terça-feira, 29 de setembro de 2009

O milagre e o desastre econômico do Brasil

O senhor iria criticar o AI-5.
O ato foi lavrado com a mesma intenção que rege os atuais regimes latinoamericanos: a mordaça.

Receio do proselitismo comunista?
Não creio que os militares estivessem tão preocupados com manifestações ideológicas. Eles já estavam soberbos. Façamos uma escala na partida. O desafio era colocar o país na senda da dignidade, impedir a manipulação monetária. Os economistas do primeiro período foram imbuídos de acabar a inflação, ainda que ás custas de recrudescer o centralismo tributário. Tiveram tanto êxito que a emergente intervenção se tornou permanente. O sucesso indicava: o gerenciamento poderia passar totalmente à cargo dos economistas, logo alcunhados tecnocratas. Qualquer milico poderia ser presidente, desde que bem acompanhado na contabilidade.
O escorpião se imiscuiu coberto pelos
fuzis, para fulminar os próprios soldados.
Não sei do venenoso. Parece-me acertado contar com o apoio dos profissionais; afinal, os militares não entendiam de Economia, como o senhor bem disse, e ela é a chave de qualquer governo, como o senhor também frisou.
Sim; porém, nem tanto assim:
As considerações econômicas são meramente aquelas pelas quais conciliamos e ajustamos nossos diferentes propósitos, nenhum dos quais, em última instância, é econômico (exceto os do avarento ou do homem para quem ganhar dinheiro se tornou um fim em si mesmo).
SEN, Amartya, Premio Nobel Ecnomia: 328
No calor dos aplausos os pilatos não foram capazes de melhor discernir, e este momento agravou peremptoriamente o que a Revolução de '64 se dispunha extirpar:
O Banco Central era autônomo e independente quando foi criado em 1966, no primeiro governo militar do marechal Castello Branco, e seus diretores não podiam ser demitidos, a não ser por motivo grave. Mas quando o general Costa e Silva assumiu, em 1967, seu superministro Delfim Netto queria indicar o amigo e sócio Ruy Leme para a presidência do Banco Central. Foi fácil: manipulada por Delfim, a imprensa começou a publicar suspeitas de que os integrantes da equipe econômica do general Castello Branco - Roberto Campos, Otávio Gouvêa de Bulhões e Denio Nogueira, este presidente do BC — teriam tirado proveito pessoal de uma desvalorização cambial. Foi instalada uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara dos Deputados e a diretoria do BC acabou afastada.
Wikipédia
Ruy Aguiar da Silva Leme, professor da USP e um varão de Plutarco, foi um grande presidente do Banco Central do Brasil nos anos 60. Ruy foi uma das mais finas inteligências com quem tive a ventura de conviver ao longo da minha vida. A política monetária (o ‘estado da arte’) era então simples: tentar acomodar a taxa de crescimento da base monetária à taxa desejada de inflação mais o esperado aumento da taxa do PIB. Usavam-se, também, instrumentos simples, como as reservas bancárias primárias, o redesconto e os depósitos compulsórios.
DELFIM NETTO, Antônio, Folha de São Paulo, 11/2/2004
Inteligente, einh?
Campeão. Do cinismo, da arrogância, prepotência e autoritarismo. Não surpreende. A preferência identifica, de plano, o caráter:
"Qual é a origem da sociedade? Está no velho Platão, antes do Aristóteles" (DELFIM NETTO, A., entrevista para Agência Estado. - www.avozdavitoria.blogspot.com, 31/12/2008)

PLATÃO de fato antecedeu a ARISTÓTELES, pois não?
Se formos pela origem, ela está nos macacos. O ex-secretário do Tirano de Siracusa apenas desenhou a maneira de escravizá-los. O amoral, porém, acha tudo normal. "Varão de Plutarco"? Só podia ser mesmo presente grego, entregue por este primeiro office-boy de PLATÃO. "Estado da arte?" Bem apropriado, artista:
Para Lanchester ... a possibilidade de dinheiro produzir dinheiro numa escala nunca antes imaginada, e sem qualquer relação com indústria, comércio ou qualquer outro tipo de negócio concreto, equivale ao advento do abstracionismo na arte.
VERÍSIMO, L. F., O Globo, 1/10/2009



