quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Finados e não-finados I

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À Preciosa Princesa Fernanda &
fiéis escudeiros, Eduardo e Ricardo.
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.O Dia de Finados é o dia da celebração da vida eterna das pessoas queridas que já faleceram. É o Dia do Amor, porque amar é sentir que o outro não morrerá nunca. Desde o século 1º, os cristãos rezam pelos falecidos; costumavam visitar os túmulos dos mártires nas catacumbas para rezar pelos que morreram sem martírio. No século 4º, já encontramos a Memória dos Mortos na celebração da missa. Desde o século 5º, a Igreja dedica um dia por ano para rezar por todos os mortos, pelos quais ninguém rezava e dos quais ninguém se lembrava. Desde o século XIII, esse dia anual por todos os mortos é comemorado no dia 2 de novembro, porque no dia 1º de novembro é a festa de 'Todos os Santos'.
O Dia de Todos os Santos celebra todos os que morreram em
estado de graça e não foram canonizados.
O Dia de Todos os Mortos
celebra todos os que morreram e não são lembrados na oração.

Mons. ARNALDO BELTRAMI, vigário episcopal de comunicação http://www.arquidiocese-sp.org.br
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Aproxima-se mais um feriadão. O algareio toma conta das crianças, floristas e dos dedicados aos serviços de turismo. Adolescentes programam suas fugas, trabalhadores se espreguiçam, anciãos peregrinam convictos que a data já lhes pertence. Se finados, o que mais se pode fazer por aqueles entes? E se santos, por que devemos nos preocupar?
Alguns choram por lembranças, outros por pena, e não raros lamentam a solidão que restou. Neste caso o dia é fardo. A lacuna causada pela ausência do ente querido pode nos causar até o desatino de querermos partir imediatamente ao mesmo reduto. A mais triste experiência veio comprovar a assertiva:
"Não chorem, não sofram, eu estou ABSOLUTAMENTE FELIZ!!! Era tudo o que eu queria: ter paz eterna com meu Deus e, se possível, com minha mãe." (LOPES, Leila, atriz, carta publicada em 8/12/2009, O Globo)
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Talvez não precisemos assim, percorrer o burro liame bipolar, onde numa ponta corre o êxtase, e na outra a mais profunda tristeza, onde os santos reconhecidos pela Igreja são imortais, enquanto os nossos perecem.
Colho o ensejo para um day'scape siderall, uns tres dias terráqueos.
Ao longo dessas ensolaradas vésperas, irei tecendo e com isso demonstrando os fios que nos ligam a todas energias, em especial a dos entes queridos, essas existências independentes de qualquer vontade localizada, ou condição estipulada.
Nature and nature's laws lay hid in night;
God said 'Let Newton be' and all was light
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(A natureza e as leis da natureza estavam imersas em trevas;
Deus disse 'Haja Newton' e tudo se iluminou.)
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A Igreja é pródiga em alegorias, e coincidências. A realidade, por difícil compreensão, nem vem ao caso. Parábolas e figurativos são mais palatáveis, mormente se impressos em fundos contrastantes. Uma forte impressão vale mais do que a razão. O deleite da maçã motivou a expulsão. Pobre venenosa, acusada de aliciamento. Pois se ninguém colhesse, na maturidade o próprio fruto se precipitaria na cabeça de Adão. Foi este o fenômeno que incitou o reverendo NEWTON aos cálculos. Cogitar da existência do que não se vê, ou não se sente? Isso pertence a Deus. Portanto, já está assimilado; e por NEWTON bem justificado. A carga genética, todavia, era comprometedora.
“Não tenho dificuldades para admitir, identificando o platonismo com matematicismo, o caráter platônico da ciência galileana”. (GEYMONET, L. : 42)
