segunda-feira, 21 de julho de 2008

Em busca da sincronicidade

-
A inteligência prolongada da natureza e do ecossistema, a grante teia da vida, também trabalha através da coincidência e do sincronismo, como o faz a inteligência fundamental do universo.
CHOPRA, DEEPAK, 2005: 90
Nada, absolutamente nada existiria se não fosse um extraordinário conjunto de coincidências.(Idem: 94)

A sincronicidade contribui para o êxito de qualquer feito, e sua inobservância, ao insucesso. O grau pode ser variado, como distintas são as conseqüências, mas todas nossas realizações, felizes ou catastróficas, são produtos de sincronizações.
Geralmente, por mais decisivas, os componentes de risco são sempre preocupantes, de modo que costumamos estar atentos a quaisquer sinais de perigo. Todavia, por curioso, olvidamos, ou ignoramos muitas manifestações que indicam, ou facilitam nossos desejos.
O surfista vê a crista da onda e já sabe qual movimento corresponde ao seu proveito.O motociclista diminui a marcha para alcançar velocidade: quando chegar no sinal, estará lançado, e não parado.Esses prosaicos exemplos podem nos dimensionar o valor de usufruir das circunstâncias.O elemento chave é o EspaçoTempo.
Nos pampas costumam afirmar: quando o verão é bom, até os cavalos dão cria.
Na visão a longa distância, é relativamente fácil adequarmos nossa conduta com vistas à sincronicidade almejada. Entretanto, como poderemos nos dispor quando esperamos esses bons vento que trazem o verão dos cavalos, mas não temos noção de qual quadrante eles podem chegar, tampouco suas intensidades, muito menos o quê os causa, ou ao menos quando chegarão, se é que chegarão?
Já vimos que a partir de Platão e seu Timeu, depois a turma mecanicista, encorpada pelos filósofos que deu causa, entre os mais salientes Hegel e Comte, que a ciência supunha tudo poder prever, e o que não era previsto seria apenas uma questão de tempo, de avanço da ciência:
Felizmente, para o gênero humano, o prestígio da ciência aumenta todos os dias. E, certamente, quanto mais avançar a civilização, mais ela avançará. Em primeiro lugar, porque a ciência fará descobertas sempre mais numerosas, mais profundas e mais surpreendentes; em seguida, porque os homens, libertados das concepções mitológicas e infantis, terão os espíritos melhor preparados para receber os ensinamentos provenientes de pesquisas positivas, precisas, exatas. A autoridade sem apelo da ciência já não é mais contestada pelo grande público em tudo o que diz respeito aos fatos físicos e biológicos. Em breve, certamente, daremos o último passo, e a autoridade da ciência se imporá de modo completo no domínio dos conhecimentos sociais. Então, chegaremos a fazer uma política racional, como já fazemos máquinas elétricas racionais, porque construídas unicamente sobre dados positivos, e não sobre tendências subjetivas.
J. Novicow, 1910
“Podemos dominar tudo por meio da previsão. Equivale isso a despojar de magia o mundo.” (Weber, Max, Ciência e política: duas vocações, p. 30.)
Pela óbvia impossibilidade, já ao raiar do dia restou a melancolia:
"O conjunto das suas reflexões, que ficou na história com o nome de 'positivismo lógico', saldou-se num tremendo fracasso." (António José de Barros Veloso, À cerca da pós-modernidade,http://cfcul.fc.ul.pt/equipa/2_cfcul_nao_elegiveis/antonio%20veloso/pos-modernidade%2021.doc.
O exclusivo caminho da ciência pode nos levar a um labirinto, a algum impasse, justamente onde não há a menor possibilidade de sincronicidade. Até mesmo Albert Einstein se viu diante de um enigma, e demorou a assimilar as características aleatórias das orbitais eletrônicas. Todavia, ela foi capaz de nos fornecer muitas pistas, as quais, se bem somadas, ou melhor, integradas, ampliam as possibilidades e probabilidades de aproveitarmos as marés, ainda que essas desenvolturas se mantenham invisíveis. É que a natureza obedece o ritual que lhe propicia. Ela se desdobra através dessa teia cósmica muito complexa, mas de certo modo delineável:
Assim, descobriu-se recentemente que na natureza tudo está subordinado a uma ordem, até mesmo os fenômenos confusos, sem nexo, totalmente imprevisíveis. Esta ordem ‘superior’ é capaz de explicar eventos aparentemente randômicos - não importa se se trata de bolsa de valores, da mudança na temperatura de nosso planeta, ou da maneira que nós formulamos nossos pensamentos – e que podem ser expressos tanto em fórmulas matemáticas e físicas, quanto em belas imagens (os chamados fractals) disformes, mas com uma atraente irregularidade. Todos esses eventos têm algo em comum: o fato de serem atraídos a certos estados da natureza, o que lhes dá unidade, se bem que disfarçada. A nova regularidade dos fenômenos deu origem a uma nova ciência, que tem o ‘caos’ como tema central e na qual, um dia, deve se enquadrar a teoria das ondas.
(Witkowski, Bergè: 275)
Desse modo, se acercarmo-nos de alguns princípios da física contemporânea e adicionarmos nossas experiências pessoais em conjugação com nossa intuição*, teremos chance de aos poucos irmos evoluindo, e com a evolução irmos aumentando as chances de colher os frutos e as benesses advindas de uma postura sincronizada aos mutantes ditames da natureza. Ademais, mercê de nossa própria gravidade, elemento inerente a qualquer corpo, independentemente de sua massa, poderemos, naturalmente ou através de um spin, ocasionar até mesmo uma influência em nossas circunstâncias, tornando-as favoráveis aos nossos intentos. Isso é o que pregam as leis da atração, ainda que seus métodos não sejam assim tão compatíveis com o modo eletrônico, atômico, quântico, no qual estamos envoltos, o que torna a missão mais complicada. Não precisa ser assim. O Universo é simples, e só depende de informação. Força é um atributo que lhe é estranho. E como tal, os conceitos de atração/repulsão. Digamos, então, ignição, pronto.
Veremos o que pode, o que não é necessário e o que convém ser suscetível de ignição, nestes últimos dias de julho.
_________
Nota
*Do latim intuitione, significa "imagem refletida por um espelho". "Ela funciona como um resultado de um processo mental realizado abaixo do nível de consciência." (Eugene Sadler-Smith, Surrey University, England.)
Os ingleses a denominan feelling, como se fosse uma sensação indefinível, meia mística.

Um comentário: