segunda-feira, 1 de setembro de 2008

XXI aguarda colapso da democracia

"Se tolerar somente um já é burrice, que dirá
manter os três poderes infestados de corruptos."

Diante dos rumos tomados pelas democracias, especialmente a peculiar verde-amarela, a angustiada repórter Foca Lisa viajou no EspaçoTempo, a fim de entrevistar um viajante instalado na proa do EspaçoTempo  - o Agente XXI.

Como o senhor vê a democracia praticada pelo 008?
Infantil, porém necessária; por isso oportuna.
Como assim?
Não tem luz própria. Apenas imita bebês antepassados.
A população padece por tanta goteira.
O sistema se encaminha ao colapso.
O terreno será limpo a nova edificação.
Como ousa a veemência?
Era de Aquarius! Daniel Bell assegura O Fim da Ideologia; Capra, o Ponto de Mutação; Fukuyama já anunciou O Fim da História; e Peter Ward, O Fim da Evolução (São Paulo: Campus, 1997). Em 1989 ruía o muro, e Toffler registrava a Powershift: a Mudança de Poder. Emir Sade o procura (O Poder, Cadê o Poder? Ensaios para uma Nova Esquerda. São Paulo: Bontempo, 1997). Bill Gates (p.213) informa: "O poder não vem do conhecimento acumulado, mas do conhecimento compartilhado." Ninguém mais o detém. Don Tapscott aprecia o câmbio como fruto da interação cultural em Paradigm Shift: the New Promise of Information Technology (N. York: Mc Graw Hill, 1993). Entendimento supranacional garante-me Maurice Bertrand, em La Fin de l´Ordre Militaire. Jacques Ion anuncia La Fin des Militants. Alia-se à avalanche que acaba com tudo, começando pelos partidos vendidos aos consumidores como sociais.-
Chega de fim!
Cada vez mais aparecem obras. Hawking sinalizou o terminal da Física, mas Einstein já acabara com ela. Pensei em decretar O Fim do Direito, e principalmente da Sociologia, mas de certo modo o ALLmirante já arrolou tudo isso há mais de lustro, em O conto de Comte (RJ, Papel & Virtual, 2002). Ademais, Kelsen, que era positivista, se arrependeu, e foi o primeiro a assinalar que a justiça é apenas uma das muitas artificialidades criadas por Platão para encantar seus amantes espartanos. Um quarteto de obras empolgantes arrasam o ex-secretário do Tirano de Siracusa. Nas ciências econômicas, Ormerod propõe direto, A Morte da Economia, exaurida por excesso de economês, enquanto seu colega David Simpson apregoa o Fim da Macroeconomia louvando-se na escola austríaca precisamente em F. Hayek . (The Denationalisation of Money. - London : Institute of Economic Affairs, Hobart Paper no. 70, 3rd, p. 80, 1990). A exaustão do antagonismo na relação de produção também é fartamente promulgada e anunciada. Disso se ocupa O Fim dos Empregos, de J. Rifkin. Aliás, se E=Mc2, e a julgar pelos efeitos atômicos parece que é mesmo, o materialismo é completamente desprovido de razão.
Teria mais gente para relacionar, até alguns brasileiros, mas creio suficiente para sustentar a projeção que graciosamente lhes ofereço. Interessa a todos, porque decide tudo: constato a falência, o fim da democracia, por carência de objeto. Ela não tem sentido.
Não posso acreditar. Voltaremos às ditaduras? Aos reis divinos?
Nada disso. O mundo não suporta mais plágios, nem clones, nem produtos pirateados, muito menos fórmulas obsoletas, testadas e não aprovadas. Haverá justamente o contrário. "O poder corrompe. O poder absoluto corrompe absolutamente".
Isso dizia Lord Action!
Ninguém entendia inglês. Hoje não, ninguém mais quer se prestar de bobo.
Mas muitos entendiam o francês, que era até língua diplomática, terra de Rousseau e Comte.
Vamos confrontar por um instante a história francesa, a partir da famosa Revolução, com a inglesa.  A metáfora da máquina e do organismo parecerá muito clara: a história constitucional francesa é a história de sucessivas adaptações de máquinas sempre estragadas; a inglesa, pelo contrário, é o desenvolvimento normal de um organismo sempre saudável. Na Inglaterra o poder, embora real, desde 1689 pertence ao cidadão, e dele jamais foi tomado. Na França, mormente a partir de Danton, Robespierre e Napoleão, é apenas joguete nas mãos de megalomaníacos, alguns covardes, e não poucos corruptos internacionais. (Vilãsofia)
