quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Sobre a desestatização do dinheiro

Por algum tempo a ascendência do padrão-ouro - e a crença daí decorrente de que mantê-lo era uma importante questão não só de princípio, mas também para que se pudesse evitar uma desgraça nacional - constituiu uma efetiva restrição a este poder. Deu ao mundo um longo período de relativa estabilidade - 200 anos ou mais -, durante a qual o moderno industrialismo pôde desenvolver-se, é verdade que sofrendo crises periódicas. Mas, quando ficou amplamente evidenciado, há cerca de 50 anos, que a convertibilidade em ouro era apenas um método de controlar a quantidade de uma moeda, sendo este fator que realmente determina seu valor, os governos logo ficaram ansiosos para escapar a essa disciplina, e o dinheiro tornou-se, mais do que nunca, um joguete na mão dos políticos.
MISES, Ludwig Von, cit. BICHIR: 82
Que imbroglio! Como sair disso?
Bem, você resiste viva, pois não? Aqui de cima vislumbro sensacional e surpreendente mudança. Mas por enquanto não posso falar.
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Alguma pista, por favor! O povo não aguenta mais!!!
Desde que o privilégio de emitir dinheiro foi primeira e explicitamente apresentado como sendo uma prerrogativa da realeza, o monopólio sempre foi defendido ferrenhamente porque o poder de emitir dinheiro era essencial para o financiamento do governo - não com o intuito de nos dar um bom dinheiro, mas com o intuito de dar ao governo livre acesso à torneira de onde ele pode tirar o dinheiro de que precisa simplesmente criando-o.
HAYEK, Friedrich von.
"O governo não é capaz de tornar o homem mais rico, mas pode empobrecê-lo." (MISES, L., Uma Crítica ao Intervencionismo: 21)
A política monetária (o ‘estado da arte’) era então simples: tentar acomodar a taxa de crescimento da base monetária à taxa desejada de inflação mais o esperado aumento da taxa do PIB. Usavam-se, também, instrumentos simples, como as reservas bancárias primárias, o redesconto e os depósitos compulsórios.
DELFIM NETTO, Antônio, Folha de São Paulo, 11/2/2004
Na Depressão de 1929, na atuação do santo-do-pau-oco do milagre brasileiro, nos golpes dos bancos brasileiros copiados pelos americanos que precipitaram a recente crise mundial, reis e amigos trancafiaram o dinheiro, assim valorizando seu exclusivo instrumento, para posteriormente depreciá-lo, com emissões desprovidas de lastro.
O momento mais dramático do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso ocorreu no dia 13 de janeiro de 1999... O então presidente do Banco Central, o economista Francisco Lopes, vendia informações privilegiadas sobre juros e câmbio – e uma parte de sua remuneração saía da conta número 000 018, agência 021, do Bank of New York. A conta pertencia a uma empresa do Banco Pactual, a Pactual Overseas Bank and Trust Limited, com sede no paraíso fiscal das Bahamas.
Veja, 23/5/2001
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, comemorou o resultado do Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M), medido pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e que apresentou deflação de 0,32% em agosto/2008. 'Fiquei muito satisfeito com IGP-M de hoje que deu negativo, deu deflação. Invertia
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O ministro Paulo Bernardo (Planejamento) é direto quando indagado se os bancos privados estão escondendo dinheiro por causa da crise: 'Claro que estão! O que eles fizeram? Fogueira com o dinheiro? Isso deve estar todo entesourado'
Folha de São Paulo, 23/11/2008
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O Índice Geral de Preços-10 (IGP-10) caiu ainda mais em agosto, marcando o terceiro mês seguido de deflação (variação negativa), devido principalmente a uma maior queda dos custos no atacado. O índice caiu 0,6% neste mês, após recuar 0,35% em julho, informou ontem (17/8/2009) a Fundação Getúlio Vargas (FGV).
"Entre 1930 e 1931, o Fed permitiria que a oferta de moeda encolhesse em um terço. Estava-se permitindo que a moeda, o combustível com que todas economias são operadas, simplesmente fosse drenada para fora do tanque. (PARKER, S.: 83)
"Por conseguinte, os devedores tendem a perder com a deflação, e os credores, a ganhar’.” (FRIEDMAN, M. 114)
O lucro dos bancos no Brasil superou o resultado de todos os outros setores da economia juntos no terceiro trimestre, segundo pesquisa da consultoria Economática.
Folha de São Paulo, 24/11/2008
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"Quando os controladores entraram no sistema, ficou claro que mesmo os bancos de grandes grupos tinham uma gestão vergonhosa, sendo as instituições de Henry Ford um exemplo perfeito."
Friedman mostrou que as autoridades monetárias haviam produzido efeitos indesejados na economia, tais como inflação e depressão devido ao tratamento errôneo da oferta de moeda. Ele culpa o Federal Reserve pela grande depressão da década de 1930, alegando que este, em um primeiro momento, reduziu a oferta de moeda devido ao medo de especulação demasiada no mercado acionário e depois não fez nada de 1930 a 1931, quando houve uma corrida aos bancos.
GLEISER, I.
: 151
Os políticos enxergam nas crises uma oportunidade de exercerem maior ascendência, e menor resistência; então a provocam:
O pensamento econômico contemporâneo é esquizofrênico. A teoria clássica foi quase virada de ponta-cabeça. Os próprios economistas, quaisquer que seja suas convicções, criam ciclos econômicos mediante suas políticas e previsões.
CAPRA, F., 1995: 207.
"Não pode haver dúvida que os nazistas eram o partido da depressão... ganharam proeminência eleitoral apenas em 1930, quando as condições econômicas se deterioraram." (EICHENGREEN, B., & TEMIN, Peter, cits. PARKER, S.: 139)
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A impressora e a guarda da moeda pertencem ao governo e aos bancos.

