da Casa Branca. A tanto, prescindiu do golpe e dos arroubos do Duce, mas não da retórica trovejante da incansável Eleonor, espelho à demagógica Evita. Saúde, educação, "proteções" trabalhistas, legalização de sindicatos, e incontáveis arapucas embretaram as relações sociais e econômicas. Tais benesses eram fáceis de serem concedidas, e se proliferaram, alhures:
Inspirados por essas certezas keynesianas, desenvolvimentistas e social-democráticas - já amplamente consensuais - Estados Unidos, Itália, Espanha, França e Inglaterra, além de vários países latino-americanos, entre os quais o Brasil, apertaram o gatilho e dispararam políticas desenvolvimentistas, trabalhistas e sociais. MASCARENHAS, E. : 130
A Casa da Moeda, virada de tolerância, emitia as gigantescas quantias. No caso original, as promissórias foram quitadas graças aos despojos alemães e japoneses, às custas de milhões dos "protegidos" trabalhadores americanos, que com capacetes foram enterrados.
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O inconseqüente Zé Carioca, entretanto,
não pode cobrir os papagaios. O dragão
da inflação tocou fogo nas pradarias dos
macaquitos brasileños, por várias gerações.
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Enquanto o comunismo pregava a união internacional dos operários contra os patrões, o fascismo apelava para a união da Nação contra outras nações. O primeiro se convencionou chamar de esquerda, cabendo por conseqüência à direita arregimentações nacionalistas. Esta geometrização, entretanto, é apenas um arranjado referencial. Não há possibilidade da extensão da raia do embate. Melhor aferindo: de que modo alguém se posta ideologicamente mais ou menos à esquerda, ou no centro? Centro do quê? Tal ponto seria apropriado ao liberalismo, ou ao neoliberalismo? Nem assim. A ética foi simplesmente banida pelos dois regimes, em nome de uma pretensa justiça social, sob a pecha da igualdade. Walter Lippmann (cit. POPPER, K., Sociedade Democrática e Seus Inimigos, p. 88) bem identificou os tipos:
Os coletivistas tem o empenho de progresso, a simpatia pelos pobres, o ardente sentido do injusto, o impulso para os grandes feitos, coisas que tanto vem faltando ao liberalismo nos últimos tempos. Mas sua ciência se baseia num profundo mal-entendido; e suas ações, portanto, são intensamente destrutivas e reacionárias. Assim, os corações dos homens são destroçados, suas mentes divididas e são apresentadas alternativas impossíveis.
De fato ambos sistemas tornaram a raça humana tal qual manada, cujo indivíduo perdeu até mesmo o próprio nome, por numerado nas extensas listas militares organizadas pelos pseudo-pastores do pasto-verde, cujo destino exigiu a marcha ao corredor da morte, em campos talados de minas e canhões:
Havia, na verdade, uma conexão direta, freqüentemente comentada, entre o militarismo e o desenvolvimento inicial da democracia e do welfare state; os direitos de cidadania foram criados no contexto da mobilização maciça para a guerra.
Gore Vidal, entrevista em Veja. – São Paulo, 25/10/2000
Roosevelt ficou paraplégico, e partiu antes do fim da guerra. Mussolini morreu feito carneiro à gaúcha, pendurado numa viga de um posto de gasolina milanês, de cabeça para baixo, alvo do próprio povo italiano, dos nada protegidos trabalhadores. A Hitler não restou outro destino além do suicídio. Não foram poucas as tragédias promovidas por seus clones espalhados alhures, entre os quais fulgurou nosso nanico. É que Maquiavel, o diretor da peça, programou o final sem variação, reservando um final melancólico, senão trágico, ao seu astro principal, justamente para deleite da platéia.
A visão keynesiana dos governos como benignos maximizadores de benefícios sociais está hoje desacreditada irremediavelmente. SKIDELSKI: 148
Com o fim da faina pelo domínio dos povos, pensava-se que o povo poderia retornar a viver em paz, e cada indivíduo poderia tratar de sua própria realização, em vez de sair agrupado a destruir inimigos projetados. O comunismo se mostrava inviável, especialmente mercê da infelicidade e do atraso impingido ao povo russo, mas por duas gerações a humanidade ainda insistiria na ficção platônico-marxista. Em 89 o muro ruiu. O liberalismo pode se afirmar, e o mundo tomou um desenvolvimento jamais experimentado. Por coincidência, mas não por acaso, a civilização tomou um ímpeto desenvolvimentista jamais experimentado, nem tanto pelas indústrias de chaminé, mas pela presença do etéreo, do abstrato, da energia, da mente, das comunicações, do relacionamento:
"O exercício do poder está mudando do estado para o indivíduo. De vertical para horizontal. Da hierarquia para as redes." (NAISBITT, J., Paradoxo Global: 50)
Lester Thurow se utiliza desta imagem potente para invocar cinco forças econômicas que, como afirma, moldam o nosso mundo material, seja ele econômico, seja político. Para ele, essas cinco forças são: o fim do comunismo; mudanças tecnológicas para uma era dominada pela inteligência humana; uma demografia inédita e revolucionária; uma era multipolar que desconhece qualquer tipo de dominância econômica, política, ou militar por qualquer nação. RICHERS, Raimar, prefácio de THUROW: 7
Richers e Thurow, e de certo modo até Naisbitt não contavam com o insólito: O fim do Duce, mas não do fascismo. Com a queda do frontal inimigo, na distração dos povos às magníficas realizações que emergiam, e na absoluta carência de imaginação por parte dos sedentos por poder, esta característica primordial dos loucos de todo o gênero, napoleões voltaram a se proliferar sobre a crosta terrestre. O que se exigia era apenas a repetição da cartilha que sempre deu certo: o proselitismo desenfreado sobre as classes mais numerosas, porque na democracia é o número, e não a pessoa, o elemento que a legitima!
Incontáveis energúmenos permanecem arregimentando contingentes rumo à estupidez. Dessarte, o mundo voltou ao impasse. As economias padecem, as bolsas estão furadas, o desenvolvimento estagnou. Brilham em primeiríssimo plano os semialfabetizados latino-americanos, mas não só eles. Afinal, esses oportunistas só ascenderam no trilho porque o trem passou com as portas abertas, e na corrida são os últimos vagões os mais fáceis de serem ocupados. Antes passaram os europeus, e todos foram puxados pela locomotiva do colosso, pilotada pelo maior impostor que aquele povo supostamente
capaz foi capaz de apresentar.
ReVerSão

