terça-feira, 21 de outubro de 2008

Interações


No espaço aparentemente vazio há um nexo, uma vida eterna, que une tudo quanto existe no Universo - tanto animado quanto inanimado - uma onda de vida que flui através de tudo o que existe. Paramahansa Yogananda, Onde Existe Luz. Surf nas Ondas Herméticas -- .
Tomezinho permanecia reticente, vidrado na TV. Click! Pronto. O controle remoto nudou o canal. Agora ele acredita: forças ocultas são até mais poderosas do que as aparentes.
O essencial é invisível para os olhos.
Saint Exupèry
Mas quão oculto será? E apenas um? São trilhares essenciais. A ordem é multiforme:“Há infinitos universos paralelos formando ramificações. Em cada um se atualiza uma realidade.” (TOFFLER A. & TOFFLER, H. : 20)
E não são elas que estão assim, tão escondidas; dependem, apenas, do interesse. Nossa parca visão e menor consciência é que nos impedem de considerá-las. .
O que governa a dinâmica da natureza, inclusive em seu aspecto mais material, na física, não é uma ordem rígida, predeterminada. Nem tampouco uma dialética entre contrários em luta, que leve a síntese, até que se produza uma nova antítese, como na visão dialética marxista rechaçada também pela genética, segundo diz MONOD. É precisamente uma interação - que já existe nos níveis materiais mais elementares entre o aspecto onda e o aspecto corpúsculo - o que impulsiona a dinâmica da natureza. Assim o mostram as relações de mecânica ondulatória, que explicou LOUIS DE BROGLIE, síntese genial que tornou possível, como diz RUEFF, uma filosofia quântica do universo, aplicável não somente às ciências físicas, senão também a todas as ciências humanas.
GOYTISOLO, Juan Vallet,
Interações
A atenção energiza; e a intenção, modifica.
Garotos tinham o hábito de colocar à prova seus amplos poderes.
Na cadeira do cinema, fixavam na nuca que pretendiam, à frente.
Em instantes, ela voltava a cabeça, como se a procurar o motivo da torção.
* * *
A fé tudo pode explicar; porém, ainda que a professem, raros sabem por quê, ou como, mas em apuros, que mais a perder?. Com a ciência acontece o contrário. Ela se frutifica em ambiente favorável, por canais prazerosos. Renova-se, assim como gerações, dentro de uma atividade lúdica. Jacques Barzun costumava saudá-la como uma "gloriosa diversão." A diversão juvenil, o desafio romântico do cine.
As inversões são curiosas. Até o limiar do século XX, a ciência era considerada uma tarefa bastante árdua, edificada aos poucos, com muito esforço na aquisição de uma infinidade de fórmulas e dados. Para lograr o terraço, o edifício exigia o percurso de incontáveis andares, condições que só raridades se entusiasmavam. A fé, contudo, não. O hábito escravagista, dos reinos e súditos, impregnou a mentalidade de Deus imperador, super-humano sentado no céu. Basta seguir seus poucos mandamentos, e tudo estará em paz.
Será apenas por falta de fé que não habitamos o Paraíso? Como seria cômodo. O mundo, contudo, não é determinado. Isso nos foi incutido pela técnica de domínio greco-romana. Felizmente, ou não, Deus não é goal-keeper.
Houve, então, quem estipulasse: "Deus não joga, mas fiscaliza." Mas por qual razão?
* * *
Essa nova civilização tem sua própria e distinta concepção de mundo, maneiras próprias de lidar com o tempo, o espaço, a lógica e a relação de causa e efeito.
ORMEROD, Paul, 1996: 194
O livre-arbítrio, a consciência, o colapso, tudo isso ora é objeto científico. Paradoxalmente, o conhecimento nos revela a impossibilidade da exatidão. No princípio da incerteza, tão bem explicitado pelo colossal nazi Werner Heisenberg, existem probabilidades, possibilidades. E por existirem probabilidades e possibilidades, nada pode ser matemático porque, se assim fosse, vedaria o livre-arbítrio: tudo seria determinista. Mas não é determinista. O princípio da incerteza é fundamental. Portanto, não há motivo para a epistemologia da Física ser matemática; tampouco para as ciências humanas serem apartadas.
A consciência humana está transpondo um limiar tão importante como o que transpôs da Idade Média para a Renascença. O homem está faminto e sedento após tanto trabalho fazendo o levantamento de espaços externos do mundo físico começa a ganhar coragem para perguntar por aquilo que necessita: interligações dinâmicas, sentido de valor individual, oportunidades compartilhadas, efeitos. Nosso relacionamento com os símbolos de autoridade do passado está se modificando, porque estamos despertando para nós mesmos como seres, cada qual dotado de governo interior. Propriedades, credenciais e status não são mais intimidativos. Novos símbolos estão surgindo: imagens de unidade. A liberdade canta não só dentro de nós, como em nosso mundo exterior. Sábios e videntes previram esta segunda revolução. O homem não quer se sentir estagnado, o que deseja é ser capaz de mudar.
RICHARDS, M. C., The Crossing Point, 1973; cit. FERGUNSON, M.: 57
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A Quântica apresenta muitos conceitos revolucionários, entre os quais destacamos o trio: movimento descontínuo, interconectividade não-localizada e, somando-se à causalidade ascendente da technê newtoniana, a causalidade descendente, a consciência escolhendo entre possibilidades, virtualidades das quais precipitar-se-á o evento real. Realidade e virtualidade, sujeito e objeto, corpo e alma, Céu e Terra, são convencionais e complementares:
" Ora, nossas observações do mundo exterior, que nos conduzem à física, nos revelam um universo constituído de uma multiplicidade de sistemas ‘abertos’, todos em incessante interação com seu ambiente.” (Ben-Dov: 149)
Ao postularmos a consciência, o observador como causa da precipitação da onda de possibilidades, escolhendo a realidade a ocorrer, podemos fazer a pergunta: qual é a natureza da consciência? E encontraremos uma resposta surpreendente. Essa consciência que escolhe e causa o colapso não é prerrogativa individual. Em vez disso, é uma consciência cósmica, na qual ela se integra. O observador per se pode ser incapaz de promovê-la em um estado de consciência deliberada, por isto parcial, dona de único polo, mas pode lográ-la em estado de consciência anormal. É o que buscam ascetas, místicos, alquimistas. Na fi­losofia budista, coexistem espírito e matéria, denominados Sambhogakaya e Nirmanakaya. A consciência única, Dharmakaya, os ilumina. Podemos obtê-la pela intuição.
Além de nosso próprio destino, poderíamos modificar algum outro?
Bem, mudando o nosso, automaticamente interferimos em todos os demais.
Teríamos capacidade de interrompê-los em algum instante, pelo menos alterar alguma direção? E já que, necessariamente, essas ondas serão sentidas por onde passarem, poderemos dotá-las desejos, ou presentes?
A resposta é única para todas: SIM!

