quarta-feira, 16 de setembro de 2009

A impropriedade do Estado regular o ensino



Não pergunte o que seu país pode fazer por você, mas o que você pode fazer pelo seu país.
JOHN F. KENNEDY
Entre espartanos, no Império Romano, com NAPOLEÃO,  nos regimes comunistas, fascistas & nazistas, cabia ao Estado o direito e o dever de ordenar as  formaturas:
É o Estado quem deve educar os cidadãos para a vida civil, tornando-os conscientes de sua missão, e convidando-os à unidade; harmoniza-lhes os interesses na justiça; transmite as conquistas do pensamento, nas ciências, nas artes, no direito, na humana solidariedade; conduz os homens, da vida elementar da tribo, à mais alta expressão humana de poder, que é o Império; conserva para os séculos o nome dos que morreram pela sua integridade ou para obedecer às suas leis; indica como exemplo, e recomenda às gerações que vierem, os capitães que o acresceram de território e os gênios que o iluminaram de glória.
MOURA, G. DE ALMEIDA, O Fascismo Italiano e o Estado Novo Brasileiro,
www.ebooksbrasil.org/eLibris/fascismoit
Havia a trivial razão: o interesse em alinhar o pessoal à bucha-de-canhão
Após ter então agarrado cada membro da comunidade e tê-los moldado conforme a sua vontade, o poder supremo estende seus braços por sobre toda a comunidade. Ele cobre a superfície da sociedade com uma teia de normas complicadas, diminutas e uniformes, através das quais as mentes mais brilhantes e as personalidades mais fortes não podem penetrar, para sobressaírem no meio da multidão. A vontade do homem não é destruída, mas amolecida, dobrada, guiada; os homens raramente são forçados a agir, mas constantemente impedidos de atuar; tal poder não destrói, mas previne a existência; ele não tiraniza, mas comprime, enerva, ofusca e estupefaz um povo, até que cada nação seja reduzida a nada além de um rebanho de animais tímidos e trabalhadores, cujo pastor é o govêrno.
Em nossas sociedades ditas democráticas, cujo leitmotiv mora na liberdade e na propriedade, conservamos o mesmo critério, aliás até ampliado: segundo a ONU, e nossa constituição, a incumbência é "dever" do Estado e "direito" do cidadão. Mas por qual Minerva essa alienação deve ser mantida, não só tolerada, mas exigida?
Nas democracias, a responsabilidade civil e penal sobre os atos das crianças recaem aos pais, tanto quanto o dever de vesti-las, alimentá-las, enfim, conceder-lhes os elementos básicos à sobrevivência. É certo que pela carência de recursos, mesmo desinteresse acompanhado de ignorância, não poucos tentam, e muitos conseguem, simplesmente abandonar seus filhos à própria sorte, e este fenômeno tem se ampliado no Brasil. Evidencia-se uma anomalia, contrária à propria natureza demonstrada cabalmente por qualquer animal. Mas a excessão, felizmente,  atende mínima parcela. No geral o que vemos é a máxima atenção dos pais; isto é, até a porta da escola. Dizem que não basta ser pai, tem que participar, mas diante de tantos compromissos, largar os filhos na escola para que outros se encarreguem da missão de educá-los é providencial, ainda mais porque obrigatório. Não lhes cabe contestação alguma, e tal feito os exime de culpa. Assim é que os valores da família, da célula-mater de qualquer sociedade são canalizados ao interesse do predecessor, o Estado, ávido em formar as peças para seu cada vez maior jogo geopolitico, cujo rei frequentemente é suicida.
A sociedade grega e romana se fundou baseada no princípio da subordinação do indivíduo à comunidade, do cidadão ao Estado. Como objetivo supremo, ela colocou a segurança da comunidade acima da segurança do indivíduo. Educados, desde a infância, nesse ideal desinteressado, os cidadãos consagravam suas vidas ao serviço público e estavam dispostos a sacrificá-las pelo bem comum; ou, se recuavam ante o supremo sacrifício, sempre o faziam conscientes da baixeza de seu ato, preferindo sua existência pessoal aos interesses do país. TOYNBEE, Arnold J.:196.