ALEXANDRE KOYRÉ (cit. idem, ibidem) confirma:
“A grande idéia de Koyré, justamente, é que Galileu encarnava a herança do platonismo. Em outras palavras: Galileu acreditava que, graças à matemática, os físicos conseguiriam apreender a estrutura íntima da realidade”.
O Maior dos Relojoeiros montara tudo em sete dias; depois, a humanidade se foi de roldão.
"A confecção de relógios, por exemplo, é certamente delicado e trabalhoso, de tal modo que as suas rodas parecem imitar as órbitas celestes ou o movimento contínuo e ordenado do pulso dos animais." (BACON, F.: 67 )
A tarefa dos astrônomos a partir de então foi construir um modelo matemático que explicasse os dados observacionais da astronomia, e no qual os planetas seriam dotados de movimentos circulares uniformes.
BEN-DOV: 19
Como nada disso correspondia a realidade, mister alguns pequenos arranjos:
"Newton vai mudando os dados, em suas várias edições sob sua supervisão, de modo a encaixar cada vez melhor a teoria. Físicos contemporâneos demonstraram a manipulação no limite da desonestidade." (LENTIN, J.P., Penso, logo me engano : grandes gênios, pequenas trapaças; Veja: 20/3/1996)
SHAFTESBURY, mentor de JOHN LOCKE, (carta a THOMAS POOLE. - Cit. BRETT, R. L.: 109) discordava frontalmente do incomparável NEWTON, algo que nem o famoso afilhado ousou. Sua intuição, porém, era forte:
Newton é um mero materialista. Em seu sistema o espírito é sempre passivo, espectador ocioso de um mundo externo... há motivos para suspeitar que qualquer sistema que se baseie na passividade de espírito deve ser falso como sistema.
O sistema newtoniano, todavia, encaixava de acordo com sua base.
Os físicos construíram modelos, isto é, representações esquemáticas do mecanismo dos fenômenos. O físico isola as variáveis (diria princípios) que considera essenciais, e a evolução do sistema previsível pelo cálculo tem de produzir, com uma aproximação razoável, os efeitos que se manifestam na observação do mundo real.
GRANGER, G.-G.: 90
Foi a tradição judaico-cristã que estabeleceu o tempo linear (irreversível) de uma vez por todas na cultura ocidental... O tempo irreversível influenciou profundamente o pensamento ocidental. Preparou a mente humana para a idéia de progresso, para o conceito de tempo profundo, para a surpreendente descoberta dos geólogos de que a evolução humana é apenas um episódio recente e curto na história da Terra. Preparou o caminho para a evolução de Darwin, que fala de nossa união com criaturas mais primitivas através dos tempos. Em resumo, o advento da idéia de tempo linear e da evolução intelectual desencadeada por essa idéia corroborou a ciência moderna e a promessa de melhoria da vida na Terra.
COVENEY, A Flecha do Tempo: 22
O homem ocidental civilizado vive num mundo que gira de acordo com os símbolos mecânicos e matemáticos das horas marcadas pelo relógio. É ele que vai determinar seus movimentos e dificultar suas ações. O O relógio transformou o tempo, transformando-o de um processo natural em uma mercadoria que pode ser comprada, vendida e medida como um sabonete ou um punhado de passas- de-uva. E pelo simples fato de que, se não hovesse um meio para marcar as horas com exatidão, o capitalismo industrial nunca poderia ter se desenvolvido, nem teria contnuado a explorar os trabalhadores, o relógio representa um elemento de ditadura mecânica na vida do homem moderno, mais poderoso do que qualquer outro explorador isolado ou do que qualquer outra máquina.
WOODCOCK, A ditadura do relógio, In A rejeição da política, 1972

É essa visão pueril e talvez louca do mundo que está prestes a desmoronar, mas ela ainda reina, e efetivamente excluiu todo o problema da reflexividade.
MORIN, Edgar 2000:32

Não existe a passagem do Tempo. Nós é que passamos por ele, tanto quanto a luz que cruza a atmosfera. E não há nenhuma força gravitacional que atraia os corpos à Terra. E o espaço é curvo. O que? O espaço é curvo nas vizinhanças da matéria. Quanto maior a massa, maior é a curvatura. É esta distorção, criada em volta da matéria, que forma o contínuo espaço-tempo; e por sua retração, indica à matéria para onde ela deve se deslocar. JOHN WHEELER (cit. ROHMANN, Chris: 345) bem sintetizou:
“A massa informa ao espaço como se curvar; o espaço informa à massa como se movimentar.”
Desde o advento da relatividade geral ficou claro, porém, que, por sua ação gravitacional, a matéria realmente determina 'em qual forma o espaço está', como o homem que pula na cama elástica. Longe da matéria o espaço continua plano e euclidiano, mas onde a matéria está presente o espaço obedece a uma geometria mais geral (riemanniana). A gravitação também não obedece mais às leis estabelecidas por Newton.
WILL, CLIFFORD, Einstein Tinha razão? Testando a teoria da relatividade geral : 18.
O que se vê, todavia, nem requer contornos, tampouco explicações matemáticas. A doença é assustadora, a velhice impressionante, e o cadáver, horripilante. Admiti-lo, e ainda venerá-lo, só mesmo com o amor mais perfeito, despreendido, incondicional. Ou então, talvez por esse elevado grau de conhecimento, competência para suplantar o materialismo primata, a falta de fé da própria Igreja na fatalidade irrestrita da Vida Eterna. Resta-nos a tênue esperança do medonho Juízo Final, o qual depende das provas arroladas à reabilitação. O douto foi claro:
Uma concepção particularmente típica do pensamento platônico é a sua doutrina da transmigração das almas. Depois de ter a alma saído das mãos do Demiurgo. é ela entregue ao 'instrumento do tempo'; vive a sua primeira encarnação sobre a nossa, terra. Este primeiro nascimento é igual para todos, para nenhuma alma ficar prejudicada. Ao cabo desta primeira vida, apresenta-se a alma, junto com o corpo, ao tribunal dos mortos, para dar contas da vida nesta terra Conforme o juízo, entrará ela no campo dos bem-aventurados ou será transladada para lugares de castigo no mundo subterrâneo. Mil anos durará esta sua peregrinação, seguindo-se-lhe então o seu segundo nascimento.
Haja técnica.
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De antemão consagro meu pensamento aos invocados, na certeza de suas vigências; portanto, capazes de influência, e de capacidade mutativa, diante da incidência interativa.
"Se uma onda pode agir como uma partícula, uma partícula também não deveria agir como uma onda?" (DE BROGLIE, L., cit. ISAACSON, W.: 338)
Todos sabem que a física newtoniana foi destronada no século XX pela mecânica quântica e pela relatividade. Mas os traços fundamentais da lei de Newton sobrevivem, seu determinismo e sua simetria temporal sobreviveram. A natureza não tem um nível simples. Quanto mais tentamos nos aprofundar, maior a complexidade com que nos defrontamos. Nesse universo rico e criativo, as supostas leis de estrita casualidade são quase caricaturas da verdadeira natureza da mudança. Há uma forma mais sutil de realidade, uma forma que envolve leis e jogos, tempo e eternidade. Em lugar da clássica descrição do mundo como um autômato, retornamos ao antigo paradigma grego do mundo como uma obra de arte.
PRIGOGINE, I.,: 19
Viva o Dia de Todos, santos e pecadores, cientistas e vigaristas, filósofos e impostores, ovelhas e pastores, porque nada dessas arbitrárias classificações importa, ninguém pode ser finado - apenas o sofrimento, por ser condensado nuclear, é que pode findar.

Finados e não-finados II

3 comentários:

  1. Com esta de "Finados e Não-Finados" voçê quase se converteu! Acho esta coisa um tanto confusa... Mas eu deseho muita eternidade para voçê e sua família. Estou a ser sincero - e sou uma pessoa respeitosa. Me fale da etimologia de "religare"-- religar- voltar a ligar o quê? César os Europeus são tidos como Imperialistas e essa coisa toda mas ELES são é os maiorais-- já temos falado sobre o resto... Não vou deixar de ser Europeu por sua causa...

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  2. Lá vou eu outra vez. Não vou deixar de ser Europeu por voçê tentar subverter um continente... Qual a origem da palavra "religare" religar o quê? Como sou uma pessoa respeitosa desejo-lhe para si e para a sua família muita eternidade... Essa dos finados e Nã-finados apanhou-me epistemológicamente desprevenido. Voçê quase se converteu ao judaico-cristianismo...
    P.S. O que o salva é a Filosofia(?)- Mecânica Quântica...

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  3. Na verdade, era isto que Shelley percebia já nos primeiros dias da Revolução Industrial, quando proclamou que na defesa da poesia devemos invocar ‘luz e fogo daquelas regiões eternas onde a faculdade do cálculo, de vôo rasteiro, jamais se atreva a guindar-se’.

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