Nesse caso, os neutrinos (1) que criamos em nosso organismo podem ter a nossa marca e podem estar fazendo a nossa interação com o universo. Podem estar levando nossa mensagem, mostrando nossa existência e o que somos, do mesmo modo que a luz das estrelas nos faz tomar conhecimento de sua existência.
ANDREETA, José Pedro e ANDREETA, Maria de Lourdes, Quem se atreve a ter certeza? A realidade quântica e a filosofia: 162.
As ondas sonoras de meu grito eu ouço em eco, de modo que elas me informam que existe algo pela frente. E como retornam até ampliadas, não tenho dúvidas de que um mundo monumental espera por todos os videntes, digo, viventes. Por se acercar deste fantástico mundo O Segrêdo vem mantendo a pole-position no ranking dos best-sellers. Neste Universo, filio-me entre os que identificam no médico Deepak Chopra PhD** seu mais notável baluarte. (www.terra.com.br/istoe/economia/154924.htm)
O ALLmirante,
mercê surfar com denôdo, e através de instrumentos quânticos, não meramente mecânicos ou eletromagnéticos, pode bem acompanhá-los. Aprecia o mar, e não teme enfrentá-lo com mera prancha. No embalo das notáveis correntes, usufrui de um cruzeiro prazeiroso, per se proveitoso.
* * *
A radiação cósmica de fundo foi descoberta em 1965. Ela flui em fraquíssimas microondas, mas permeiam todo o espaço- é uma espécie de "eco" da explosão que deu origem ao Universo, há 13,7 bilhões de anos, o Big Bang. Já raios cósmicos são um fenômeno distinto, constituídos de núcleos de átomos ou partículas subatômicas que viajam em velocidade próxima à da luz. Não estão ao acaso. Podemos identificar o fato antes do colapso. Destarte, podemos tentar interagir; ou não. Também pela não-ação tudo pode ser feito.