De que modo o poder pode voltar ao cidadão? Como e quando este processo se inicia?
Precede-lhe o colapso, já mencionei.
Bomba atômica? Vai todo mundo morrer?
Ao contrário, o fenômeno acontece justamente porque as forças que merecem o poder estão paulatinamente se acordando. Uma reedição da Revolução Gloriosa, sem derramamento de sangue. Haverá somente algumas lágrimas, dos crocodilos que conseguirem se safar.
Os russos foram os primeiros, e o muro se foi. Agora por lá precisam de nova reedição. Naquele sul já vemos escaramuças. No Paraguai? Pois lhe comunico que aquela tenra democracia já periclita. E o que dizer do boliviano, que tem que pousar no Brasil para não ser escalpelado?
Ora, você, aí do alto até pode estar esperto. Mas o povo adora a democracia. Na Bolívia temos participação popular. E no Brasil, todo dia jornais estampam falcatruas. Na ditadura ficaria tudo escondido. Não significa que o povo nunca esteve tão aceso?
Não. Talvez na mesa, e desesperado. Ou cordato; mas não acordado. Veja que nada acontece além das fotos e manchetes. Tem gente que até gosta. Desse modo pode largar tudo e gozar o capital mal havido, porque será esquecido. Miami is beautiful.
A democracia tem três poderes e o controle popular!
Ela se restringe aos partidos, em formação centenária, digo, cada qual com cem participantes, apenas, e alguns fornecedores. O povo é apenas objeto. Massa de manobra. Prescinde da consciência, porque tal prerrogativa é pessoal,  dela ele abdica ao integrar a coletividade. Por paradoxo, a união desfaz sua principal força. Prêsa fácil. Isso não prosperará:
O indivíduo tornou-se mais consciente que nunca de sua dependência para com a sociedade. Não vive essa dependência, contudo, como uma vantagem, um vínculo orgânico, uma força protetora, mas antes como uma ameaça a seus direitos naturais, ou até a sua existência econômica.
(EINSTEIN, A. Escritos da Maturidade, p. 133.)
A democracia não é centenária, mas milenar. Provém da Grécia antiga.
E o que pensavam na ocasião? Guerra, e guerra. Se você supõe que este ideal é apropriado à sociedade, a democracia é, de fato, a melhor solução, até mais contundente do que a ditadura, que perdeu todas as guerras. Ademais, para lhe diferenciar um decisivo detalhe, para ver que tem que se condenar esta escamoteada estratégia, chamo Bobbio, que anteviu (O futuro da democracia: 110): "Democracia significava o que a palavra designa literalmente: poder do démos, e não, como hoje, poder dos representantes do démos."
As guerras acabaram em 1945.
Não é verdade. Há inúmeros focos. As atômicas não elidiram a da Coréia, nem a do Việt Nam. Ora veja Irã, Paquistão, Iraque, Rússia, Filipinas, Venezuela, e agora até os pobres bolivianos. Ademais, coexistem outros muitos latentes. Se continuar esse regime, a humanidade entrará numa confusão sem precedentes. (O idealista democrático)
E o que pode despertar o povo?
A incidência das informações, de inúmeros quadrantes. São despertadores, vetores da mudança, os ventos que tremulam as velas. Antigamente bastava convocar o povo à praça pública para o chefe noticiar o acontecimento que lhe aprouvesse. Tocava o rebanho no brete que lhe convinha. Com o advento dos jornais, já houve necessidade de maior atenção, mas nem tanto assim, posto que na época apenas a centena sabia ler. Posteriormente veio o rádio, a favorecer a cadeia, de modo que a notícia voltou à exclusividade do interesse pessoal, e desse modo agigantada. Por último contribuiu a TV. Porém, sua programação é controlada. Os canais são "concessões" do governo, não da comunidade, ou da sociedade.
Mas agora temos programações até de TVs estrangeiras!
Que praticam o mesmo sistema! Você vê TV da China? Da Noruega? Da Costa Rica? Suíça? Bélgica? Holanda? Jamaica? Da Índia? Malásia? Taiwan? Geórgia? Nova Zelândia? Sequer os semelhantes hermanos são permitidos!
Não daria ibope. E temos poucos canais.
Poucos? Quantos são dedicados aos filmes? Às novelas? Só de religião deve ter uma meia-dúzia. Tudo faz parte do esquema ideológico. (As atrações da TV paulistana)
Então não há como furar o bloqueio. O povo está anestesiado por várias incidências, digo, coincidências. Não irá acordar nunca!

Não há mal que sempre dure. A verdade pode demorar, mas aflora. Veja os reis divinos; e os totalitarismos comunistas e fascistas. Só falta a democracia, este mito mais idolatrado, mas não menos falsificado.
A época moderna pode ser considerada como fim da história, se tomarmos ‘fim’ no sentido de ‘telos’ coletivo da humanidade. Cumprindo esse ‘telos’, não haveria outros fins universais e sim individuais ou particulares. Isso representaria a possibilidade da multiplicação indefinível dos fins.
FUKUYAMA, F.,
O fim da história e o último homem
O povo queria diretas já! Agora as tem. Não lhe satisfaz? (Direto já, no queixo brasileiro.)
Qual a diferença entre o assalto e a vigarice? A mesma que distingue o totalitarismo da democracia: enquanto o primeiro toma o dinheiro com o revólver, a segunda vende bilhete premiado. Mas quando a vítima for no guichê, e perceber que foi tapeada, usará todos os recursos da bruxaria que aprendeu durante sua existência, de modo que sequer um caçador como o Putin poderá resgatar o lobo-mau da barriga da vovozinha. (Estranhos no ninho)
Fale sério. Já que as escolas são obrigadas ao currículo oficial; os órgãos de comunicação são vendidos, em troca de comerciais oficiais; o congresso, comprado; os juízes escolhidos à dedo; os militares calados com aumentos de soldos e percentagens sobre aquisições de equipamentos; e as votações, por eletrônicas, sequer admitem conferências, como e quando o povo irá tomar conhecimento do
imbroglio?
Aí é que está. Subestimam. Como a "cultura de massa gera mediocridade e ignorância” (GASSET, José Ortega Y Gasset, A Rebelião das Massas, 1929; cit. Rohmann, C.: 299), eles se atém só na regência. Todavia, vivemos uma era atômica, não mais muscular. A força não emana do acúmulo. Sua eficácia depende do contrário: é a dispersão que a torna efetiva. São relações, não concentrações. Por isso se pensou na democracia, para espraiar o poder, mas os partidos o enfeixam. Isso é tão antinatural e fatal como um coágulo de sangue ou um fio elétrico desencapado. A energia é fluente, não estática como a matéria, que se pensava a tudo reger.
Mas por qual processo o povo irá acordar, isso é o que me intriga.
Pela disseminação da imaginação, das idéias, de fatos correlatos advindos das circunstâncias vizinhas e remotas, do EspaçoTempo, e do compartimento das possibilidades, tudo permeado através de pequenos condutores de não-matéria. São mais ágeis por não arrastarem inércias, e mais competentes. Nada obstaculizam, a não ser a ignorância. Tudo é flagrante ao notável Anatoly Gromiko (Breakthrough: 8; cit. LEMKOW, : 382):

A humanidade está emergindo de uma reação em cadeia de causa e efeito que se estende por bilhões de anos no passado. Agora a espécie tem o poder de afetar sua própria evolução através da escolha consciente. As pessoas hoje sabem mais do que nunca. Rádios, televisores, computadores, telefones, copiadoras se espalharam pelo globo em um século. Nenhuma geração pode acrescentar essas coisas aos jornais, revistas e as artes. O nosso é um tempo de possibilidades ilimitadas para intercâmbio, interação entre culturas, viagens e aprendizado.
Isso que no tempo não havia Internet. O senhor poderia mencionar um esteio mais moderno?
Microondas. Por elas surfam e palpitam os corações, também grampos telefônicos. Nada fica mais submerso. Microcâmeras, celulares, gravadores, parabólicas, satélites, retransmissoras. Dezenas de quinquilharias. E outras mil energéticas. Por meio disso tudo, desse trânsito estupendo, os olhos vêem, os ouvidos ouvem, a emoção acontece, a pele arrepia; ou os cabelos, de muita gente. Olhe para os lados e confira. O povo está acordando, e os políticos, dormindo no berço esplêndido que julgam imóvel. O ronco esbanja prepotência.
Não lhes ensinaram que a Terra gira a 180mil kilômetros por hora. Em microondas!
Eles dormem com as portas trancadas. Habeas corpus garante. Quem fizer grampo é excluído*; e os processos, por falta de provas são arquivados.
E por qual razão essa turma que trata a coisa pública insiste em querer fazer na privada? Não, não precisa responder. Isto não demonstra, claramente, que o Estado de Direito entortou de vez? E você pode supor que na hora de repartir a muamba não haja descontentes? Neste instante é que haverá o flagrante. E o Estado, por relapso, pusilânime, portanto ineficiente, será condenado.
Quem estabelecerá as leis à Nação?
Se você ainda não entendeu, invoco o excepcional professor paulista Goffredo Teles Jr. (O Direito Quântico, p. 280) :
A lei já não é um instrumento da justiça entendida em seu significado tradicional. É um meio dirigido à realização da concepção quantitativa da justiça que cuida de impor; um meio para transformar a sociedade conforme o modelo ideal que o legislador pretende instaurar. Aparecem assim as leis que em primeiro lugar pretendem iludir e mobilizar o povo, para que este caminhe gostosamente na direção - acertada ou não - que o governante deseja. E se a função de legislar se estima, ademais, como facere para realizar estas ilusões de transformar a sociedade ou de impor uma macro-justiça quantitativa: não resulta acaso a matematização como instrumento mais eficaz dessa pretensa macro-justiça? Mas como vimos antes, esta se realiza a custa de milhares de injustiças e da perda do sentido mesmo do justo e da virtude da justiça.
Portanto, são dispensáveis. Ademais, nem são leis que governam o país, mas medidas, e ditas provisórias. É "para ingles ver." Ele vê, e ri:

