Há uma produção
taylorista de cortinas de fumaça; e palpitantes tragédias roubam a cena na mídia privilegiada com benesses publicitárias. A "economistas"
chapa-branca os juros deveriam crescer por cautela, "para não haver inflação". Mas se fosse por um motivo tão pueril, qual milagre permite outros países adotarem os menores juros do mundo concomitantemente com os menores índices de inflação?
Na ocasião me revoltei. Passaram a mão na minha cabeça. Junto veio o consôlo: bastaria não solicitar nenhum empréstimo que não precisaria satisfazer os agiotas oficializados. Quanto a tunga, igualmente não deveria me preocupar tanto assim. O dinheiro subtraído assim o fora de todos, porque de recursos chamados inapropriadamente de públicos, de modo que minha parte seria ínfima, portanto tolerável. Dessa maneira todos baixaram a cabeça, apertaram seus
sintos, e continuaram a ruminar o pasto remanescente. De certo modo as observações que ouvi continham lógica; todavia, eram parciais; portanto, totalmente equivocadas. Eu já tinha feito as contas, fiquei abismado, e tudo predisse na TV aberta, em programa por minha empresa patrocinada.
Quais seriam as conseqüências de uma retirada abrupta de aproximadamente 30% de todo o dinheiro circulante? Experimente reduzir a vazão de uma torneira, e constatará que, de plano, deteriorar-se-ão as flores periféricas; por conseqüência, graças a um inevitável
trickle-down* invertido, perder-se-ão as centrais, e com elas todo o jardim.
(O Planejamento da Depressão)
O que tivemos, desde então?
Juros & Depressão. Imediatamente se acentuaram os níveis de desemprego; de falências; de concordatas; e
a criminalidade evoluída, em toda a espécie:
Com aproximadamente 48 mil mortes por ano, o Brasil é um dos países que detém uma das maiores taxas de homicídios no mundo, segundo relatório divulgado nesta segunda-feira pelo relator especial do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas sobre Execuções Arbitrárias, Sumárias ou Extrajudiciais, Philip Alston.
Folha de São Paulo, 15/9/2008
"O Brasil aparece como uma das principais rotas de tráfico de cocaína da América para a Europa, em relatório sobre drogas divulgado nesta terça-feira pela Casa Branca."
(Idem, 16/9/2008)
Como não fosse suficiente, inúmeras desventuras vem se multiplicando na sociedade brasileira.
O Sindicato dos Trabalhadores no Calçado de Novo Hamburgo, mais conhecido como Sindicato dos Sapateiros, que já teve 27 mil profissionais cadastrados nos anos 90, hoje não conta com mais de 8 mil filiados. Na avaliação de seus dirigentes, esses números retratam a crise que o setor calçadista vem enfrentando nos últimos anos. Este ano mais 1.200 trabalhadores já foram demitidos.
São alarmantes os índices de divórcios; de brigas em trânsito;
PM separa 70 brigas de trânsito por dia; veja relato de motorista de acidentes; proliferação de igrejas, e consultórios psiquiátricos; de questões judiciais de toda a espécie; procura por concursos à burocracia, portanto improdutivos; e de revoltas populares:
De julho a novembro de 2008, o número de processos em tramitação por violência doméstica contra mulheres ultrapassou 150 mil. Ao todo, são 41.957 ações penais e 19.803 ações cíveis, além de 19,4 mil medidas protetivas concedidas e 11.175 agressores presos em flagrante. Os dados são do Conselho Nacional de Justiça revelados em reportagem da Agência Brasil.
PORTO ALEGRE - A empresária Roselani Radaelli Picinini D'Ávila, 47 anos, matou a facadas o marido, a irmã e a sobrinha de 6 anos em Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul. Após os ataques, ela tentou suicídio, mas foi socorrida ao hospital por volta de 5h30m da madrugada. Segundo o delegado, a motivação do crime foi financeira. A empresa do casal, a Aveto Lucca, do ramo de calçados, atravessava situação difícil, endividada.
Globo, 15/4/2009
A pergunta que se impõe:
Tapetão é solução?
A ONU vai implantar projetos de mediação local de conflitos em comunidades carentes brasileiras. O trabalho será feito no Rio e em S. Paulo, através do Programa Cidades Mais Seguras.
Pouco adiantará. Além das taxas de juros impedirem a circulação da riqueza, portanto inviabilizando a redistribuição de renda tão decantada, fato que carreia o desespero na periferia, mas com amplitude indiscriminada, temos outro componente exponencial.
Tem-se como certo, porque invariável, que todo dinheiro
mal-havido não fica no Brasil, por motivos óbvios. Ele sói rumar às Cayman, ilhas outrora de piratas, onde não se pergunta donde vem a riqueza, mas só quanto ela vale. Outros redutos estrangeiros também são aquinhoados com os frutos subtraídos de cada um de nós. Dessartes, recursos embalados em
containers são carreadas àqueles ricos estádios, enquanto ao cidadão brasileiro cabe ficar a ver navios. Sem dinheiro em circulação, com o quê, além de dívidas, poderá o esquálido contar para efetuar seus míseros gastos?
