Mais de dois mil anos já se passaram desde o dia em que Platão ocupava o centro do universo espiritual da Grécia e em que todos os olhares convergiam para a sua Academia, e ainda hoje se continua a definir o caráter da filosofia, seja ela qual for, pela sua relação com aquele filósofo.
JAEGER 2003: 581
No túnel do tempo fulgura um mundo encaminhado por incontáveis debilóides, mais ou menos salientes. Com raríssima exceção, todos portam a faina exclusiva de submeter os semelhantes a seus caprichos. Por um ou outro artifício, ainda sóem obter pleno êxito.
A democracia fala de um governo comandado pelo povo e sujeito às suas leis; na realidade, entretanto, os regimes democráticos são dominados por elites que planejam maneiras de moldar e dobrar a lei a seu favor.
PIPES, R.:251
Há duas décadas fui convidado a participar de elevado colóquio. Na primeira intervenção tentei projetar o Século XX como da suprema insanidade. Péssima idéia.
.Todos se sentiram atingidos; afinal, nascemos no ciclo.
O seleto grupo enveredou contra minha participação, capitaneado por lírica e afamada escritora gaúcha. Para ela os tempos recém passados não tinham sido assim tão padrastos, e tudo poderia ser assimilável. Tentei argumentar elencando dezena de fatos, e milhões de mortes, todas sem excessão em nome do povo, mas o tempo parece tê-los desbotados, de modo que ninguém me deu ouvidos, ao contrário. O que vi foi cara feia. Em hotel cinco estrelas, como falar de coisa triste? Fui peremptoriamente excluído..
A razão é que todo adulto normal não se preocupa com os problemas propostos pela conceituação de espaço e tempo. Tudo o que precisamos saber além sobre este assunto imaginamos já do nosso conhecimento desde a infância. 'Para mim!, dizia Einstein, 'ao contrário, como me desenvolvi muito lentamente, somente comecei a propor tais questões sobre o espaço e o tempo, quando já havia crescido. Em consequência, pude penetrar mais profundamente no interior do problema, o que uma criança de desenvolvimento normal não teria feito'.
Pelo mesmo túnel podemos apreciar alguns aspectos da natureza praticamente imutáveis - a Lua, o Sol, as quatro estações, por exemplo, jamais foram revogados.
No Princípio Deus criou o céu e a terra. A terra, porém, estava informe e vazia, e as trevas cobriam a face do abismo, e o Espírito de Deus movia-se sobre as águas. E Deus disse: Exista a luz. E a luz existiu. E Deus viu que a luz era boa; e separou a luz das trevas. E chamou a luz de dia, e as trevas noite. E fez-se tarde e manhã: o primeiro dia.
Genesis
A natureza parece mesmo implacável. Tirante tênues preocupações com efeitos-estufa, camadas-de-ozônio, ecologia, e tal, nada mais nossos braços, e sequer a mente logra alcançar.
Seja pela catequese, ou por
DARWIN, os humanos ainda são considerados naturais. Estaríamos, pois, fadados a também seguir um imutável destino? Seria natural, humano, lógico, sensato, prudente, óbvio, que a civilização prossiga resignada pelos ditames já elencados nas priscas eras?
Venho insistindo há tempos que por detrás da crise atual econômicofinanceira vige uma crise de paradigma civilizatório. De qual civilização? Obviamente se trata da civilização ocidental que já a partir do século XVI foi mundializada pelo projeto de colonização dos novos mundos. Este tipo de civilização se estrutura na vontade de poder-dominação do sujeito pessoal e coletivo sobre os outros, os povos e a natureza.
BOFF, Leonardo, Zen e a Crise da Cultura Ocidental
Todos, disse
TODOS os mais ou menos dantescos episódios somente se precipitam graças à visão - arcaica e por demais estereotipada - da ciência, da filosofia, educação, cultura, da religião, e da política, de um arquétipo de valores, enfim, que se abateu de modo indelével, por isso devastador, sobre o Ocidente; e por seu êxito, sobre toda a civilização.