Você aprova algum monopólio, ou mesmo, mais brando, oligopólio?
O poder excessivo do setor financeiro é o motivo pelo qual o mundo chegou à crise atual.
RUSSELL, Bertrand, 1930.
O Moderno Midas, 2002: 69.
Quando os empresários comparam as rentabilidades dos projetos de infraestrutura com as taxas de juros que estão amplamente ligadas à 'preferência por liquidez', eles podem eventualmente renunciar a certos investimentos. A sociedade rica entra então numa depressão cumulativa e crônica, sem prespectiva de reerguimento a longo prazo.
GAZIER, Bernard, A crise de 1929: 101
As corporações centralizadas e autoritárias têm fracassado pela mesma razão que levou ao fracasso os estados centralizados e autoritários: elas não conseguem lidar com os requisitos informacionais do mundo cada vez mais complexo que habitam.
FUKUYAMA, F., 2002: 205
Não entende que o dinheiro deva ser meio e fruto da produção? E o que produz o Estado? Nada. Só vive às custas dos produtores.
Cobrando impiedosamente, Estado e Bancos vão expropriando tudo: lucro, capital, patrimônio. Estamos em regime de Ditadura fiscal e bancária, onde não há respeito pelas leis e Constituição Federal. Princípios como capacidade contributiva, juros legais, do não confisco e do sigilo bancário são violados.
MULLER, Heitor José, País vive o caos tributário, Jornal do Comércio,
9/12/1996.
Parece inevitável que se deva atalhar de uma vez este caminho. Por ele rumamos à miragem, envolvidos pela artistica cortina de papel que não resiste a mínima chuva:
"Na verdade, os interesses dos banqueiros têm sido contrários aos dos industriais: a deflação que convém aos banqueiros paralisou a indústria britânica." (RUSSELL, Bestrand)
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"'Tem que remunerar o capital' disse Roberto Setubal, presidente-executivo do Itaú Unibanco, ao responder pergunta sobre a chance do spread bancário cair nos próximos meses." (Folha de São Paulo, 11/8/2009)
Se um investidor adquire um imóvel no valor de cem mil dólares, ou reais, por exemplo, ao alugá-lo apurará um benefício ao redor de uns mil, por mes; todavia, qualquer banco brasileiro, que nada paga para ter o mesmo capital na mão, ao emprestar a esta quantia recebe dividendos de até dez vezes mais. O que apuramos?
"No acumulado dos últimos 12 meses, a produção industrial tem retração de 8,9%, o que configura o pior desempenho da série histórica. O setor de bens de capital foi o mais afetado... com redução de 25,7% na produção." (Folha de São Paulo, 2/10/2009)

