quarta-feira, 7 de maio de 2008

A árvore de 68

É cada vez mais claro que uma revolução filosófica
se encontra em marcha. Um sistema abrangente está se
desenvolvendo com rapidez, como uma árvore que começa
a dar frutos em todos os seus galhos ao mesmo tempo.”

Abraham Maslow* - --
UM DOS MAIORES e mais belos galhos foi o musical. A Europa viveu intensa ebulição, frisson da beatlemania. Mais uma vez, faróis ingleses iluminavam continentes. John Lennon culminou “reconhecendo” serem The Beatles mais conhecidos do que Jesus. O mundo quase veio abaixo. A nova geração veio para cima.
A Rainha os elevou à Ordem do Império Britânico. O conjunto revolucionou estilo e moda. Quebrava a imperiosidade dos cabelos “cadetes”, cortes de soldados. As máquinas dos barbeiros e dos recrutas foram trocadas por três instrumentos elétricos e um de percussão:
“Os velhinhos estão zangados porque nós conquistamos, cantando, a medalha que eles foram buscar no campo de batalha. Pois eu acho que é muito melhor cantar do que fazer a guerra.” (McCartney, Paul, julho de 1968, cit. Jornal do Brasil, 8/4/ 2001)
Os quatro pontos desbancaram as grandes orquestras e os estilos padronizados.
No Brasil, a onda chegou pela térmica corrente que molha a Bahia, onde se reanimou pela nome Tropicália. Gil e Caetano introduziam o eletrônico, o Maracatú Atômico.
Na América do Norte, a Califórnia conhecia o movimento beat por Allen Ginsberg e Kenneth Patchen.
Os festivais de Woodstock e Monterey recebiam milhares de jovens que provavam ser possível o convívio fraterno, mesmo com gentes de diversas nacionalidades. Formaram uma Nação “protestante”, no embalo e na suavidade de Aretha Franklin e Joan Baez. Jimi Hendrix subia aos palcos para quebrar não só guitarras, mas, principalmente, a tradição de guerra. O hino americano pelo seu instrumento virou gemido de dor. Os sons das bombas do Vietnam, vibrados pelas cordas de Hendrix, chegaram aos ouvidos do Estado.
Muhamed Ali deixara de ser Cassius Clay. Consagrava-se no ringue e fora dele, como cidadão do mundo, antes de americano, enquanto Martin Luther King virava “mártir da luta aqui” (perdão por mais esse trocadilho) impedindo que o colosso reeditasse a Secessão. A peça Hair anunciava a Era de Aquarius.
Muitos decoravam a testa com paz e amor. Isso não fora expressão da ingenuidade, muito menos do lirismo. O movimento movia montanhas:
O que parece inegável é que foi o movimento hippie quem colocou historicamente a questão da rejeição da ciência como prática social de conhecimento inerente às sociedades vivendo com base na exploração do homem e da natureza.
(Deus, Jorge Dias de organizador e artigos de R. K. Merton, T .S. Kuhn, W. O. Hagstrom, J. Haberer, G. B. van Albada, Ph.Roqueplo, F.Gil, R.Horton, A.Maslow, A.N.Whitehead, p. 24.)
Nunca se vendeu tanto livro de auto-ajuda; de mensagens esotéricas, movimentos de gnoseologia (estudo da lógica de si próprio). Cultos religiosos se proliferam. Cada um procurava pelo aperfeiçoamento pessoal. O reconhecimento do virtual passou a orientar a realidade e, mais do que isto, fundamentalmente, valorizava o individual, mote do liberalismo:
É apenas quando a casualidade é levada aos seus limites que se descobre que o contexto real no qual os eventos ocorrem precisa se estender indefinidamente. Em outras palavras, tudo o que acontece no nosso universo é causado por tudo o mais. Sem dúvida, o universo inteiro podia ser pensado como se desdobrando ou se expressando em ocorrências individuais. E dentro dessa visão global que se torna possível acomodar as sincronicidades como eventos significativos que emergem do coração da natureza.
(Gleick, James, Chaos, cit. Lemkow, Anna, p. 216)
Essas constatações de sincronicidades, aferidas originalmente por J. Gleick, acentuaram-se pela eficácia dos meios de comunicação. Em 1983, Alvin Toffler (Previsões e Premissa, p. 22) já mergulhava num trecho que poderia ser poético, se não fosse real:
É muito difícil descrever uma nova revolução porque estamos exatamente vivendo nela. Da mesma forma que uma pessoa nascido à época da Revolução Industrial pode ter tomado conhecimento das grandes mudanças que ocorriam, mas se sentindo confusa com sua complexidade, estamos em idêntica situação. Parece-nos haver uma grande tropelada de mudanças, aparentemente sem relação entre si. É o computador - mas não apenas o computador. É a revolução biológica - mas não apenas a revolução biológica. É a mudança nas esferas de energia. É o novo equilíbrio geopolítico no mundo. É a revolta contra o patriarcado. São os cartões de crédito, mais videojogos, mais unidades walkman. É o bairrismo mais globalismo. São as máquinas de escrever sabidas e os especialistas em informação, bem como os serviços bancários eletrônicos. É a campanha pela descentralização. Numa extremidade, é o veículo espacial recuperado - e na outra a busca de identidade individual. É o horário de trabalho flexível e os robôs e a militança crescente de pretos, pardos e amarelos no planeta. E o impacto combinado de todas essas forças, convergindo e despedaçando-se no tradicional sistema de vida industrial. Acima de tudo, é a aceleração da mudança em si, que marca este nosso momento na história.
Pelo lado industrial, de fato houve estupendo progresso; porém, de resto, só retrocesso. O que esperamos? Apenas o desdobramento do anúncio:
A consciência humana está transpondo um limiar tão importante como o que transpôs da Idade Média para a Renascença. O homem está faminto e sedento após tanto trabalho fazendo o levantamento de espaços externos do mundo físico começa a ganhar coragem para perguntar por aquilo que necessita: interligações dinâmicas, sentido de valor individual, oportunidades compartilhadas, efeitos. Nosso relacionamento com os símbolos de autoridade do passado está se modificando, porque estamos despertando para nós mesmos como seres, cada qual dotado de governo interior. Propriedades, credenciais e status não são mais intimidativos. Novos símbolos estão surgindo: imagens de unidade. A liberdade canta não só dentro de nós, como em nosso mundo exterior. Sábios e videntes previram esta segunda revolução. O homem não quer se sentir estagnado, o que deseja é ser capaz de mudar.
(
Richards, M. C., The Crossing Point (O Cruzamento), 1973, cit. Ferguson, Marilyn, p. 57)
__________
Nota
* Cit. Ferguson, M., p. 54.

2 comentários:

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