Não é sem razão que a imprensa norte-americana tenha tratado com descrédito e até humor a nova constituição brasileira, de 1988. Um texto constitucional como o brasileiro, que desce a níveis bem específicos e se prolonga por centenas de artigos é, na tradição americana, uma piada.
(KARNALl: 69)
Quem zelará pelas fronteiras? Como será ministrada a educação? De que modo se proporcionará a segurança aos cidadãos? E a competência da saúde? Isso tudo também vai acabar?
Os crimes aumentaram porque não há dinheiro em circulação. Ele foi desviado em larga escala. Educação vem de berço. Nunca ouviu falar? Os homens limitarão as suas necessidades e dependerão menos das coisas. Se o próprio cidadão não cuidar de sua saúde, de nada valerão exércitos de salvação. As fronteiras já estão sendo extintas com o incremento das comunicações. É impossível mantê-las, e mesmo traçá-las. De posse da avalanche de informações, cada cidadão age livremente e desata os laços que o prendem ao Estado. Transforma-se em cidadão do mundo. Sua atenção estará voltada às leis de virtude, e a preservação da ética, que são mais importantes e até mais fáceis de serem cumpridas do que leis impostas pelo Estado. A Ecologia aponta o novo rumo, que é o retorno à preservação da natureza. Se o cenário merece ser preservado, que dirá o ator principal. Não se tolera mais artificialismos, muito menos a poluição.
"A manutenção da organização na natureza não é - e não pode ser - realizada por uma gestão centralizada. A ordem só pode ser mantida por uma auto-organização." (BIEBRACHER, C. K. e NICOLIS, G. Schuster, cits. PRIGOGINE: 75)
O interessante é que todas essas "novidades" foram anunciadas há duzentos e cincoenta anos:
“De fato, a vida no espaço cibernético parece estar se moldando exatamente como Thomas Jefferson gostaria: fundada no primado da liberdade individual e no compromisso com o pluralismo, a diversidade e a comunidade.” (NAISBITT, J.,Paradoxo global:96)
Temos que concordar que nenhum colapso é louvável; mas neste caso é mesmo oportuno, necessário, e, pelo jeito, muito mais premente do que supõe a orquestra do Titanic.
Vou avisar o pessoal.
___________
* "... E os grupos que ocupam o poder continuarão se grampeando, preventivamente ou não. No Brasil, o máximo que a sociedade consegue diante do Estado são reações imediatistas; o fulcro da ilegalidade, como da corrupção, segue inatacado. Com interrupções aqui e ali, que só servem para que continue forte, o vale-tudo está no comando. Com a chancela das mais altas autoridades de cada poder, a começar pelo presidente."(PIZA, Daniel, Estadão, 2/9/2008)
* * A vereadora eleita Lucía Pinochet Hiriart, filha mais velha do ditador chileno Augusto Pinochet (1915-2006), criticou o quadro democrático sul-americano. "Muitos dos terroristas de ontem são hoje presidentes ou ministros na América do Sul". (Folha de S.Paulo, 2/11/2008)

2 comentários:

  1. Saudacoes fraternais!
    Obrigado pelo comentario, e gostaria mto sim de firmar parceria com vc. Eu certamente tenho mto a aprender :>:>
    O seu blog eh de direita nao e??
    Ficarei grato qnd puderes me add no msn pra conversarmos depois.
    jefersonfurtado@hotmail.com
    Muito grato!

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  2. Grato pela atenção. Meu blog? Coloque-o onde bem lhe aprouver. Aqui no Espaço não há esquerda, nem direita. Desde o Big-Bang o Universo se amplia em todas as direções.
    Aquele abraço, e até.

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