Frango-a-um-real pode ser atrativo
se houver o real, não parece elementar? Cerceado o consumo, se restringe o comércio. Sem comércio, quem se atreverá produzir? A obviedade é tão flagrante que no tempo em que a vela era rainha da noite, ainda assim se tinha a claro:
A quantidade de dinheiro exigida para efetuar, de um modo livre e fluente, as transações de um país em determinada proporção; se for superior às necessidades, não haverá nisso vantagens para o comércio; se for inferior, muito inferior, ser-lhe-á extremamente prejudicial. A escassez de dinheiro reduz o preço daquela parte da produção que é usada no comércio, e o desestímulo que daí resulta para o comércio restringe a demanda da produção a ele destinada.
(Adam Smith, Modesta Investigação Sobre a Natureza e Necessidade do Papel-Moeda)
A razão primaz da propalada crise de alimentos é esta: como não são artigos que mereçam financiamentos, e como não há dinheiro suficiente em circulação, diminui seu comércio, e, conseqüentemente sua produção. Apenas bens de consumo durável, suscetíveis de financiamentos diretos, se sustentam no mercado. Evidentemente que estes produtos estão fora do alcance dos pobres; desse modo, a economia se torna por essência elitista, evoluindo apenas numa ponta, ao
caminho da estagflação.
* * *
A mútua dependência, a interatividade entre o indivíduo e seu meio é inexorável, por qualquer ângulo, ou sob qualquer disciplina, mormente na ciência econômica:
A macropolítica, a macrocultura, a macroeconomia dependem da micropolítica,
da microcultura, da microeconomia (em termos de seu respectivo âmbito,
quantitativo ou extensivo), e aquelas não podem absorver estas sem sofrer as
conseqüências que, ao fazê-lo, provocaria. A vida é interação das partes no todo.
(Goytisolo: 74/5).
Elenquei, apenas, algumas das conseqüências, submersas à socio logos, porque só enxergam cabeças, no vêzo comum de conduzir o gado; ademais na academia não lhes ministram equações, de forma que as quatro operações nem vem ao caso. Muito menos elas seria avistadas no chão-de-fábrica, especialmente no regado à
51.
Igualmente não são cristalinas aos economistas, porque a maioria se concentra nas finanças, não na produção; e uma minoria, usufrui da
freeway.
Ao jurista tudo parece monstruoso, mas quanto maior o monstro mais valorizada se torna a luta, e o defensor é partícipe direto, de modo que julga não ser atingido, até pelo contrário.
Jornais valorizam novelas e crimes sanguinários, embora veiculem o meio de prova da denúncia de corrupção, em detrimento da própria corrupção, do fato verdadeiramente social e delituoso. Mas basta verificar na programação a quantidade de comerciais oriundos de empresas implicadas, entre as quais não poucas oficiais., para entender o que lhes norteia. Jornalismo investigativo é cada vez mais raro, ainda mais se voltado ao passado.
Por fim, não seriam os políticos, alguns causadores do absurdo, outros interessados na manutenção do poder, que estariam prestes a aquilatar os efeitos das dantescas apropriações:
Só um homem bastante tolo pode honestamente compartilhar os prejuízos impostos a mais da metade da nação. Portanto, qualquer homem capaz e com talento político deve ser hipócrita para obter sucesso na política; mas ao longo do tempo a hipocrisia detruirá seu espírito público.
RUSSELL, Bertrand, Ensaios céticos: 135
Eles não tem a menor noção. De nada.
"O estado mecânico quântico é reduzido ou colapsado pela observação."
(Zeilenger, Anton, A face oculta da natureza: 177).
Ou seja, eles só enxergam o que querem. Inebriados no salão de luxo, nenhum percebe que todos, inclusive e especialmente os próprios, somos nós e nossas circunstâncias. Se não as salvarmos, não nos salvaremos.
O trem no qual estamos se destina a câmara de gás, e o
viaduto rui na podridão. A
loco motiva está prestes a se estatelar no despenhadeiro, levando na
poleposition os próprios maquinistas e serventes; depois
nosotros, retardatários, se não conseguirmos pará-la.
A corrupção é a culpada pela miséria do nosso país, pela falta de hospitais, pela falta de remédios, pela falta de escolas, pela falta de merenda, pela falta de saneamento, pela falta de rodovias, pela falta de cultura, pela violência, pela falta de luz, pela falta de água, pela falta de casas populares, pela falta de emprego, pela falta de investimentos, pela seca no Nordeste, pela miséria no Norte e Nordeste do país, pelas queimadas da Amazônia, pelos garimpos ilegais nas em Roraima, pelas derrubadas ilegais de árvores no país, pelo tráfico de armas, pelo tráfico de drogas, pelo roubo de cargas nas estradas federais, pela entrada de armas e drogas no país pelas nossas fronteiras, pelo sem némero de projetos a serem aprovados no Congresso há anos e que não saem do papel, pela roubalheira do Senado, pelo empreguismo do governo federal, que desde que assumiu quadriplicou o numero de funcionários na folha de pagamento...
FERNANDES, Ana Lucia Martins, O Globo, 15/12/2009
CBN - Arnaldo Jabor
Rezemos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário