O EspaçoTempo se constitui no elemento primordial à sincronicidade.O cientista não é um ser que vive à procura da glória ou do sucesso e a evitar o fracasso. Sob esse aspecto, vejo o cientista como um ser que abre ou fecha portas. Se nada de minhas teorias se justificar, gostaria de passar para a história da ciência como alguém que colaborou para que se fechasse a porta de um labirinto imenso e que não dá em lugar nenhum. Psicologicamente falando, isso me basta. O que não posso é ignorar a existência desse labirinto, apenas para agradar os físicos 'modernos', que pretendem que eu o coloque debaixo do tapete Thomas Kuhn
À realização de qualquer evento contribuem incidentes convergentes a um ponto, em dado instante. Esta percepção assume, portanto, a primeira condição para nos adequar aos benefícios, ou a evitar os desastres que os vários movimentos de evoluções paralelas podem desencadear. Somente após defini-lo é que poderemos aquilatar as potencialidades das inferências que podem marcá-lo.
A intuição* é o mais significativo instrumento, mas ela necessita de fundamentação, de racionalização. A Física Quântica é pródiga. Ambas são complementares. Em conjunto oferecem segurança. Pela silhueta podemos nos posicionar, e tomar partido através de consistentes argumentos dedutivos e/ou indutivos. Por fim, será a experiência, a prova-de-fogo, que a consagrará, ou não.
A consciência da dimensão do EspaçoTempo no qual estamos expostos, ou virtualmente envoltos, todavia, fica dificultada mercê da tradição que nos impõe a ciência como suprema, e o relógio como padrão e, em escala maior, a contagem dos giros da Terra através do perímetro solar. O parâmetro nos induz a mentalizar o tempo como uniforme, em rotação regular, como se a vida fosse uma roda-gigante, no qual nosso ticket daria ensejo a sei lá quantas voltas. Neste caso, a paisagem deveria ser a mesma, e o desenrolar totalmente previsível, em progressão ascendente, até um ponto, e descendente a partir do meio, quando então nos preparamos ao desembarque.
Tal simplificação é mais antiga que o rascunho da Bíblia. Encontra-se lavrada no Timeu, de Platão, e foi resgatada, ou confirmada, a partir das constatações de Copérnico, Galileu, Bacon, Kepler e Ticho Brahe.O pacto com o diabo
O exemplo mais clássico do grande equívoco, desde a Tradição, adveio na faina da previsão:
"A confecção de relógios, por exemplo, é certamente delicado e trabalhoso, de tal modo que as suas rodas parecem imitar as órbitas celestes ou o movimento contínuo e ordenado do pulso dos animais." (Bacon, p. 67)
"No ombro dos gigantes" Newton (Principia, II, art. 37) logrou a coroação:
O espaço absoluto, em sua própria natureza, sem levar em conta qualquer coisa que lhe seja externa, permanece sempre inalterado e imóvel. O tempo absoluto, verdadeiro e matemático, de si mesmo e por sua própria natureza, flui uniformemente, sem depender de qualquer coisa externa.Heisenberg (1996, p.17), um célebre baluarte da Teoria Quântica, não se furtou em liquidar a premissa:
Percorri laboriosamente o texto, embora ele me parecesse um absurdo. Como quer que fosse, todas essas idéias me pareceram uma especulação desvairada, talvez perdoável por faltar aos gregos o necessário conhecimento empírico. Não obstante, entristeceu-me ver um filósofo da agudeza crítica de Platão sucumbir a tais fantasias.Infelizmente, dada a confirmação, a sucumbência de Platão levou a humanidade de roldão. Eis o mais grave prejuízo, que nos cabe recuperar. A chicana de Platão
Jacques Rueef em Les Dieux et les Rois, traduzido como A Visão Quântica do Universo, corrobora:
O determinado, o movimento da história, a lei do progresso inevitável, a dialética como motor do mesmo, a estrutura tecnocrática imposta, ao serem cotejados com os novos achados da ciência, resultam meros conceitos sem justificação, porque inclusive seus pressupostos científicos caducaram, revisados em suas raízes mais profundas.É certo que ao nascer o homem já está predestinado a cumprir diminuto EspaçoTempo. Vem com prazo de validade estipulada em século, grosso modo. De resto todos animais vem com esta condicional, embora seus prazos variem, e muito. O que é uma eternidade para alguns, é efêmero a outros. A velocidade de uma motocicleta é diversa da empregada na sinaleira. Todos os elementos que integram o globo tem velocidade apropriada; que dirá no Universo. Há quem diga que até o Universo tem prazo de validade, e muitas especulações voam nas asas dessa imaginação. Também as estrelas tem morte anunciada, mas, para efeito de nosso raciocínio, são eternas, como é o Sol. Se este sucumbir, e tudo escurecer, fica claro que a eternidade é apenas uma ilusão. Por enquanto, não. Eternidade é o que permanece no EspaçoTempo desde o BigBang, até sabe-se lá quando.
Pois bem. De que servem os relógios a tão magnânima evolução? Quanto demora uma luz de uma galáxia distante para beijar os mares do sul? Ponteiros são incapazes de apontar a intermitência de vulcões, e de nada contribuem para que possamos apreciar uma cadente.