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1.Em torno de 1931, Pauli encontrou vestígios do que poderia vir a ser outra partícula muito pequena que acompanhava o elétron em sua aceleração. Esta foi denominada de “neutrino”. Somente em 1956, é que se comprovou a existência real do neutrino, pois sua interação era tão pequena que quase não foi possível sua detecção. Fisicamente, o primeiro detector de neutrinos consistia de uma cubo com 400.000 litros de tetracloroetileno. No início da década de sessenta, foi descoberto em laboratório que os prótons e nêutrons compunham-se de partículas que foram chamadas de quarks. Em meados da década de oitenta, os quarks, juntamente com outra classe de partículas subatômicas conhecidas como léptons, constituíam os blocos construtores fundamentais de toda matéria.
Os neutrinos sofrem interações fracas e gravíticas. Experiências executadas em laboratórios de partículas indicam que se transformam de um tipo em outro durante seu deslocamento. A isto se chama oscilações de neutrinos. Koshiba e Davis ganharam o prêmio Nobel / 2002.

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2 comentários:

  1. o livro do Bernstein:

    Desafio aos Deuses - a fascinante história do risco
    Autor: Peter Bernstein
    Editora: Campus
    1ª edição: 1997

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  2. Manifesto “determinista”
    - Rosana Soibelmann Glock
    Determinamos, para todos os fins,
    Que a partir de hoje
    Não haverá mais lutas,
    Mais guerras, mais incertezas morais e espirituais,
    Mais conflitos psicológicos ou éticos,
    Nem guerras atômicas, nem guerras de influências,
    Nem mortes, nem dores de cotovelo,
    Nem dores de espécie alguma, nem revoltas, nem rivalidades,
    Nem sentimentos de culpa, nem remorsos, nem ciúmes.
    Determinamos, para todos os fins,
    Que a partir de hoje
    As crianças reinarão
    Plenas sobre a face da Terra e sobre todo o Universo,
    Em paz, brincando, sorrindo,
    Rindo, amando, sendo saudáveis, bonitas e inteligentes,
    Espertas como só elas são,
    Cheias de energia, graciosas, puras,
    Descalças, lambuzadas, amáveis,
    Ricas de charme e simpatia,
    Empoeiradas, sujas de areia, molhadas, suadas,
    Lindas assim, muito amadas e felizes.
    Determinamos, para todos os fins,
    Que a partir de hoje
    Todos os adultos deverão voltar a ser crianças,
    Serão crianças por dentro, carinhosos, afetivos, sinceros,
    Solidários, honestos, carismáticos e simpáticos,
    E aprenderão novamente a brincar.
    Determinamos, para todos os fins,
    Que a partir de hoje,
    Tudo irá mudar, e vamos fazer de conta...
    Que isso tudo é verdade!
    (publicado no I Concurso Palavras e Imagens, do Conselho Federal de Psicologia, 2000)

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