sexta-feira, 30 de outubro de 2009

A estória da morte

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Nature and nature's laws lay hid in night;
God said 'Let Newton be' and all was light
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(A natureza e as leis da natureza estavam imersas em trevas;  Deus disse 'Haja Newton' e tudo se iluminou.).
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Religião significa religação. O óbvio pre-requisito exige o desligamento. Eis a função da maçã: por ingeri-la,
fomos expulsos, desligados do Paraíso.
Mister a presença dos band-aids.
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Na falta da serpente, e de EVA,  o fruto caiu direto sobre a cabeça do Incomparável NEWTON.  Pelo impacto, pelo galo formado, o ex-reverendo calculou a "força" da gravidade.
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No decorrer da História da Civilização, das ciências e crenças incutidas, são incontáveis os apelos à mais trivial artimanha. Tal arquitetura remonta há milênios, por suscetível de fácil assimilação. No caso em tela, a Expulsão do Paraíso constitui a premissa que justifica a tentativa de reatamento das relações. Não posso citar quem seja o autor da mirabolância de destacar o aprazível reduto, mas sei quem cingiu o próprio ser humano, dividindo-o em corpo e alma - aquele mundano, perecível; ela divina, imortal: "O erro, o Mal entra pelo corpo para transformar o divino Bem da alma," (PLATÃO. cit. KELSEN, 1998: 3) O gregório articulista bem poderia ter sido mais explícito apontando a maçã como intrusa. Segundo PLATÃO, e seu exército eclesiástico, os prazeres da carne levam ao inferno, mas a alma sempre pode salvar, desde que prevaleça sua divindade. O Juízo tem a finalidade de aferi-los, e a prerrogativa de determinar a continuidade ou não da vida, desta feita em caráter eterno, ou a eliminação definitiva pelas diabólicas labaredas.
No entender dos teólogos, seu Objeto tudo pode; exceto, naturalmente, ser injusto. Assim é que se adequaram os rebanhos, sem maiores questionamentos, ao gáudio dos pastores.
Ao longo dos milênios, o conhecimento, como a maçã, foi vedado aos simples mortais. Somente os sacerdotes, presumivelmente os mais isentos de mácula, poderiam reunir e oferecer ao gado o alimento mais apropriado.
O destino, contudo, reservava a surpresa. O mapa do tesouro, que tanto de modo exclusivo lhes servia, na queda de Constantinopla caiu sob domínio público. Logo alguém descobriu que não éramos o centro do Universo. A explicação por tamanho lapso exigiu nova metáfora: o Grande Arquiteto colocara o Sol, a luminária no centro, para iluminar nossos passos. Em que pese controvérsias, e muitas escaramuças, o band-aid novamente colou, e quase tudo ficou como dantes, no quartel de abrantes - desta feita ainda mais reforçado na emergência dos exércitos nacionais.
O onirismo platônico varou os Alpes através dos cabos estendidos pelo cônego COPÉRNICO (cit.CHÂTELET: 49): " E no meio repousa o Sol. Com efeito, quem poderia no templo esplêndido colocar essa luminária num melhor lugar do que aquele donde pode iluminar tudo ao mesmo tempo? Em verdade, não foi impropriamente que alguns lhe chamaram a pupila do mundo, outros o Espírito, outros ainda o seu reitor."
DESCARTES aprimorou a cisão gregoriana destacando a mente do corpo.
Os homens tinham a teoria de que a matéria celestial era fundamentalmente diferente da matéria terrestre e que era natural que os objetos assim caíssem, enquanto era natural que os objetos celestiais, tais como a Lua, permanecessem parados no céu.  BOHM, David, Totalidade e ordem implicada: 20
VOLTAIRE ( Cartas Filosóficas, «13.ª carta».) não se conteve: "Na Grécia, berço das artes e dos erros e onde se levou tão longe a grandeza e a estupidez do espírito humano, raciocinavam sobre a alma como nós."
Um atento acadêmico da afamada Cambridge aprimorou a quilha de encalço a tal Espírito. "Apoiado no ombro dos gigantes" entre os quais o carrasco da natureza FRANCIS BACON, e o esquartejador DESCARTES, o “incomparável" NEWTON catapultou o cientificismo em voga. A mecânica prometia um poder de previsão vastíssimo, todas as informações possíveis sobre o passado e o futuro do Universo.
Os "novos cientistas" passaram a contar com duas opções à moradia - além dos palácios religiosos, os estatais. E assim por preservar fidelidade à ficção, o ex-reverendo logrou ascender à Casa da Moeda britânica.
As teorias de Newton lançaram-nos em um curso que desembocou no materialismo que ora domina a cultura ocidental. Esta visão realista materialista do mundo exilou-nos do mundo encantado em que vivíamos no passado e condenou-nos a um mundo alienígena. BERMAN, MORRIS, cit. GOSWAMI: 31
O destino, contudo, reservou outra surpresa, desta feita em caráter ainda mais decisivo. Nem o Sol está no centro do Universo, até porque nem existe centro; e raios são impossíveis de traço. Lá se vai a babel:
Chegamos a uma situação que envolve uma imagem diferente da natureza e, portanto, também da ciência. Não acreditamos mais na imagem do mundo como uma imensa peça de relojoaria. Chegamos ao fim das certezas. Estava implícita na visão clássica da natureza a idéia de que, sob condições bem definidas, um sistema seguiria um curso único e de que uma pequena mudança nos parâmetros produziria igualmente uma pequena mudança nos resultados. Hoje sabemos que isso só é verdade no caso de situações simplificadas e idealizadas. MAYOR: 12