"Cada forma de vida inventa seu mundo (do micróbio à árvore, da abelha ao elefante, da ostra à ave migratória) e, com esse mundo, um espaço e um tempo específico." (Lévy, Pierre, cit. Pellanda e Pellanda: 118)
O relógio foi criado, e é usado, apenas por convenção. Ele é totalmente estranho ao cosmos, ainda que alguns cometas e planetas de certo modo o respeitem, ou melhor, suas trajetórias sejam passíveis de medições por constantes. Todavia, basta um corpo passar por sua tangência, e em seu rastro a gravidade, para se alterarem o espaço e o tempo que lhes são regulares.
Nem o relógio, muito menos os dias contados são os parâmetros utilizados pelos astrônomos ou físicos cosmológicos para identificar movimentos e posições dos astros e trajetórias mirados. Anos-luzes são medidas de porte praticamente inacessível à nossa parca dimensão, e nem são consideradas. Não vem ao caso, dizem. Um pé-de-milho é que tem serventia, e é mais fácil calcular semeadura e colheita.
Os cristãos levaram Platão à sério, embora o nome do grego fosse Aristocles, e se trate do primeiro, e quiçá o maior falsário que fulgura na História da Humanidade. Suas atividades em nada o recomendavam: primeiro o ateniense traiu sua égide: por pederasta, primeiro se tornou amante dos inimigos, os espartanos. Expulso, encontrou a cama do filho do Tirano de Sircusa para iludi-lo, e levar o descalabro e a completa desgraça àquele reino. Pela tirania, ou pelos torpes conselhos, o certo é que aquele importante reduto de passagem comercial foi exterminado, acabando tragicamente a familia que lhe hospedou. De volta à Grècia, passou a aliciar a juventude ateniense com algum sucesso, arrebatando ao sítio de Academus uma plêiade logo devidamente pervertida.
Mercê do trunfo da doutrina órfica, e da lógica pitagórica (1) em conjugação com a técnica socrática, Platão ensejou que a Igreja escorregasse no embuste pelo qual conduziu a humanidade à letargia científica. Em que pese não haver Sol no cosmos, muito menos relógio, ainda assim os representantes terrenos aplicaram que Deus havia feito o mundo em uma semana, para descansar depois.
Como Ele é dado perfeito, é inverossímel que tenha precisado descansar. Ademais, como dizem que Deus está no céu, certamente por lá ele não precisa pernas. Portanto, também é inverossímel que sejamos à sua imagem e semelhança. Por fim, o conceito e a duração do dia, são medidas exclusivamente terrenas; e Deus, dizem, não é.
Portanto, o transcurso do tempo desse modo tão simplório, linear, ou circular, provém desta fonte nada despreendida, mas pela qual despenca a humanidade até os dias de hoje. Não traduz, contudo, sequer a sombra da realidade, posto esta não ser única. As realidades são múltiplas, e de modo infinito. Mesmo na Terra, mercê dos diversos fusos, as horas são distintas. Os dias dos polos não obedecem as equalizações costumeiras.
O tempo só é único para cada um de nós. Para o todo, não. Como somos nós e nossas circunstâncias, toda estipulação que privilegie apenas uma parte, ainda que a mais importante, está fadada ao insucesso:
"O fato de o tempo ser próprio de cada corpo, não uma ordem cósmica única, envolve mudanças nas noções de substância e causa." (Russell, cit. Fadiman: 165)
Eis a razão da sincronicidade ser insuscetível à relógio, a hora marcada. Se em Brasília são 19 horas, que horas serão em Júpiter?
Como escapulir da maquiavélica armadilha? De que modo podemos ter consciência do EspaçoTempo, e não apenas do decurso do tempo?
Bem, teremos que estar sempre vigilantes, porque vivemos à borda do buraco-negro da presunção. Mas vale à pena, porque fora dele se descortina um magestoso Universo, repleto de energia e informação, procedentes de incontáveis quadrantes. Dentro da caverna é que nada há, exceto morcegos, e a imaginação proveniente dessas abjetas criaturas (2). Eis a fonte de inpiração de Platão.
Não adianta, contudo, a vigilância, se o inimigo não estiver totalmente identificado, inclusive dentro dos disfarces que costuma se valer. Talvez não seja suficiente o despirmos apenas da capa; vamos examinar também seus fundilhos, e assim flagraremos o travesti que encanta o transeunte. Se sonhar faz bem, viver é melhor, e mais rentável.
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Notas
* Do latim intuitione, significa "imagem refletida por um espelho". "Ela funciona como um resultado de um processo mental realizado abaixo do nível de consciência." (Eugene Sadler-Smith, Surrey University, England.)
Os ingleses a denominan feelling, como se fosse uma sensação indefinível, meia mística.
1.REALE, Giovanne, e Dario ANTISERI. História da Filosofia. 7a. Vol. I. III vols. São Paulo, SP: Paullus, 2002, p. 125). Há unaminidade quanto as fontes utilizadas por Platão. Dos órficos e pitagóricos, que provém a separação do homem em corpo e alma. Para o artífice, as verdadeiras causas das coisas estão no Mundo Inteligível, e não no Mundo Sensível, como se fosse possível, prudente, e exclusivo a percepção da realidade apenas aquela aparente, ou pelo menos, calculável.
2.O livro VII de A República vem com a lorota da Caverna.
sábado, 19 de julho de 2008
A impossibilidade da sincronicidade pelo relógio
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Oiiiiiiiiiiiiiiii tudo bem??
ResponderExcluirOxiii post legal esse.....
viva o tempo kkkkkkkkkkkk
bjss
Grats, amável Sampinha.
ResponderExcluirDedico também a você o próximo post, neste tempo de amizade.