sábado, 5 de julho de 2008

Nós, e nossas circunstâncias

Eu sou eu e minhas circunstâncias.
Se não as salvo, não me salvo.

José Ortega Y Gasset
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Não são poucos os que se defendem com a primeira frase. O complemento nunca vi citado. A premissa provém da conseqüência. Somos de fato produtos das circunstâncias; mas elas podem depender de nossa intervenção.
O esforço natural de cada indivíduo para melhorar suas própria condição constitui, quando lhe é permitido exercer-se com liberdade e segurança, um princípio tão poderoso que, sozinho e sem ajuda, é não só capaz de levar a sociedade à riqueza e prosperidade, mas também de ultrapassar centenas de obstáculos inoportunos que a insensatez das leis humanas demasiadas vezes opõe à sua atividade. SMITH, A. cit. DOWNS: 56
MAL RETORNEI ao convívio com os terráqueos, fui assediado por solicitações de variadas intensidades. Houve alguma receptividade, curiosidade, mas também me deparei com uma cruel e inesperada frieza, e até mesmo com fortes reações. A primeira delas veio através de candente protesto. Dizia-me a fonte que na faina de mapear percursos no EspaçoTempo, esqueci-me do presente; por conseguinte, da própria fonte.
A reclamação procede. Os que me são caros pagaram caro por minha ausência. Um filho pagou com a própria vida. Outros penaram, desprovidos de meu ponto de referência. E da matéria, restou pó. Foram as circunstâncias. Elas me engolfaram, como uma onda gigante, repentino tsunami. Um buraco-negro me tragou, para em seguida se abater sobre meus próximos, daí se estendendo a todos outrora alegres viventes de nosso Patropi. Das estrelas, vi o tamanho do meteoro, mas nada poderia fazer, a não ser continuar minha frenética busca para elidir a monstruosidade; ou, pelo menos, tentar eliminar o ninho no qual a serpente choca seus ovos. Quando decidi colocar meu plano em ação, encontrava-me náufrago. Aos poucos, a ilha foi enchendo de vítimas, gente que se mantinha em jangadas e iates, em toras e veleiros. De nada adiantaria reconstruírmos as prosaicas embarcações. Seriam inóquos os esforços, pelo simples motivo: o mar pertence aos malvados navios, e eles não suportam concorrência, ainda mais se inofensiva. Uma marola é suficiente para varrê-la, porque não executá-la? Lá estávamos, pois, envoltos numa circunstância completamente desfavorável. As velhas soluções já haviam sido provadas, e derrotadas. Por terra, evidentemente, só se poderia alcançar o porto da ilha. Pela água, a presença intrusa do gigante era ameaça constante. Apenas pelo ar, pelo devaneio, poderíamos tentar a saída. No céu é menor o atrito, e conforme a altura, sequer é necessária energia. Ele se encarrega de nos conduzir, sem nada por isso cobrar.

A ordem implicada tem sua base no holomovimento, que é vasto, rico, e em um estado de fluxo infindável de envolvimento e desdobramento, cuja maioria das leis é vagamente conhecida, e que pode ser até incogniscível em sua totalidade. Logo, ela não pode ser apreendida como algo sólido, tangível, e estável aos nossos sentidos (ou aos nossos instrumentos).
BOHM, David, Totalidade e ordem implicada: 192
Houve quem taxasse o raid alienado, por fugir da realidade. De que adianta percorrer o EspaçoTempo para trás, especialmente, mas também à frente, se no presente tudo se vai?
Em parte tem razão, mas ora estou presente; de modo que nem todo ele se foi.
E com as ferramentas e varinhas-mágicas importadas de tantos portos siderais, posso reformá-lo sacando a tristeza, e tornar este instante de fugaz a inesquecível. De passageiro, a eterno.

Será maior aquele que puder ser o mais solitário, o mais oculto, o mais divergente, o homem além do bem e do mal, o senhor de suas virtudes, o transbordante de vontade; precisamente a isto se chamará grandeza: pode ser tanto múltiplo como inteiro, tanto vasto como pleno.
Friedrich
Nietzsche
O que estiver à mercê das possibilidades humanas, estou pronto para reparar. Então, solicitam que eu me detenha em nossas atuais circunstâncias. Pois bem. Ora é mesmo mister. Trouxe algumas fotografias do alto, do futuro, voltadas ao passado, que hoje é presente. Os quadros são praticamente os mesmos, malgrado o tempo transcorrido. O mundo dá voltas; a história também. Mas elas não são meramente geométricas, planas, no mesmo lugar. Universo se expande, e nele estamos embarcados.

O ser humano é parte do todo, chamado Universo, uma parte limitada no tempo e no espaço. Ele experimenta seus pensamentos e sentimentos como algo separado do restante - numa espécie de ilusão ótica de sua consciência. Essa ilusão é uma espécie de prisão para nós, e nos restringe às nossas decisões pessoais e aos afetos por algumas pessoas mais próximas de nós.
EINSTEIN, Albert, cit. LASZLO, Ervin, A Ciência e o Campo Akáshico: 56
O Universo não é perfeito. A perfeição não admite, sequer, uma variação de matiz, que dirá uma expansão. Mas ele é consistente, e mantém sua coesão pela ética. Se dialético, desintegrar-se-ia frente a qualquer alteração no jogo de forças. Esta simples consciência deve ser capaz de tornar nossas voltas semelhantes, ou seja, em espiral, no rumo de uma inevitável evolução, ainda que não poucos considerem suas vidas perfeitas.

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