É uma questão que atualmente deve ser reconsiderada, tendo em vista que a fragmentação já se espalhou completamente, não apenas na sociedade, mas especialmente em cada indivído; e isso conduz a um tipo de confusão generalizada da mente, que por sua vez cria uma série infinita de problemas, interferindo com a nossa clareza de percepção de maneira tão grave a ponto de bloquear nossa capacidade de resolver a maioria deles. BOHM, David, Totalidade e ordem implicada: 17
O balanço apurado é de empresa à deriva: "Os acidentes, as doenças, assim como a infelicidade em que está mergulhada a maior parte da humanidade, tem como gênese o distanciamento da fonte de energia vital e cósmica." (GONZALEZ, MATHIAS, O caminho cósmico. - Rio de Janeiro: Pallas, 1993
Dessarte, novamente são os sacerdotes que andam buscando, desesperadamente, a própria salvação:
Venho insistindo há tempos que por detrás da crise atual econômicofinanceira vige uma crise de paradigma civilizatório. De qual civilização? Obviamente se trata da civilização ocidental que já a partir do século XVI foi mundializada pelo projeto de colonização dos novos mundos. Este tipo de civilização se estrutura na vontade de poder-dominação do sujeito pessoal e coletivo sobre os outros, os povos e a natureza. Sua arma maior é uma forma de racionalidade, a instrumentalanalítica, que compartimenta a realidade para melhor conhecê-la e assim mais facilmente submetê-la. O Zen não é uma religião. É uma sabedoria, uma maneira de se relacionar com todas as coisas de tal forma que se busca sempre a justa medida, a superação dos dualismos e a sintonia com o Todo. A primeira coisa que o zenbudismo faz, é destronar o ser humano de sua pretensa centralidade, especialmente do eu, cerne básico do individualismo ocidental. Ele nunca está separado da natureza, é parte do Todo.
BOFF, Frei Leonardo, Zen e a Crise da Cultura Ocidental
Don't worry. Be happy.
No espaço aparentemente vazio há um nexo, uma vida eterna, que une tudo quanto existe no Universo - tanto animado quanto inanimado - uma onda de vida que flui através de tudo o que existe. Paramahansa Yogananda, Onde Existe Luz.
O que governa essa dinâmica, inclusive em seu aspecto mais material, na física, não é uma ordem rígida, predeterminada.(A impossibilidade da sincronicidade pelo relógio) Tampouco uma dialética entre contrários em luta, que leve à síntese, até que se produza uma nova antítese, como na visão marxista rechaçada também pela genética de Monod. São milhões de sóis e galáxias, estrelas, planetas e cometas, buracos-negros, quasares e muito mais, em "convívio" harmônico por campos repletos, onde se relacionam por informações, nunca por força, tal cogitado desde Esparta. E o ainda mais surpreendente - o sistema se amplia para todos os pontos, como se enche um balão de gás, sem rupturas, a partir de mísero núcleo atômico.
A teoria quântica dos campos considera tanto a matéria (hadrons e leptons) quanto os condutores de força (bosons mensageiros) como excitações de um campo fundamental de energia mínima não-nula (vácuo).
O Prof. GOFFREDO TELLES JUNIOR (O Direito Quântico: 54) deixou explícito:
Sendo geradora de energia, a partícula cria, em torno de si, um campo em que essa energia se manifesta. Aliás, todos os corpos geram campos de energia. A Terra, por exemplo, tem seu campo de energia magnética, que claramente se manifesta no comportamento da agulha da bússula. Os campos não devem ser consideradas como espaços vazios. Os campos são objetos físicos, pois é por meio deles que as partículas agem umas sobre as outras. É por meio deles, que os corpos, enorme multidão de partículas, se influenciam reciprocamente. Embora físicos, os campos não são objetos mecânicos. Um campo é imperceptível pelos sentidos. É imponderável. Não pode ser utilizado como sistema de referência. Mas é observável nos seus efeitos. É identificável nas perturbações que causa no comportamento das partículas ou dos corpos nele situados. Não somos capazes de ver a força de gravidade, mas a observamos na queda da maçã.
Os campos são estradas de várias mãos. Nada impede, e até é inexorável, que nossa energia, estimulada por nossos pensamentos e desejos, peregrine livre em busca do nosso objetivo, ou até seja alcançado por ele. Neste último caso, o assistente cara-pálida designa como sorte. Não se trata disso, de nova polaridade sorte/azar:
"O núcleo do novo paradigma é o reconhecimento de que a ciência moderna confirma uma idéia antiga - a idéia de que consciência, e não matéria, é o substrato de tudo que existe." (GOSWAMI, Amit )
"Isto faz dos seres vivos elementos numa vasta rede de inter-relações que abarca a bioesfera de nosso planeta – que em si mesma é um elemento interligado dentro das conexões mais amplas do campo psi que se estende pelo cosmos." (LASZLO: 198)
PRIGOGINE (cit. PESSIS-PASTERNAK: 39) arrola:
A pesquisa atual se volta para a incorporação de elementos aleatórios em um número cada vez maior. Isso é verdade tanto para a cosmologia de Hawking quanto para o estudo dos insetos sociais que são tão qualificados como Pierre Paul Grassé ou Rèmy Chauvin insistem sobre o papel do aleatório no comportamento social.
Tudo se relaciona. Tudo está ligado a tudo o mais, não só na imaginação, como na realidade efetiva. A morte é impossível, e isso demonstraremos ainda mais claramente amanhã, para encerrar esta microtrilogia. Por enquanto, convoco saudar a impropriedade dos Finados. O contínuo EspaçoTempo - a Eternidade - assegura a presença de todos. Cabe-nos, apenas, não preferir desligamentos. PLATÃO que não me fuja.

A impossibilidade da morte


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