O trem da carochinha desacelera, e finalmente vai parando. Resta aos passageiros abandonarem os vagões. E ligeiro:

Todo homem possui sua finalidade particular, de modo que mil direções correm, umas ao lado das outras, em linhas curvas e retas; elas se entrecruzam, se favorecem ou se entravam, avançam ou recuam e assumem desse modo, umas com relação às outras, o caráter do acaso, tornando assim impossível, abstração feita das influências dos fenômenos da natureza, a demonstração de uma finalidade decisiva que abrangeria nos acontecimentos a humanidade inteira. NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm, Da utilidade e do inconveniente da História para a vida: 74
Voltando-nos ao real, por que acontecido, restar-nos-á explicá-lo e abandoná-lo, para tomarmos os tapetes mágicos de nossos próprios sonhos, permitidos e queridos por uma nova ordem (ou desordem), múltiplo anseio de ver e viver o mundo mais harmonicamente integrado e desenvolvido. Estacionado o velho trem, retirada a carga, optamos por pequenas, ágeis, versáteis e ecológicas naves, individuais ou não, mas definitivamente em consonância com a complexidade e leveza cósmica.

A mudança para um humanismo congraçado com a natureza, por isto mais sensível, solidário e complementar, mostra-se tarefa inadiável, envolvente, prazerosa e natural.
..O imperativo da melhor convivência do habitante com o meio ambiente não pode olvidar, por óbvia extensão, o semelhante. Isto condiciona, pois, o aprimoramento das relações pessoais; por conseguinte, sociais. Em outras palavras: pelo respeito e consideração ao indivíduo (só por ele), chegamos ao resultado social. Massa é na pizzaria:
O terceiro princípio vital para a política do amanhã visa a quebrar o bloqueio decisório e colocar as decisões no lugar a que pertencem. Isso, que não é simplesmente um remanejamento de líderes, e o antídoto para a paralisia política. É o que chamamos de ‘divisão de decisão’.
CHARDIN, T., cit. FERGUNSON, M. : 48
A
A economia faz-se, apenas, expressão numérica, por convenção;
portanto, há que ser integrada de modo complementar, e não pauta destinatória.