Inusitado tudo passar em branco.
Fosse pelo BRANCO não passava não. CASTELLO percebeu a sordidez, e tentou intervir. Pagou com a vida. Aliás, um pouco antes, o próprio COSTA E SILVA fora alvo, ainda na campanha à presidência. Escapou por pouco do acontecido no Aeroporto Internacional dos Guararapes, Recife, (25/7/1966), onde era esperado por cerca de 300 pessoas. Foram vários mortos e feridos, no que ficou conhecido como o Atentado dos Guararapes (www.ternuma.com.br/guara.htm.) Seu avião já acusava pane naquele dia, em João Pessoa, e COSTA, como lhe chamava a esposa, dirigiu-se a Recife de automóvel, por isso escapando do atentado atribuído aos terroristas de esquerda. Não eram esses. Não havia por que liquidar um, se viria outro. Provavelmente era mesmo só intimidação, no intuito de forçar edição do AI-5. Somente no assassinato de CASTELLO BRANCO, há exato ano de Guararapes, deu-se conta COSTA e SILVA do alcance da armadilha na qual havia se metido. O Marechal tentou a reversão ao convocar uma equipe de juristas à emenda constitucional, cujo fito extinguiria o AI-5. A ameaça se tornou cumprida ao lhe "arrumarem" uma trombose cerebral. DELFIM e o AI5 vararam o governo subsequente.
"Quando comandou a economia no período militar, Delfim usou e abusou de seu expediente preferido: contra o galope da inflação, a maxidesvalorização da moeda." (FIUZA, Guilherme, Gurú aloprado, revista Época, 14/4/2008)
Somente depois de quase década os militares se deram conta da enormidade. GEISEL sutilmente baniu o maquiavélico ministro ao nomeá-lo embaixador na França. Tarde demais. O escorpião já havia contaminado prosélitos, e ele próprio retornaria à trincheira, para dizimar o restante, e permanecer soberbo até hoje. A gestão de Figueiredo disparou a inflação, aumentou vertiginosamente a dívida externa, rompendo a marca dos 100 bilhões de dólares, o que levou o governo a recorrer ao Fundo Monetário Internacional em 1982. O país mergulhou na moratória. No ano seguinte sangrou abundantemente com a maxidesvalorização de praxe, desta feita descomunal, mas tolerada como plausível:
"O máximo que o dólar subiu de uma só vez nas décadas mais recentes foi durante a gestão de Delfim Netto: maxidesvalorização de 30%." (RITTER, Afonso, Diário Popular, Pelotas, 4/12/2002)
Considerando-se este módico percentual sobre uma base monetária de 120 bilhões de reais, qualquer escolar está apto para identificar a enormidade do valor surrupiado.
O ardiloso mestre que regressara para encaminhar o desfecho, ministrou a extrema-unção ao sepultamento da ditadura militar:
O programa de incentivo à agricultura tinha o slogan "Plante que o João garante". Esse programa foi criado por Antônio Delfim Netto, então Ministro do Planejamento, e seu vice José Flávio Pécora. Muitos pequenos agricultores quebraram por causa dos incentivos, que visavam modernizar a agricultura brasileira.
No sétimo-dia Sancho Pança reapareceu integrado na delegação adversária:
"Na passagem do regime autoritário para a democracia era aquilo que eu disse, o que existia era ruim, então, multiplica por menos um que fica bom." (NETTO, Delfim, www.zedirceu.com.br)
O um ao revés era o próprio carneiro-guia:
"Sarney, em matéria de política, faz croché com sete agulhas. Sabe tudo do ofício." (DELFIM NETTO, www.independenciasulamericana.com.br, 27/1/2009)
A bilheteria que um filme faz reverte num adicional que volta para o diretor, para o desenvolvimento do próximo projeto... É um filme que mescla as duas vertentes. A indignação pelo cinismo que parece ter tomado conta do Brasil é essa coisa visceral, de dentro."
Cineasta BABENCO, Hector, Virei um brasileiro para filmar denúncias'. - Folha de São Paulo, 18/8/2009)
Para o traíra presidir a Nação, e DELFIM permanecer de patrão, mais um presidente teve que ser antecipadamente sacrificado. Assim se foi TANCREDO, vítima de uma doencinha trivial, mas fatal porque picada. Os generais já conheciam o filme. JOÃO FIGUEIREDO negou passar a faixa presidencial ao calhorda nordestino. Na mosca: o que tivemos foi uma sequência de cruzados vigaristas de toda a espécie.
FHC realizou o derradeiro finório cambial:
Depois de garantida a reeleição e de perder bilhões de Dólares em reservas, o governo fez então uma maxidesvalorização do real de 8,3%, no dia 13 de janeiro, por meio da hoje folclórica "banda diagonal endógena" do professor Chico Lopes (aquele mesmo, ex-presidente do Banco Central e que responde à processo judicial), que criava um espaço maior de variação do Dólar. O resultado foi um desastre tão grande que a tentativa de controlar a desvalorização durou 48 horas. Em dois meses, o Dólar disparou 73,6%, pulando de R$ 1,21 para R$ 2,10.
www.tisf.blogspot.com/2009/01/10-anos-da-maxidesvalorizao-do-real.html

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