sábado, 19 de julho de 2008

A impossibilidade da sincronicidade pelo relógio

O cientista não é um ser que vive à procura da glória ou do sucesso e a evitar o fracasso. Sob esse aspecto, vejo o cientista como um ser que abre ou fecha portas. Se nada de minhas teorias se justificar, gostaria de passar para a história da ciência como alguém que colaborou para que se fechasse a porta de um labirinto imenso e que não dá em lugar nenhum. Psicologicamente falando, isso me basta. O que não posso é ignorar a existência desse labirinto, apenas para agradar os físicos 'modernos', que pretendem que eu o coloque debaixo do tapete Thomas Kuhn
O EspaçoTempo se constitui no elemento primordial à sincronicidade.
À realização de qualquer evento contribuem incidentes convergentes a um ponto, em dado instante. Esta percepção assume, portanto, a primeira condição para nos adequar aos benefícios, ou a evitar os desastres que os vários movimentos de evoluções paralelas podem desencadear. Somente após defini-lo é que poderemos aquilatar as potencialidades das inferências que podem marcá-lo.
A intuição* é o mais significativo instrumento, mas ela necessita de fundamentação, de racionalização. A Física Quântica é pródiga.
Ambas são complementares. Em conjunto oferecem segurança. Pela silhueta podemos nos posicionar, e tomar partido através de consistentes argumentos dedutivos e/ou indutivos. Por fim, será a experiência, a prova-de-fogo, que a consagrará, ou não.
A consciência da dimensão do EspaçoTempo no qual estamos expostos, ou virtualmente envoltos, todavia, fica dificultada mercê da tradição que nos impõe a ciência como suprema, e o relógio como padrão e, em escala maior, a contagem dos giros da Terra através do perímetro solar. O parâmetro nos induz a mentalizar o tempo como uniforme, em rotação regular, como se a vida fosse uma roda-gigante, no qual nosso ticket daria ensejo a sei lá quantas voltas. Neste caso, a paisagem deveria ser a mesma, e o desenrolar totalmente previsível, em progressão ascendente, até um ponto, e descendente a partir do meio, quando então nos preparamos ao desembarque.
Tal simplificação é mais antiga que o rascunho da Bíblia. Encontra-se lavrada no Timeu, de Platão, e foi resgatada, ou confirmada, a partir das constatações de Copérnico, Galileu, Bacon, Kepler e Ticho Brahe.
O pacto com o diabo
O exemplo mais clássico do grande equívoco, desde a Tradição, adveio na faina da previsão:

"A confecção de relógios, por exemplo, é certamente delicado e trabalhoso, de tal modo que as suas rodas parecem imitar as órbitas celestes ou o movimento contínuo e ordenado do pulso dos animais." (Bacon, p. 67)
"No ombro dos gigantes" Newton (Principia, II, art. 37) logrou a coroação:
O espaço absoluto, em sua própria natureza, sem levar em conta qualquer coisa que lhe seja externa, permanece sempre inalterado e imóvel. O tempo absoluto, verdadeiro e matemático, de si mesmo e por sua própria natureza, flui uniformemente, sem depender de qualquer coisa externa.
Heisenberg (1996, p.17), um célebre baluarte da Teoria Quântica, não se furtou em liquidar a premissa:
Percorri laboriosamente o texto, embora ele me parecesse um absurdo. Como quer que fosse, todas essas idéias me pareceram uma especulação desvairada, talvez perdoável por faltar aos gregos o necessário conhecimento empírico. Não obstante, entristeceu-me ver um filósofo da agudeza crítica de Platão sucumbir a tais fantasias.
Infelizmente, dada a confirmação, a sucumbência de Platão levou a humanidade de roldão. Eis o mais grave prejuízo, que nos cabe recuperar.
A chicana de Platão
J
acques Rueef em Les Dieux et les Rois, traduzido como A Visão Quântica do Universo, corrobora:

