quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

O Poder da Coruja

A Nav's rumou ao mar, em céu azul. Na areia, o cartaz convidava:
Espetacular Show Pirotécnico.
O sabre acabou com tudo. O que se viu foi show pirado em técnica primata.
Na tão esperada noite, milhares de pessoas foram dormir cedo, caladas, pensativas, reflexivas. Não poucos juraram vingança. De comemorativo, restaram garrafas, não poucas repletas; e a lembrança da lambança.
Por milhões de anos ninguém se ateve às nossas valiosas e indispensáveis circunstâncias. Para recuperar o tempo perdido se apresentou o Cavaleiro da Justiça & Esperança, e não só ele: fez-se acompanhado do séquito, exército, Missão: defender o ninho de uma coruja e duas corujinhas, pobrezinhas, indefesas diante de homens muito malvados, esses de famílias em férias.
A chimango paulista (?) não hesitou perfilar suas armas à nova deusa, contra os filhos de Deus. Quem manda é ela, e fim. Foi mesmo o fim. De manhã, a praia já ostentava, garbosa, o novo cartaz.

Será que as corujas também foram catalogadas em extinção? É lícito frustrar alguém mercê de  piegas, de flagrante falso interesse? Exemplo de quê? Vamos frear o Sol para um meteorito  passar? Quantos perús foram assados neste Natal? Quantos animais são sacrificados por dia na face da Terra? Quantas galinhas, vacas, perdizes, patos, porcos, cobras e jacarés, até coelhos, coitadinhos dos coelhinhos, são levados à nossa consagração?
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Não, ninguém queria colocar coruja na panela, tampouco assustar cachorros. Qual delas se oporia mudar um pouco de lugar por algumas horas, apenas, ,para depois poderem retornar a ano inteiro de gozo sem aluguel nem imposto? Apenas duvido que elas quisessem sair na hora da festa. Corujas não gostam de espetáculo?
Deslocou-se um batalhão sem a menor necessidade.
Como haver risco social na areia, em passagem de ano?

Talvez tenha sido algum instinto maternal, hipótese ridícula, mas redentora pela ingenuidade. Na pior, uma demagogia de muito risco, êxito duvidoso, de provável desventura.
O Brasil navegava por comando militar, mas aos poucos a tripulação do Escorraçado Botequim foi se revoltando. A ponte tinha melhor Sol. O povo poderia melhor usufruir, ou melhor, não propriamente o povo, mas alguns que dele viviam. Os fardados foram atirados ao mar, por terem usurpado o Escorraçado. Dizem que são políticos os atuais detentores do poder. Se verdadeiro, não são do ramo. Seus votos não estão "onde a coruja dorme". Quem lá guarda é artilheiro de futebol.
O Cavaleiro da Justiça & Esperança roubou o espetáculo.
O espectador foi dormir, sem direito a sonho.
A dona coruja permanece, ora receosa com tanta atenção. Tem razão.
A Nav's voltou ao espaço sideral, à SiderALL Base. Tem mais a ver.

Casal de corujas de Capão da Canoa ganha
tela de proteção para maior segurança

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Famosas desde o Réveillon de 2007, quando motivaram o cancelamento do show de fogos da virada, as corujas de Capão da Canoa agora devem virar monumento. Disposta a homenagear as aves, a prefeitura planeja erguer uma estátua de 10 metros de altura na Avenida Beira-Mar e espalhar outras 12 réplicas reduzidas pelas ruas da cidade. Desde o final do ano passado as corujas dividem espaço com um casal de quero-queros, que também teve o ninho isolado por precaução.
ZH, 20/1/2010
É de se esperar que a chegada das novas imigrantes ensejem a construção das estátuas correspondentes, até por questão de justiça.

Um comentário:

  1. Olá ALl,
    Parabéns por este artigo. Realmente o fanatismo de algumas pessoas quase irracionais, prejudicaram milhares de outras. Bastava terem tirado o ninho das corujas com antecedência e ambientá-las em algum outro lugar. A falta de previsão ambiental causou este momento de total surrealismo no réveillon de muita gente. E as crianças frustradas, pelo visto, não contaram para nenhum destes fanáticos. E nosso povo é muito cordato, não resta dúvida, pois não houve reação à altura do momento.

    Grande abraço,
    Ruiva

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