Ainda que tal bandeira continue a calhar, os santos-do-pau-ôco vão perdendo o lugar:
A busca de segurança é uma ilusão. Para a tradicional sabedoria ancestral, a solução deste dilema está na sabedoria da insegurança, ou na sabedoria da incerteza. Isso quer dizer que a busca de segurança e de certeza é na verdade, um apego ao conhecido. E o que é ele, afinal? O conhecido é nosso passado. O conhecido nada mais é que a prisão dos velhos condicionamentos. Não há nenhuma evolução nisso - absolutamente nenhuma. E quando não há evolução, há estagnação, desordem, ruína.
CHOPRA, Deepak, As Sete Leis Espirituais do Sucesso: 77
Dir-se-á: muito bem, sabichão, mas como exigir que os pais tenham conhecimento de tudo isso, de todas as ciências, e ainda disponham de todo tempo do mundo para conceder aos seus filhos? Quem vai trabalhar na produção dos bens dia-a-dia necessários?
De fato, quiçá por alguma raridade, tal Zenith é inalcançável até em utopia. Tirante as quatro operações, e a alfabetização, de resto um pai isolado dificilmente pode estipular o quê seu filho deve aprender para obter seu meio-de-vida. Mas muito menos o Estado, cego às personalidades, às peculiaridades geográficas, às tradições regionais. Aliás lembro, naturalmente em tom de blague: as escolas mais exitosas, as mais procuradas, e as mais festejadas no Brasil são as de samba, por certo em virtude de não estarem ao alcance do disciplinamento oficial.
De que modo suplantar o dilema?
O que sabemos já basta para desejarmos nos livrar dos grilhões:
É a diversidade que conduz à associação; quanto mais perfeita é a organização social, quanto mais variado o exercício das faculdades físicas e intelectuais, tanto mais se acentuam os contrastes sociais mais se eleva o homem.
TOFFLER & TOFFLER
: 122
Muitas escolas mantém Associações de Pais e Mestres, quando então todos tem oportunidade de contribuir com a pauta. Seria o ideal, mas na verdade é mais uma metonímia. Ninguém está autorizado a propor ou reformular o sentido ideológico imposto, e por isso é-lhes vedado por completo programar alguma atividade curricular. Os conteúdos são herméticos, exclusivos, e não admitem discussão. Graças a acordos supranacionais, os a-lunos, isto é, os "sem luz", são submetidos até mesmo a pregações religiosas. Isso nada tem de ciência, mas não há a menor responsabilidade de alguém. Permanecemos no impasse cuja evidência se sobressai no alto índice de abandono.
O que você diria hoje do grande número de estudantes que consideram o saber como meio utilitário, como um meio de se tornarem uma engrenagem na máquina econômica e social? Os estudantes da máquina de que você fala fazem o que lhes mandam fazer. Adultos construíram essa máquina, essa ratoeira, esse labirinto. Num labirinto onde os ratos se perdem, as pessoas não dizem, ao observá-los 'os ratos estão loucos'; dizem 'construiu-se um labirinto para deixar os ratos loucos'. Em muitos países, o ensino foi construído para deixar os estudantes não muito felizes.
SERRES, MICHEL,
De duas coisas, a outra; cit. DERRIDA, J.: 67
Se o objetivo é o conhecimento, cabe a própria ciência mostrar melhor caminho, e não a volúpia política. Ainda assim surge o óbice:
Cada ciência, é claro, deve debruçar-se sobre o capítulo de sua competência. Mas qual delas nos proporciona uma visão de conjunto, revelando uma significação, sentido... o tecido do acontecimento? E como fará se o livro ainda está se escrevendo e não foi lido?
CHARDIN, Teilhard, cit. ARCHANJO, , Ph.D. Prof. J.L, : 49.
Com todo respeito, ouso enfrentar este axioma, também: a ciência moderna se faz unificada, e tem suas estacas perfeitamente delineadas: o princípio da Relatividade, os efeitos atômicos, a identificação Quântica. Tudo tem a ver com a democracia, com a descentralização, com o respeito às individualidades; e nada combina com os totalitarismos mais ou menos acentuados, mais ou menos legítimados, porque todos calcados no mecanicismo, no determinismo sistemático, no centralismo burocrático.