Trago uma declaração que o senhor vai adorar:
Precisamos tirar a política da sombra corruptora do dinheiro.
Prof. Doutor Roberto Mangabeira Unger, ex-Secretário de Planejamento de Longo Prazo do Brasil, Livre Docente da Universidade de Harvard, ex-Professor do Senador Barack Obama.
Quase. Veja: o Secretário é ex. Vai ver, por essa declaração foi defenestrado. A política é muito extensa, e abstrata para podermos movê-la. Parece-me mais viável simplesmente tirar o dinheiro das corruptas mãos dos políticos. Os recursos devem ser manejados por seus criadores. Há uma óbvia solução, não implementada: Desestatização do Dinheiro.
As considerações econômicas são meramente aquelas pelas quais conciliamos e ajustamos nossos diferentes propósitos, nenhum dos quais, em última instância, é econômico (exceto os do avarento ou do homem para quem ganhar dinheiro se tornou um fim em si mesmo).
SEN, Amartya: 328
Ninguém pode imaginar como que isso funcionaria. Quem ousaria arriscar, fazer esta completamente inédita experiência? Nossa emergência não admite maiores delongas!
Ter mais liberdade melhora o potencial das pessoas para cuidar de si mesmas e para influenciar o mundo, questões centrais para o processo do desenvolvimento.
DAWKINS, R: 369
Creio que devamos contar com cérebros mais jovens e mais flexíveis para tomar essa iniciativa e mostrar que tal reversão é viável, e necessária. Se eu tivesse mais tempo poderia lhe mostrar ainda mais, além do que já expus. Toda essa estrutura maluca só produz maus resultados. Esse monopólio, originalmente concebido apenas para a emissão de moeda-ouro, é o responsável pelas grandes flutuações no crédito, pelas grandes flutuações na atividade econômica, e, em última instância, pelas recorrentes depressões. Aqui, e alhures.
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Até os cérebros jovens amadurecerem já perecemos!

Desde 1968 a juventude reivindica imaginação ao poder. Estamos prestes a completar meio século do pleito. "Pode tirar o cavalinho da chuva", como gosta de aconselhar nosso jardineiro muito além do jardim.
A humanidade em geral sente-se inclinada a pôr os pés sobre as pegadas e imitar as ações dos outros. Um homem inteligente deve sempre seguir no rastro desses ilustres personagens cujas ações são dignas de serem imitadas: assim, se não puder igualá-las, pelo menos, em certa medida, assemelhar-se-á a elas.
MAQUIAVEL, O príncipe
A bilheteria que um filme faz reverte num adicional que volta para o diretor, para o desenvolvimento do próximo projeto... É um filme que mescla as duas vertentes. A indignação pelo cinismo que parece ter tomado conta do Brasil é essa coisa visceral, de dentro."
Cineasta BABENCO, Hector, Virei um brasileiro para filmar denúncias'. - Folha de São Paulo, 18/8/2009)
Portanto, cabe a nós, e não aos santos-de-pau-oco, resolver a equação. Por eles, está bem como está. Eles moram muito bem, obrigado.
Temos a maior taxa de juros do mundo. Disparadamente a maior.
Econ. JOSÉ SERRA, Gov. de São Paulo. - Estadão, 12/12/2008
E como efetuar o despejo de tanta impostura, Exa.?
Do socorro imediato é que me eximo prenunciar. Asseguro-lhe apenas que o motor da ambulância já está ligado, no aquecimento. Enquanto isso, como também não aguento mais, ufa, penso em tirar uns tres dias de férias, pelo menos, querida medium Foca Liza. Agora está na hora de meu aperitivo. Licença.

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