quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A perversidade dos partidos


A crença fundamental dos metafísicos é a crença na oposição de valores.
NIETZSCHE, F., Além do bem e do mal: 10
Zaratustra cultivava o estilo irônico. O confronto não se origina na crença. É produto da racionalidade:
Com efeito, quase todos os vícios, quase todos os erros, quase todos os preconceitos funestos devem seu aparecimento, ou sua duração, ou seu desenvolvimento à arte da maioria de nossos reis de dividir os homens para governá-los mais absolutamente!
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A faina de "dominar a natureza", o "mundo colocado em nossos pés", como apregoavam BACON e as chamadas Escrituras, agravam o penoso caminho da civilização ocidental.
O ser que já iniciou a apropriação da natureza por meio do trabalho de suas mãos, do intelecto e da fantasia, jamais deixará de fazê-lo e, após cada conquista, vislumbra já seu próximo passo.
MARX, KARL, posfácio à 2. ed. alemã do 1. vol. de O Capital. - cit. KONDER, L.:10
Outro exemplo de Ser Positivo é o 'Deus Organizador', em que a divindade (ou divindades) exerce o papel de controlador da oposição primordial entre Ordem e Caos. O Caos representa o Mal, a desordem, e é simbolizado em vários mitos por monstros como serpentes ou dragões, ou simplesmente deuses maléficos que lutam contra outros deuses em batalhas cósmicas relatadas muitas vezes em textos épicos, como no caso do Eubuma elis dos babilônios.
GLEISER, M., A Dança do Universo Dos Mitos de Criação ao Big-Bang: 31
À dialética o que menos importa é o sufixo. Pela semiótica, na sintaxe e na semântica do prefixo dial percebe-se o pragmatismo do adjetivo dual, ou seja, duplo, anunciante das duas éticas - uma, real, legítima; outra a que interessa, dissimulada pela adversidade. Para tanto, parte-se o objeto em duas metades. De um lado, os ingênuos. Do outro, os que se acham espertos. Uns contra os outros é o ideal. Ambos se enfraquecem, para o engradecimento do introdutor.
"Sempre que os homens se dividem da sociedade como um todo e tentam se unir pela identificação dentro de um grupo, é óbvio que o grupo irá gerar um conflito interno, o que levará a um rompimento de sua unidade." (BOHM, D.:31)
Essa contradição de idéias reproduziu-se, infelizmente, na realidade dos fatos na França. E, apesar de o povo francês ter-se adiantado mais do que os outros na conquista de seus direitos, ou melhor dito, de suas garantias políticas, nem por isso deixou de permanecer como o povo mais governado, mais dirigido, mais administrado, mais submetido, mais sujeito a imposições e mais explorado de toda a Europa.
As refregas são assim estimuladas ao máximo, em detrimento de todos nós.
Nas décadas de 1830 e 1840, certos parlamentares da aristocracia e da classe média britânica tomaram a seu cargo a articulação de interesses das classes trabalhadoras. Nesse caso, eles não estavam respondendo a pressões e demandas encaminhadas de baixo, e sim agindo como guardiães independentes e voluntários desses interesses negligenciados ou suprimidos.
ALMOND & POWELL: 60.
Era uma questão tanto de sobrevivência quanto de política: uma panacéia que, pelo voto do trabalhador e pela transformação radical do Parlamento, proporcionaria ao trabalhador muitos assados, muito pudim de ameixas e cerveja forte, com três horas de trabalho diário.
RUDE, George: 196
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Sempre que penso nas alianças e disputas na política libanesas, me lembro do filme'O Poderoso Chefão'. Inimigos se tornam aliados, antigos amigos passam a se matar e, após inúmeras baixas, todos se sentam à mesa para definir a nova divisão do poder.
CHACRA, G., Diário do Oriente Médio http://blog.estadao.com.br/blog/chacra
"Cada partido compreende o que interessa à própria conservação não permitir que se esgote o partido concorrente. Tem mais necessidade de inimigos do que de amigos: só pelo contraste é que ele começa a se sentir necessário, a tornar-se necessário." (NIETZSCHE, F., Crepúsculo dos Ídolos: 39)
A emoção do jogo, a discussão estéril, e a tervigersação contumaz refletem-se no dia-a-dia de cada um, turvando todas as relações. No Differenzschrift HEGEL apregoa "a cisão como fonte e exigência da filosofia”. Nada de novo no front:
Quando Hegel estudava o destino do sujeito racional sobre a linha do saber, ele não dispunha mais do que de um racionalismo linear, de um racionalismo que se temporalizava sobre a linha histórica de sua cultura, realizando movimentos sucessivos de diversas dialéticas e sínteses.
BACHELARD, G.: 57
Para RENÈ KONIG (Soziologie heute, cit. GOLDMAN, L., Ciências Humanas e Filosofia - Que é a Sociologia: 40), professor das Universidades de Zurique e Colônia, isso nada mais era do que “elemento do processo de autodomesticação social da humanidade”.
Desta maneira, a democracia, que é do povo, jamais pode ser exercida, por mutilada, transviada na constância dos partidos:
"Democracia significava o que a palavra designa literalmente: poder do démos, e não, como hoje, poder dos representantes do démos." (BOBBIO, N. O futuro da democracia: 110)
O Universo é Uno, tanto quanto a eternidade. O poder requer dois elementos: sujeito, e objeto. Eis um paradoxo de difícil equacionamento: de que modo o sujeito pode ser objeto?
Pelo outro viés, se tentarmos conservar a totalidade homogênea, novamente configuramos a fuga do poder, em prol do maestro: foi o que se viu nos sistemas nazistas, fascistas e comunistas. Aliás, justamente por vender a idéia da totalidade é que as ditaduras logo tratam de acabar com as formações partidárias. Talvez aí resida o pensamento de que é melhor o povo partido em partidos, do que unido em torno de apenas um. O fato de uma premissa ser falsa, todavia, não legitima qualquer contrário. A vida não se resume em trilhos. Se a direita é incorreta, a esquerda também o será. O Universo se expande em todas as direções. É atômico, porque formado por átomos. A civilização também, através dos indivíduos. Querer encerrá-los em apenas um rumo, por mais acertado que se presuma, é a mais completa utopia. A unidade não é estática. Realiza-se na diversidade, não na homogeneidade.
Sem dúvida, o universo inteiro podia ser pensado como se desdobrando ou se expressando em ocorrências individuais. E dentro dessa visão global que se torna possível acomodar as sincronicidades como eventos significativos que emergem do coração da natureza.
GLEICK, JAMES, Chaos, cit. LEMKOW, ANNA,: 216



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