Venho insistindo há tempos que por detrás da crise atual econômicofinanceira vige uma crise de paradigma civilizatório. De qual civilização? Obviamente se trata da civilização ocidental que já a partir do século XVI foi mundializada pelo projeto de colonização dos novos mundos. Este tipo de civilização se estrutura na vontade de poder-dominação do sujeito pessoal e coletivo sobre os outros, os povos e a natureza.
BOFF, Leonardo, Zen e a Crise da Cultura Ocidental
Mas como reduzir essas possibilidades ao nível escolar? Que métodos, que inovações podemos adotar para que todos aufiram melhores frutos, inclusive e especialmente os estudantes?
Bem, como dizia, a própria ciência mostra o caminho, mas segundo o maior dos cientistas, a imaginação é mais importante do que o conhecimento. Cabe-nos então exercitá-las, no sentido de adequar nossos veículos de modo mais compatível com a época e aspirações de cada um de nós, portanto, de todos.
Esta organização não pode ser abandonada à iniciativa dos governos: será alcançada quando os povos tiverem uma vontade firme e ativa, porque é renovação radical de todas as antiquadas tradições politicas. A compreensão e a vontade de resolver o problema estão-se generalizando. Acredito na influência de um individuo sobre outro e acredito no processo de seqüência e encadeamento entre os homens.
EINSTEIN, Albert, Fala Einstein sobra o futuro da humanidade, Folha da Manhã, 4/3/1949.
Por certo novas idéias não faltarão, e desde que razoáveis, todas podem ser experimentadas, por que não? O óbvio é que todos estamos perdendo, justamente porque os programas educacionais são elaborados à mercê da casta política, plêiade completamente divorciada da realidade, inapta e inepta, desmoralizada, em nosso caso totalmente corrupta, por tudo inapropriada para algo ensinar, inadaptável aos novos tempos. Esta ordem acarreta retrocesso.

As escolas actuais não estão preparadas para o desafio que está no horizonte, onde os profissionais terão que trabalhar em sistemas com manipulação de informação (dados, representa&cc edil;ões orais e visuais) em vários tipos de actividade, desde a solução de problemas, á sua identificação e ao planeamento estratégico. É mais que óbvio que a educação vai ter que sofrer profundos investimentos e remodelações das entidades competentes (principalmente da parte dos governos e de todas as pessoas envolvidas) de modo a tornarem os paises mais competitivos e modernos. Porque ‘como toda a gente diz a juventude é o mundo de amanhã’.
João Pedro Matos da Costa
, O CLÁSSICO CONCEITO DE EDUCAÇÂO
“Onde existe crescimento econômico, estão também emergindo mais formas de governo de livre mercado - uma aceitação do fato de que as pessoas, e não a determinação política, criam a oportunidade econômica.” (HABERMAS, J., Entretiens avec le Monde, 1984: 222, cit. JAPIASSÚ, H., Um Desafio à Filosofia: Pensar-se nos Dias de Hoje: 114)
Parece óbvio que o ensino cabe aos participantes, à sociedade ministrar, e não delegar a incumbência para seus representantes, muito menos exigir.
"A superioridade dos sistemas auto-organizadores é ilustrada pelos sistemas biológicos, em que produtos complexos são formados com uma precisão, uma eficiência, uma velocidade sem iguais." (BIEBRACHER, NICOLIS, G.; SCHUSTER, Self Organizations in the Physico-Chemical and Life Sciences; Relatório EUR 16546, European Commission, 1995; cit. PRIGOGINE: 75)
Como criar organizações que continuem vivas? Como criar organizações que não nos sufoquem com seus ditames de controle e obediência? A resposta é clara e simples. Precisamos confiar no fato de que nós temos a capacidade de organizar a nós mesmos e precisamos criar condições que favoreçam o florescer da auto-organização.
WHETLAY, Kellner-Rogers,
Um caminho mais simples: 58

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