"Não existe tirania mais cruel do que a exercida à sombra da lei e com uma aparência de justiça, quando, por assim dizer, os infelizes são afogados com a própria prancha em que tinham sido salvos." (MOMTESQUIEU: 109)
A ideologia chega ao seu ponto máximo quando coloca o direito como instrumento acionado por uma “vontade”, a da maioria, através de seus ‘representantes’ - de ‘legisladores racionais.’ Jamais se questiona se os ‘representantes’ não estariam sujeitos as conveniências políticas.
COELHO,L.F.:341
Existe, pois, o
Fio-de-Ariadne."Quanto mais facilmente os eleitores acreditarem nas forças mágicas do Estado, tanto mais estarão dispostos a votar a favor do candidato que promete maravilhas. (SOREL: 145)
"Mas quando o legislador é finalmente eleito – ah! Então o seu discurso muda radicalmente [...] o povo que durante a eleição era tão sábio, tão cheio de moral, tão perfeito, não tem mais nenhuma espécie de iniciativa." (BASTIAT: 59)
Constatamos durante a campanha que o talento de Obama para a oratória era uma vantagem enorme, e creio que será ainda também um de seus grandes atrativos como presidente. Na verdade, a política não mudou desde a sua invenção pelos gregos.GALSTON, Willian, da Brookings Institution e ex-assessor da Casa Branca.
No que se refere aos animais mantidos pelos homens, ninguém que não o tenha vivenciado acreditará quão mais livres e insolentes são eles aí do que em qualquer outra parte. Conforme diz o provérbio, as cadelas são como as donas, e vê-se ainda como até cavalos e burros estão habituados, conscientes de sua liberdade e dignidade, a avançar a passos largos e embater contra todos que se encontram na rua, caso não se desviem. E todo o restante encontra-se repleto da cara liberdade.PLATÃO, cit. KELSEN: 465
Nossos contemporâneos imaginaram um poder único, tutelar, onipotente, mas eleito pelos cidadãos; combinam centralização e soberania popular. Isso lhes dá um pouco de alívio. Consolam-se do fato de estarem sob a tutela pensando que eles mesmo escolheram os tutores. Num sistema desse gênero, os cidadãos saem por um momento da dependência, para designar o seu patrão, e depois nela reingressam.
CONSTANT, Benjamin, 1767-1830, cit. Bobbio, 1993: 59
Em muitos Estados do Terceiro Mundo, o assim chamado povo soberano não é nada. Ou quase nada. Fica à margem ou ausente do jogo político, limitado a um círculo restrito. Chamam-no somente para ratificar, plebiscitar e aplaudir. [...] Sobretudo por ocasião das eleições presidenciais.
SCHWARTZENBERG: 320
Com todo o respeito, seja em nome do que for, aguentar os
zé laias,
sarnas cosi, belos clones, batráquios barbudos,
chávez-de-braço, putin russo (ah, que nomezinho apropriado) ou até
mesmo
oba-oba, parece-me muita burrice.
Um homem vota em um partido e permanece infeliz; ele conclui que era o outro partido que traria o período de felicidade e prosperidade. No momento em que estivesse desencantado com todos os partidos, já seria um homem idoso, à beira da morte. Seus filhos teriam a mesma crença de sua juventude, e a oscilação contínua.
RUSSELL, Bertrand, Ensaios céticos: 121.
A gloriosa
Nav's ALL encetará novo
raid pelo
mar-de-lama, na tentativa de resgate de algum sobrevivente.
Se vamos continuar a nos apoiar na ciência para criar e gerenciar organizações, para fazer pesquisa e formular hipóteses sobre desenho organizacional, planejamento, economia (finanças), a natureza humana, e mudanças de processos, então deveríamos pelo menos nos apoiar na ciência de hoje. Deveríamos parar de procurar modelos na ciência do século XVII e começar a explorar o que aprendemos com a ciência do século XX.
WHETLEY, M., Leadership and the new science.
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*A ideologia, segundo Karl Marx, pode ser considerada um instrumento de dominação que age através do convencimento (e não da força), de forma prescritiva, alienando a consciência humana e mascarando a realidade. Os pensadores adeptos da Teoria Crítica Frankfurtiana consideram a ideologia como uma ideia, discurso ou ação que mascara um objeto, mostrando apenas sua aparência e escondendo suas demais qualidades. Por isso, a ideologia cria uma “falsa consciência” sobre a realidade que visa a modo de suprir , morder e reforçar e perpetuar essa dominação. (Wikipédia)
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