O determinado, o movimento da história, a lei do progresso inevitável, a dialética como motor do mesmo, a estrutura tecnocrática imposta, ao serem cotejados com os novos achados da ciência, resultam meros conceitos sem justificação, porque inclusive seus pressupostos científicos caducaram, revisados em suas raízes mais profundas.
É certo que ao nascer o homem já está predestinado a cumprir diminuto EspaçoTempo. Vem com prazo de validade estipulada em século, grosso modo. De resto todos animais vem com esta condicional, embora seus prazos variem, e muito. O que é uma eternidade para alguns, é efêmero a outros. A velocidade de uma motocicleta é diversa da empregada na sinaleira. Todos os elementos que integram o globo tem velocidade apropriada; que dirá no Universo. Há quem diga que até o Universo tem prazo de validade, e muitas especulações voam nas asas dessa imaginação. Também as estrelas tem morte anunciada, mas, para efeito de nosso raciocínio, são eternas, como é o Sol. Se este sucumbir, e tudo escurecer, fica claro que a eternidade é apenas uma ilusão. Por enquanto, não. Eternidade é o que permanece no EspaçoTempo desde o BigBang, até sabe-se lá quando.
Pois bem. De que servem os relógios a tão magnânima evolução? Quanto demora uma luz de uma galáxia distante para beijar os mares do sul? Ponteiros são incapazes de apontar a intermitência de vulcões, e de nada contribuem para que possamos apreciar uma cadente.
"Cada forma de vida inventa seu mundo (do micróbio à árvore, da abelha ao elefante, da ostra à ave migratória) e, com esse mundo, um espaço e um tempo específico." (Lévy, Pierre, cit. Pellanda e Pellanda: 118)
O relógio foi criado, e é usado, apenas por convenção. Ele é totalmente estranho ao cosmos, ainda que alguns cometas e planetas de certo modo o respeitem, ou melhor, suas trajetórias sejam passíveis de medições por constantes. Todavia, basta um corpo passar por sua tangência, e em seu rastro a gravidade, para se alterarem o espaço e o tempo que lhes são regulares.
Nem o relógio, muito menos os dias contados são os parâmetros utilizados pelos astrônomos ou físicos cosmológicos para identificar movimentos e posições dos astros e trajetórias mirados. Anos-luzes são medidas de porte praticamente inacessível à nossa parca dimensão, e nem são consideradas. Não vem ao caso, dizem. Um pé-de-milho é que tem serventia, e é mais fácil calcular semeadura e colheita.
Os cristãos levaram Platão à sério, embora o nome do grego fosse Aristocles, e se trate do primeiro, e quiçá o maior falsário que fulgura na História da Humanidade. Suas atividades em nada o recomendavam: primeiro o ateniense traiu sua égide: por pederasta, primeiro se tornou amante dos inimigos, os espartanos. Expulso, encontrou a cama do filho do Tirano de Sircusa para iludi-lo, e levar o descalabro e a completa desgraça àquele reino. Pela tirania, ou pelos torpes conselhos, o certo é que aquele importante reduto de passagem comercial foi exterminado, acabando tragicamente a familia que lhe hospedou. De volta à Grècia, passou a aliciar a juventude ateniense com algum sucesso, arrebatando ao sítio de Academus uma plêiade logo devidamente pervertida.
Mercê do trunfo da doutrina órfica, e da lógica pitagórica (1) em conjugação com a técnica socrática, Platão ensejou que a Igreja escorregasse no embuste pelo qual conduziu a humanidade à letargia científica. Em que pese não haver Sol no cosmos, muito menos relógio, ainda assim os representantes terrenos aplicaram que Deus havia feito o mundo em uma semana, para descansar depois.
Como Ele é dado perfeito, é inverossímel que tenha precisado descansar. Ademais, como dizem que Deus está no céu, certamente por lá ele não precisa pernas. Portanto, também é inverossímel que sejamos à sua imagem e semelhança. Por fim, o conceito e a duração do dia, são medidas exclusivamente terrenas; e Deus, dizem, não é.
Portanto, o transcurso do tempo desse modo tão simplório, linear, ou circular, provém desta fonte nada despreendida, mas pela qual despenca a humanidade até os dias de hoje. Não traduz, contudo, sequer a sombra da realidade, posto esta não ser única. As realidades são múltiplas, e de modo infinito. Mesmo na Terra, mercê dos diversos fusos, as horas são distintas. Os dias dos polos não obedecem as equalizações costumeiras.

O tempo só é único para cada um de nós. Para o todo, não. Como somos nós e nossas circunstâncias, toda estipulação que privilegie apenas uma parte, ainda que a mais importante, está fadada ao insucesso:
"O fato de o tempo ser próprio de cada corpo, não uma ordem cósmica única, envolve mudanças nas noções de substância e causa." (Russell, cit. Fadiman: 165)
Eis a razão da sincronicidade ser insuscetível à relógio, a hora marcada. Se em Brasília são 19 horas, que horas serão em Júpiter?
Como escapulir da maquiavélica armadilha? De que modo podemos ter consciência do EspaçoTempo, e não apenas do decurso do tempo?
Bem, teremos que estar sempre vigilantes, porque vivemos à borda do buraco-negro da presunção. Mas vale à pena, porque fora dele se descortina um magestoso Universo, repleto de energia e informação, procedentes de incontáveis quadrantes. Dentro da caverna é que nada há, exceto morcegos, e a imaginação proveniente dessas abjetas criaturas (2). Eis a fonte de inpiração de Platão.
Não adianta, contudo, a vigilância, se o inimigo não estiver totalmente identificado, inclusive dentro dos disfarces que costuma se valer. Talvez não seja suficiente o despirmos apenas da capa; vamos examinar também seus fundilhos, e assim flagraremos o travesti que encanta o transeunte. Se sonhar faz bem, viver é melhor, e mais rentável.
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Notas
* Do latim intuitione, significa "imagem refletida por um espelho". "Ela funciona como um resultado de um processo mental realizado abaixo do nível de consciência." (Eugene Sadler-Smith, Surrey University, England.)
Os ingleses a denominan feelling, como se fosse uma sensação indefinível, meia mística.
1.REALE, Giovanne, e Dario ANTISERI. História da Filosofia. 7a. Vol. I. III vols. São Paulo, SP: Paullus, 2002, p. 125). Há unaminidade quanto as fontes utilizadas por Platão. Dos órficos e pitagóricos, que provém a separação do homem em corpo e alma. Para o artífice, as verdadeiras causas das coisas estão no Mundo Inteligível, e não no Mundo Sensível, como se fosse possível, prudente, e exclusivo a percepção da realidade apenas aquela aparente, ou pelo menos, calculável.
2.O livro VII de A República vem com a lorota da Caverna.

2 comentários:

  1. Oiiiiiiiiiiiiiiii tudo bem??
    Oxiii post legal esse.....
    viva o tempo kkkkkkkkkkkk

    bjss

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  2. Grats, amável Sampinha.
    Dedico também a você o próximo post, neste tempo de amizade.

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